terça-feira, 25 de julho de 2017

PARA UMA CERTA TURMA DE ESTUDANTES DA UFC: QUANTA SAUDADE!




No final dos anos sessenta do século passado, uma turma de estudantes universitários de medicina de Fortaleza, no Ceará, se abeberava de um mágico e atribulado momento da história mundial implementando um novo estilo de vida e participando de um confronto aberto com tudo que representasse as formas autocráticas de governo. Os tais aprendizes de Hipócrates, quase crianças, absorviam como esponjas, modas alienígenas do tipo cabelos longos, calças faroeste com boca de sino, estampadas blusas coloridas, cobrindo os pés com toscas chinelas de rabicho e portando na cintura uma indefectível bolsa de couro. Isto os marmanjos, claro! As damas, mais discretas, queimavam sutiãs, bebiam, fumavam em público e emitiam, quando necessário, sonoros palavrões. Tudo isso sem perderem elas os mimosos ares de princesas.

Uma pândega!

Sob as centenárias mangueiras no pátio da escola de medicina no bairro de Rodolfo Teófilo os alunos articulavam inocentes passeatas de surpresa no centro da cidade para manifestações contra o governo militar vigente, com os mantras importados de uma minúscula ilha caribenha“ o povo armado derruba a ditadura” e “ o povo unido jamais será vencido”. Alguns estudantes aproveitavam a ida para aquelas arenas, sabotando aulas regulares, e peregrinavam pela incipiente indústria farmacêutica instalada na área central da cidade de Fortaleza. Dava-se, então, a busca de amostra grátis de remédios, como, vermífugos, expectorantes, vitaminas, antibióticos e anticoncepcionais, estes últimos, uma verdadeira coqueluche, para dar vazão ao reinante “ faça amor, não faça guerra”.

Os principais fornecedores de tais brindes eram os gerentes dos laboratórios Andrômaco, Sarsa, Ciba, Roche, Geigy, Lilly, Lepetit, Squibb e Bristol, dentre outros. Assim se conquistavam as receitas que, posteriormente, sairiam das mãos daqueles futuros esculápios e promissores parceiros.  A Big Pharma nasceria bem depois com remédios para quase todo tipo de achaques (disfunção erétil, demências, hipertensão arterial, diabetes, osteoporose e distúrbios do humor), tudo sob a égide de verdadeiros gigantes multinacionais.

Na praça do Ferreira e em seu entorno fervilhava na época uma gozosa vida boêmia com bares e boates (Continental, Hollywood, Fascinação, Guarani, Ubirajara, City, Império, Bar da Alegria e Monte Carlo), fazendo com que muitos daqueles futuros filhos de Hipócrates saíssem com sacolas abarrotadas de remédios doados pelos

laboratórios e adentrassem, como num passo de mágica, naquelas “casas- alegres” para exercerem uma nobre missão humanitária, ofertando graciosamente, assistência médica no período vespertino, àquelas  criaturas filhas de Deus. Via de regra, na ocasião os estudantes faziam aquela pertinente anamnese, seguindo as boas práticas dos seus mestres de Porangabuçu e examinavam apenas as partes do corpo que o vestido não encobria. Ponto final e tudo sob a rigorosa vigilância da “ madame” dona da boate, pondo um freio nas “clientes “ mais exibidas e nos “ doutores” mais estouvados, posto que, o ambiente ali exigia respeito.

Quando o véu da noite cobria aquela região da cidade, acendendo as bruxuleantes luzes do pecado, alguns daqueles estudantes de medicina voltavam, agora ao som de açucarados boleros como “ Frenesi”, “ Beija-me Muito” e degustando uma “cuba-libre”, para desfrutar de outras histórias, estas sim, verdadeiras aulas de filosofia de vida, valendo mais que muitos tediosos compêndios de medicina. Quão grandes eram aquelas pequenas e sofridas criaturas em sua dolorida confissão íntima. A razão por que foram parar naquele dura peleja, quase sempre passava por um romance proibido, gerando uma gravidez indesejada e findando no cruel desprezo imposto pela rígida moral familiar reinante.

