terça-feira, 26 de março de 2019


O silêncio do corpo - era assim que os gregos antigos definiam a saúde e o bem - estar físico dos homens. Aprendamos a ver por esses caminhos : é quando nada existe , como imagem e aparência, que a perfeição está próxima. Como a saúde é o silêncio do corpo, a sabedoria é o silêncio da mente - uma quietude que nada tem a ver com a inércia e a preguiça. Ao contrário, ela é uma forma abençoada de ação. ( L.C.Lisboa )
O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço que pensa. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá - lo: um vapor, uma gota d'água bastam para matá- lo. Mas, ainda que o universo o esmagasse, o homem ainda seria mais nobre do que o que o mata, pois sabe que morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; e o universo não sabe disso.
Toda a nossa dignidade consiste pois no pensamento. É dele que devemos depender e não do espaço e duração que não saberíamos conhecer. Trabalhemos, pois, em bem pensar: eis o princípio da moral ( B. Pascal - 1623 - 1662 )
Rock Romance de um Robô Goliardo

Caiu - me às mãos há pouco , um álbum contendo três fitas K7 de Belchior ( 1946 - 2017 ) , datado de 1984. Uma delas , " Cenas do Próximo Capítulo ) desnuda um enigmático " Rock Romance de um Robô Goliardo ", da autoria de Belchior e de Jorge Mello - compositor , cantor , multi - instrumentista , produtor , arranjador , piauiense de Piripiri, uma nobre figura humana ainda em plena atividade.
O Rock Romance do Robô Goliardo desenha num longo discurso o multifacetado mundo dos anos 80 , pós - Woodstock ( 1969 ) com seus ícones: Jim Morrison ( 1943 - 1971 ) , Janis Joplin ( 1943 - 1970 ) , Jimi Hendrix ( 1942 - 1970 ) e John Lennon ( 1940 - 1980 ) , todos com muita pressa de viver.
A modernidade ( Robô) e a era medieval ( Goliardo) de mãos dadas dão asas à imaginação dos dois gentis menestreis Belchior e Jorge Mello.
O termo Goliardo no latim medieval diz respeito à um clérigo ou estudante egresso da Universidade que perambulavam pelas tavernas e outros lugares públicos cantando ou declamando poemas satíricos.
A origem da palavra goliardo é controversa podendo significar " bufão " ou o gigante bíblico Golias. Alguns citam a junção de "Golias " e " Abelardo " , o grande intelectual e filósofo que protagonizou um escandaloso romance com sua aluna Heloisa .
Desse modo , Belchior e Jorge Mello teceram uma bela e enigmática canção - Rock Romance de um Robô Goliardo - evidenciando a riqueza intelectual e a inquietação de dois grandes menestreis nordestinos de nossa MPB e suas belas mensagens autobiográficas.
Crônica dedicada a dois amigos /irmãos Goliardos: Francisco Clayrton e Emanuel Carvalho Mello.

"É fácil resguardar o sereno.
É fácil planejar o imprevisível.
É fácil quebrar o frágil.
É fácil dispersar o tênue.
Aja no imanifesto. Governe antes da desordem.
A imensa árvore nasce de um pequeno broto.
A torre de nove andares se eleva de um montículo de terra.
A viagem de cem mil léguas começa com os primeiros passos."
O Livro do Tao, de Lao Tse.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Modinha

"Tuas palavras antigas
Deixei - as todas , deixei - as,
Junto com minhas cantigas
Desenhadas nas areias.
Tantos sóis e tantas luas
Brilharam sobre essas linhas,
Das cantigas - que eram tuas -
Das palavras - que eram minhas !
O mar, de língua sonora ,
Sabe o presente e o passado.
Canta o que é meu , vai - se embora :
O resto é pouco e apagado ."
Poema " Modinha " , da autoria de Cecília Meireles ( 1901 - 1964 ) , Poeta , Professora e Folclorista que nasceu e morreu no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 18 de março de 2019


