sexta-feira, 26 de agosto de 2016

                                        CATULO DA PAIXÃO CEARENSE

Catulo da Paixão Cearense (1863 – 1946), compositor, cantor, músico e poeta, nasceu no dia 08 de outubro de 1863 em São Luís do Maranhão. Seus pais foram Amâncio José da Paixão Cearense, oriundo do Ceará, ourives, e D. Maria Celestina Braga da Paixão, maranhense. A família mudou-se para o sertão do Ceará quando Catulo tinha 10 anos de idade e ali permaneceu até o ano de 1880 quando migrou para o bairro de Botafogo no Estado do Rio de Janeiro. Catulo estudou no Colégio Teles de Meneses onde tomou íntimo contato com o idioma francês. No ano de 1885 Catulo passou a frequentar a casa do senador do Império Silveira Martins com o fito de ensinar português para os filhos deste. Nessa época trabalhava como estivador no cais do porto do Rio de Janeiro. Aprendeu a tocar flauta e violão convivendo com músicos “ chorões “ e boêmios como João Pernambuco, Anacleto de Medeiros, Ernesto Nazaré, Chiquinha Gonzaga e Francisco Braga.
Pedro da Silva Quaresma, proprietário da Livraria do Povo consorciou-se com Catulo da Paixão Cearense passando a editar folhetos de cordel e modinhas da época. Em 1908 no Instituto Nacional de Música, Catulo introduziu o violão nos meios elegantes da capital fluminense. Como consequência realizou, a convite do então presidente Hermes da Fonseca e de sua bela esposa Nair de Teffé (pintora, cantora, atriz e pianista), um recital de modinhas no Palácio do Catete, causando um grande furor , a favor e contra tal novidade.
Data de 1914 a composição musical “ Luar do Sertão “, considerada o hino nacional do sertanejo brasileiro, com letra de Catulo, baseada no folclore e música do violonista João Pernambuco:
“ Não há ,ó gente , oh não / luar como este do sertão / oh , que saudade do luar da minha terra / lá na serra branquejando , folhas secas pelo chão / este luar cá da cidade tão escuro / não tem aquela saudade do luar lá do sertão / se a lua nasce por detrás da verde mata / mais parece um sol de prata pranteando a solidão / a gente pega na viola que ponteia / e a canção é a lua cheia a nos nascer do coração / se Deus me ouvisse com amor e caridade / me faria essa vontade , o ideal do coração : / era que a morte a descontar surpreendesse / e eu morreria numa noite de luar do meu sertão “ .
Um poema singelo da autoria de Catulo denominado “ O Trem de Ferro “ serviu a antologias de escolas de ensino secundário pelo Brasil afora:
“ Num trem / em grande disparada, / pai e filho corriam/ e ambos o que viam? / - as montanhas e os montes, /os horizontes, / o matagal cerrado ,/os penedos ,/ os rochedos,/ os arvoredos.../ tudo a correr com a rapidez do vento/ tresloucado! / e o trem, que era , em verdade , o que corria, parecia estar parado ! / a criança , o petiz , cheio de espanto,/ lhe perguntou : - papai! / por que é que tudo, ao longe , está correndo tanto / e o trem daqui não sai?/ os passageiros riam,/ pois sabiam/ que o petiz se enganava ! / o trem , que parecia / estar imóvel , / era, de fato ,o que corria / e voava . /dos passageiros todos , um somente /nem de leve sorriu ./ e , então , os passageiros riam dele , / porque ele não riu!/ e o poeta ( era um poeta ). Disse, então: - é natural, senhores, / a ilusão / do petiz iludido :/muitas vezes a nós a mesma coisa tem acontecido. / e vós, ó meus senhores, / -os cientistas, os sábios , os doutores./ caís no mesmo engano lisonjeiro ./ pois , afinal , todos nós nos enganamos,/quando , todos os dias, exclamamos: /- como é que o tempo passa tão ligeiro!/ e nós é que passamos!/
Catulo produziu as seguintes obras literárias: “ Meu Sertão “; “ Sertão em Flor “; “ Poemas Bravios “ e “ Mata Iluminada “. No cancioneiro popular sobressaem: “ Luar do Sertão “; “Ontem ao luar “ ;” Cabocla de Caxangá “ e “ Flor Amorosa “ .
Segundo o crítico Murilo Araújo, “ a poesia de Catulo tem raízes no povo e haveria de voltar, desfeita em flores e frutos, ao campo em que teve origem: volta ao povo e viverá com ele. Nenhum dos nossos poetas foi a tal ponto o rumor inspirado da terra “. O bardo maranhense Catulo da Paixão Cearense morreu, desprovido de bens materiais , no dia 10 de maio de 1946 no Rio de Janeiro, aos 82 anos de idade.

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