Ah, minha amada Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, que imensa maldade   fizeram perpetrar contra tua pujante vida no centro da cidade, consumida em nome do progresso, como se denomina, eufemisticamente, a cruel especulação imobiliária, deitando ao chão prédios inteiros para serem transformados em estéreis estacionamentos de veículos, sufocando a salutar e frugal vida boêmia do coração da cidade. Uma lástima!

“ Quero que vivas só pensando em mim/e que tu sigas por eu seguir/para minha alma não fugir de ti/beija-me com frenesi/dá-me a luz que vem do teu olhar/a inspiração de todo meu amor/dessa ilusão cujo sabor senti/beija-me com frenesi/nas asas deste beijo teu vai um pedaço de mim/diz-me que sentes como eu, diz o que sentes assim/querida, perto do meu coração/encontrarás a luz do céu e o mar/e um luar que há de brilhar por ti/beija-me com frenesi”   Adaptação da música Frenesi de autoria de Alberto Domingues.

“ Beija-me /beija-me muito/ como se fora esta noite, a última vez/beija-me muito/que tenho medo de perder-te, de perder-te outra vez/quero ter-te bem perto/mirar-me em teus olhos/ver-te junto a mim/pensa que talvez amanhã/eu estarei longe/muito longe de ti/beija-me/beija-me muito/como se fora esta noite a última vez/beija-me,

beija-me muito/que tenho medo perder-te/perder-te outra vez/quero ter-te bem perto/mirar-me em teus olhos/ver-te junto a mim/pensa que talvez amanhã/eu estarei  distante/muito distante de ti/beija-me/beija-me muito/como se fosse esta noite a última vez/beija-me, beija-me muito/que tenho medo perder-te , perder-te outra vez”  Tradução livre da música Besame Mucho da autoria de Consuelo Velázquez .


Para os queridos irmãos, Dr. Francisco Clayrton Weyne Martins, representando os marmanjos e, para a Dra. Mary Romero, em nome das gentis princesas da Turma 73 de Medicina UFC.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Os mistérios de Netuno


Praia de Iracema nas proximidades da Ponte dos Ingleses com a preia- mar desenhando em seu dorso ondas de até 3 m de altura , um filho de Hipócrates assiste na areia o mergulho da carruagem do titã Hélios lá onde o mar beija o céu. Um par de "pombinhos " pára as carícias ,ele um senhor magro e idoso; ela , uma esbelta e juvenil deusa grega e partem para enfrentar o mar revolto sem levar em conta que " o mar não tem cabelos onde se possa agarrar". Num segundo uma onda- caixão engole os pombinhos . Aos primeiros gritos de socorro o médico pula no mar trazendo primeiro o pobre homem pálido e vomitando. Volta para buscar a dama que fica apenas com a cabeça à flor da água. "- Moço, pelo amor de Deus procure por aí a parte superior do meu biquíni " erguendo - se mostrando duas volumosas " mangas -rosas " a balouçar. Após titubear um pouco o médico cobre aqueles dois " poemas parnasianos " com sua camisa apagando a idílica visão. O casal segue a muito custo no carro do médico para a Assistência Municipal na Praça da Bandeira onde o doutor adentra aquele seu local de trabalho apenas de sunga e sem camisa. O idoso,por precaução, ficou internado com suspeita de pneumonite química. A quase - deusa seguiu de carona com o médico para sua residência numa pensão - alegre na rua Conde D'eu, naquela dita pérola do pecado que envolve o centro de Fortaleza. Estes mistérios de Netuno!

sexta-feira, 21 de julho de 2017

O BICHO-HOMEM E SEUS MICRÓBIOS EM PERFEITA HARMONIA




O homem, este ser cósmico, minúscula poeira das estrelas é composto de corpo e alma, possuindo os mesmos elementos físico-químicos que formam outros seres vivos que habitam a terra, nossa mãe- Gaia. “ No corpo, há formosura, boa disposição, sanidade, firmeza, integridade, força e desenvoltura; e os seus contrários, fealdade, enfermidade, fraqueza, acanhamento e dor. Na alma, há saber e virtude; e os seus contrários, ignorância e vício” (Juan Luís Vives: 1492- 1540).

