terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Mário Quintana: Não sou alegre nem sou triste, sou poeta



“Se tu me amas , ama- me baixinho / não o grites de cima dos telhados / deixa em paz os passarinhos / deixa em paz a mim /se me queres , enfim/ tem de ser bem devagarinho , amada / que a vida é breve e o amor mais breve ainda “

“– Nasci em Alegrete , no Rio Grande do Sul , em 30 de julho de 1906 . Minha vida está em meus versos . Meus poemas são eu mesmo , pois nunca escrevi uma vírgula sequer que não fosse uma confissão . Idade só há duas : ou se está vivo ou morto . O segredo não é correr atrás das borboletas ... é cuidar do jardim para que elas venham até você “

   Mário Quintana (1906 – 1994) começou a esculpir versos logo que aprendeu a ler. Suas verdadeiras influências foram Luiz de Camões e a revista “O Tico – Tico “. Mas a poesia não é inspiração pura, é trabalho; não é só esperar que o santo baixe, é preciso puxar o santo pelos pés e isso dá trabalho. As palavras são rebeldes. Aos 17 anos, o poeta passou a trabalhar numa farmácia, onde fazia uma limonada de citrato de magnésio, que segundo ele, parecia um sol engarrafado. Interessante observar que, também, mexiam em farmácia: Alberto de Oliveira, o Príncipe dos Poetas Brasileiros, Carlos Drummond de Andrade e o grande contador de histórias, Érico Veríssimo. Pelo visto, apuro e zelo na elaboração de fórmulas químicas bem como no lapidar de um carrilhão de palavras com tamanho, peso e cor!
   Quintana  trabalhou pela Editora Globo na tradução de obras de figuras importantes da literatura mundial como , Marcel Proust , Honoré de Balzac e Guy de Maupassant. Gostava tanto da tarefa que falava: “Se dinheiro tivesse, pagaria, ao invés de receber, pelo prazer de estar convivendo com tais celebridades “. Em três ocasiões, Mário Quintana concorreu a uma vaga na Academia Brasileira de Letras e em todas não logrou êxito. Luís Fernando Veríssimo parte da premissa de que pertencer ou não à ABL, de nada alteraria na vida e obra de Quintana. Mas não estando lá, é um prejuízo para a Academia! “Todos estes que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão. Eu passarinho“.
   O poeta bebia a contradição eterna, desde sempre, do ser humano irrequieto: “- Eu amo o mundo!, eu detesto o mundo!/ eu creio em Deus!, Deus é um absurdo!/ eu vou me matar! eu quero viver!/ - você é louco? – não, sou poeta!“. Ou “Olho ao redor do bar em que escrevo estas linhas. Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha nem desconfia que se acha conosco desde o início das eras. Pensa que está afogando os problemas dele, João Silva ... ele está bebendo a milenar inquietação do mundo “.
   A atriz e poetisa Bruna Lombardi alimentava um amor platônico, segundo se especula, com o nosso bardo de Alegrete. Bradava Quintana: “Não sei o que ela quer comigo. Mas sei que estou cheio de más intenções .... “. Pura fantasia e inocência, como quando lhe perguntavam: “O senhor é que é o Mário Quintana?“ . A resposta: “Às vezes . Porque há o Mário Quintana poeta e o Mário Quintana homem comum. Pode alguém viver o dia todo vestido de poeta e boêmio? Pode, sim: Mário Quintana que não casou nem teve filhos; ou melhor dizendo, contraiu núpcias com as musas e gestou filhos à granel, seus inúmeros poemas.
   O metapoeta pernambucano Manoel Bandeira desenhou uns versos na intenção de acariciar Mário Quintana:

“Meu Quintana , os teus cantares/ não são , Quintana , cantares / são Quintana , quintanares / quinta – essência de cantares / insólitos , singulares / cantares ? não ! quintanares / quer livres , quer regulares / abrem sempre os seus cantares/ como flor de quintanares / são cantigas sem esgares / onde as lágrimas são mares de amor / os teus quintanares / são feitos estes cantares / de um tudo – nada : ao falares / luzem estrelas luares / são para dizer em bares / como em mansões seculares / Quintana , os teus quintanares / sim , em bares , onde os pares / se beijam sem que repares / que são casais exemplares / e quer no pudor dos lares / quer no horror dos lupanares / cheiram sempre os teus cantares ao ar dos melhores ares / pois são simples , invulgares / Quintana , os teus quintanares / por isso peço não pares / Quintana , nos teus cantares ... perdão , digo quintanares“

E a divina Cecília Meireles também fez mimos ao nobre Mário Quintana: 

“ O Natal foi diferente / porque o Menino Jesus disse à Senhora Sant’ Ana : / Vovozinha , eu já não gosto das canções de antigamente / cante as do Mário Quintana ! / viram – se então os anjinhos / de livros abertos nas mãos deslizar no ouro dos ares/ estudaram nova solfa / pelos celestes caminhos /e ensaiaram quintanares“

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