quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O JOGO DO FAZ DE CONTA OU UM RACHA NA ARENA


Num país perdido nos cafundós do judas realizou-se numa arena parecendo uma rinha, um rumoroso “ racha “, uma conhecida “ pelada “ de futebol de várzea. Nos minutos finais da refrega, na hora do pega para capar, a porfia continuava insossa e sem gols. Os “ malandros “ atletas utilizaram todas as artimanhas, inventando faltas e catimbando o que podiam. A boba plateia ansiava em ver sangue, como na Roma dos gladiadores e, nada! Esperava-se “ cabelo, barba e bigode “ ou além de queda, coice “. E, nada! Os marmanjos litigantes, com um livrinho debaixo do braço, contendo as regras do jogo, decidiram terminar a contenda do faz de conta, com gregos e troianos abraçados, tal qual faziam aqueles hábeis políticos de antanho. A lambança logo cairia no devido esquecimento, matreiramente pensavam eles. Verberaram tanto que terminaram rasgando as páginas do tal icônico livrinho verde que balizava as regras do jogo, ali no último minuto , na frente de todos , pasmem !

Ah! Futebol de várzea sem futuro, minha gente!
LUÍS GAMA, “ UM NEGRO GENIAL “
Para o nobre Dr. Francisco Perdigão

Luís Gonzaga Pinto da Gama (1830- 1882), jornalista, poeta, advogado, abolicionista, nasceu no dia 21 de junho de 1830, no estado da Bahia, no Nordeste brasileiro. Filho de uma africana livre de nome Luísa Mahin e de um certo fidalgo português. Em 1840, quando contava o petiz Luís Gama com 10 anos de idade, seu pai o vendeu como escravo, com fins de sanar umas dívidas contraídas em jogos de azar. O alferes Antônio Pereira Cardoso levou o seu novo escravo para uma fazenda no município de Lorena, em São Paulo. Em 1847, uma bondosa alma na figura do estudante de direito, Antônio Rodrigues de Araújo põe em curso a alfabetização do jovem Luís Gama, na ocasião contando com 17 anos de idade. No ano seguinte, Luís foge do cativeiro e na capital, passa a integrar a Força Pública da Província de São Paulo, onde permanece até o ano de 1854, quando recebe baixa por motivo de insubordinação. Em 1856 torna-se amanuense da Secretaria de Polícia.
Publica em 1859 o livro “ Primeiras Trovas Burlescas “, sob o pseudônimo de Getulino . Cria em 1864 o jornal humorístico denominado “ O Diabo Coxo “, de efêmera duração. Em 1866 com o nome de Barrabás edita o jornal Cabrião . Encontramos Luís Gama fazendo parte da Loja Maçônica América, no ano de 1868, quando inicia suas destemidas atividades como advogado em defesa da libertação dos escravos. Participa com figuras intelectuais de destaque como Rui Barbosa, Castro Alves e Joaquim Nabuco, no ano de 1869 como redator do “ Radical Paulistano “.
Em 1882 figura como advogado do Centro Abolicionista de São Paulo. Nesta ocasião atribui-se uma patética frase a Luís Gama: “ Perante o direito, é justificável o crime de homicídio perpetrado pelo escravo na pessoa do senhor “.
No dia 24 de agosto de 1882 Luís Gama falece em decorrência de complicações de um quadro de diabetes mellitus, em São Paulo, sem ver raiar o sol da liberdade para os escravos da nação brasileira. Deixou como esposa, Claudina Fortunato Sampaio e o filho Benedito Graco Pinto da Gama.
Segue o poema “ Quem Sou Eu “ de Luís Gama:
“ Amo o pobre, deixo o rico, / vivo como tico-tico; / não me envolvo em torvelinho, / vivo só no meu cantinho;/ da grandeza sempre longe/como vive o pobre monge. / tenho mui poucos amigos ,/porém bons , que são antigos,/fujo sempre à hipocrisia,/ à sandice , à fidalguia ./ se negro sou , ou sou bode / pouco importa . O que isto pode? /bodes há de toda casta ,/ pois que a espécie é muito vasta .../há cinzentos , há rajados , / baios , pampas e malhados , bodes negros , bodes brancos ,/e, sejamos todos francos , / uns plebeus e outros nobres, / bodes ricos , bodes pobres ,/ bodes sábios , importantes ,/ e também alguns tratantes.../ aqui nesta boa terra ,/ marram todos , tudo berra ;/ nobres condes e duquesas, /ricas damas e marquesas ,/ deputados , senadores , / gentis- homens, veadores ;/belas damas emproadas,/ de nobreza empantufadas ;/ repimpados principotes,/ orgulhosos fidalgotes ,/ frades , bispos , cardeais ,/fanfarrões imperiais ,/ gentes pobres , nobres gentes,/ em todos há meus parentes ./entre a brava militança / fulge e brilha alta bodança ;/ guardas , cabos , furriéis ,/brigadeiros , coronéis ,/ destemidos marechais ,/rutilantes generais , / capitães de mar e guerra ,/ - tudo marra , tudo berra !/ pois se todos tem rabicho ,/ para que tanto capricho ?/haja paz , haja alegria,/ folgue e brinque a bodaria ;/ cesse , pois , a matinada ,/ porque tudo é bodarrada .”
Na gíria da época o termo “ bode “ significava, depreciativamente, “ negro ou mulato “.
Hoje em Pindorama, “ bodes e cabras “ planaltinas, chafurdando no lamaçal, “ tudo marra, tudo berra “, e nós, pobres cidadãos , para onde vamos ? Um doce para quem adivinhar!

