segunda-feira, 31 de agosto de 2020

 Nora Ney, Bossa e Dor de Cotovelo

Iracema Ferreira Maia ( Nora Ney ) - 1922 a 2003 - nasceu no Rio de Janeiro. Na tenra infância recebeu um violão de presente de seu pai. Ainda jovem tomou contato com uma turma pesada do iniciante Movimento Bossa Nova : o cantor e músico Dick Farney (1921 - 1967), o pianista Johnny Alf ( 1929 - 2010), e o cantor Lúcio Alves ( 1927 - 1993).
Um bom começo, sem dúvida.
Cantava , na época, um repertório de músicas estrangeiras e ganhou o nome de Nora Ney do compositor Haroldo Barbosa (1915 - 1979 ). Até alcançar o primeiro sucesso peregrinou por programas de rádio e por boates.
Em 1952 lançou pela Continental a música "Menino Grande", da autoria do pernambucano Antônio Maria ( 1921 - 1964 ) :

" Eu gosto tanto do carinho que ele me faz
Faz tanto bem o beijo que ele me traz.
As horas passam , ligeiras , felizes
Sem a gente sentir.
Ele está ao meu lado , com o corpo cansado
Precisa dormir.
Dorme , menino grande
Que eu estou perto de ti
Sonha o que bem quiseres
Que eu não sairei daqui.
Oh vento, não faz barulho
Meu amor está dormindo
E o mar não bata com força
Porque ele está dormindo.
Dorme , menino grande
Que eu estou perto de ti.
Sonha o que quiseres
Que eu não sairei daqui "

Em seguida veio o memorável "Ninguém me Ama" , da autoria dos pernambucanos Antônio Maria (1921 - 1964) e Fernando Lobo (1915 - 1996).

" Ninguém me ama, ninguém me quer
Ninguém me chama de meu amor.
A vida passa, e eu sem ninguém
E quem me abraça, não me quer bem .
Vim pela noite tão longa de fracasso em fracasso
E hoje descrente de tudo me resta o cansaço
Cansaço da vida, cansaço de mim
Velhice chegando e eu chegando ao fim".

No ano de 1953 , Nora Ney continuou na mesma linha , " a fossa" , com a musica "De cigarro em cigarro " da autoria de Luís Bonfá (1922 - 2001) :

"Vivo só, sem você
Mas não posso esquecer
Um momento sequer
Vivo pobre de amor
À espera de alguém
Esse alguém não me quer
Vejo o tempo passar
E o inverno chegar
Só não vejo você
Se outro alguém em meu quarto bater
Eu não vou atender
Muitas noites perdi
Muitas noites passei
Sem poder esquecer
De cigarro em cigarro olhando a fumaça
No ar se perder" .

Em 1956 grava outro grande sucesso , desta feita da autoria do baiano Dorival Caymmi ( 1914- 2008 ), " Só Louco ":

"Só Louco
Amou como eu amei
Só louco
Quis o bem que eu quis
Oh ! Insensato coração
Por que me fizeste sofrer
Por que de amor para entender
É preciso amar
Porque
Só louco "

Em 1958 , Nora Ney lança o sucesso carnavalesco " Vai mesmo" , da lavra do mineiro Ataulfo Alves (1909 - 1969):

"Vai , vai mesmo
Eu não quero você mais nunca mais
Tenha a santa paciência
Ponha a mão na consciência
Deixe - me viver em paz

Sai de vez do meu caminho
Dê a outro seu carinho
Me abandone , por favor, ai que dor
Você machucou meu peito
Não tem mais o direito
De mandar no meu amor ".

Nora Ney participou de vários filmes : " Carnaval na Atlântida " ; "Os três recrutas" ; "Carnaval em Caxias"; " Malandros em quarta dimensão "; " Guerra ao samba " , dentre outros.

Nora Ney casou - se bem jovem e desta união teve dois filhos: Hélio e Vera Lúcia, esta, futura Miss Brasil , em 1963. Após um desquite , Nora Ney , uniu - se ao cantor Jorge Goulart (1926 - 2012 ) com quem viveu harmoniosamente até o fim de seus dias. Ambos , após 1964 , passaram longa temporada no exterior, em países comunistas da Europa , onde divulgaram a nossa música popular.
Nora Ney partiu rumo às nuvens do divino no dia 28 de outubro de 2003 , no Rio de Janeiro.