Este pujante macróbio, o homem, por dentro e por fora, convive, quase sempre em harmonia com uma miríade de microrganismos, especialmente, bactérias, com a denominação de microbioma humano. Os micróbios vivem aproveitando do homem substâncias que secretamos como nutrientes, ajudam-nos a digerir nossos alimentos e participam de nossas defesas contra infecções várias. A célebre teoria dos germes preconizada por Louis Pasteur (1822- 1895) e Robert Koch (1843- 1910) onde” cada germe, representa uma doença”, desencadeou uma mortífera batalha campal contra os microrganismos, no entanto nos tempos atuais tem sofrido sérios abalos com a descoberta dos benefícios que a grande maioria das bactérias trazem à saúde do homem. Cerca de 99,9% das espécies bacterianas conhecidas são inócuas para os seres humanos. Todas as partes de nosso corpo contêm bactérias. O indivíduo ainda em desenvolvimento dentro do claustro materno vai formar o seu microbioma por ocasião do parto normal quando as bactérias habitantes do canal vaginal ajudam na formação da complexa rede de bactérias defensoras do nosso corpo, especialmente, na pele e no aparelho digestório. O segundo contato de grande monta, do homem com a bactéria, faz-se através da amamentação natural com o aporte de bifidobactérias e de açucares que atuam como prébióticos destes grupos de germes. Ao longo da vida o contato com outros microbiomas fortalecem o nosso sistema imunológico. O uso inadequado de agentes antimicrobianos de largo espectro, gerando germes multirresistentes, pode promover sério desequilíbrio no ecossistema bacteriano levando a riscos desnecessários à saúde humana. Um exemplo claro: a infecção pelo Clostridium difficile que pode levar a morte do indivíduo justamente pela utilização intempestiva de potentes agentes antimicrobianos. Pesquisadores da Universidade de Colorado estudaram a reparação da microbiota intestinal com o emprego da terapia microbiana (transplante microbiano fecal - TMF-) obtido de portador são mediante o lavado de fezes. A efetividade real obtida com tal singular e estranha terapia chega a 90% de sucesso.

Muitas desordens que perturbam a saúde humana ao longo da vida dizem respeito a desarmonia de nosso corpo com o seu microbioma, traduzidos como doenças autoimunes, alergias, obesidade, diabetes, síndrome do intestino irritável, aterosclerose e artrites, dentre outras. Deste modo os estudos sobre o microbioma


humano poderão servir de fatores preponderantes na erradicação de enfermidades, tudo isso, sem causar danos à saúde do bicho-homem.



segunda-feira, 17 de julho de 2017

PEDRO JULIÃO (PAPA JOÃO XXI): MÉDICO PORTUGUÊS


A Idade Média, período histórico que transcorreu entre a queda do Império Romano do Ocidente (476) e a queda do Império Bizantino (1453) no longo espaço de aproximadamente mil anos, permitiu o assentamento do cristianismo, a formação das Cruzadas, a instituição do feudalismo, o ressurgimento da Peste Negra e o luminoso desabrochar das Universidades. A medicina da época medieval constava de uma instigante mescla de superstições, tradições, plantas medicinais e conhecimentos transmitidos pelos antigos gregos e romanos. Muitos acreditavam piamente que as doenças eram castigos de Deus, e a cura só se estabelecia com a intercedência divina. Os pacientes buscavam a cura através de orações ou peregrinando a algum lugar santo, em vez de procurar ajuda médica. A medicina buscou abrigo salvador nos mosteiros.