Nesta manhã de sábado de cenho cerrado, um cordial encontro com o querido homem de letras Américo Vasconcelos, da Livraria Tukano, sorvendo um papo com figuras como Caio Cid, Eduardo Campos, Antônio Sales, Milton Dias e outros.
... " Viver - não é? - é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender - a- viver é que é o viver, mesmo. " Guimarães Rosa.
Entra pé ante pé num cavaco maneiro, o poeta - menino Diogo Fontenelle, espargindo rimas em gotas cristalinas que tamborilam lá fora na vidraça :
" Cantam as crianças em viva folia
Pelas flores do campo, pelas
Luzes divinas.
Que desçam as preces em gotas
Cristalinas,
Por tapetes de arrelvada Poesia. "
Poema " Taghounja , de autoria do mago Diogo Fontenelle.

sexta-feira, 15 de março de 2019

Um Cabo e um Soldado

Um conto de James Baldwin ( 1924 - 1987 ) denominado " Meu reino por um cavalo " traz um relato ocorrido na Inglaterra onde o Rei Ricardo III prestes a iniciar uma batalha campal decisiva , ao preparar o seu cavalo favorito soube do ferreiro que faltava um simples prego para uma das quatro ferraduras da alimária. O Rei arguiu ao ferreiro sobre o risco da ferradura soltar no furor da contenda. O ferreiro respondeu que nada podia garantir. E aconteceu que no meio da batalha foi por terra a ferradura , derrubando o Rei e o cavalo. Gritando "- Meu reino por um cavalo, meu reino por um cavalo -" o Rei Ricardo III perdeu de vez a batalha.
Assim , por causa de um prego, perdeu - se uma ferradura . Por causa de uma ferradura , perdeu - se um cavalo. Por causa de um cavalo , perdeu- se uma batalha . Por causa de uma batalha , perdeu - se uma guerra. Por causa de uma guerra , perdeu - se um reino. Por causa de um prego, perdeu - se um reino."
Num país bem distante da Inglaterra, um grupo de vetustos senhores de luto , utilizando linguagem de guerra , numa renhida batalha contra a Verdade , e encontrando - se - em seus estertores , agarrados às cordas , blateram contra a plateia que pasma assiste o triste espetáculo.
Alguém, finalmente , grita : " - Chamem um cabo e um soldado para dar fim a essa ópera - bufa ! "
Já está a se ouvir , segundo alguns, " O Estouro da Boiada " .

terça-feira, 12 de março de 2019

Trio Nagô - do Ceará para o Mundo

Evaldo Gouveia ( nascido em 1928 ) , Epaminondas Souza e Mário Alves , formaram o Trio Nagô, genuinamente cearense, numa época em que a música romântica latino - americana , na década de 50 do século passado encontrava - se em alta , colorindo clubes , boates , teatros , rádios e cinemas. 
Tudo teve início com o Trio Los Panchos , oriundo da Cidade de Nova York em 1944 , e integrado por dois mexicanos , Chucho Navarro e Alfredo Gil , e um porto - riquenho, Hernando Avilés Negrán. O trio fez retumbante sucesso nas Américas, influenciando a formação de novos grupos musicais pelo mundo afora.
Um dos hits do Trio Los Panchos :
" Já não estás mais a meu lado, coração/na alma só tenho solidão/e se já não posso ver - te/porque Deus me fez querer -te/para fazer- me sofrer mais/sempre foste a razão do meu existir /adorar - te para mim foi religião/e nos teus beijos eu encontrava /o calor que me brindava /o amor e a paixão /é a história de um amor/como não há outro igual /que me fez compreender/todo o bem , todo o mal/que deu luz a minha vida/apagando - a depois /ai que vida tão escura/sem teu amor não viverei ."
Composição : A História de um Amor , em tradução livre.
No Brasil, logo surgiu por conta dessa onda , o Trio Irakitan, formado por Paulo Gilvan ( voz e afoxé) , Edinho ( violão) , e Joãozinho ( tantã) , oriundo de Natal , no Rio Grande do Norte .
Um dos sucessos do Trio Irakitan:
" Sofre/ a tua dor resignadamente/sofre/como eu sofri por ti também/sofre/ que a dor vai ensinando a gente/amar e um dia querer bem/amei como ninguém te amou , querida/de ti o menor gesto adorei/esquecido da própria vida/perfídia, mandaste em troca/eu não esqueci/das rosas, das orquídeas, das violetas/que eu dava a ti/distraída no ambiente luxuoso em que sempre vivias/tu deixaste que murchassem minhas flores/meu buquê de fantasia/e agora que adoras a quem te magoa/perdoa pelo bem que eu te quis/perdoa e serás feliz /feliz ."
Composição : Perfídia, em tradução livre.
No Ceará surgiu o Trio Nagô nome dado pelo escritor , historiador e jornalista Manuelito Eduardo Campos ( 1923 - 2007 ) . O conjunto fez sucesso em Fortaleza , de onde partiu rumo ao sul maravilha , estrelando nas Rádios Tupi e Nacional.
" Ave Maria no Morro " ; " Boiadeiro " , e , " Jezebel " foram os carros - chefes do Trio cabeça- chata que conquistou a fama. Em seguida vieram outros tantos sucessos. Na época, o Trio Nagô fez uma excursão a Paris onde chegou a gravar dois discos .
Em 1961 começa a "entrar água na canoa " quando um dos componentes do Trio, Mário Alves , se desliga do grupo.
O Trio Nagô ainda atuou até meados de 1974.
Daí em diante , Evaldo Gouveia iniciou carreira - solo , desenhando uma magistral performance como um dos grandes nomes de nossa Música Popular Brasileira . Seu encontro com Jair Amorim gerou uma dupla fértil das mais duradouras de nossa Música.
Mas aí já é outra história!
" Quem duvidar/que duvide/a saudade em meu peito reside/sem querer fui querer/novamente/já fiz tanta oração/ao Senhor eu pedi proteção/humildemente/eu rezei minha prece/saudade , vai, me esquece."
Composição " Prece " , gravada pelo Trio Nagô.

