segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

DELMIRO GOUVEIA, O CORONEL DOS CORONEIS

Delmiro Augusto da Cruz Gouveia (1863 – 1917), ou, simplesmente, Delmiro Gouveia, nasceu na fazenda Boa Vista, no município de Ipu, no interior do estado do Ceará. Seus pais foram Delmiro Porfírio de Farias, tropeiro de profissão, depois militar e, Leonila Flora da Cruz Gouveia, uma pernambucana de apenas 14 anos de idade.
Aos 5 anos de idade Delmiro mudou- se com a família para o estado de Pernambuco. Seu pai, Delmiro Farias morreu em combate no dia 02 de dezembro de 1867 na injusta Guerra do Paraguai (1864 – 1870), sendo mais um dos brasileiros dos grotões recrutados para serem imolados nos charcos guaranis. Pouco depois, falece Dona Leonila (1878), em decorrência de problemas cardíacos, obrigando Delmiro, agora órfão de pai e mãe, a cair na vida laboral como única condição para sobreviver. Começou sua precoce jornada de trabalho como condutor e cobrador da Brasilian Street Railways Company, em “ maxambombas “, um neologismo derivado de “ machine –pump “, bomba mecânica, como eram designadas as carruagens ferroviárias. Em seguida parte para a atividade de caixeiro-viajante e depois descamba para o lucrativo comércio de peles de animais.
Em 1883, aos 20 anos Delmiro Gouveia contrai matrimônio com Maria Anunciada Cândida de Melo Falcão, conhecida como Iaiá, de apenas 14 anos de idade, imitando assim o pai, Delmiro Farias. Em 1884 vamos encontrar o jovem empreendedor Delmiro lidando com o emergente comércio de algodão. Em 1886, Delmiro trabalha com Herman Ludgren (das futuras “Casas Pernambucanas”), por um breve período e parte em 1889 para um contrato com um grande curtume americano ( Keen Sutterly )  que se instalara no Brasil e que logo depois passaria ao cargo de gerente da tal empresa.
Delmiro Gouveia por essa época já é considerado o “ Rei da Peles “ o que serve de incômodo a muitos empresários e políticos da região. Um cearense famoso, o polígrafo Gustavo Barroso lança uma catilinária num jornal do Sul (Diário de Notícias) contra o seu conterrâneo Delmiro Gouveia:
“ Delmiro Gouveia, um tipo, no físico, no moral e no mental, verdadeiramente representativo da forte e tenaz sub-raça do infeliz Nordeste brasileiro. Aspecto acaboclado, energia indomável e inteligência aguda “. Trata- se de um comentário maldoso, eivado de veneno e tristemente preconceituoso.
Em 1893 Delmiro viaja para os Estados Unidos da América onde visita a famigerada Exposição Universal de Chicago, de onde traz pronta na cabeça a ideia da criação de um grande centro comercial no Derby Club em Recife, que foi inaugurado em 7 de setembro de 1899. Durou pouco o tal empreendimento luxuoso que oferecia  em inúmeros boxes , mercadorias com preços bem menor que o da concorrência. Na noite de 2 de janeiro de 1900 labaredas de fogo consumiram em pouco tempo todo o belo trabalho de Delmiro Gouveia e que, provavelmente, teve origem em mãos criminosas. Aos poucos o tenaz empresário se ergue do grande baque, ajudado pela paixão a lhe consumir por uma jovem de 16 anos, Carmélia Eulina do Amaral Gusmão, filha de Ana do Amaral Gusmão, amante do governador pernambucano Segismundo Gonçalves. Delmiro empreende fuga cinematográfica e se estabelece em 1903 no distrito de Água Branca, chamado Estação da Pedra no estado de Alagoas. Ali, na confluência de quatro estados nordestinos, uma vez mais, Delmiro Gouveia, sonha alto e grande, abençoado pelo “ Velho Chico “, o grandioso Rio São Francisco, implantando uma usina produtora de energia na cachoeira de Paulo Afonso.
Em 6 de junho de 1914 inicia-se a produção de linhas de coser, além de fios e cordões de algodão cru em novelos, numa fábrica – modelo de propriedade de Delmiro Gouveia contando com a ajuda de cerca de 800 operários. Formou- se no distrito de Pedras uma nova e próspera comunidade contando com médicos, dentistas, casas arejadas, farmácias, escolas, lojas e aparelhos de saneamento básico e de luz elétrica. O grupo inglês Machine Cotton (linhas Corrente), eterno líder de mercado, sofreu um tremendo baque com a concorrência da marca nacional Estrela do desabusado “ coronel dos coronéis “ Delmiro Gouveia.
No dia 10 de outubro de 1917, Delmiro Gouveia passeia folgadamente a vista em jornais do dia no alpendre de sua residência quando dois balaços riscaram a noite, atingindo o coração do indigitado empresário e pondo fim a vida deste grande empreendedor e visionário nordestino. Os autores deste bárbaro crime e seus pérfidos mandantes esconderam- se no breu das noites e nas sombras da impunidade, como soe acontecer até hoje, onde pouco vale a vida humana no adusto pedaço de chão do Nordeste brasileiro. Em 1930 funcionários da empresa inglesa Machine Cotton jogaram as máquinas da fábrica das linhas Estrela, que pertencera a Delmiro Gouveia, nas gargantas da cachoeira de Paulo Afonso numa agressão gratuita e infamante ao “ Velho Chico “ e à imperecível figura do destemido Coronel Delmiro Gouveia.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016