Por volta de 1213, nasce em Lisboa, Pedro Julião, na freguesia de São Julião, filho do médico Julião Rabelo e de Teresa Gil. O garoto Pedro frequentou a escola da Catedral de Lisboa. Posteriormente seguiu para Paris em busca de aprimorar conhecimentos que o levaram a cursar a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Artes. Na oportunidade conviveu com mestres da estirpe de Alberto Magno (1193- 1280), Roger Bacon (1214- 1292) e Tomás de Aquino (1227- 1274), dentre outros.
Na Universidade de Montpellier entre os anos de 1246 e 1252, Pedro Julião leciona medicina e na Universidade de Paris ensina lógica, dialética, física e metafísica.

Retorna para Lisboa onde ocupa sucessivamente os postos de prior de Mafra, arcebispo de Braga, cônego e deão da Catedral de Lisboa. Em 1261 Pedro Julião mostra-se em Viterbo junto ao Papa Adriano V, cujo pontificado durou apenas 38 dias. Em 1273 é eleito bispo de Braga, porém não toma posse, pois se encontrava fazendo parte do Concílio de Lion. Em 1276, após o falecimento do papa Adriano V, Pedro Julião é eleito papa, assumindo o nome de João XXI. Vive em um momento histórico perturbado com tensões políticas e religiosas. Tenta reunir a Igreja Grega com a Igreja do Ocidente. Continua a batalha com As Cruzadas pela libertação da Terra Santa em poder dos turcos. Foi breve seu pontificado, oito meses, somente, posto que, faleceu em 20 de maio de 1277.
São atribuídas a Pedro Julião, em meio a controvérsias, várias obras de medicina, cabendo maior destaque a Thesaurus pauperum (Tesouro dos pobres) escrito em homenagem ao papa Gregório X e que foi utilizado até os séculos XIV e XV como uma boa fonte de pesquisa clínica.  Um outro texto trata- se de Liber de óculo, um tratado de oftalmologia.

No que diz respeito a obras filosóficas de Pedro Julião, apresenta-se como seu trabalho mais significativo, as Summulae logicales (Súmulas lógicas), uma sistematização da lógica de Aristóteles. Na monumental obra de Dante Alighieri (1265- 1321), A Divina Comédia, Pedro Julião é citado em Paraíso, canto 12, versos 134- 135, não como papa, mas como teólogo e filósofo.

Pedro Julião (papa João XXI), um gênio complexo e multifacetado, passa para a História como o único filho de Hipócrates, no longo caminho do cristianismo a assumir o Trono de Pedro. Faz companhia como português a outros tantos papas: 212 italianos, 17 franceses, 11 gregos,6 alemães, 6 sírios, 3 espanhóis, 3 norte-africanos,2 croatas, 1 português, 1 israelita, 1 inglês, 1 holandês, 1 grego, 1 polaco e 1 argentino.





sexta-feira, 14 de julho de 2017

UM ENIGMA E UMA LIÇÃO HIPOCRÁTICA

Para a velha-guarda de parteiros do Ceará




Uma jovem foi internada em caráter de urgência num Hospital-Escola no centro de Fortaleza. Corria o ano de 1973. Era prática corriqueira a admissão ser realizada por um graduando de medicina daquele modelar nosocômio. Foram colhidos, na ocasião, os seguintes dados:  M., cliente de 23 anos de idade, solteira, estudante universitária, aparência saudável, relatando ausência de menstruação há 7 meses, que coincidiu com o aumento volumétrico do abdome. Ao exame físico: pulso e pressão arterial dentro da normalidade. Mucosas coradas. Ausculta cardiopulmonar sem alterações. Mamas de volume e coloração normais. Abdome abaulado, tenso, com massa lisa chegando a reborda costal, levemente dolorosa. Não foram ouvidos batimentos cardíacos fetais com o estetoscópio de madeira, de Pinard. Ao toque combinado: colo longo e fechado.