quinta-feira, 7 de março de 2019



Tríduo Momino na Fortaleza Antiga
Chico Barrâo e Chico Pipiu

"Adeus, adeus/só o nome ficou/adeus Praia de Iracema /praia dos amores/que o mar carregou/quando a lua te procura/também sente saudades/do tempo que passou/de um casal apaixonado/entre abraços e beijos/que tanta coisa jurou/mas a causa do fracasso/foi o mar enciumado/que da praia se vingou." ( Luiz Assunção - 1902 - 1987 ).
A mimosa Fortaleza dos anos 50/60 vivia um mágico momento após a Segunda Guerra Mundial e no tríduo momino esbanjava seu charme nos clubes , boates ,nas ruas com o corso/desfile de blocos.
O som dolente dos maracatus, marcado por robustos triângulos, com suas rainhas, baianas e escravos meneando um bailado rodopiante contagiando a todos :
"Eu vou , eu vou e você não vai/apanhar macaúba no meu balaio/apanhar macaúba no meu balaio/eu vou, eu vou e você não vai ".
Os maracatus Estrela Brilhante ; Rancho de Iracema ; Leão Coroado ; Rei de Paus , faziam a alegria da moçada. 
A Escola de Samba Luiz Assunção era formada apenas pelos componentes da orquestra , sob a batuta do próprio compositor e pianista maranhense.
A Escola De Samba Prova de Fogo exibia seus brincantes ostentando na cabeça um esquisito chapéu de alumínio. 
Pontuava, também, a Turma dos Camarões; A Turma Bamba ; Os Garotos do Frevo , e , o famigerado Cordão das Coca - Colas.
As filhas de Eva que frequentavam a Vila Morena , reduto dos gringos , na Praia de Iracema, eram chamadas de Coca - Colas .
Dizem que foram os cadetes da Escola Preparatória ou da Base Aérea de Fortaleza que criaram tal epíteto, com inveja destas empoderadas criaturas .
No corso , as principais casas alegres , apresentavam suas crias num desfile democrático e dionisíaco: Boate Monte Carlo ; Boate Hollywood; Bar da Alegria; Boate Fascinação; Boate Imperatriz e Boate América.
Havia lugar ,ainda , para aquelas boates que levavam o nome de suas/seus proprietários:
Fanny , Graça, Naninha, Julia Paraibana e Zé Tatá.
A gente de bem escorregava à noite para os clubes sociais : Maguary, Náutico, Diários, Líbano, Comercial , Círculo Militar, Iate, Massapeense e Quixadaense. 
Em bairros distantes pontuavam :
Clube Romeu Martins ; Secai; Terra e Mar ; Tiro e Linha ; Ícaro e General Sampaio .
Nas diversas ruas e praças da cidade , levas de foliões, incluindo "Os papangus " e homens grotescamente vestidos de mulher, em algazarra, faziam um carnaval à parte, o dos sujos, paridos nos distantes arraiais.
Nos dias seguintes a este folguedo onde tudo era permitido, aumentava o faturamento das drogarias: 
Galeno ; Oswaldo Cruz; Pasteur; Artur de Carvalho e , Belém , com a procura de Sal de Fructa Eno, Emulsão Scott; Cibalena , Instantina e Pílulas de Vida do Doutor Ross.
A demanda em busca do enfermeiro/ prático Almeida, no Ambulatório Santa Terezinha ,fazia disparar a venda de Terramicina, Meracilina , Benzetacil, Nitrato de Prata, Mercúrio Cromo e Furacin. 
Era o justiçamento da verdade medieval : 
" Uma noite com Vênus e o resto da vida com Mercúrio ".
"Quanto riso, oh ! Quanta alegria/mais de mil palhaços no salão/Arlequim está chorando pelo amor da Colombina/no meio da multidão/foi bom te ver outra vez/está fazendo um ano/foi no carnaval que passou/eu sou aquele Pierrô/que abraçou, que te beijou , meu amor/na mesma máscara negra/que esconde o teu rosto /eu quero matar a saudade/vou beijar -te agora/não me leve a mal, hoje é carnaval ."
Composição Máscara Negra, da autoria de Zé Keti (1921 - 1999 ).
Quase tudo foi engolido pela voragem do tempo. Apagaram - se as luzes dos clubes sociais, sumiu o corso e , o mais drástico, para os saudosistas do naipe de Chico Barrão e Chico Pipiu, as pensões alegres foram postas ao chão para ceder lugar a horríveis e estéreis estacionamentos.
Barbaridade !
Mas mesmo assim :
Viva Zé Pereira!
O Samba do Crioulo Doido