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

PECADO CAPITAL: O COTIDIANO



Dois senhores de idade provecta, de trajes simplórios, meio curvados como arbustos frágeis, conversam e gesticulam defronte a um certo “ pegue/ pague “ da vida. 
- Que estranha aquela empolada figura humana reluzente na fila de compras! Comenta um daqueles senhores.
- Com certeza ele não faz parte da nossa confraria !, emenda o outro .
- A vida é assim mesmo: uns com tanto e outros com quase nada!
As orelhas do “ pobre burguês “ da fila, àquela altura deviam estar a arder. Segue o papo daqueles dois senhores, no mesmo diapasão.
- Aquilo que mata por inanição pode fazer o mesmo por indigestão pelo excesso de comida!
Além do que o vil metal prefere aquele mais hábil na poupança ou no exercício da usura.
- Tolice, rebate o outro. Este argumento só vale para nós que pouco possuímos. Um tipo como aquele é como um poço onde quanto mais se cava, maior a vazão da água, ou da lama, como queiram. Finaliza o mais queixoso.
- Vamos embora, amigo, pois aqui parados, somos um chamariz para qualquer marginal mais afoito! E segue o carrossel da vida, indiferente àquelas simples criaturas.
“ Dinheiro na mão é vendaval / é vendaval! / na vida de um sonhador / de um sonhador ! /quanta gente aí se engana / e cai da cama/ com toda a ilusão que sonhou / e a grandeza se desfaz / quando a solidão é mais / alguém já falou.../ mas é preciso viver / e viver/ não é brincadeira não / quando o jeito é se virar/ cada um trata de si/ irmão desconhece irmão / e aí! /dinheiro na mão é vendaval / dinheiro na mão é solução / e solidão ! Letra de “ Pecado Capital “ do mago cantor e compositor Paulinho da Viola.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