Um bilhete colado na capa do prontuário assinado por um médico sugeria o internamento da cliente por conta de um provável início de trabalho de parto. O jovem interno, com todo o cuidado do mundo, procurou de imediato um contato com o médico da cliente. Gostaria de dar, com todo respeito, sua humilde opinião sobre o caso. A jovem lhe relatara que há muito tempo não tinha parceiro sexual. Na palpação abdominal não conseguira palpar partes fetais conforme as manobras de Leopold e na ausculta nada de batimentos cardíacos fetais.

Com um semblante cerrado, o médico pergunta ao estudante: “- quer dizer que não estamos diante de uma gravidez?  “- e o Pregnosticon (exame de urina) positivo para gravidez, não vale? “ -  e o ventre volumoso representa ascite ou um tumor? “ . O jovem estudante, engolindo a saliva seca, pediu desculpas pela sua intromissão indevida, fruto de sua pouca experiência.

Deu-se início por ordem médica a uma indução do parto de um “ feto morto “. Cumpre sinalar que na época não havia no Ceará exames de ultrassonografia, que por aqui aportaram somente no final da década de 70. Depois de dois dias de indução do parto sem resposta alguma, convocou-se uma reunião com o staff da obstetrícia do hospital. Um dos presentes sugeriu a realização de um raio X simples do abdome para ver se a gravidez era dentro ou fora do útero, o que justificaria o malogro da indução com ocitocina. O laudo do radiologista foi claro: Tumor de ovário contendo estruturas semelhantes a dentes, configurando um provável Teratoma benigno. De fato, não se tratava, realmente, de gravidez.

O jovem estudante que há pouco admitira a cliente, pedira a um colega de turma que assistisse a reunião do staff sobre o caso, pois faltara-lhe coragem e, ademais, com fins de evitar um constrangimento. E foi um pouco depois encontrado num bar próximo ao hospital, sorvendo uma caninha Guaramiranga, empalhada, com tira-gosto de torresmo, acompanhando ao vivo a performance do grande seresteiro Vilamar Damasceno (1946 -1989), abraçado ao pinho, com uma de suas belas melodias, “ Meu Lamento”:

“ Ah! Esta praia, esta canção, esta noite e o meu violão/ fazem-me sonhar / ah! Se eu soubesse/ onde está meu amor/ meu lamento não seria de dor/ mar responde, por favor/ onde está meu amor/, se está sozinho, sem um carinho, sem um calor/

É só a ti que não sabes mentir/ é que pergunto/ não deixes que o tempo responda, traduza errado/ tudo o que sinto “

O outrora estudante, hoje um esculápio ainda em plena labuta no outono da vida, guarda a singela lição do grande mestre, Sir William Osler (1849- 1919):

 “Os quatro pontos de um compasso do estudante de medicina são: inspeção, palpação, percussão e ausculta”.


quinta-feira, 13 de julho de 2017

TENSÃO PRÉ-MENSTRUAL EM DOIS TOQUES



Remonta ao tempo de Hipócrates (460 a.C.- 370 a.C.) relatos acerca de alterações comportamentais observadas em mulheres durante o ciclo menstrual. Vários sintomas dizem respeito aos dez dias que antecedem a menstruação, tais como, distensão abdominal, dor mamária, ansiedade, crises de choro, dificuldade de concentração e rápida mudança de humor. Existe nesta condição uma gradação de severidade indo de quadros leves, catalogados como síndrome da tensão pré-menstrual (STPM) representando 85% dos casos e aqueles graves denominados como síndrome disfórica pré-menstrual (SDPM) responsáveis pelos 15% restantes.

