sábado, 31 de dezembro de 2016

                          Adeus 2016


Tudo passa e tudo fica ,
Porém o nosso é passar,
Passar abrindo caminhos ,

Caminhos sobre o mar.
Nunca persegui a glória, 
Nem deixar na memória 
Dos homens minha canção; 
Amo os mundos sutis,  
Tênues e gentis, 

Como bolhas de sabão. 
Admira-me ver-los pintar - se 
De sol e rubro, voar
Sob o céu azul, tremer
Subitamente e quebrar - se. ..
Nunca persegui a glória. 

Caminhante , são tuas pegadas
O caminho e nada mais ;
Caminhante , não há caminho ,
Se faz caminho o andar.

O andar se faz caminho
E ao voltar a vista atrás 
Se vê a senda que nunca
Se há  de tornar a pisar.

Caminhante não há caminho
Senão estrelas no mar...
Faz algum tempo neste lugar
Onde hoje os bosques se vestem de espinhos 
Se ouvia a voz de um poeta gritar 
"Caminhante não há caminho , se faz caminho ao andar ..."

Golpe a golpe , verso a verso...
Morreu o poeta longe de casa.
Lhe cobre o pó de um país vizinho. 
Ao afastar - se lhe viram chorar.
" caminhante não há  caminho, 
Se faz caminho ao andar 
..."
Golpe a golpe , verso a verso ...
Quando o passarinho não pode cantar.
Quando o poeta é um peregrino, 
Quando de nada nos serve rezar.
" caminhante não há caminho ,

Se faz caminho ao andar ..."
Golpe a golpe , verso a verso .
Poema Cantares de Antonio Machado (1875-1939 ).

Desejo a todos um 2017 pleno de graças!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O TEMPO FOGE



“Tempus fugit “ (o tempo foge, o tempo se escapa, o tempo voa), é uma referência à passagem rápida do tempo, a vida num piscar d’olhos, em um verso de autoria do poeta latino Virgílio (70 a.C.– 19 a.C.) e que traz alguma semelhança com o “ Carpe diem “ (aproveita o tempo) do também poeta latino Horácio (65 a.C.-- 8 a.C.).

“ O ser oscila ao toque da luz. Ao meio-dia o céu é um lago – espelho de ágata azul. Nada se move. O tempo não existe. Tudo é eterno. Ao crepúsculo, entretanto, o lago imóvel se transforma num rio. Rapidamente as cores se sucedem, o azul vira amarelo, o amarelo passa ao verde, ao rosa , ao laranja, ao vermelho, ao roxo para, finalmente, mergulhar em cachoeira no negro da noite. Tempus fugit “.           Rubem Alves (1933 – 2014)

“ Eternidade não é tempo sem fim. Tempo sem fim é insuportável. Já imaginaram uma música sem fim, um beijo sem fim, um livro sem fim? Tudo o que é belo tem de morrer. Beleza e morte andam sempre de mãos dadas “.    Rubem Alves (1933 – 2014)

O estar vivo sempre representa um perigo, ou dito de outro modo, viver implica correr riscos. Nesta jornada de longo calibre alguns afoitos formam um pelotão destacado dos demais, daqueles mais mansos que sorvem aos poucos os prazeres das pequeninas alegrias. O lema para os apressados reza que “ a vida é ousada, ou nada “, sendo válido atropelar a ordem natural dos eventos onde pai morre, filho morre e neto morre.
Uma infindável lista de figuras públicas   afinadas “ com esta pressa de viver e arriscar tudo de novo com paixão. Andar caminho errado pela simples alegria de ser “ (Belchior, em Coração Selvagem), a toda hora se adensa, lá e cá:
Janis Joplin (27 anos); Jimmy Hendrix (27 anos); James Dean (24 anos); Marilyn Monroe (36 anos); Brian Jones (27 anos); Jim Morrison (27 anos); Bruce Lee (32 anos); Michael Jackson (51 anos); Prince (58 anos); Ian Curtis (23 anos); John Lennon (40 anos) ; Kurt Cobain (27 anos); George Michael (53 anos).

Ellis Regina (36 anos); Dolores Duran (29 anos); Cazuza (36 anos); Renato Russo (36 anos); Maysa Matarazzo (40 anos); Cássia Eller (39 anos); Raul Seixas (44 anos).