NELSON CAVAQUINHO E GUILHERME DE BRITO

Nelson Cavaquinho (1911 – 1986) e Guilherme de Brito (1922 - 2006), dois bambas, dois cantores, dois compositores, dois poetas, dois instrumentistas e, especialmente, dois boêmios.  Ambos cariocas que no início do século XX viveram num Rio de Janeiro rico em vida noturna, violões em serenata e muita camaradagem. Em resumo, a vida consumida em bebida, música e mulheres. E o trabalho, este velho instrumento de tortura medieval: pernas pra que te quero?

 

“ Tire o seu sorriso do caminho/ que eu quero passar com a minha dor/hoje pra você eu sou espinho /espinho não machuca a flor/ eu só errei quando juntei minh’alma a sua / o sol não pode viver perto da lua /é no espelho que eu vejo a minha mágoa/ a minha dor e os meus olhos rasos d’água/ eu na sua vida já fui uma flor /hoje sou espinho em seu amor “.

A Flor e o Espinho, composição de Alcides Caminha, Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, principia logo no primeiro verso com uma pérola de poesia da MPB. As letras de Nelson e Guilherme cantam a mulher amada, a solidão, a velhice, a morte e Deus. Tudo gestado em mesas de bar, em torno de cachaça, violão, cigarros e, claro, mulheres.

“ O sol há de brilhar mais uma vez.../ a luz há de chegar aos corações / do mal será queimada a semente / o amor será eterno novamente /é o juízo final/ a história do bem e do mal / quero ter olhos pra ver a maldade desaparecer “   Composição: Juízo final.

Nelson e Guilherme tiveram instrução formal básica e da escola da vida beberam o néctar dos poetas do povo.

“ Se eu for pensar muito na vida/ morro cedo, amor /meu peito é forte / nele tenho acumulado tanta dor/ as rugas fizeram residência no meu rosto / não choro pra ninguém/ me ver sofrer de desgosto/ eu que sempre soube/ esconder a minha mágoa / nunca ninguém me viu/ com os olhos rasos d’água / finjo- me alegre / pro meu pranto ninguém ver/ feliz aquele que sabe sofrer “.      Composição: Rugas.

Ambos, Nelson e Guilherme foram abatidos pela “ indesejada das gentes “ com a ajuda dos males do tabaco que segue, ainda hoje, ceifando a vida de muitos daqueles inebriados pela cortina de fumaça que se ergue aos céus em desenhos que ninguém sabe decifrar.

“ Sei que amanhã / quando eu morrer / os meus amigos vão dizer/ que eu tenho um bom coração/ alguns até hão de chorar/ e querer me homenagear/ fazendo de ouro um violão /mas depois que o tempo passar/ sei que ninguém vai se lembrar / que eu fui embora / por isso é que eu penso assim / se alguém quiser fazer por mim / que faça agora / me dê as flores em vida / o carinho / a mão amiga /pra aliviar meus ais /depois que eu me chamar saudade / não preciso de saudade/ quero preces e nada mais “. Composição: Pranto de Poeta.

“ Sei que estou/ no último degrau da vida, meu amor / já estou envelhecido, acabado /por isso muito eu tenho chorado /eu não posso esquecer o meu passado/ foram- se meus vinte anos de idade /já vai muito longe a minha mocidade/ sinto uma lágrima rolar sobre meu rosto/ é tão grande o meu desgosto “.       Composição: Degraus da Vida.

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016


FORTALEZA BELA E FERA

Fortaleza, a bela loira desposada do sol, de Paula Ney, hoje desamparada; os verdes mares bravios de José de Alencar, no momento engolindo almas; agigantada, com sirenes a clamar por socorro aos moucos ouvidos dos nossos homens públicos. Uma lástima! Algumas megalópoles saíram do inferno aplicando rigorosos esquemas de “ tolerância zero “ em segurança pública. Apalermados, assistimos hoje moleques esquálidos, desdentados, menores de idade, apoiados em leis e estatutos frouxos implantando a ordem da barbárie e do terror. Restam aos cidadãos de bem a injusta prisão em suas celas de cimento armado, parecendo uns “ políticos safados “ que cometeram crimes contra o patrimônio público: não descem para as masmorras da “ Papuda “ ou das “ Pedrinhas “ e ficam a perambular no breu das noites, feitos zumbis, fugindo aos contatos das gentes ditas normais.