Tais achaques acometem mulheres jovens entre 20 e 35 anos de idade. Várias hipóteses têm sido aventadas, contudo a real fisiopatologia de tal síndrome ainda permanece obscura. Sabe-se que a flutuação hormonal de substâncias esteroides como o estrogênio e a progesterona causa impactos na função cerebral incluindo áreas de cognição, status emocional, entre outros. Tem-se como certo que os casos ditos leves de síndrome de tensão pré-menstrual podem ser controlados com simples mudanças de hábitos de vida acrescidos de terapias brandas.

Os quadros graves catalogados como síndrome disfórica pré-menstrual (SDPM) se apresentam mais raramente e exigem acurácia em seu diagnóstico, posto que, não existem exames bioquímicos que possam ser utilizados como marcadores de tal distúrbio. Consideram-se sintomas chamativos: humor deprimido; ansiedade e tensão marcantes; extrema labilidade emocional; irritabilidade gerando conflitos interpessoais; dificuldade de concentração; insônia ou sonolência. Tudo isto interfere nas esferas familiar, social e laboral. Há que se afastar problemas de saúde que podem confundir mimetizando a síndrome disfórica pré-menstrual, tais como: hipertireoidismo, enxaqueca, epilepsia e doenças psiquiátricas.

Nas formas leves chamadas de síndrome da tensão pré-menstrual (STPM) recomendam-se exercícios físicos regulares e modificações na dieta com redução na ingesta de açúcar, sal e cafeína. Pode-se lançar mão de produtos naturais como, óleo de prímula, Vitex agnus castus e Hypericum perforatum.
Nas formas graves, ditas síndrome disfórica pré-menstrual se dispõe de um leque de opções de tratamento onde constam:

Contraceptivos orais combinados, “ as pílulas”, que mostram boa eficácia em uma variedade de combinações;

Progesterona e progestágenos: há relatos controversos acerca dos resultados obtidos;
Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS): mesmo que utilizados somente na segunda fase do ciclo menstrual mostram boa eficácia no controle dos sintomas. Existem vários produtos, igualmente seguros e efetivos, dentro desta classe de medicamentos.

A acupuntura e a psicoterapia ocupam posição de real destaque na assistência individualizada e integral a este instigante problema que afeta a saúde da mulher em idade reprodutiva no mundo inteiro.







sábado, 8 de julho de 2017

Saber e Poder


Em uma de suas obras, A Retórica, Aristóteles (384-322 a.C) relata que certa feita a esposa de Hieron, rei de Siracusa perguntou ao poeta Simônides o que valia mais: ser rico,ou ser sábio? "Rico, respondeu o poeta; " pois vejo os sábios estarem sempre batendo às portas dos ricos".
Deste modo, assistimos aos ricos, em geral, poderosos, levarem boa parte da sofrida humanidade a pensar na aquisição, o mais que puder, de bens materiais, a qualquer custo. Tais criaturas pensam que suas riquezas lhes conferem o direito de dirigir os demais seres humanos.
Relata - se que contaram a um filósofo o tal episódio da resposta de Simônides à esposa de Hieron e que ele verberou : " correto, é verdade que os sábios em geral batem às portas dos ricos, e que os ricos não batem às portas dos sábios; mas, isto é porque os sábios sabem o de que precisam, e se os ricos não procuram os sábios é porque não conhecem quais são as suas necessidades "( atribuído a Antístenes ).
Transpondo isto para os dias de hoje em Pindorama constata - se como o argumento do filósofo Francis Bacon(1561-1626) " o conhecimento é em si mesmo um poder" não é levado em conta pelos poderosos palacianos. Assistimos pasmos, semianalfabetos granjeiros catapultados a ricos industriais, passando por medíocres parlamentares ostentando falsas pérolas e findando em magnatas da justiça como semideuses.
Foi de cortar coração a triste cena protagonizada recentemente por um figurão da política, banhado em prantos diante das câmeras televisivas de Pindorama ao ser confirmada sua prisão.
Vale a pena lembrar Sêneca (4 a.C - 65) ao afirmar que" a maioria das pessoas é infeliz exatamente por procurar ser feliz, e não sabe o que possa ser a felicidade".