Sérgio Marcus Rangel Porto ( 1923 - 1968 ) , ou simplesmente Sérgio Porto , ou ainda , Stanislaw Ponte Preta era mestre na arte de analisar o lado picaresco da nossa História. Viveu , ombro a ombro, com gigantes da palavra , como , Álvaro Moreira , Jorge Amado , Fernando Sabino, Rubem Braga e Aparício To relly, o impagável Barão de Itararé. Criou tipos antológicos como Tia Zulmira , primo Altamirando e Rosamundo.
Stanislaw define - se assim num auto - retrato :
" Jornalista , radialista , teatrólogo ora em recesso, humorista , publicista e bancário. Além disso: marido , pescador, colecionador de disco, ex - atleta e , hoje , cardíaco.
Principais motivações: mulher.
Paradoxos : boêmio que adora ficar em casa , irreverente que revê o que escreve, humorista a sério.
Ódios inconfessos : puxa - saco , militar metido a machão, burro metido a sabido e , principalmente, racista.
Panaceias caseiras : quando dói do umbigo para baixo : elixir paregórico; e do umbigo para cima , aspirina.
Tentações irresistíveis: passear na chuva , rir em horas impróprias e dizer ao ouvido de uma mulher besta que ela não é tão boa como pensa ."
O "Samba do Crioulo Doido " , de sua autoria , faz uma mordaz crítica ao Departamento de Turismo do Rio de Janeiro, que obrigava as escolas de samba apresentarem, sempre, um samba - enredo , inspirado em fato histórico brasileiro. Em 1968, um certo sambista recebeu a incumbência de escrever uma música abordando "A atual conjuntura do país ". Foi o suficiente para o crioulo enlouquecer e construir um autêntico pastiche ou disparate :
"Foi em Diamantina/onde nasceu JK/que a Princesa Leopoldina/arresolveu se casar/mas Chica da Silva/tinha outros pretendentes/e obrigou a Princesa/a se casar com Tiradentes/lá aí lá aí lá aí lá/o bode que deu vou te contar/Joaquim José que também é/da Silva Xavier/queria ser dono do mundo/e se elegeu Pedro II/das estradas de Minas/seguiu pra São Paulo/e falou pra Anchieta/ o vigário dos índios/aliou - se a D. Pedro /e acabou com falseta/da união deles dois/ficou resolvida a questão/e foi proclamada a escravidão/assim se conta essa história/que é dos dois a maior glória/Dona Leopoldina virou trem / e D. Pedro é uma estação também/ô, ô, ô, ô, o trem tá atrasado ou já passou "
E assim segue o trem da ilusão carnavalesca, com as famigeradas escolas de samba contando até os dias atuais, nossa História, às vezes, de forma arrevesada.
Bode Ioiô, foi um herói cearense cabeça- chata , do início do século passado , que chegou a Fortaleza fugindo da famosa seca de 15 , bem retratada pela grande dama Rachel de Queiroz. O resistente retirante vivia solto pela cidade e tornou - se um folgado boêmio chegado até a uma santa aguardente . Virou bode - celebridade convivendo com políticos, artistas e com o povo em geral. Acredita - se que o epíteto Ioiô tenha surgido pelo fato do bicho subir e descer , diariamente da Praia de Iracema até a Praça do Ferreira.
Bode Ioiô, à época, recebeu uma boa votação para vereador de Fortaleza. Nunca chegou a assumir legalmente , mas manteve a picardia do cetro até o fim de seus luminosos dias.
Em 1931 , o Bode Ioiô morreu , provavelmente de velhice , talvez de cirrose hepática por conta de avarias causadas pelas bicadas de cana. A turma da teoria da conspiração sugere até um atentado político.
O ilustre retirante foi embalsamado , às custas da empresa que o adotara em vida , a Rossbach Brazil Company, e hoje é reverenciado no Museu do Ceará como um digno filho da Terra da Luz .
Viva o Bode Ioiô !