Para aplacar a saudade de uma bucólica Fortaleza de antanho, 61 poetas elaboraram 79 composições como um mimo à Cidade de Nossa Senhora de Assunção, com o nome de Cancioneiro da Cidade de Fortaleza, no ano da 1953 sob a direção de Artur Eduardo Benevides, de onde extraímos dois belos exemplos de amor a esta Terra da Luz:

“ Fortaleza – cidade pequenina - / que eu conheci nos tempos de criança /sem mendigos , sem fome, na abastança /da mesa farta , variada e fina/ sem o avião que , no alto , ronca e dança /sem rádio ; sem o berro da buzina do automóvel/que espanta e que assassina /a sua vida era risonha e mansa /Fortaleza pousada sobre a areia /descalça e linda, refulgindo do alto /sob o mago esplendor da lua cheia / Fortaleza, pequena e engraçadinha/ de saia curta, taful , sem sobressalto /cantando o “ Dominé “ e a “ Cirandinha “ ... /           Fortaleza do Meu Tempo , composição de Gastão Justa .

“ Não tens Capibaribes ao luar / não tens ilhas defronte / não tens pontes/ não tens ventos terríveis, minuanos / não tens brumas, montanhas, nem fortins / és pobre, Cidade/ mas és bela /tens mistérios e muita adolescência/se contemplo teu vulto penso em rosas/ tenho pétalas em mim se te murmuro /quanto és mansa, e bucólica, e pura /e bela , e jovem , o’ grande flor atlântica / plantada mais em nós do que no chão ! / Cidade das velhas serenatas / das doces pastorinhas e fandangos /das retretas românticas, das valsas/de usanças que o tempo já não traz/ quem foi que sepultou teus violões / tuas cirandas , modinhas e quermesses / tuas festas de Reis , tuas lanternas / teus sobrados , serões e bandolins ?/ quanto sofro por ti , pois te desnudam / e te tornam uma girl made in U.S.A. / e já não ouves os sinos que te chamam/ para Nossa Senhora da Assunção/ Cidade de lagoas circundantes/ e de becos solitários e cruéis !/ Lagoa de Mondubim / Lagoa de Pirocaia/ Lagoa de Maraponga / Lagoa da Onça / Lagoa Feia / Lagoa do Tauape ! / na Praça do Ferreira – desvairada - / teu coração se encontra palpitando / e sofre as tuas dores e retém / a memória gentil da tua infância /Cidade essencial / cidade marítima / eu sempre te amei / tenho versos que um dia cantarei /às tuas praias amplas , ao teu mar / onde pousam jangadas e canções / Praia de Iracema /Praia do Mucuripe /Praia do Meireles / Volta da Jurema / Praia Formosa / Praia do Futuro /Praia do Pirambu! / oh! Os teus bairros tão doces e tranquilos /que recordam as canções dos seresteiros /Aldeota, Benfica, Alagadiço /Piedade, Prainha ,  Navegantes /Jacarecanga , Porangabussu !cidade de meus filhos, minhas lutas /meus exílios , desejos , solidões /cidade onde é possível o amor de outrora /chegar ao nosso olhar, claro e esquivo / e em nós ser como foi nos velhos tempos / profundo é o meu amor , oh ! Fortaleza/ e grávido de ti, tão vasto como/ teus céus escampos em setembro /em ti me guardo, guarda-te em mim/ minha pobre edelweiss, barco ancorado/minha guitarra se eu fora português! /        Canto de Amor a Fortaleza, poema de Artur Eduardo Benevides.

 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016


SIMPLESMENTE, AUGUSTO DOS ANJOS

“ Eu, filho do carbono e do amoníaco/monstro de escuridão e rutilância ,/ sofro , desde a epigênesis da infância / a influência má dos signos do zodíaco / profundissimamente  hipocondríaco /este ambiente me causa repugnância .../ sobe- me à boca uma ânsia análoga à ânsia / que escapa da boca de um cardíaco / já o verme – este operário das ruínas -/ que o sangue podre das carnificinas / come, e à vida em geral declara guerra /ainda a espreitar meus olhos para roê- los/ e há de deixar- me apenas os cabelos/ na frialdade inorgânica da terra ./ “

 “Psicologia de Um Vencido “, Soneto de   Augusto dos Anjos.