Do maluco beleza, Raul Seixas , em parceria com Paulo Coelho segue um melancólico “ Canto para a minha morte “:

“ Eu sei que determinada rua que eu já passei / não tornará a ouvir o som dos meus passos /tem uma revista que eu guardo há muitos anos / e que nunca mais vou abrir ./ cada vez que eu me despeço de uma pessoa / pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez /a morte, surda , caminha a meu lado /e eu não sei em que esquina ela vai me beijar / com que rosto ela virá ?/

será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer ?/ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque ?/na música que deixei para compor amanhã ?/será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro ?/ virá antes de eu encontrar a mulher , a mulher que me foi destinada ,/ e que está em algum lugar me esperando / embora eu ainda não a conheça ?/vou te encontrar vestida de cetim,/pois em qualquer lugar esperas só por mim/e no teu beijo provar o gosto estranho/ que eu quero e não desejo , mas tenho que encontrar/vem , mas demore a chegar/eu detesto e amo morte , morte , morte / que talvez seja o segredo desta vida /morte , morte , morte que talvez seja o segredo desta vida /qual será a forma da minha morte ?/uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida /existem tantas.. um acidente de carro./ o coração que se recusa a bater no próximo minuto/ a anestesia mal aplicada ,/a vida mal vivida , a ferida mal curada , a dor já envelhecida/o câncer já espalhado e ainda escondido ou até quem sabe,/um escorregão idiota , num dia de sol, a cabeça no meio-fio.../oh morte!, tu que és tão forte ,/que matas o gato , o rato e o homem/ vista- se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar/que meu corpo seja cremado/e que minhas cinzas alimentem a erva/ e que a erva alimente outro homem como eu /porque eu continuarei neste homem,/nos meus filhos, na palavra rude/ que eu disse para alguém que não gostava/e até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite.../vou te encontrar vestida de cetim ,/pois em qualquer lugar esperas só por mim / e no teu beijo provar o gosto estranho/ que eu quero e não desejo , mas tenho que encontrar / vem , mas demore a chegar./eu te detesto e amo , morte, morte ,/ que talvez seja o segredo desta vida /morte , morte, morte que talvez seja o segredo desta vida “          




domingo, 25 de dezembro de 2016

JOEL SILVEIRA, A VÍBORA



Joel Silveira (1918 – 2007), Jornalista, cronista, memorialista e poeta bissexto, nasceu na cidade de Lagarto, no estado de Sergipe. Filho da professora primária Jovita Ribeiro e do comerciante Ismael Silveira. Em 1937 seguiu para o Rio de Janeiro com fins de estudar Direito. 

Largou os estudos quando cursava o segundo ano da dita faculdade. Trabalhou inicialmente no semanário esquerdista Dom Casmurro (1937 - 1946) de propriedade de Brício de Abreu e Álvaro Moreyra, e, em Diretrizes (1940 – 1944). Ensaiava então os primeiros passos para colaborar em grandes jornais e revistas da época como Diários Associados, O Estado de São Paulo, Última Hora, Correio da Manhã e Manchete. 

Fez companhia a gigantes da imprensa como David Nasser, O Turco; Edgar Morel; Carlos Lacerda, O Corvo; Assis Chateaubriand, Chatô; e Samuel Wainer.
Joel Silveira foi escolhido por Assis Chateaubriand para acompanhar a Força Expedicionária Brasileira (FEB) à Itália nos estertores da Segunda Guerra Mundial. Chateaubriand lhe advertia, enfático e patético: “ – Vá para a Itália matar alemães e me faça um favor, seu Silveira: não me morra, seu Silveira, se não lhe boto no olho da rua “.

Escrevia deste modo, Joel Silveira numa crônica de Natal numa Itália em guerra:
 “ Esta é a história de um Natal brasileiro na frente de batalha. Um Natal diferente, gelado, traiçoeiro, de horas se ouvindo numa terra varejada pelos morteiros e metralhadoras. 
Este ano, na noite do Senhor, eles manejam suas metralhadoras, jogam granadas de mão, fazem feridos ou mortos. Mataram e feriram, porque assim é a guerra “.
Joel Silveira ficou no palco da guerra até 29 de abril de 1945, data da rendição das tropas alemãs frente ao contingente brasileiro. Segundo suas próprias palavras “ chegara na Itália com 27 anos e voltara depois de 11 meses de guerra com 40 anos de idade, tamanho o sofrimento “.

Em 1952 fundou com o auxílio de Rubem Braga e Rafael Corrêa de Oliveira, o jornal de curta duração, O Comício, com a colaboração de feras como Millôr Fernandes, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende, Carlos Castelo Branco, Hélio Pellegrino, Thiago de Mello, Fernando Sabino, Sérgio Porto e Clarice Lispector. A partir de 1964, por conta do Movimento Militar, dedicou-se à tradução de obras de escritores como Gabriel Garcia Marques, Manuel Puig e Ítalo Calvino.

 Neste período puxou cadeia em três ocasiões em decorrência de sua militância de esquerda.
Ao longo de sua extensa carreira, Joel Silveira foi agraciado com vários prêmios como, Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras; Líbero Badaró; Prêmio Esso Especial; Prêmio Jaboti e Golfinho de Ouro. Com mais de cinquenta anos de militância na imprensa brasileira, Joel publicou cerca de 40 livros, entre memórias, autobiografias, cartas e diários.