O Mar
Para o poeta do Amor : Dirceu Vasconcelos
"...Eu vi , Senhor, o mar sombrio e furioso , investir contra os rochedos.
De longe as vagas tomavam o impulso, orgulhosas, de pé , saltavam , atropelavam - se umas às outras , para tomarem a frente e serem as primeiras a bater.
Vi , outro dia , o mar calmo e sereno.
Vinham de muito longe as ondas , tomavam carreira , elevavam - se orgulhosas , brincavam , saltavam e atropelavam - se umas às outras, para tomarem a frente e serem as primeiras a bater.
E quando a alva espuma se desmanchava, deixando intacta a rocha , tinham partido as vagas, correndo para de novo se lançarem. 
Vi , outro dia, o mar calmo e sereno .
Vinham de muito longe as ondas de bruços rastejando, para não chamar a atenção. 
Dando - se as mãos, , ajuizadas, deslizavam sem ruído e espraiavam - se à vontade na areia , para tocar a orla , com a ponta de seus formosos dedos de espuma.
Faze , Senhor , que eu evite as pancadas sem rumo que cansam e magoam , e não atingem o inimigo. Afasta de mim as cóleras espetaculares , que chamam a atenção mas deixam inutilmente enfraquecido. 
Não permitas que orgulhosamente eu queira sempre preterir os outros , esmagando, ao passar , os que vão à frente. 
Apaga do meu rosto o ar sombrio das tempestades vencedoras.
Ao contrário, Senhor , faze que calmamente eu preencha os meus dias, tal como o mar lentamente recobre toda a praia.
Faze - me humilde como o mar , quando silencioso e ameno avança sem se fazer notar. 
Dá - me a graça de esperar os meus irmãos, medir os meus passos pelos deles , para com eles subir.
Concede - me a perseverança triunfante das ondas. 
Faze que cada um dos meus recuos seja ocasião de subida.
Dá a meu rosto a claridade das águas límpidas, à minha alma a brancura da espuma;
Ilumina a minha vida como os raios do Teu sol fazem cantar o espelho das águas. 
Mas, sobretudo, Senhor , faze que eu não guarde para mim esta Luz ,e que todos os que de mim se aproximem voltem a casa ávidos de se banharem na Tua graça Eterna ."
Poema O Mar ,da autoria de Michel Quoist ( 1921 - 1997 ).