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884 – 1914), ou simplesmente, Augusto dos Anjos nasceu no dia 20 de abril de 1884, no Engenho Pau D’Arco, na então Vila do Espírito Santo, hoje município de Sapé, no estado da Paraíba, no Nordeste brasileiro. Seus pais foram Alexandre Rodrigues dos Anjos (Bacharel em Direito) e Córdula de Carvalho dos Anjos (Sinhá Mocinha). Suas primeiras letras foram tomadas em casa sob a orientação paterna. Em 1900 passou a frequentar o Liceu Paraibano, na capital do estado. Daí migrou para o estado de Pernambuco quando frequentou a tradicional Faculdade de Direito do Recife, entre 1903 e 1907, onde recebeu o diploma de Bacharel. Nesta oportunidade tomou contato com a “ Poesia Científica “ de Martins Junior. Augusto dos Anjos preferiu a sina do magistério lecionando Literatura Brasileira no Liceu Pernambucano, em Recife e, posteriormente, Geografia, Corografia e cosmografia no Ginásio Nacional, mais tarde denominado Colégio Pedro II.

 Desde cedo, Augusto dos Anjos manteve contato íntimo com o mundo dos livros embriagando-se, intelectualmente, com figuras de peso como Herbert Spencer (1820 – 1903), filósofo e sociólogo inglês; Ernst Haeckel (1834 – 1919), filósofo e biólogo alemão ;  Arthur Schopenhauer(1788- 1860), filósofo idealista alemão ; e Edgard Allan Poe ( 1809 – 1849 ) , poeta americano .

Em14 de julho de 1910, Augusto dos Anjos e Esther Fialho contraíram matrimônio. No ano seguinte (2 de fevereiro de 1911) Esther teve uma gravidez malograda com perda fetal no curso do sexto mês. Este fatídico revés ficou devidamente registrado num soneto de Augusto:

“ Agregado infeliz de sangue e cal/ fruto rubro de carne agonizante/ filho da força grande fecundante /de minha brônzea trama neuronial /que poder embriológico fatal/ destruiu, com a sinergia de um gigante /em tua morfogênese de infante /a minha morfogênese ancestral/ porção de minha plásmica substância /em que lugar irás passar a infância / tragicamente anônimo a feder? /ah! Possas tu dormir, feto esquecido/ panteisticamente dissolvido/ na noumenalidade do NÃO SER!” .

O único livro publicado por Augusto dos Anjos, “ EU “ em 1912 consta de um apanhado de sonetos, de início ignorado pela crítica e por leitores, trajando um linguajar hermético, podendo se enquadrar tanto no Parnasianismo, Simbolismo como no Pré- modernismo.

Augusto e Esther tiveram depois a ventura de gerar dois filhos: Glória (1911) e Guilherme Augusto (1913). Em Leopoldina, Minas Gerais ocorreu em 1914 o último pouso de Augusto dos Anjos quando assumiu a direção do Grupo Escolar Ribeiro Junqueira. No dia 12 de novembro de 1914, aos 30 anos de idade, Augusto dos Anjos voltou ao pó, misturando- se à areia das estrelas por conta de uma pneumonia.  No panteão dos grandes nomes da poesia luso- brasileira cravou sua presença ao lado de figuras como Bocage (1765 – 1805), Garret (1799- 1854) , Vinícius de Moraes ( 1913- 1980 ) e Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987) .

Na edição de número 46 do livro “ EU “, Drummond prega na contra- capa:

“ Li o “ EU “ na adolescência e foi como se levasse um soco na cara. Jamais eu vira antes, engastados decassílabos, palavras estranhas como “ simbiose “, fenomênica ,” quimiotaxia” , “ zooplasma “ , “ intracefálica “... E elas funcionaram bem nos versos . Ao espanto sucedeu intensa curiosidade. Quis ler mais esse poeta diferente dos clássicos, dos românticos, dos simbolistas, de todos os poetas que eu conhecia. A leitura do “ EU “ foi para mim uma aventura milionária. Enriqueceu minha noção de poesia. Vi como se pode fazer lirismo sem dramaticidade permanente, que se grava para sempre na memória do leitor. Augusto dos Anjos continua sendo o grande caso singular da poesia brasileira “.

Para encerrar, “ Budismo Moderno “:

“ Tome, Dr., esta tesoura, e...corte/minha singularíssima pessoa / que importa a mim que a bicharia roa /todo o meu coração, depois da morte? /ah! Um urubu pousou na minha sorte !/também, das diatomáceas da lagoa /a criptógama capsula se esbroa /ao contato de bronca destra forte/dissolva-se , portanto ,minha vida /igualmente a uma célula caída /na aberração de um óvulo infecundo/mas o agregado abstrato das saudades/ fique batendo nas perpétuas grades/do último verso que eu fizer no mundo “ .

 

 

 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016


O MITO CAUBY PEIXOTO: 85 ANOS

 

“ Conceição, eu me lembro muito bem / vivia no morro a sonhar / com coisas que o morro não tem / foi então que lá em cima apareceu / alguém que lhe disse a sorrir / que descendo a cidade ela iria subir / se subiu, ninguém sabe ninguém viu / pois hoje o seu nome mudou / e estranhos caminhos pisou/só eu sei que tentando a subida desceu / e agora eu daria um milhão / só pra ver outra vez, Conceição “ .   Conceição de Jair Amorim e Dunga (1956).