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domingo, 30 de agosto de 2020

 As Flores Sorriem

"Se às vezes digo que as flores sorriem/e se eu disser que os rios cantam/não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores/e cantos no correr dos rios.../é porque assim faço mais sentir aos homens falsos/a existência verdadeiramente real das flores e dos rios /porque escrevo para eles me lerem sacifico - me às vezes/à sua estupidez de sentidos.../não concordo comigo mas absolvo - me/porque só sou essa coisa séria, um intérprete da Natureza/porque há homens que não percebem a sua linguagem/por ela não ser linguagem nenhuma "

Se às vezes digo que as flores sorriem, poema de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa ( 1888 - 1935 ).

Foto ilustrativa do texto :
Scadoxus multiflorus ( flor - de - natal ).

Vida ,este profundo mistério, em vista do qual, somos. Nada existe na superfície terreal , na profundeza dos mares , nem no infinito dos céus, nada que se assemelhe a fantástica grandeza do ser humano.
Aqui , sob o amparo da Mãe Gaia , aprendemos a convivência obrigatória, com tudo que em nossa volta , viceja , desde animais, vegetais ,até os aparente inertes blocos de argila , que um dia nos deram origem. É o nosso destino e obrigação.
Mesmo assim , o homem não se faz jamais soberano, mas apenas um humilde sopro de vida , um elo a mais nesta imensa teia de seres sencientes ou não, que habitam nosso multiverso. Um homem em relação com Deus , com os outros , com a História, com a natureza e consigo mesmo.

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 Deus, Tu Conheces O Escondido

"Deus, Tu conheces o escondido
E tens poder sobre a criação.
Deixa - me viver quanto tempo pensares
Que viver é melhor para mim;
E deixa - me morrer,
Assim que pensares que morrer é melhor para mim.
Deus, peço- te por uma justa atenção diante de ti,
Tanto em minha vida privada como na pública.
Por isso te peço
Que me concedas falar palavras corretas
Tanto quando estiver alegre como quando estiver zangado.
Eu te peço poder manter sempre a justa medida
Tanto em situação de pobreza como na de bem - estar.
Eu te peço por alegria que não acabe
Por consolo que não seja interrompido
E que eu esteja satisfeito com tuas decisões.
Eu te peço paz na vida após a morte,
A felicidade de poder ver a tua face
E o desejo de te encontrar
Sem lamento ou dor,
Sem provação ou tribulação.
Deus , enfeite- nos com o enfeite da fé
E torne - nos pessoas que conduzam
E sejam conduzidas corretamente."

Nasa'I ( Islã).

Foto : Acolhendo com Fé o anoitecer no Porto das Dunas !

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sexta-feira, 28 de agosto de 2020

 Floração do Cajueiro

Hoje, nesta ensolarada manhã de sexta- feira , na Praça Rogério Fróes, em Fortaleza , assistindo um centenário cajueiro se engalanando para entre setembro e outubro ofertar o ouro de seus apetitosos pedúnculo e castanha aos amigos deste logradouro.
Saudades de Juvenal Galeno !

"Cajueiro pequenino,/carregadinho de flor,/à sombra das tuas folhas,/venho cantar meu amor,/acompanhado somente/da brisa pelo rumor,/cajueiro pequenino,/carregadinho de flor./

Tu és um sonho querido/de minha vida infantil, /Desde esse dia...me lembro.../era uma aurora de abril, /por entre verdes ervilhas,/nasceste todo gentil,/cajueiro pequenino,/meu lindo sonho infantil.

Que prazer, quando encontrei- te,/nascendo junto ao meu lar !/-Este é meu, este eu defendo,/ninguém mo venha arrancar !/bradei e logo cuidoso, /contente fui - te alimpar,/cajueiro pequenino,/meu companheiro do lar./

Cresceste ... se eu te faltasse,/que de ti seria, irmão?/afogado nestes matos,/morto à sede no verão.../tu que foste sempre enfermo, /aqui neste ingrato chão!/cajueiro pequenino, /que de ti seria, irmão?/

Cresceste...crescemos ambos,/nossa amizade também;/eras tu o meu enlevo,/o meu afeto o teu bem;/se tu sofria...eu, triste,/chorava como...ninguém!/cajueiro pequenino,/por mim sofrias também!