“ Não quero ser pretencioso, mas acho que eu merecia uma velhice mais tranquila, num país que não tivesse feito do sobressalto uma rotina e do pânico um estilo de vida “.
“ Casei com 19 anos e agora tenho 88 anos. Já fiz bodas de tudo, falta só de Urânio, Césio ou Plutônio “.
Em sua longa trajetória conviveu com importantes figuras da política brasileira como Getúlio Vargas, João Goulart, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e Marechal Castelo Branco , dentre outros .

Ótimo feitor de frases de efeito, com um estilo parecido ao de Nelson Rodrigues:

“ Para ajudar o homem, basta Deus . Já para desajudar não é preciso nem o diabo. O próprio homem se desajuda “
“ Na velhice todo cuidado é pouco: o ridículo está nos vigiando vinte e quatro horas por dia “
“ Já está cientificamente provado que o dono de um iate de 200 pés, não tem qualquer necessidade de saber com quantos paus se faz uma canoa e muito menos uma jangada “
“ – Fulano está com um pé no Ministério. Só falta botar os outros três “.
“ Vulcão e mulher nunca estão definitivamente extintos “

“ De todas as armas brancas a mais letal é a língua, que por sinal é vermelha “
“ Pobre que vota em rico não é digno de ser pobre “
“ O que me conforta é saber que quando eu for para o céu lá não encontrarei nenhum desses furiosos e vorazes pastores evangélicos “
“ A gente sente que está ficando velho quando começa a gostar mais de carne- de -sol do que de mulher “

“ Gosto de todas as cores, são todas muito bonitas, mas no fundo só confio em duas: no preto e no branco. São as únicas que não trapaceiam ou enganam “
Em 15 de agosto de 2007, aos 88 anos de idade falece no Rio de Janeiro, Joel Silveira, maldosamente apelidado de “ A Víbora “ pelo também jornalista ferino e polêmico Assis Chateaubriand.
 Assim desapareceu um dos ícones do verdadeiro jornalismo brasileiro do século XX.














quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

UM SIMPLES OLHAR SOBRE A VELHICE


“ O que há de interessante numa vela? Não é a cera nem o pavio. É a chama. Quer a vela seja nova ou esteja se acabando, a chama é a mesma, produz o mesmo calor e a mesma luz. Assim, também o que importa no ser humano não é apenas o seu corpo, perecível e mortal, mas sua inteligência, seu ser, o mesmo do nascimento à morte.
 A capacidade, o desejo de viver, alteram-se conforme a idade, mas não tem idade “.                        

 Pierre Guillet.

Por favor, não tenha pressa, pois um dia ela se desnuda, sorrateira, como uma maré, lentamente lambendo a areia da praia, ou de forma súbita na voz de um petiz num semáforo: - “ Vá lá, vovô, descola aí um trocado para matar minha fome “; ou, simplesmente uma mão salvadora sendo ofertada para ajudar na travessia de uma movimentada avenida. O xeque mate fica por conta do indiscreto espelho do banheiro desenhando rugas e cinzelando sulcos num surpreso rosto que nunca se mostrou daquele jeito. Pura crueldade, triste verdade? Não. Se achegue e ponha -se à mesa, companheira velhice!

Ademais aparecem os velhos clichês de sempre: “ Um dos privilégios da velhice é ter, fora da própria idade, todas as idades “; “ Envelhecer aborrece, mas é o único meio para viver um longo tempo “; “ Todos querem viver muito tempo, mas ninguém quer envelhecer “.
“ Envelheço, Senhor, e é penoso envelhecer!

Não posso mais correr, nem andar depressa.
Não posso mais carregar peso
E subir depressa a escada de casa ...

Minha memória fraqueja e, rebelde, oculta - me
Datas e nomes que, contudo conhece.
Cada dia mais, Senhor, vejo - me só,
Só com minhas lembranças e meus antigos dissabores
Que no meu coração sempre continuam vivos,

Enquanto as alegrias muitas vezes ficam esquecidas ...
Senhor, como acreditar que o tempo de hoje
Seja o mesmo de ontem que corria tão veloz,
Certos dias, certos meses, tão velozes
Que não conseguia alcançá - los, fugiam de mim

Antes que eu pudesse enchê -los de vida?
Hoje tenho tempo, Senhor. Tempo demais.
Tempo que se amontoa a meu lado, sem serventia.
Eu estou aí, imóvel, inútil.
Envelheço, Senhor, e é penoso envelhecer,
Tanto que alguns dos meus amigos te pedem amiúde

O fim desta vida que se torna, pensam, agora inútil.
- Estão enganados, meu pequeno – diz o Senhor.
- e tu também que não o dizes, mas, às vezes, os aprovas ...
Pois um coração que bate, embora muito desgastado,
Ainda dá vida ao corpo que o habita,
E o amor neste coração pode brotar,