sexta-feira, 7 de julho de 2017

SÍFILIS CONGÊNITA NO BRASIL: AINDA UMA MÁCULA

Para a presidente Dra. Liduina Rocha




Girolamo Fracastoro ou Hieronymous Fracastorius (1478- 1553), médico, astrônomo, matemático, filósofo e poeta, é um digno representante da iluminada mente renascentista. Na época, o termo doença venérea já era corrente e procedia de Vênus, a deusa romana da beleza, do amor e da fecundidade. Era uma versão da deusa grega Afrodite que deu origem aos termos afrodisíaco e hermafrodita (de Hermes e Afrodite).

A palavra sífilis foi criada por Fracastoro em um livro chamado “ Sífilis, ou a doença francesa” publicado em 1530. Data deste período o dito jocoso “ Uma noite com Vênus e o resto da vida com Mercúrio”.

A sífilis congênita continua sendo uma enorme mácula e um grande desafio para as políticas de saúde pública do Brasil e sua presença desnuda erros grosseiros no sistema de saúde e na qualidade da assistência pré-natal. Foram registrados mais de 100.000 casos de sífilis em gestantes na última década no Brasil. A OMS confere que não deve existir mais de um caso para cada 1000 nascidos vivos. No Brasil a média fica em torno de 7,4 casos de sífilis em gestantes para cada 1000 nascidos vivos.

Várias estratégias de prevenção têm sido elaboradas com relação à Sífilis Congênita:


1.      Assistência pré-natal abrangendo cem por cento das gestantes, algo ainda não alcançado entre nós

2.      Realização do teste sorológico VDRL na primeira consulta pré-natal, repetido no terceiro trimestre e por ocasião do parto

3.      Diagnóstico e tratamento adequados para o casal grávido

4.      Registro no cartão da gestante de forma minudente de todo tratamento realizado

5.      Notificação dos casos de sífilis congênita, incluindo aborto e natimorto

A maioria dos casos de sífilis diagnosticados na gravidez são assintomáticos (sífilis latente) detectados com simples exames de VDRL e FTA- abs. O restante dos casos distribuem-se em sífilis primária (cancro duro) e sífilis secundária (lesões disseminadas na pele e queda de pelos).  Os casos não tratados permitem a transmissão vertical para quase cem por cento dos conceptos.

O tratamento com o emprego da Penicilina Benzatina em doses adequadas traz a cura efetiva da sífilis. E por incrível que pareça, tem havido desabastecimento de tal fármaco no mercado brasileiro, dependente de produtos chineses e indianos. O tratamento farmacológico alternativo sugerido para substituir a penicilina benzatina, em gestantes com sífilis, não surte o efeito desejado quando se emprega a eritromicina e outros macrolídeos, posto que, estes antibióticos passam em níveis baixos para o compartimento fetal, deste modo, deixando o concepto sem um adequado tratamento. Tais antibióticos macrolídeos servem apenas para tratar o casal grávido.

O grave problema da sífilis congênita no Brasil sofrerá amplo revés ao se implantar programas bem definidos de assistência pré-natal de qualidade, através de equipes multiprofissionais, aliadas a laboratórios de análises clínicas com alto grau de resolutividade e presteza. Tudo isto contando a retaguarda de larga distribuição de penicilina benzatina.