No dia 10 de fevereiro de 1931 nasce uma estrela em Niterói, no Rio de Janeiro, com o nome de Caubi Peixoto Barros, em uma família com fortes pendores musicais: o pai tocava violão e a mãe, bandolim. Os irmãos Moacir, Araquém, ambos instrumentistas e a irmã, Andiara era cantora. Tem mais: o tio Romualdo Peixoto (Nonô) era pianista e Ciro Monteiro, cantor e compositor de renome era seu primo.

Começou na vida artística como calouro na Rádio Tupi, aí por volta de 1949. Junto com seu irmão Moacir cantou na boate carioca Casablanca. Em 1951 gravou seu primeiro disco com uma música para o carnaval, “ Saia Branca “. No ano seguinte mudou-se para São Paulo onde cantou nas boates Oasis e Arpège. Na Rádio Excelsior exibia sua potente voz com um repertório de músicas estrangeiras. Voltou em 1954 ao Rio de Janeiro atuando na Rádio Nacional, ao lado de grandes nomes da música de então como, Emilinha Borba, Ângela Maria, Orlando Silva, Silvio Caldas, Dick Farney, Nelson Gonçalves e outros .

“ Senhor , aqui estou de joelhos / trazendo os olhos vermelhos / de chorar , porque pequei /Senhor , foi um erro de momento / não cumpri o mandamento / o nono da Vossa lei /Senhor , eu gostava tanto dela / mas não sabia que ela / a um outro pertencia / perdão , por esse amor que foi cego / por esta cruz que carrego /dia e noite , noite e dia /Senhor , dai-me a Vossa penitência / quase sempre a inconsciência / traz o remorso depois / Mandai para este caso comum/ conformação para um / felicidade pra dois ... “ .   Nono mandamento, composição de René Bittencourt e Raul Sampaio (1957).

“ Ninguém é de ninguém / na vida tudo passa / ninguém é de ninguém / até quem nos abraça/ não há recordação que não tenha seu fim/ ninguém é de ninguém, o mundo é mesmo assim/ Já tive a sensação que amava com fervor /já tive a ilusão que tinha um grande amor / talvez alguém pensou no amor que eu sonhei / e que perdi também / e assim, vi que na vida / ninguém é de ninguém “. Ninguém é de ninguém, composição de Humberto Silva, T. Gomes e L. Mergulhão (1958).

Cauby, que se tornou Ron Coby na América, lançou um disco com a orquestra de Paul Weston, cantando em inglês. Em 1959 passou uma temporada de um ano nos Estados Unidos onde gravou “ Maracangalha “ de Dorival Caymmi vertida para o inglês como “ I Go “. Nas décadas de 60 e 70 Cauby sofreu a pressão do rock que por aqui conquistou os espaços nas rádios e TVs. Nos anos 80 Cauby grava um disco com composições de grandes autores feitas sob medida para ele, como “ Bastidores “ de Chico Buarque. Em 1982 aparece na praça um disco de Cauby com Ângela Maria com sucessos como “ Começaria tudo outra vez, de Gonzaguinha.

“ Se o amor é uma pérola clara / se tem o ardor de um rubi/ se estão nesse amor que devoto a ti /a gema rara e o rubi /se o amor tem fulgor de brilhantes/ fiel como ouro de lei/se o amor é o tesouro que eu encontrei/ no coração eu guardarei/ verás com os lábios nos meus /que é o amor, milagre de Deus “.      A pérola e o rubi, composição de Haroldo Barbosa.

Em 2015 é lançado o documentário “ Começaria tudo outra vez “ sob a direção de Nelson Hoineff , revivendo toda a brilhante trajetória de Cauby Peixoto , sem dúvida um dos grandes nomes da Música Popular Brasileira .

“ Chorei , chorei , até ficar com dó de mim / e me tranquei no camarim/ tomei um calmante , um excitante e um bocado de gim/amaldiçoei o dia em que te conheci /com muitos brilhos me vesti /depois me pintei, me pintei , me pintei, me pintei /cantei , cantei /como é cruel cantar assim / e, num instante de ilusão / te vi pelo salão a caçoar de mim /não me troquei / voltei correndo ao nosso lar /voltei pra me certificar /que tu nunca mais vais voltar /vais voltar , vais voltar /cantei , cantei / nem sei como cantava assim/ só sei que todo o cabaré /me aplaudiu de pé / quando cheguei ao fim/ mas não bisei / voltei correndo ao nosso lar/ voltei pra me certificar/ que tu nunca mais vais voltar / vais , voltar , vais voltar/ cantei / jamais cantei tão lindo assim/ e os homens lá /pedindo bis /bêbados e febris a se rasgar por mim /chorei , chorei ,até ficar com dó de mim “  . Bastidores, composição de Chico Buarque.