Quando em casa me batiam, /contava - te o meu penar;/tu calado me escutava,/pois não podias falar;/mas no teu semblante, amigo/ mostravas grande pesar,/cajueiro pequenino, /nas horas do meu penar !/

Após as dores...me vias/brincando ledo e feliz/o "tempo - será " e outros/brinquedos que eu tanto quis !/depois, cismando a teu lado,/em muito verso que fiz.../cajueiro pequenino,/me vias brincar feliz !/

Mas um dia...me ausentaram.../ fui obrigado...parti!/chorando , beijei -te as folhas.../quanta saudade senti !/fui - me longe...muitos anos/ausente pensei em ti.../cajueiro pequenino,/quando obrigado parti !/

Agora volto, e te encontro/carregadinho de flor !/mas ainda tão pequeno,/com muito mato ao redor.../coitadinho, não cresceste/por falta do meu amor,/cajueiro pequenino, /carregadinho de flor"

"Cajueiro Pequenino" , poema da autoria de Juvenal Galeno ( 1836 - 1931 ) , nascido em Fortaleza , e um dos precursores da Literatura Cearense. Foi sócio fundador do Instituto do Ceará, Patrono , na Academia Cearense de Letras , da Cadeira 23 .
Publicou :
" Prelúdios Poéticos"( 1856 ) ; " A Machadada, Poema Fantástico "( 1860); Porangaba ( 1886 ); "Lendas e Canções Populares " (1892); "Cenas Populares"(1871 ); "Canções da Escola"( 1871); "Lira Cearense(1872) ; " Folhetins de Silvanus"(1891).

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domingo, 23 de agosto de 2020

 Grande Otelo : Ouro e Prata

Sebastião Bernardo Silva ( Grande Otelo ), chegou ao mundo em Uberlândia, Minas Gerais , no dia 18 de outubro de 1917. Cantor, compositor , comediante , ator e poeta , enfim , um verdadeiro artista multimídia.

Filho de Francisco Bernardo Costa , que teve fim trágico- assassinado- , e de Maria Abadia de Souza , alcoolista.
Bastiãozinho, como era conhecido , desde cedo viveu nas escolas da vida perambulando por logradouros de adultos onde assimilou a arte de enfrentar reveses, e não se perder na vastidão do mundo.
Bastiãozinho, aos 6 anos de idade fez sucesso vestindo indumentária feminina , com um travesseiro nas nádegas, em dupla com um palhaço de circo mambembe. Ainda mais , cantando e declamando em outros idiomas.
Carregado pela Companhia de Comédias e Variedades Sarah Bernhardt, Bastiãozinho segue para São Paulo , onde recebe o apelido de Otelo , do maestro italiano Filipo Alessi.

Em 1926 , aos 10 anos de idade , " Otelo" percorre em turnê várias cidades. No ano seguinte , Otelo deixa a Companhia de Comédias e pula para a clandestinidade das ruas , vivendo todas as peripécias até ser internado num Abrigo de Menores. Dali é resgatado pela família do advogado Antônio de Queiroz, que lhe oferta outro rumo , abrindo veredas para um promissor futuro do garoto.

Em 1933 , por iniciativa própria, Otelo corta o cordão umbilical com a família Queiroz, e firma contrato profissional com a Companhia de Revistas de Jardel Jércolis, onde passa a ser conhecido como " Grande Otelo".
Em 1939 , com 22 anos de idade , Grande Otelo contracena com a famosa cantora e dançarina Josephine Baker ( 1906 - 1975 ).

Em 1942, Grande Otelo , em parceria com Herivelto Martins ( 1912 - 1992 ) lança o samba carnavalesco "Praça Onze" :

" Vão acabar com a Praça Onze /não vai haver mais Escola de Samba , nao vai/chora o tamborim/chora o morro inteiro/Favela, Salgueiro, Mangueira , Estação Primeira/ guardai os vossos pandeiros , guardai /porque a Escola de Samba , não sai/ adeus , minha Praça Onze , adeus/já sabemos que vais desaparecer/leva contigo a nossa recordação/ mas ficarás eternamente em nosso coração/e algum dia nova Praça nós teremos/e o teu passado cantaremos "

Nas décadas de 40 e 50 encontramos Grande Otelo participando ativamente de chanchadas que reuniam comédias e números musicais, fazendo dupla com os comediantes Oscarito (1906 - 1970) , e , Ankito (1924 - 2009 ).