                                        CATULO DA PAIXÃO CEARENSE

Catulo da Paixão Cearense (1863 – 1946), compositor, cantor, músico e poeta, nasceu no dia 08 de outubro de 1863 em São Luís do Maranhão. Seus pais foram Amâncio José da Paixão Cearense, oriundo do Ceará, ourives, e D. Maria Celestina Braga da Paixão, maranhense. A família mudou-se para o sertão do Ceará quando Catulo tinha 10 anos de idade e ali permaneceu até o ano de 1880 quando migrou para o bairro de Botafogo no Estado do Rio de Janeiro. Catulo estudou no Colégio Teles de Meneses onde tomou íntimo contato com o idioma francês. No ano de 1885 Catulo passou a frequentar a casa do senador do Império Silveira Martins com o fito de ensinar português para os filhos deste. Nessa época trabalhava como estivador no cais do porto do Rio de Janeiro. Aprendeu a tocar flauta e violão convivendo com músicos “ chorões “ e boêmios como João Pernambuco, Anacleto de Medeiros, Ernesto Nazaré, Chiquinha Gonzaga e Francisco Braga.
Pedro da Silva Quaresma, proprietário da Livraria do Povo consorciou-se com Catulo da Paixão Cearense passando a editar folhetos de cordel e modinhas da época. Em 1908 no Instituto Nacional de Música, Catulo introduziu o violão nos meios elegantes da capital fluminense. Como consequência realizou, a convite do então presidente Hermes da Fonseca e de sua bela esposa Nair de Teffé (pintora, cantora, atriz e pianista), um recital de modinhas no Palácio do Catete, causando um grande furor , a favor e contra tal novidade.
Data de 1914 a composição musical “ Luar do Sertão “, considerada o hino nacional do sertanejo brasileiro, com letra de Catulo, baseada no folclore e música do violonista João Pernambuco:
“ Não há ,ó gente , oh não / luar como este do sertão / oh , que saudade do luar da minha terra / lá na serra branquejando , folhas secas pelo chão / este luar cá da cidade tão escuro / não tem aquela saudade do luar lá do sertão / se a lua nasce por detrás da verde mata / mais parece um sol de prata pranteando a solidão / a gente pega na viola que ponteia / e a canção é a lua cheia a nos nascer do coração / se Deus me ouvisse com amor e caridade / me faria essa vontade , o ideal do coração : / era que a morte a descontar surpreendesse / e eu morreria numa noite de luar do meu sertão “ .
Um poema singelo da autoria de Catulo denominado “ O Trem de Ferro “ serviu a antologias de escolas de ensino secundário pelo Brasil afora:
“ Num trem / em grande disparada, / pai e filho corriam/ e ambos o que viam? / - as montanhas e os montes, /os horizontes, / o matagal cerrado ,/os penedos ,/ os rochedos,/ os arvoredos.../ tudo a correr com a rapidez do vento/ tresloucado! / e o trem, que era , em verdade , o que corria, parecia estar parado ! / a criança , o petiz , cheio de espanto,/ lhe perguntou : - papai! / por que é que tudo, ao longe , está correndo tanto / e o trem daqui não sai?/ os passageiros riam,/ pois sabiam/ que o petiz se enganava ! / o trem , que parecia / estar imóvel , / era, de fato ,o que corria / e voava . /dos passageiros todos , um somente /nem de leve sorriu ./ e , então , os passageiros riam dele , / porque ele não riu!/ e o poeta ( era um poeta ). Disse, então: - é natural, senhores, / a ilusão / do petiz iludido :/muitas vezes a nós a mesma coisa tem acontecido. / e vós, ó meus senhores, / -os cientistas, os sábios , os doutores./ caís no mesmo engano lisonjeiro ./ pois , afinal , todos nós nos enganamos,/quando , todos os dias, exclamamos: /- como é que o tempo passa tão ligeiro!/ e nós é que passamos!/
Catulo produziu as seguintes obras literárias: “ Meu Sertão “; “ Sertão em Flor “; “ Poemas Bravios “ e “ Mata Iluminada “. No cancioneiro popular sobressaem: “ Luar do Sertão “; “Ontem ao luar “ ;” Cabocla de Caxangá “ e “ Flor Amorosa “ .
Segundo o crítico Murilo Araújo, “ a poesia de Catulo tem raízes no povo e haveria de voltar, desfeita em flores e frutos, ao campo em que teve origem: volta ao povo e viverá com ele. Nenhum dos nossos poetas foi a tal ponto o rumor inspirado da terra “. O bardo maranhense Catulo da Paixão Cearense morreu, desprovido de bens materiais , no dia 10 de maio de 1946 no Rio de Janeiro, aos 82 anos de idade.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