 

 

 

 

 

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016


A TRINCA DO MAL:  UMA FÁBULA

 


Era uma vez três lindas mulheres que num bosque viviam nos confins do mundo, onde o cão perdeu as botas. Apareceu, então, como soe acontecer neste tipo de narração, um gênio do mal, dono de um laboratório com expertise em manipulação e miniaturização de criaturas. Assim nasceu a “ trinca do mal “ que trasmudou aquelas três belezas humanas em “ Bika, Tricungunha e Bengue “. Estes três seres agora microscópicos, confinados àquele fim de mundo, viveriam eternamente sem causar danos a outrem, desde que não saíssem por aí pelo mundo afora.

A “ trinca do mal “ sabia quão funesto e insosso seria consumir toda a eternidade sem certas condições como aglomerado humano, saneamento básico insuficiente, forte desnutrição proteica e calórica das indigitadas pessoas. Partira, enfim, em suas mini-vassouras eletrônicas para um certo paraíso insano no sul do equador onde inexiste o pecado e o deus Baco ainda mantém seu trono.

Em meio a uma seminua multidão ébria e parva a dançar ao som de atabaques e tamborins de couro de gato, em transe a gritar um mantra “ trá, trá, trá, trá “, as três irmãs do mal se infiltraram na dionisíaca festa que irá se prolongar até agosto na “ Cidade Maravilhosa “, cheia de encantos mil, ao som dum “ trá, trá, trá, trá “ de verdade, descendo do morro para a cidade  com afinadas vozes de “ AR–15 e Kalashnikov “.

O final da história só Deus sabe e que Ele tenha piedade de nós! .

O FÓRCIPE MODERNO

 
Desde os primórdios da história da humanidade vários instrumentos foram idealizados para ajudar na assistência ao parto. O fórcipe ou fórceps ainda hoje se mantém como um prolongamento das mãos do obstetra. A moderna história desta pinça cirúrgica passa pela família Chamberlen.
Peter Chamberlen (1560- 1631), filho do cirurgião francês William Chamberlen que em decorrência de lutas religiosas (perseguição aos huguenotes) se exilou na Inglaterra. Nascido em 1560, é conhecido como Pedro, o velho, posto que teve um irmão, também Pedro, nascido em 1572, apodado de Pedro, o novo. Estes três indivíduos mantiveram em rigoroso segredo, a produção e a arte de partejar com o auxílio deste fantástico instrumento – o fórcipe-.
Foi Pedro, o velho, quem primeiro desenhou o novo modelo de fórcipe e manteve no mais absoluto sigilo, com fins de auferir lucros exclusivos à família Chamberlen. Por ocasião dos partos, Pedro carregava o instrumento numa rude caixa de madeira e vendava os olhos da parturiente para que não pudesse conhecer o dito milagroso aparelho de extrair conceptos do claustro materno. E mais, o sagaz parteiro não permitia que ninguém assistisse o dantesco espetáculo. Nos aposentos, apenas se ouvia o ranger dos ferros em meio aos lancinantes gritos da pobre mãe, posto que, não se aplicava qualquer analgesia. Em muitas ocasiões, mãe e filho seguiam silenciosamente para a sepultura.
Pedro, o jovem, teve um filho de igual nome, Pedro Chamberlen (1601 – 1683), que graduou- se em medicina na Universidade de Pádua. Teve três filhos, um dos quais Hugh Chamberlen (1630 – 1720) que seguindo a tradição da família tornou- se um afamado obstetra.  Hugh, de forma ufanista propagava: “ – Meu pai, meus irmãos, e eu, e nenhuma outra pessoa que eu saiba, na Europa, possuímos e praticamos desde muito tempo um meio de fazer parir às mulheres sem que resulte nenhum prejuízo para elas ou seus filhos “.
 Em 1670 na França, Hugh Chamberlen , tentou vender a ideia do aparelho para o insigne obstetra Francois Mauriceau (1637- 1709) , por 10.000 libras . Não contava ele com a astúcia de Mauriceau que lhe ofereceu como prova uma parturiente há três dias em trabalho de parto e portadora de vício pélvico. A despeito de tentar aplicar várias vezes o fórcipe, o epílogo deu –se com a morte da paciente e do concepto. Deste modo, a venda não foi efetivada. Como se percebe, a falha não foi do instrumento e sim de sua indicação incorreta, numa mãe com pelve estreita (“o maior, no caso o feto, não consegue passar por dentro do menor, no caso a pelve exígua “).
Mauriceau exultou do insucesso e em forma de chacota pregava: “ Chamberlen se havia equivocado em julgar encontrar tanta facilidade para partejar as mulheres em Paris como havia encontrado em Londres “.
Este fracasso, explorado ao extremo pelo mais conceituado obstetra da época, Mauriceau , retardou o conhecimento do fórcipe por mais de cinquenta anos , de 1676 a 1753 , em Paris e no resto do mundo .
Mais adiante o segredo do fórcipe foi vendido na Holanda. Há registros anedóticos que o aparelho transacionado constava apenas de um ramo, ou seja, não era uma pinça, e,portanto,  não tinha nenhuma serventia . Em 1713, Jean Palfyn criou um aparelho de dois ramos paralelos que ficou conhecido como “ mãos de ferro “ ou “ mãos de Palfyn “. Já septuagenário, Palfyn percorreu a pé uma longa distância para entregar à Academia de Medicina de Paris o instrumento de sua invenção. O Royal College of Obstricians and Gynaecologists de Londres assinala que: “ A memória dos Chamberlen não pode honrar- se senão com reservas, pois é imperdoável que eles não tivessem a compaixão em salvar a milhares de mulheres e de crianças “.