Em 1949 , uma tragédia passional se interpõe na vida de Grande Otelo , quando Lúcia Maria , sua esposa, põe fim à própria vida e leva consigo , Chuvisco , um menor de 6 anos de idade, filho do dito casal. Um duro golpe para a sensível alma do artista que se afoga de vez em homéricas bebedeiras.
Ainda surgem vários sucessos cinematográficos na conturbada vida de Grande Otelo : Rio Zona Norte (1957) , Assalto ao Trem Pagador (1962 ), Macunaíma ( 1969).

Grande Otelo , falece de um infarto do miocárdio, no dia 26 de novembro de 1993 , numa viagem a Paris, onde receberia uma homenagem num Festival de Cinema em Nantes.

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 Prece ao Fim do Dia.

"Senhor, que és o céu e a terra, que és a vida e a morte ! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu ! Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também. Onde nada está tu habitas e onde tudo está - ( o teu templo )- eis o teu corpo.

Dá- me alma para te servir e alma para te amar.
Dá- me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome.
Torna - me puro como a água e alto como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos. Faze com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir - te como a um pai.

Minha vida seja digna da tua presença. Meu corpo seja digno da terra , tua cama. Minha alma possa aparecer diante de ti como um filho que volta ao lar.
Torna - me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim; e torna - me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim ; e torna - me claro como o dia para que eu te possa ver sempre em mim e rezar - te e adorar - te.
Senhor, protege - me e ampara - me. Dá- me que eu me sinta teu.
Senhor, livra - me de mim."

Prece , da autoria de Fernando Pessoa (1888 - 1935 ) , incluído na obra "O Eu Profundo ".

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sexta-feira, 21 de agosto de 2020

 Cândido das Neves - Índio

" Noite alta , céu risonho
A quietude é quase um sonho
O luar cai sobre a mata
Qual uma chuva de prata

De raríssimo esplendor
Só tu dormes, não escutas
O teu cantor
Revelando à lua airosa
A história dolorosa desse amor

Lua
Manda a tua luz prateada
Despertar a minha amada
Quero matar meus desejos
Sufocá - la com os meus beijos

Canto
E a mulher que eu amo tanto
Não me escuta, está dormindo
Canto, e por fim
Nem a lua tem pena de mim
Pois ao ver que quem te chama , sou eu

Entre a neblina se escondeu
Lá no alto a lua esquiva
Está no céu tão pensativa
As estrelas tão serenas

Qual dilúvio de falenas
Andam tontas ao luar
Todo astral ficou silente
Para escutar
O teu nome entre as endechas
As dolorosas queixas
Ao luar"

Noite Cheia de Estrelas , composição musical da autoria de Cândido das Neves.

Cândido das Neves - Índio - ( 1899 - 1934 ): cantor , compositor , instrumentista e boêmio, nascido no Rio de Janeiro.
Seu pai , Eduardo das Neves (1874 - 1919) , era um palhaço, cantor , poeta, compositor e instrumentista.
Desde cedo , aos 5 anos de idade, Cândido das Neves foi apresentado ao instrumento ícone dos boêmios e das serenatas , o popular violão .
Ainda menor de idade , Índio, integrou um grupo musical chamado " Heróis da Piedade".
Cândido das Neves passou a compor músicas para serestas , e logo, artistas da noite, como Vicente Celestino (1894 - 1968), Nelson Gonçalves (1919 - 1998) , Orlando Silva (1915 - 1978), e Silvio Caldas (1908 - 1998) , trataram de espalhar pelo território brasileiro, as pérolas musicais da lavra de Índio.

Em 1932 , por conta de problemas com a saúde, Cândido das Neves, deu um freio de mão nas noitadas boêmias.
Em 1934, Índio foi abatido em pleno voo pela "peste branca " , a tuberculose, uma amante traiçoeira dos poetas e notívagos daquela época romântica pré- antibiótica.

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sábado, 15 de agosto de 2020

 O Meu Mágico Mundo , Aqui e Agora

"O mundo é isso: um montão de gentes,
Um mar de pequenos fogos. O mundo é isso.
Cada pessoa brilha com luz própria
Entre todas as demais, cada pessoa.
Não há dois fogos iguais.
Há fogos grandes, fogos pequenos
Há fogos de todas as cores.
Há gente de fogo sereno,
Que nem se inteira do vento
E gente de fogo louco
Que enchem o ar de chispas
Alguns fogos bobos
Que não alumiam nem queimam,
Porém outros ardem a vida
Com tantas ganas
Que quem se acerca , se queima
Se queima "

Poema " O Mundo", de autoria do mago Eduardo Galeano ( 1940 - 2015 ), nascido em Montevideu, no Uruguai, e que passeou livremente pelo ensaio , crônica, conto e poesia .