Muitas vezes mais intenso e mais puro
Quando o coração cansado lhe deixa enfim lugar.
Vidas transbordantes podem estar vazias de amor,
Enquanto outras, parecendo banais, irradiam até o infinito.
Vê minha mãe, Maria, chorando

Parada ao pé de minha cruz.
Estava aí. De pé, sim,
Mas também impotente, tragicamente impotente.
Nada fazia, só estava aí.
Toda recolhida, toda acolhedora, e inteiramente ofertante,
E foi também comigo que salvou o mundo,

Dando-lhe todo o amor perdido pelos homens
Nas estradas do tempo...
Acredita em mim, tua vida hoje pode ser mais rica que ontem,
Se aceitares vigiar, sentinela imóvel na tarde que se finda.
E se sofres por não teres mais nada nas mãos para me dar,
Oferece-me tua impotência. E, juntos, digo-te :
Continuaremos salvando o mundo “             

  Michel Quoist

“ Virá o dia em que eu hei de ser um velho experiente / olhando as coisas através de uma filosofia sensata /e lendo os clássicos com a afeição que a minha mocidade não permite. /Nesse dia Deus talvez tenha entrado definitivamente em meu espírito/ ou talvez tenha saído definitivamente dele/ Então todos os meus atos serão encaminhados no sentido do túmulo/e todas as ideias autobiográficas da mocidade terão desaparecido :/Ficará talvez somente a ideia do testamento bem escrito ./ Serei um 

velho , não terei mocidade , nem sexo , nem vida /Só terei uma experiência extraordinária./ Fecharei minha alma a todos e  a tudo /Passará por mim muito longe o ruído da vida e do mundo /Só o ruído do coração doente me avisará de uns restos de vida em mim./Nem o cigarro da mocidade restará .

/Será um cigarro forte que satisfará os pulmões viciados / E que dará a tudo um ar saturado de velhice./Não escreverei mais a lápis/ E só usarei pergaminhos compridos./ Terei um casaco de alpaca que me fechará os olhos / Serei um corpo sem mocidade , inútil , vazio / Cheio de irritação para com a vida / Cheio de irritação para comigo mesmo ./Um eterno velho que nada é, nada vale, nada vive/ O velho cujo único valor é ser o cadáver de uma mocidade criadora . “           
  
Vinicius de Moraes






segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

O CIENTISTA CARLOS CHAGAS


Carlos Ribeiro Justiniano Chagas (1878 – 1934), ou simplesmente, Carlos Chagas, nasceu no dia 9 de julho de 1878 na Fazenda Bom Retiro, na cidade de Oliveira, Minas Gerais.
Seus pais foram José Justiniano Chagas e Mariana Cândida Ribeiro de Castro Chagas. Foi o primeiro dos quatro filhos do casal e ficou órfão de pai aos 4 anos de idade. Seus irmãos foram: Maria Rita (morta aos 3 anos de idade), Marieta e Serafim.

Em Oliveira, o garoto Carlos teve contato próximo com três tios maternos, sendo dois advogados (Cícero e Olegário) e Carlos (médico).
Em Itu (São Paulo) Carlos Chagas estudou no Colégio São Luís sob a orientação dos padres jesuítas. No ano de 1888 parte em socorro de sua mãe em Juiz de Fora (Minas Gerais) ao tomar notícia de que estariam ocorrendo depredações nas fazendas de propriedade da sua família.

Atendendo a um capricho de sua genitora, matricula-se no curso preparatório para a Escola de Minas de Ouro Preto. Através de interferência de seu tio e médico, de nome Carlos, seguiu para São Paulo com fins de estudar medicina. Aos 18 anos, no ano de 1897, enfim, matricula- se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

Naquele templo hipocrático teve a felicidade de contar com feliz ajuda de duas grandes figuras da medicina da época: o clínico Miguel Couto (1865 – 1934) e o especialista em doenças tropicais, Francisco Fajardo (1864 – 1906). Em 1902 Carlos Chagas concluiu o curso de medicina quando defendeu sua tese sob orientação de Oswaldo Cruz intitulada

Estudo Hematológico do Impaludismo (1903). No ano seguinte casa-se com Íris Lobo, filha de um político, e desta união nascem dois rebentos: Evandro Chagas (1905 -1940) e Carlos Chagas Filho (1910 - 2000) que seguiram a mesma carreira paterna.
Evandro, contudo, veio a falecer moço em decorrência de um acidente, aos 35 anos de idade.

Por indicação de Oswaldo Cruz, Carlos Chagas partiu para uma missão de combate à malária que grassava no município de Itatinga em São Paulo. Em fevereiro de 1907 segue em missão com Artur Neiva (1880 – 1943) para Xerém, na Baixada Fluminense, com a mesma finalidade: o combate à malária.