domingo, 7 de fevereiro de 2016


MARCHINHAS POLÍTICAS ANTIGAS DE CARNAVAL

Desde o ponta – pé inicial promovido pela maestrina Chiquinha Gonzaga (1847- 1935) com “ Ó Abre Alas “ em 1899, músicas são elaboradas, especificamente, para o período carnavalesco. A motivação política se insere como a mais excitante performance.

“ Lá vem o cordão dos puxa-sacos/ dando vivas aos seus maiorais / quem está na frente é passado pra trás/ e o cordão dos puxa- sacos / cada vez aumenta mais / Vossa Excelência / Vossa Eminência /quanta reverência nos cordões eleitorais / mas se o “ Doutor “ cai do galho e vai ao chão / a turma logo evolui de opinião /e o cordão dos puxa – sacos cada vez aumenta mais “.

Em Fortaleza esta música era cantada, à época, com outra letra fazendo menção às garotas que namoraram com os gringos da Vila Morena: “ Lá vem o Cordão das Coca- Colas dando vivas aos americanos .... “ . Coisas do Ceará – Moleque.

A seguinte, “ Maria Candelária “ representa um tipo sempre presente na dadivosa vida pública brasileira: 

“ Maria candelária/ é alta funcionária / saltou de paraquedas/ caiu na letra “ O “, oh, oh, oh, oh /começa ao meio-dia/ coitada da Maria /trabalha, trabalha, trabalha de fazer dó, oh, oh, oh, oh / à uma vai ao dentista / às duas vai ao café/ às três vai à modista /às quatro assina o ponto e dá no pé / que grande vigarista que ela é “.

A marchinha seguinte era uma preparação para o retorno triunfal do “ Pai dos Pobres “ Getúlio Vargas (1883 – 1954), carismático líder populista que “ saiu da vida para entrar na história “:

“ Bota o retrato do velho outra vez / bota no mesmo lugar /o sorriso do velhinho / faz a gente trabalhar / eu, já botei o meu / e tu, não vai botar? /já enfeitei o meu / e tu vais enfeitar ?/o sorriso do velhinho faz a gente trabalhar “.

A próxima marchinha contempla o enigmático “ salvador da pátria “ Jânio Quadros (1917 – 1992) que se elegeu Presidente da República em 3 de outubro de 1960, assumindo o cargo em 31 de janeiro de 1961, tendo como vice João Goulart (1919 – 1976). Durou pouco tempo o mandato de Jânio (27 de agosto de 1960) que deixou o país a ver navios:

“ Varre, varre, varre, varre vassourinha /varre, varre a bandalheira! / que o povo já tá cansado/ de sofrer desta maneira /Jânio Quadros é a esperança desse povo abandonado!/ Jânio Quadros é a certeza de um Brasil , moralizado !/alerta , meu irmão!/ vassoura , conterrâneo!/ vamos vencer com Jânio ! “ .

E estamos hoje em 2016, cansados e desiludidos, igual a “ Cantiga da Perua “, mas com um mundo de motivos para banhar este país com marchinhas carnavalescas:

“ Meu latim com você não gasto mais /está tudo acabado , aqui jaz / nosso amor virou rancor / não me escreva nunca mais /guarde bem sua cartinha /eu não vou ficar sozinha/ pra sempre eu serei amada/ e você meu ex- amor será motivo de piada “ /.

Comenta- se que a ressaca deste ano ficará para a história, semelhante àquele do famigerado “ Baile da Ilha Fiscal “.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016


JOÃO DE BARRO   -  ALÔ CARNAVAL

“Lourinha, lourinha / dos olhos claros de cristal / desta vez em vez da moreninha / serás a rainha do meu carnaval / loura boneca / que vens de outra terra / que vens da Inglaterra / ou vens de Paris /quero te dar / o meu amor mais quente / do que o sol ardente / deste meu país /linda lourinha/ tens o olhar tão claro / deste azul tão raro /como um céu de anil / mas as tuas faces /vão ficar morenas / como as das pequenas / deste meu país “.