sexta-feira, 1 de março de 2019



Carnaval em Fortaleza 1960

"Falta de luz
É bom pra namorar
Mas depois disso
Nem é bom falar
A usina lá no Mucuripe
Todo mês tem gripe
Não quer funcionar.
Que jeito eles podem dar ?
Se a bichinha come tudo
Come até peixe do mar
Se toda noite
Esse escuro vem
Muita gente , bem,
Vai ter que casar ."
Composição carnavalesca " Falta de Luz " , da autoria de Mário Filho e Irapuan Lima ( 1927 - 2002 ) , radialista e apresentador de TV , cognominado de " Chacrinha do Norte " . Autor de peças musicais como " Cadê Cacá " ; " Frango do Zezé " e " Macarrão Fortaleza " .
As marchinhas carnavalescas invadiam as grandes cidades para viverem um momentâneo sucesso . A música "Falta de Luz" do ano de 1960 abordava os frequentes apagões na capital cearense ,onde se colocava como fator precipitante da "gripe" parando o fornecimento de energia elétrica, a obstrução dos canos submarinos por peixes , na usina do Mucuripe. Nessas ocasiões, sob a proteção das estrelas, "os pombinhos " flexados por Cupido , exageravam nas intimidades e nove meses depois surgiam novos "comedores de rapaduras".
A nível nacional, no ano de 1960 , algumas músicas carnavalescas viraram coqueluche :
"Ei ,você aí, me dá um dinheiro aí 
Me dá um dinheiro aí. 
Não vai dar ?
Não vai dar não 
Você vai ver a grande confusão
O que vou fazer
Bebendo até cair
Me dá, me dá, me dá 
Me dá um dinheiro aí. "
Canção " Me dá um dinheiro aí " da autoria de Ivan Ferreira.
"Eu não quero mais amar
Pra não sofrer ingratidão 
Depois do que eu passei
Fechei a porta do meu coração.
Eu dei pra ela todo o carinho 
E , no entanto, acabei sozinho "
" Fechei a Porta " , composição mimosa e dolente da autoria de Sebastião Mota e Ferreira dos Santos , gravada por Jamelão ( 1913 - 2008 ).
E Viva Zé Pereira !
Crônica psicografada pelo boêmio/irmão Clayrton Weyne.
O Primeiro Problema Nacional

" A educação do povo é o nosso primeiro problema nacional ; primeiro , porque o mais urgente; primeiro , porque solve todos os outros; primeiro, porque resolvido , colocará o Brasil a par das nações mais cultas, dando - lhe proventos e honrarias e afiançando a prosperidade e a segurança; e , se assim faz- se o primeiro, na verdade se torna o único.
É dolorosa essa necessidade de repetir, monotonamente, a cada hora, que a maior riqueza de uma nação é o homem, o seu sangue, o seu cérebro, os seus músculos, e que ela está fatalmente destinada à decadência, quaisquer que sejam os tesouros que encerre , quando o homem que a habita não os merece. É doloroso que , em pleno século XX, ainda estejamos nesta casas verrumar ideias e princípios que , 400 anos antes de Cristo, Platão no seu diálogo com Clínias achava axiomáticos. "Ao romper do dia, as crianças devem se dirigir à casa dos mestres. Assim como os rebanhos seja de carneiros , seja de outros animais, não podem dispensar os seus pastores , assim também as crianças, os seus guias: com esta diferença que de todos os animais é a criança o mais difícil de ser conduzido, tanto mais astuto, mais indócil e mais agressivo, quando traz em si um germen de razão que ainda não é razão. Forçoso, pois, aplicar as crianças às letras desde a idade de dez anos , durante pelo menos três anos. " Aristóteles, o discípulo maior que o mestre, dirigiu esta espécie de aviso a todos os povos imprevidentes...: " Ninguém contestará que a educação deve ser um dos principais objetos do estudo dos governos, porque todos os estados que a desprezaram caíram em ruína. "
Vinte e três séculos depois, o chefe da mais próspera nação sobre a face do globo, o presidente Coolidge, haveria de externar o mesmo conceito, não como a advertência do estagirita, mas com a serenidade de uma consciência desempenhada e o mais justo orgulho patriótico: " Não se admire ninguém de ver a América do Norte tranquila, enquanto o resto do mundo se empega nas tormentas. Esta glória a devemos aos nossos colégios e às nossas universidades !. .. Não há grande povo que não possua grande saber ."
Nós também seremos um dia um grande povo; mas, enquanto não chega a redenção do Brasil pela cultura de seus filhos, continuemos a gritar para todos os lados entre alternativas de fé e desalento, ansiosamente, pedindo socorro.
Pensai na educação, brasileiros !
O Primeiro Problema Nacional, de autoria do médico Miguel Couto ( 1864 - 1934 ) , apóstolo da educação nacional.
Quantos anos de um esforço hercúleo serão necessários para que se consiga desconstruir a maldade e a cegueira ideológica que tomaram conta de nosso ensino nas escolas e universidades ?