 A educação constante do casal com vistas a prevenção primária da sífilis e de outras doenças sexualmente transmissíveis tem real impacto positivo no controle de tais temerárias enfermidades.



segunda-feira, 3 de julho de 2017

ANO DE 1917 NO BRASIL



Há cem anos (1917) o operariado e as esquerdas brasileiras de sempre ficaram ouriçadas e babando de prazer pela notícia do eclodir da Revolução Comunista Soviética, que consumiria cerca de vinte milhões de vidas e serviria de modelo para marionetes espalhadas pelo mundo afora. Era o fantasma do comunismo internacional a rondar países distantes, a maioria vivendo em frágeis democracias. O Brasil foi o último rincão a proscrever o escravismo (infelizmente), e em contrapartida, corre o risco de ser o último a abraçar o socialismo (se Deus quiser!).

Em 1917 é assassinado o grande industrial nordestino Delmiro Gouveia (1863- 1917) nascido no município de Ipu, no Estado do Ceará, que de simples tropeiro tornou-se por indômita força de vontade, um industrial de vanguarda. No ano de 1930, funcionários da empresa inglesa “ Machine Cotton” jogaram as máquinas da fábrica de linhas “Estrela” que fora de propriedade de Delmiro Gouveia, nas gargantas da cachoeira de Paulo Afonso numa agressão gratuita e infamante ao “ Rio São Francisco, o Velho Chico” e à imperecível figura do destemido Coronel Delmiro Gouveia.

Oswaldo Cruz (1872- 1917), um cientista brasileiro, no mês de fevereiro de 1917 falece ocupando o primeiro plano no panteão dos grandes vultos da História do Brasil. Oswaldo Cruz pertenceu à Academia Brasileira de Letras e foi nomeado Cavalheiro da Legião de Honra da França.

 Dois compositores, Donga e Mauro de Almeida, registram na Biblioteca Nacional a propriedade intelectual do samba “ Pelo Telefone” , considerado o primeiro na história da Música Popular Brasileira ( MPB):

“O chefe da folia/ pelo telefone manda me avisar/que com alegria/não se questione para se brincar/ai, ai, ai,/é deixar as mágoas para trás, ó rapaz/ai, ai, ai/fica triste se és capaz e verás/tomara que tu apanhe/pra nunca mais fazer isso/tirar amores dos outros/depois fazer teu feitiço/ai, se a rolinha, sinhô, sinhô/se embaraçou, sinhô, sinhô/é que a avezinha, sinhô, sinhô/nunca sambou, sinhô, sinhô/porque este samba , sinhô, sinhô/de arrepiar, sinhô, sinhô/põe perna bamba, sinhô, sinhô/mas faz gozar, sinhô, sinhô/o peru me disse/se o morcego visse/não fazer tolice/que eu então saísse/dessa esquisitice/de disse- não- disse/ah !ah! ah!/aí está o canto ideal, triunfal/ai, ai, ai/viva o nosso carnaval sem rival/se quem tira o amor dos outros/por Deus fosse castigado/o mundo estava vazio/ e o inferno habitado/queres ou não, sinhô, sinhô/vir pro cordão, sinhô, sinhô/é ser folião, sinhô, sinhô/de coração, sinhô, sinhô/porque este samba, sinhô, sinhô/de arrepiar, sinhô, sinhô/põe perna bamba, sinhô, sinhô/mas faz gozar, sinhô, sinhô/quem for bom de gosto/mostre-se disposto/não procure encosto/tenha o riso posto/faça alegre o rosto/nada de desgosto/ai, ai, ai/dança o samba/com calor, meu amor/ai, ai, ai/pois quem dança/não tem dor, nem calor”

Em 2017 o Brasil, lindo e trigueiro, segue deitado em berço esplêndido, rés do chão em meio a porcos, ratazanas, sapos e corvos, num lodaçal asfixiante, como um indigente em fase terminal, apenas, esperando a extrema- unção.

Enquanto isso, “ Coxinhas e Mortadelas” que tanto se digladiaram em vão, hoje, bovinamente, partem para o abate final.

 Sorridentes e confiantes, apenas, os de sempre: políticos malandros, juízes prevaricadores e empresários mafiosos!

Brasil, País do Faturo!