Carlos Alberto Ferreira Braga (1907 – 2006), compositor, cantor, cineasta e dublador, nasceu no dia 29 de março de 1907 no estado do Rio de Janeiro. Conhecido também por Carlinhos, Braguinha ou João de Barro. Seus pais foram Jerônimo José Ferreira Braga Neto e Carmen Beirão Ferreira Braga.  Estudou no Jardim da Infância Marechal Hermes, o curso primário deu- se na Escola Joaquim Nabuco, o ginasial no Colégio Santo Inácio, concluindo por fim seus estudos no Colégio Batista.

Em 1927 formou um grupo musical denominado “ Flor do Tempo “ que desaguou no “ Bando de Tangarás “ em 1929 acolhendo dois pesos pesados oriundos da Vila Isabel: Almirante (1908 – 1980) e Noel Rosa (1910- 1937). Neste período adotou o nome de João de Barro, um pequeno pássaro arquiteto. Consta que Braguinha cursou até o segundo ano da Faculdade de Arquitetura e largou tudo para se dedicar ao mundo da música popular, inicialmente como cantor e depois como um brilhante compositor de sucessos carnavalescos. Com um grande parceiro, Alberto Ribeiro (1902- 1971) deixou clássicos como:

“ Uma andorinha não faz verão “:

 Vem moreninha / vem tentação /não andes assim tão sozinha / que uma andorinha /não faz verão/ dizem morena/que teu olhar/ tem correntes de luz/ que faz secar /o povo anda dizendo / que essa luz do teu olhar / a light vai mandar cortar.

“ Balancê”:

 Ô balancê, balancê /quero dançar com você / entra na roda / morena, pra ver/ o balancê, balancê /quando por mim você passa / fingindo que não me vê/ meu coração quase se despedaça /no balancê, balancê /você foi minha cartilha/ você foi meu abc /e por isso eu sou/ a maior maravilha / no balancê, balancê / eu levo a vida pensando/ pensando só em você /e o tempo passa e eu vou me acabando/ no balancê, balancê.

Em 1935 Braguinha iniciou sua jornada no cinema, colaborando no roteiro, argumento e direção do filme “ Alô, alô, Brasil  " e nos anos de 1938 em “ Banana da Terra “ e “ Laranja da Terra “ em 1940.

Em 1937 Braguinha colocou letra num choro do genial Pixinguinha (1897 – 1973) denominado “ Carinhoso “:

 Meu coração, não sei porque/ bate feliz quando te vê /e os meus olhos ficam sorrindo /e pelas ruas vão te seguindo /mas mesmo assim foges de mim/ah, se tu soubesses/ como eu sou tão carinhoso/ e o muito, muito que te quero /e como é sincero o meu amor/eu sei que tu não fugirias mais de mim /vem, vem, vem, vem /vem sentir o calor dos lábios meus / à procura dos teus / vem matar essa paixão/que me devora o coração / e só assim então serei feliz/ bem feliz.

Braguinha casa-se em 1938 com Astrea Rabelo Cantolino com quem tem uma filha de nome Maria Cecília. Na década de 40 encontramos o compositor dublando filmes e elaborando canções para peças infantis. Desta época aparecem os clássicos:

“ Pela estrada a fora, eu vou bem sozinha/ levar estes doces para a vovozinha /a estrada é longa, o caminho é deserto/ e o lobo mau passeia aqui por perto / mas à tardinha, ao sol poente/ junto à mamãezinha dormirei contente “

“ Eu sou o lobo mau/ lobo mau, lobo mau / eu pego as criancinhas pra fazer mingau! /hoje estou contente/ vai haver festança / tenho um bom petisco/para encher a minha pança “

Em 1984, por ocasião da inauguração do Sambódromo, Braguinha participou do desfile carnavalesco pela agremiação campeã, a escola de samba Estação Primeira de Mangueira com o tema Yes, nós temos Braguinha.

O Prêmio Shell para Música Brasileira alcança Braguinha em 1985 e a Medalha Pedro Ernesto em 1997 outorgada pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Braguinha viveu uma longa e profícua existência de quase um século (99 anos), fato raro na classe artística brasileira, uma gente com pressa de viver: Noel Rosa (26 anos), Carmen Miranda (45 anos), Elis Regina (36 anos), Dolores Duran (29 anos), Clara Nunes (39 anos) e Geraldo Pereira (37 anos).

Por muito tempo ainda embalarão os foliões, os sucessos carnavalescos de Braguinha como: Turma do Funil; Touradas de Madrid; Yes, nós temos banana ; Twist no Carnaval ; Pastorinhas .