JADER DE CARVALHO , UM CEARENSE DE FIBRA

Jader Moreira de Carvalho (1901 – 1985), jornalista, advogado, professor, poeta e cronista cearense. Nasceu no dia 29 de dezembro de 1901 na serra do Estevão, no município de Quixadá. Filho de Francisco Adolfo de Carvalho e Rita Moreira de Carvalho.
Fez seus estudos primários no Ateneu Quixadaense , dirigido por seu pai e em seguida frequentou o tradicional Liceu do Ceará , em Fortaleza. Por esta época destacava-se em suas redações de português onde um professor escrevia rotineiramente na prova: “ Nota 10, se não tiver sido escrito por outrem “. E não era!
Em 1928 Jader de Carvalho funda o jornal socialista “ A Esquerda “, lança “ O Canto novo da Raça “ em parceria com Sidney Neto, Franklin Nascimento e Mozart Firmeza, obra pioneira do Movimento Modernista no Ceará. A convite de Paulo Sarasate colabora no suplemento literário “ Maracajá “ do jornal “ O Povo “ e “ Cipó de Fogo “, ambos de vida efêmera. Em 1931 gradua-se na Faculdade de Direito do Ceará e participa de “ Terra de Ninguém “.
 Nos anos seguintes lança vários livros com temática de cunho social: “ Classe Média “ e “ Doutor Geraldo “ (1937); “ A Criança Vive “ (1945); “ Eu Quero o Sol “ (1946); “ Sua Majestade o Juiz “ (1962) e “ Aldeota “ (1963). Em 1965 aparece o livro de poemas “ Terra Bárbara “ onde se destacam: “ Em Louvor de Quixeramobim “; “ Nordeste de Lampião “; “ São Francisco de Canindé “; “ A Guerra Acreana “ e “ Terra Bárbara “.
“ Terra Bárbara “:
“ Na minha terra,
As estradas são tortuosas e tristes
Como o destino do meu povo errante.
Viajor,
Se ardes em sede,
Se acaso a noite te alcançou,
Bate sem susto no primeiro pouso:
- Terás água fresca para a tua sede,
- Rede cheirosa e branca para o teu sono.
Na minha terra,
O cangaceiro é leal e valente:
Jura que vai matar e mata.
Jura que morre por alguém - e morre.
(Brasil, onde mais energia:
Na água, que tem um só destino,
Do teu salto das Sete Quedas
Ou na vida, que tem mil destinos ,
 Do teu jagunço aventureiro e nômade? )
 Ah, eu sou da terra onde o homem,
Seminu,
Planta de sol a sol o algodão para vestir o Brasil.
Eu nasci nos tabuleiros mansos de Quixadá
E fui crescer nos canaviais do Cariri,
Entre caboclos belicosos e ágeis.
Filho da gleba, fruto em sazão ao sol dos trópicos,
 Eu sou o índice de meu povo:
Se o homem é bom – eu o respeito.
Se gosta de mim – morro por ele.
Se, porque é forte, entendesse de humilhar-me,
- Ai, sertão!
Eu viveria o teu drama selvagem,
 Eu te acordaria ao tropel do meu cavalo errante
Como antes te acordava ao choro da viola ... “
Jader de Carvalho pertence à Academia Cearense de Letras, como titular da Cadeira N° 14, cujo Patrono é o, também, aguerrido jornalista João Brígido. Jader de Carvalho casou-se com a contista Margarida Sabóia de Carvalho com que teve 7 filhos.
 Em 7 de agosto de 1985, na cidade de Fortaleza, Jader de Carvalho partiu para travar outras batalhas em distantes plagas pelo universo afora.