Ainda neste ano desloca-se para o norte de Minas Gerais, em companhia de Belisário Penna (1868 - 1939) uma vez mais seguindo o rastro do impaludismo. Carlos Chagas nesta ocasião identificou no sangue de um sagui um protozoário do gênero Trypanosoma.

A nova espécie era um parasita habitual, não patogênico nos monos. Cornélio Homem Catarino Motta, chefe da comissão de engenheiros falou para Carlos Chagas acerca de um inseto hematófago da região, denominado barbeiro, posto que, tinha por hábito picar as vítimas no rosto enquanto elas dormiam.

Carlos Chagas, examinando o intestino do barbeiro encontrou formas flageladas de um protozoário, que de pronto encaminhou para a avaliação de Oswaldo Cruz.
Este inoculou tais parasitas em monos de laboratório que logo adoeceram. O novo tripanosoma foi denominado de T. cruzi , em justa homenagem ao grande cientista Oswaldo Cruz. Em Manguinhos, Carlos Chagas iniciou estudos rigorosos sobre o ciclo evolutivo do novo agente patológico.

Em 14 de abril de 1909 foi por intermédio de Carlos Chagas detectada no sangue de uma garota de 2 anos chamada Berenice, com severa enfermidade, a presença do Trypanosoma cruzi e a consequente descoberta de uma nova entidade mórbida nos seres humanos: a Doença de Chagas.
Fato único na história da Medicina com a descoberta de uma nova doença com agente etiológico, vetor e formas clínicas descritas em detalhes.
Em 1910, Carlos Chagas foi recebido como membro titular da Academia Nacional de Medicina. Em 1912 foi outorgado ao insigne Carlos Chagas o Prêmio Schaudinn , concedido pelo Instituto de Doenças Tropicais de Hamburgo.

Em 14 de fevereiro de 1917, três dias depois da morte de Oswaldo Cruz, nomeado pelo Presidente da República, Wenceslau Braz, assume Carlos Chagas a direção do Instituto Oswaldo Cruz, cargo que ocuparia até seu falecimento ocorrido em 1934.
Foi criado em 1918 o Hospital Oswaldo Cruz e em 1925, a cátedra de Medicina Tropical na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, sob os auspícios de Carlos Chagas. Em 1919, Carlos Chagas assume a Direção Geral de Saúde Pública do governo federal.

Em 1923, contribuiu com a fundação da Escola de Enfermagem Anna Nery e em 1926 da organização do Curso Especial de Higiene e Saúde Pública no Rio de Janeiro.
Em maio de 1925, Carlos Chagas foi nomeado titular da cátedra de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro.
No Brasil, Carlos Chagas pertenceu às seguintes instituições:
Sociedade de Medicina da Bahia (1909); Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro (1909); Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo (1910); Associação

Medico – Cirúrgica de Minas Gerais (1911) ; Sociedade de Medicina e Cirurgia de Amazonas (1917) .
No exterior, Carlos Chagas foi membro de várias sociedades:
Sociedade de Patologia Exótica de Paris (1910) ; Sociedade Médica Argentina (1916); Sociedade Americana de Medicina Tropical (1919) ; Academia de Medicina de Peru (1922) ;Real Sociedade de Ciências Médicas e Naturais de Bruxelas (1922) ; Real Academia de Medicina de Bélgica (1923) ; Sociedade de Medicina de Montevidéu (1923) ;Academia Médica de Roma (1924) ;Real Academia Nacional de Medicina de Espanha

(1925) ;Academia de Medicina de Nova York (1926) ; Sociedade Real de Medicina Tropical e Higiene de Londres (1938) e Academia de Medicina de Paris (1930).
Merecem destaque, ainda, os títulos de doutor honoris causa recebidos pelas Universidades de Harvard (1921); de Buenos Aires (1922); de Paris (1926) e de Lima (1929).
Em 8 de novembro de 1934, aos 56 anos de idade, Carlos Chagas falece em decorrência de um insulto cardíaco agudo. Encerrava- se, prematuramente, a trajetória de um brilhante médico, professor universitário, cientista, gestor e humanista brasileiro.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

ÁRVORES INÚTEIS


Em Pindorama, no Planalto Central, árvores gigantescas com o miolo corroído por um cancro voraz encontram-se sendo, inapelavelmente, dizimadas.
 Comenta-se à boca miúda, que tal desastre ecológico em seu seio traz um meritório propósito: tentar salvar uma tênue democracia em frangalhos prestes a ruir.

De fato, tratam- se de árvores vistosas, plenas de frutos de ouro, contudo, alimentadas por lama de um “ propinoduto “ que corre a céu aberto, uma verdadeira pestilência.
 De pé sobrevivem, apenas, as árvores ditas inúteis.