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sexta-feira, 14 de agosto de 2020

 Poema Espiritual

"Eu me sinto um fragmento de Deus
Como sou um resto de raiz
Um pouco de água nos mares
O braço desgarrado de uma constelação.

A matéria pensa por ordem de Deus,
Transforma - se e evolui por ordem de Deus.
A matéria variada e bela
É uma das formas visíveis do invisível.
Cristo , dos filhos do homem és o perfeito.

Na Igreja há pernas, seios, ventres e cabelos
Em toda parte, até nos altares.
Há grandes forças de matéria na terra no mar e no ar
Mil versões dos pensamentos divinos
A matéria é forte e absoluta
Sem ela não há poesia."

"Poesia Espiritual" , da autoria de Murilo Mendes( 1901 - 1975 ) , nascido em Juiz de Fora , Minas Gerais , considerado o principal representante da poesia surrealista no Brasil. Considerava - se um franco - atirador . Propagava que " - Procuro obedecer a uma espécie de lógica interna, de unidade apesar dos contrastes e dilacerações e mudanças e sempre evitei programas e manifestos ".

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domingo, 9 de agosto de 2020

 Queridos Pais, Parabéns !

"Não há nada no céu nem na terra, coisa mais doce, mais forte, mais sublime, mais completa nem melhor que o amor. O amor nasce de Deus e não descansa senão em Deus.
Quem ama corre , voa , vive alegre, é livre e nada o embaraça. O amor muitas vezes não sabe limitar - se, mas vai além de todos os limites. Só quem ama pode compreender as vozes do amor. Grande clamor faz nos ouvidos de Deus aquele ardente afeto de que se acha penetrada a alma quando diz :
" Meu Deus ! Meu amor ! Sois todo meu e eu todo vosso ."

Tomás de Kempis ( 1380 - 1471 ) , Imitação de Cristo .

Sábado, na boca da noite , no Porto das Dunas.

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domingo, 2 de agosto de 2020

  O Anjo de Hamburgo
Aracy Moebius de Carvalho (1908 - 2011) , nascida no Paraná e criada em São Paulo , era filha de mãe alemã. Casou - se em 1930 com Johann Eduard Ludwig Tess , tendo gerado um filho de nome Eduardo. Em 1934 , após desfazer seu enlace matrimonial , Aracy muda- se para a Alemanha onde instala - se em Hamburgo, iniciando um trabalho no consulado brasileiro na Seção de Passaportes .
Em 1938 , o destino cego, joga João Guimarães Rosa ( 1908 - 1967 ), mineiro de Cordisburgo, recriador da Nova Literatura Brasileira , no colo de Aracy Moebius de Carvalho , na Embaixada do Brasil em Hamburgo , onde o escritor mineiro iniciava sua carreira diplomática no Itamaraty.
Na época, Guimarães Rosa era casado com Lígia Cabral Pena , desde 1930 , quando ele tinha 22 , e ela 16 anos de idade. O casal gerou duas filhas : Vilma e Agnes.
Aracy e Guimarães Rosa, viveram em Hamburgo o fogo de uma paixão amorosa verdadeira, em meio ao clima beligerante na Alemanha de Hitler contra o povo judeu.
Para minorar o sofrimento dos semitas no Holocausto, Guimarães Rosa e Aracy adulteravam passaportes judeus visando facilitar sua fuga para países livres.
Em 1942 , Aracy e Guimarães Rosa voltam para o Brasil por ocasião do rompimento do Governo Vargas com a Alemanha, na Segunda Grande Guerra Mundial. O casal oficializa sua união em 1947 , na Embaixada do México no Rio de Janeiro , que perdurou até 1967 , quando "encantou - se" o gênio Guimarães Rosa.
Em 1982, cerca de 40 anos após aventura na Alemanha de Hitler, Aracy Guimarães Rosa, recebeu uma homenagem no Museu do Holocausto, em Israel, com o título de " Justa entre as Nações", pela sua altiva atuação salvando mais de uma centena de vidas semitas.Assim se fez justiça ao " Anjo de Hamburgo " , que hoje repousa no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, ao lado de Guimarães Rosa.
Consta que , ao ser arguida porque arriscou sua vida salvando outras pessoas , respondeu Aracy :
"Porque era justo " . Ponto final !