terça-feira, 16 de agosto de 2016

EDWARD JENNER, BENEMÉRITO DA HUMANIDADE

Edward Jenner (1749- 1823) nasceu a 17 de maio de 1749 em Glucestershire , na Inglaterra , no seio de uma família de pastores protestantes. O pai que era um clérigo enviou o filho às escolas da localidade para a instrução primária. Desde cedo Jenner manifestou interesse por biologia e foi, então, mandado para ser aprendiz junto ao cirurgião Daniel Ludlow , como era comum à época . Aos 21 anos de idade entrou para o St. Geoge’s Hospital, de Londres, onde trabalhou com o célebre cirurgião John Hunter. Como Hunter se interessava por temas diversos, como, geologia, história natural e biologia animal, Jenner recebeu importantes informações nestas áreas. Em 1772, aos 23 anos, Jenner diplomou=se em medicina pela Universidade de St. Andrew.
Após sua formatura, foi orientado por Hunter para retornar a Gloucestershire . Pensava ele que Jenner sendo “ da roça “ não se adaptaria a vida na cidade. Em 1778 Jenner contraiu matrimônio com Catalina Kingscoke, mulher que não obstante sua delicada saúde, participou ativamente nos trabalhos do marido e lhe deu três filhos: Eduardo, Catalina e Roberto.
No século XVII, a varíola era uma das enfermidades epidêmicas com maior índice de mortalidade. O único tratamento conhecido na época era de natureza preventiva, e consistia em inocular a uma pessoa sã matéria infectada procedente de uma paciente que contraíra a forma leve da doença. Uma das doenças leves que Jenner tratava era a vaccínia, uma infecção transmitida do úbere da vaca para as mãos dos que praticavam a ordenha. Sabia-se que aqueles que contraiam a vaccínia (varíola bovina) ficavam livres de adquirir a varíola humana que ocasionava a morte de mais de 50% dos acometidos. Também se entendia que certas infecções como a rubéola e a varíola só eram contraídas uma vez na vida. Era a sabedoria popular se antecipando ao conhecimento científico. A varíola era uma doença antiga, e a história da vacinação com várias práticas de inoculação, surgiram, originalmente, em locais fora da tradição ocidental. Os chineses costumavam colocar flocos das crostas das doenças nas narinas de pacientes saudáveis para prevenir doenças. O mesmo se dava na Índia e na Pérsia.
Lady Mary Wortley Montagu , esposa do embaixador britânico em Constantinopla , levou para Londres a prática de arranhar a pele com agulha que tinha sido submersa em uma ferida de varíola , com fins de evitar o aparecimento da varíola . Assim se tornou um hábito entre as famílias londrinas utilizar-se de tal prática.
Em 14 de maio de 1796, Jenner coletou um pouco de secreção de uma ferida na mão de Sara Nelmes, portadora de varíola bovina. Com este material Jenner vacinou um garoto, James Phipps, de oito anos de idade. Dois meses depois, o mesmo menino foi inoculado com pus tomado de um caso virulento de varíola. Durante o período de incubação de duas semanas, Jenner e a mãe do pequeno paciente passaram pelos mesmos tormentos que haveria de sofrer L. Pasteur quando esperava os resultados de sua primeira vacinação contra a Raiva, anos mais tarde. O menino não adoeceu, nem tampouco os vinte pacientes que Jenner inoculou mais tarde.
Em 1798, lançou um artigo científico acerca da vacinação contra a varíola, contando sua experiência. Ele recebeu infinitas cartas de elogios e muitas outras com ataques severos a sua honra, inclusive de seus pares de profissão. Consta de um folheto publicado por um tal Dr. Rowley, que continha um desenho em que se representava a uma criança com cabeça de boi; esta segundo o autor, havia tomado tal bizarra forma em razão de haver-se vacinado ao menino. Por outra parte se predicava nos púlpitos que a vacina constituía -se numa ação anticristã.
Por essa época grassou um surto de varíola após a vacinação com material mal preparado, quase levando a descrença do herói Jenner e de seu método de prevenção. Durante o período de dezoito meses de prova, na Inglaterra foram vacinadas doze mil pessoas com retumbante sucesso.
O Parlamento Inglês o fez Cavaleiro e premiou-o com 20.000 libras esterlinas. Oxford concedeu-lhe título honorário. O czar da Rússia deu-lhe um anel de ouro. Napoleão, na França enalteceu- lhe a descoberta. E dos Estados Unidos partiu uma delegação de índios levando presentes e agradecimentos a Edward Jenner. Era o mundo aos pés do grande benemérito.

 Em 1803 se inaugurou em Londres a Sociedade Real de Jenner com a vacinação universal como ideal supremo. Outra das pragas da humanidade sucumbia ante o gênio e os esforços dos cientistas. Jenner faleceu em 24 de janeiro de 1823, coberto de merecedora glória. Seus restos mortais repousam no santuário da igreja de Berkeley.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

UM NOVO GULAG?