 Aquelas com galhos frágeis, cheias de nós, com seiva anêmica, sem viço e parva em serventia.
Para sobreviver, no momento, em Pindorama, faz-se prudente, ser uma árvore inútil, caso contrário, corre - se o iminente risco de ser rigorosamente abatida por forças repressoras conduzidas por uns “ meninos – velhos “ togados, oriundos de uma República de Paraná no sul de Pindorama.

Nada demais, e que se toque o barco para diante, pois é preciso passar Pindorama a limpo, mesmo que sejam abatidas todas as árvores prenhes de ouro falso, mas que no final sobreviva uma democracia saudável
Segue numa linguagem, de propósito, nada camoniana, desprezando a “ última flor do Lácio, inculta e bela “:

“ A gente não sabemos escolher presidente/a gente não sabemos tomar conta da gente /a gente não sabemos nem escovar os dente / tem gringo pensando que nóis é indigente/inútil! / a gente somos inútil / a gente faz carro e não sabe guiar/a gente faz trilho e não tem trem pra botar/a gente faz filho e não consegue criar/a gente pede grana e não consegue pagar /inútil! / a gente somos inútil /a gente faz música e não consegue gravar/a gente escreve livro e não consegue publicar/ a gente escreve peça e não consegue encenar/a gente joga bola e não consegue ganhar / inútil ! a gente somos inútil “ 
  
Letra de “ Inútil “de autoria de Roger do conjunto Ultraje a Rigor.


sábado, 10 de dezembro de 2016

PECADO CAPITAL




Dinheiro na mão é vendaval, é vendaval/na vida de um sonhador, de um sonhador/quanta gente se engana/ e cai da cama/com toda a ilusão que sonhou/e agrandeza se desfaz/quando a solidão é mais/alguém já falou.../mas é precisoviver/ e viver não é brincadeira não/quando o jeito é se virar/cada um trata de si/irmão desconhece irmão/e aí!/dinheirona mão é vendaval/dinheiro na mão é solução / e solidão !”          Letra de Pecado Capital de autoria de Paulinho da Viola.
Faz pouco, a mídia de Pindorama divulgou uma estrambótica lista com o cognome ou a alcunha de certos indivíduos: Caju, Justiça, Índio, Babel, Bitelo, Primo , Caranguejo , Polo , Ferrari , Botafogo , Las Vegas , Campari , Cerrado , Gripado , Todo Feio , Corredor , Gremista , Tuca , Misericórdia , 

Decrépito , Boca Mole , Kimono e Missa .
O grande filósofo do cotidiano Millôr Fernandes (1923- 2012) disseca as palavras dinheiro e políticos com a sua verve carioca e seu típico toque de gênio da raça:
“ O dinheiro fala. E também manda calar a boca “
“ O dinheiro não tem pátria, como dizia o sujeito depois de vender a sua “
“ Deus fez o sol. O demônio inventou o dinheiro que brilha muito mais “
“ O dinheiro não traz felicidade. Mas leva “
“ O dinheiro não traz felicidade. Ou melhor: o Cruzeiro não traz felicidade. O Dólar, traz “
“ Energia nuclear? Você acha? Armas químicas? Não senhor; o dinheiro ainda é a mais violenta das invenções humanas”

O dinheiro é tudo.Ele é a fonte de todo o bem. Faz dentes mais claros, olho mais azul, amplia a dignidade individual, aumenta a popularidade, produz amor e paz espiritual e, quando tudo falha, paga o psicanalista “

“ O dinheiro é aquilo que o trabalhador ganha com o suor de seu rosto, os estroinas esbanjam nas boates, o economista pensa que que é ciência, os banqueiros emprestam a juros. É o que corrompe como suborno e redime como filantropia. É o talento dos ricos, o legado dos que partem para sempre, o objetivo dos ladrões,o poder do capitalismo. E se não traz felicidade pelo menos não acrescenta à infelicidade a infelicidade de não ter dinheiro “
E, para finalizar, sobre os políticos:

“ A diferença entre a galinha e o político é que o político cacareja e não bota o ovo “
“ Esses políticos todos andam tão ocupados com salvar o país que que nem têm tempo de ser honestos “
“ Político profissional jamais tem medo do escuro. Tem medo é da claridade “
Senhor , olhai para Pindorama, onde os Três Poderes abraçados seguem , sem volta , rumo ao despenhadeiro !






quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

CORA CORALINA, PATRIMÔNIO DO BRASIL




Ana Lins dos Guimarães Peixoto (1889 – 1985) ou Cora Coralina, nasceu em 20 de agosto de 1889 na cidade de Goiás. Seus pais foram Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador, e Jacintha Luiza do Couto Brandão Peixoto. Aos 2 meses de idade Ana fica órfã de pai. Em 1895 Ana inicia o curso primário onde permanece até a terceira série. 

Em 1900 escreve um conto “ Um Canto da Inhuma “, aos 11 anos de idade, e publicado em 1909.
Ana ingressa em 1905 no Clube Literário Goiano e dois anos depois funda com outras jovens, o semanário A Rosa. Adota o pseudônimo de Cora Coralina, algo como, coração vermelho, lembrando o nome do rio que passa em sua cidade. Aos 20 anos estreia num livro com o conto “ Tragédia na Roça “.

Em 1911, contrariando o desejo de sua família empreende fuga com o advogado desquitado Cantídio Tolentino de Figueiredo Brêtas, na época, chefe de polícia na cidade, onde fixa residência em São Paulo.
Em 1912 inicia sua saga como mãe pródiga quando nasce Paraguassu Amarillis Brêtas. Em 1914 vêm ao mundo Cantídio Bretas Filho e Enéias Brêtas. Aos seis meses de idade morre Enéias. Em 1917 nasce Maria Ísis Brêtas, que falece seis meses depois. E Jacintha Filomena Brêtas nasce em 1921.

Monteiro Lobato (1882- 1946) faz convite a Cora Coralina para participar da revolucionária Semana de Arte Moderna de 1922, mas segundo consta, esta sofreu a proibição do marido para tal.
Em 1927 nasce outra filha de Cora, desta feita, Vicência Brêtas. Em 1934 Cantídio Brêtas morre de infecção pulmonar, deixando Cora, viúva aos 45 anos e soltando- a no mundo com uma prole para criar. Encontramos Cora por essa época vendendo livros para o editor José Olympio. 

Nos anos seguintes Cora Coralina colabora com vários jornais e revistas da região onde mora.
Apenas em 1965, aos 75 anos de idade, Cora Coralina estreia pela editora José Olympio com o livro, “ Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais “. Em 1979 inicia correspondência com Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987):
“ Rio de Janeiro, 14 de julho de 1979:
Cora Coralina:

Não tendo o seu endereço, lanço estas palavras ao vento, na esperança de que ele as deposite em suas mãos. Admiro e amo você como a alguém que vive em estado de graça com a poesia. Seu livro é um encanto, seu verso é água corrente, seu lirismo tem a força e a delicadeza das coisas naturais. Ah!, você me dá saudades de Minas , tão irmã do seu Goiás.

Dá alegria na gente saber que existe bem no coração do Brasil um ser chamado Cora Coralina.
Todo o carinho, toda a admiração do seu
Carlos Drummond de Andrade “
Em 1983 Cora Coralina publica Vintém de Cobre – Meias Confissões de Aninha pela Editora da 

Universidade de Goiás e indicada para o prêmio Juca Pato da União Brasileira de Escritores, concorrendo com o político Teotônio Vilela e com o poeta cearense Gerardo Mello Mourão.
No dia 10 de abril de 1985 falece, em Goiânia, em decorrência de insuficiência respiratória.
“ Sou espiga e o grão que retornam à terra. 
Minha pena (esferográfica) é a enxada que vai cavando, é o arado milenário que sulca. Meus versos têm relances de enxada, gume de foice e peso de machado. Cheiro de currais e gosto de terra. “
“ Na minha alma, hoje, também corre um rio, um longo rio de lágrimas que meus olhos fiaram uma a uma e que há de ir subindo, subindo sempre, até afogar e submergir na tua profundez sombria a intensidade da minha dor “

“ Escuto leve batida. Levanto descalça, abro a janela devagarinho. Alguém bateu? É a lua – luar que quer entrar “
“ Ajuntei todas as pedras que vieram sobre mim. Levantei uma escada muito alta e no alto subi. Teci um tapete floreado e no sonho me perdi “
“ Minhas mãos doceiras ... Jamais ociosas. Fecundas. Imensas e ocupadas. Mãos laboriosas. Abertas sempre para dar, ajudar, unir e abençoar. Mãos de semeador ... Afeitas à sementeira do trabalho. Minhas mãos são raízes procurando terra, semeando sempre “

“ Sozinha ... Na estrada deserta, sempre a procurar o perdido tempo que ficou pra trás. Do perdido tempo. Do passado tempo escuto a voz das pedras: Volta... Volta... Volta... E os morros abriam para mim imensos braços vegetais “
“ Andei pelos caminhos da vida. Caminhei pelas ruas do Destino – procurando meu signo. Bati na porta da Fortuna, mandou dizer que não estava. Bati na porta da Fama, falou que não podia atender. Procurei a casa da Felicidade, a vizinha da frente me informou que ela tinha se mudado sem deixar novo endereço. Procurei a morada da Fortaleza. Ela me fez entrar: deu-me veste nova, perfumou-me os cabelos, fez-me beber de seu vinho. Acertei o meu caminho “

“ A estrada da vida é uma reta marcada de encruzilhadas. Caminhos certos e errados, encontros e desencontros do começo ao fim. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina “
Ponto final !



segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

UMA VIVA COLCHA DE RETALHOS






Existirmos, a que será que se destina? “ Amar a mais insignificante das criaturas como a ti mesmo. Quem não fizer isso jamais verá a Deus face a face ... Toda a vida é sagrada, porque tudo o que vive participa de Deus. Será que algumas gotas de água suja serão capazes de poluir o oceano inteiro? Que força do mal poderá apagar o divino que mora em nós?
Não haverá parto se a semente não for plantada muito tempo antes. Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses “    M. Gandhi.