Na esteira da Revolução Comunista de 1917 na Rússia surgiram feito praga uns campos de trabalhos forçados para penalizar os “ inimigos “ do Estado. “ Gulags “ era uma sigla russa para “ Administração Central dos Campos “, que medraram em regiões inóspitas e que ao longo do tempo acarretaram milhões de mortes por inanição ou por execuções sumárias. O termo Kulaks aplicava-se para os ricos proprietários de fazendas que eram diretamente responsabilizados pelos resultados negativos da esdrúxula política aplicada na agricultura do país, quando houve a abolição das propriedades privadas e implantaram-se as imensas fazendas coletivas. Em 1932 uma grave crise de fome irrompeu em toda a União Soviética que ocasionou 10 milhões de perdas humanas inocentes.
Iosif Vissarionovich Djugatchvili , codinome Koba ( indomável ) ou Stalin ( homem de aço ) nasceu na Geórgia , em 21 de dezembro de 1879 , e seus pais foram um sapateiro ( Vissarion ) e uma lavadeira ( Iekaterina ) . Em 1894 Stalin ganhou uma bolsa de estudos para o Seminário Ortodoxo Georgiano, em Tiflis, que abandonou no ano de 1899 em decorrência de problemas financeiros. Stalin entrou para um grupo radical que defendia a doutrina socialista chamado Mesame Dasi. Por esta época tomou contato com o pensamento do revolucionário Vladimir Ilitch Ulianov, dito Lenin (1870 – 1924). Por participar ativamente de movimentos grevistas Stalin foi preso e enviado para a Sibéria onde permaneceu por cerca de 3 anos. Empreendeu fuga e voltou para Tiflis . Em 1906 casou-se com Ekaterina Svanidze que no ano seguinte lhe deu um filho, Yakov . Pouco tempo durou o casamento por conta da morte de Ekaterina em 1907. Até a eclosão da Revolução Russa de 1917, Stalin puxou cadeia em diversas regiões do país. Em 15 de março de 1917 o czar Nicolau II abdica da coroa russa e instala-se o governo provisório de Alexsandr Kerenski. A participação de Stalin nesta ocasião é modesta ao contrário de Lenin que evidencia seu brilho no dito episódio.
Em 1919 Stalin contrai novo matrimônio, agora com Nadedja Alilúieva , 23 anos mais jovem que o esposo .Um ano depois nascia um garoto , Vassili . Em 1922 Stalin foi nomeado por Lenin secretário-geral do partido comunista. Pouco depois, em 1924 Lenin teve um acidente vascular cerebral grave que ocasionou sua morte. A partir de então Stalin irá remover todos os obstáculos à sua frente: Zinóviev , Kámeniev , Bukhárin e Trótski . Este último alcançado no exílio no México onde foi covardemente assassinado pelo sicário enviado por Stalin, Ramon Mercader . Em 1929 Stalin assume todos os poderes na URSS promovendo um brutal massacre contra todos aqueles que pensavam diferente ou não obedeciam suas ordens tirânicas. Em 1939 Stalin assinou um pacto de não agressão com Adolf Hitler que perdurou até 1941 com a Operação Barbarossa – a invasão da Rússia pelas tropas alemãs. No final da luta milhões de vidas foram ceifadas. Com o fim da refrega mundial, Stalin ainda posou de “ mocinho “ junto a Roosevelt e Churchill. Em 01.03.1953, Stalin que passara a noite em companhia de bajuladores como Beria , Malenkov , Bulganin e Kruschev , teve um provável acidente vascular hemorrágico e partiu de vez para alívio da humanidade.
Em pleno século XXI na folclórica América Latina um maluco representante da esquerda raivosa tenta novamente a farsa da coletivização de fazendas (um gulag turbinado 2016) , projeto natimorto , uma vez mais expondo à fome e   miséria uma inocente população , tudo em nome de uma ideologia cega e perversa .



quarta-feira, 3 de agosto de 2016

 UM NOVO PARADIGMA EM OBSTETRÍCIA NO BRASIL

A Terra em suas voltas mostra uma gigante onda a se formar no meio do oceano: um saudável movimento pelo retorno benfazejo às origens do parto natural. Ao longo da história a assistência ao parto passou pelas imaculadas mãos de mulheres não- médicas. Por volta da Idade Média com o surgimento das Universidades na velha Europa, os novos profissionais do sexo masculino egressos de tais instituições se apoderaram da assistência ao parto. A realização de cesáreas fazia-se de forma excepcional por conta de elevados índices de mortalidade materna e fetal, visto que, não existiam, por exemplo, antimicrobianos, anestesia, bancos de sangue e ambiente propício ao partejar cirúrgico. O século XX assistiu a uma elevação gradual do número de cesáreas, em alguns países mais que em outros. Hoje, no Brasil , integrantes do Governo Federal, da Medicina Suplementar, do Ministério Público, das Entidades Médicas e da comunidade de um modo geral, clamam pelo retorno dos antigos patamares do parto natural, como já acontece em muitos países pelo mundo afora. Correto. Nestes locais a assistência pré-natal e o parto natural ficam por conta de um grupo de profissionais: médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, odontólogos e doulas, dentre outros, com resultados auspiciosos. O Brasil passando a adotar práticas de assistência pré-natal com múltiplos profissionais e equipando seus hospitais públicos e privados de forma adequada poderá reverter, sem maiores óbices, os elevados índices de partos cirúrgicos. Para tanto ao casal gestante, desde o início do pré-natal dar-se-á ciência que seu parto, se for de seu acordo, acontecerá numa unidade hospitalar com uma equipe composta de médico plantonista, enfermeira, auxiliar de enfermagem, doula , assistente social e NÃO necessariamente pelo médico que conduziu o seu pré-natal . Não se torna mais factível, nas atuais circunstâncias, um só profissional ser o responsável pleno de todo o complexo percurso da gestação, parto e puerpério. Certamente, com esta nova estratégia, o resultado será auspicioso, rico em segurança para o binômio mãe- filho e altamente satisfatório para o profissional médico, que livre desta obrigação, poderá usufruir seu tempo para estudar e reaprender saberes aplicados a esta nobre arte de partejar. Isto sem contar que poderá gozar férias, fins de semanas e feriados, curtindo ao bel-prazer seus breves dias neste paraíso terreno, como qualquer trabalhador comum. À minha vista, não vislumbro outra saída no horizonte, livre de quaisquer embates entre todas as partes interessadas nesta salutar peleja em nome da saúde de nossa população. Fica aqui o registro da simples opinião de um médico que peleja na arte de partejar há 43 anos, com a humilde participação em cerca de 15.000 benditos partos. Aleluia!