“ No mistério do Sem-Fim,
Equilibra- se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
E, no jardim, um canteiro:
E no canteiro, uma violeta,
E sobre ela,
O dia inteiro,
Entre o planeta e o Sem-Fim
A asa de uma borboleta “                Cecília Meireles.

“ Sejamos simples e calmos, como os regatos e as árvores /e Deus amar-nos- á / fazendo de nós /belos como as árvores e os regatos/e dar-nos- á verdor na sua primavera/ e um rio aonde ir ter quando acabemos “             Alberto Caeiro.

Três simples exemplos de seres humanos, divinamente humanos, cosendo uma simples colcha de retalhos da qual todos nós somos tecidos.
O espírito natalino colorindo árvores, edifícios, corações e mentes num verdadeiro brinde ao milagre da vida!

Feliz Natal, queridos amigos!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

UM AMOR DE VERDADE


Um jovem filho de Hipócrates pousou num pequeno burgo à beira mar onde habitavam cerca de três mil almas. O novo médico pretendia fincar raízes naquele aprazível lugar. Certa feita atendeu a um chamado de urgência para assistir a um parto domiciliar que se arrastava há horas.
 Nasceu um belo rebento pesando cerca de quatro quilos.

No dia seguinte chega uma infausta notícia de que o dito recém-nascido agora era um anjinho. Nunca se soube ao certo a causa de tal fatalidade. Cerca de seis meses depois retorna o mesmo casal em uma nova gestação. Uma vez mais o doutor realizou um parto domiciliar com sucesso.
 O desenlace fatal novamente aconteceu com recém - nascido .

 Desta feita o atordoado doutor, a muito custo, conseguiu a realização de uma necropsia, na longínqua capital. O laudo firmado por um patologista nobre e excêntrico, sugeria uma doença rara e vista apenas em casos de consanguinidade do tipo tio com sobrinha ou irmão com irmã.
 O doutor com extrema cautela, colheu com minúcia a história pregressa do casal. Soube que desde a mais tenra idade eles viveram próximos, pois seus pais eram vizinhos em casas geminadas, bastante amigos e compadres. E nada mais foi perguntado e nada mais foi dito. Ponto final!
O doutor aconselhou ao indigitado casal uma salvadora adoção, algo profundamente humano e meritório. E assim foi feito.

 O médico em seus raros momentos de lazer , junto com o casal de amigos e seus filhos adotivos , erguia castelos de areia ali beijando o mar  e que logo seriam engolidos pela voracidade das ondas naquele eterno ir e vir. Assim, também é o torvelinho da vida onde o pai morre, o filho morre e o neto morre, de preferência nesta sequência. 
“Nada do que foi será/de novo do jeito que já foi um dia/tudo passa, tudo sempre passará/a vida vem em ondas/como um mar/num indo e vindo infinito/tudo o que se vê não é/igual o que a gente viu há um segundo/tudo mudo / o tempo todo no mundo/não adianta fugir/ nem mentir pra si mesmo/agora, há tanta vida lá fora / aqui dentro, sempre/como uma onda no mar”    Como Uma onda no Mar de autoria de Nelson Motta e Lulu Santos.

O dito casal do relato, de fato era formado por irmãos biológicos e que viveram as bênçãos de um amor fraterno e puro neste breve périplo terreal, evidenciando a profunda e misteriosa força do amor!

“ Um homem também chora/menina morena/também deseja colo/palavras amenas/precisa de carinho/precisa de ternura/precisa de um abraço/da própria candura/guerreiro são pessoas/tão fortes , tão frágeis/guerreiros são meninos/no fundo do peito/precisam de um descanso/precisam de um remanso/precisam de um sono/que os torne perfeitos/é triste ver um homem/ guerreiro menino/com a barra do seu tempo/por sobre seus ombros/eu vejo que ele berra/eu vejo que ele sangra/a dor que tem no peito/pois ama e ama /um homem se humilha/se castram seu sonho/seu sonho é sua vida/a vida é trabalho/e sem o seu trabalho/ um homem não tem honra/e sem a sua honra/se more, se mata/não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz”                    Guerreiro Menino de autoria de Gonzaguinha .