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

THOMAS SYDENHAM, O HIPÓCRATES INGLÊS

Thomas Sydenham (1624 – 1689) nasceu em 1624 na cidade de Dorset , na Inglaterra , no seio de uma família puritana . Deu início aos seus estudos de medicina em Oxford. Por esta época instalou-se uma guerra civil na Inglaterra e Sydenham serviu como capitão do exército de Cromwell. Em 1665 Thomas casou-se e gerou três filhos. Atuando em Londres, Thomas dedicou sua vida por inteiro aos enfermos e seu trabalho se caracterizou por buscar sempre o contato com o paciente, concentrando-se mais no estudo minucioso dos sintomas do que em teorias médicas. Seu interesse principal se baseou em definir o que eram as enfermidades e, para isto, considerou necessária a observação clínica no curso natural da enfermidade. Postulou o regresso benfazejo ao método de Hipócrates e ao contato com a realidade do doente empregando todos os sentidos.
Conta-se um episódio anedótico em que um aluno pergunta ao nobre “ Hipócrates inglês “ como Thomas era conhecido, que livro deveria ler para ter uma boa instrução em medicina: - “ Leia Dom Quixote de Miguel Cervantes “, foi a resposta, evidenciando um rechaço à literatura médica vigente, e, por outro lado, seu reconhecimento à vida e a seus valores.
Em 1676 Thomas Sydenham publicou o livro “ Observationes medicae . Robert Boyle, o grande fundador da Química Moderna, o filósofo e médico John Locke e Hermann Boerhaave , médico , privaram de estreita amizade com Thomas .
Sydenham lançou em 1683 o seu clássico “ Tratado de Podagra “ que contém uma descrição tão real de um ataque agudo de artrite gotosa que deveria ser lido por todo aquele que estuda medicina. Escreveu, ainda, “ Opera universa “ e “ Processus integri “, este último foi o vade-mécum terapêutico favorito na Inglaterra até o século XIX.
Sydenham preferia, em sua terapêutica, o emprego de plantas sobre os minerais. Sua farmacopeia era simples: Utilizava ferro para a anemia; quina para o combate à malária, febre e dores; antimônio e mercúrio como purgativos; ópio em forma de láudano como sedativo e narcótico.
Tornaram – se clássicos através de sua imaginação:
O láudano de Sydenham : preparação com derivados do ópio . Fez-se famosa sua frase: “ Dos remédios que Deus tem ofertado aos homens para aliviar seus sofrimentos, nenhum é tão universal e eficaz como o ópio “.
A tosse de Sydenham: espasmo histérico dos músculos da respiração.
A Coréia de Sydenham: movimentos involuntários e desordenados, observados em pacientes portadores de febre reumática.
A perspicaz observação de Sydenham à cabeceira dos doentes, livre de verbosidades pomposas, permitiu-lhe deixar descrições clínicas lúcidas moléstias como varíola, pneumonia, escarlatina, doença de São Guido e histeria. Também, classificou as doenças como agudas – causadas por Deus – e crônicas – provocadas pelo próprio homem – (Melo, J.M.S., 1989).
 A fama de Sydenham mais tarde se estendeu para a Europa continental onde se comentava que Hermann Boerhaave (1668 – 1737) nunca mencionava seu nome sem uma reverência com o chapéu, e o chamava de “ aquela brilhante luz da Inglaterra, aquele Apolo da arte “.