sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Um Banho N'alma, Cedinho

Nesta manhã fechada de sexta-feira, em meu posto de observação, ouço ao longe o " arrastar de móveis e o lusco - fusco das luzes riscando os céus " . Ao longe , desapareceu a Serra de Aratanha. Chuva para molhar minh'alma . É São Pedro mandando aviso que por estas bandas, a questão de inverno " é oito ou oitenta ".
Desço para a praça Rogério Fróes , em meio a poças d'água e torcendo pra encontrar uma boca de jacaré para uma benfazeja ablução matinal. Amém!
"Eu daria tudo que tivesse
Pra voltar aos dias de criança
Eu não sei pra que que a gente cresce
Se não sai da gente essa lembrança
Aos domingos missa na matriz
Da cidadezinha onde nasci
Aí, meu Deus, eu era tão feliz
No meu pequenino Miraí
Que saudade da professorinha
Que me ensinou o beabá
Onde andará Mariazinha
Meu primeiro amor onde andará?
Eu igual a toda meninada
Quanta travessura que eu fazia
Jogo de botões sobre a calçada
Eu era feliz e não sabia"
Canção " Meus tempos de criança " , da autoria de Ataulfo Alves ( 1909 - 1969 ) , cantor e compositor mineiro.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Domingo de Cenho Fechado

"Nuvens...Hoje tenho consciência do céu, pois há dias em que o não olho mas sinto, vivendo na cidade e não na natureza que a inclui. Nuvens... São elas hoje a principal realidade, e preocupam -me como se o velar do céu fosse um dos grandes perigos do meu destino. Nuvens... Passam da barra para o Castelo, de ocidente para o oriente, num tumulto disperso e despido, branco às vezes, se vão esfarrapadas na vanguarda de não sei quê; meio - negro outras, se, mais lentas, tardam em ser varridas pelo vento audível; negras de um branco sujo, se, como quisessem ficar, enegrecem mais da vinda que da sombra o que as ruas abrem de falso espaço entre as linhas de fechadoras da casaria.
Nuvens... Existo sem que o saiba e morrerei sem que o queira. Sou o intervalo entre o que sou e o que não sou, entre o que sonho e o que a vida fez de mim, a média abstrata e carnal entre coisas que não são nada, sendo eu nada também. Nuvens ... Que desassossego se sinto , que desconforto se penso, que inutilidade se quero ! Nuvens... Estão passando sempre, umas muito grandes, parecendo , porque as casas não deixam ver se são menos grandes que parecem, que vão à tomar todo o céu; outras de tamanho incerto, podendo ser duas juntas ou uma que se vai partir em duas, sem sentido no ar alto contra o céu fatigado; outras ainda, pequenas parecendo brinquedos de poderosas coisas, bolas irregulares de um jogo absurdo, só para um lado, num grande isolamento, frias.
Nuvens... Interrogo - me e desconheço - me. Nada tenho feito de útil nem farei de justificável . Tenho gasto a parte da vida que não perdi em interpretar confusamente coisa nenhuma, fazendo versos em prosa às sensações intransmissíveis com que torno meu o universo incógnito....
Nuvens ... São como eu, uma paisagem desfeita entre o céu e a terra , ao sabor de um impulso invisível, trovejando ou não trovejando, alegrando brancas ou escurecendo negras, ficções do intervalo e do descaminho, longe do ruído da Terra e sem ter o silêncio do céu. "
Excertos de " Nuvens " , de autoria do mago português, Fernando Pessoa (1888 - 1935 ).

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Fortaleza- Anos 60 - na Telinha da TV

A primeira emissora de televisão do Ceará - TV Ceará Canal 2 - , teve sua inauguração no dia 26 de novembro de 1960 , uma década depois do surgimento da telinha mágica, no Rio de Janeiro, com a TV Tupi Canal 3, ambas pertencentes ao grupo Diários Associados , do megaempresário paraibano Assis Chateaubriand (1892 - 1968).
Em seus primórdios a TV Ceará era alimentada por telejornais , teleteatros, e programas musicais . Artistas de renome nacional formavam um elenco que às quintas-feiras penetraram nos lares alencarinos em aparelhos de telinha preto e branco . Tudo sob os auspícios da Casa das Máquinas , de Gontran Nascimento , e das Máquinas de Costura Vigorelli.
Compunham a grei de maviosas vozes :
Caubi Peixoto (1931 - 2016 ) , cantando " A Noiva " , e, " Conceição ".
Ivon Curi (1928 - 1995) , cantando "Farinhada", e , " Escuta".
Hebe Camargo (1929 - 2012 ), cantando " Quem é " , e, " Hino ao amor".
Ângela Maria (1929 - 2018) , cantando " Babalu " , e, " Meu primeiro amor ".
Gilvan Chaves (1913 - 1986 ), cantando " Prece ao vento" , e, " O gemedor".
Luiz Vieira (1928 - 2020 ), com poemas musicais :
"Paz do meu amor ":
" Você é isso :uma beleza imensa,
Toda recompensa de um amor sem fim.
Você é isso : uma nuvem calma
No céu de minh'alma; é ternura em mim.
Você é isso: estrela matutina,
Luz que descortina um mundo encantador,
Você é isso: é parto de ternura,
Lágrima que é pura, paz do meu amor"
" Prelúdio pra ninar gente grande":
" Quando estou nos braços teus
Sinto o mundo bocejar
Quando estás nos braços meus
Sinto a vida descansar
No calor do teu carinho
Sou menino - passarinho
Com vontade de voar
Sou menino - passarinho
Com vontade de voar "
Crônica a quatro mãos: Clayrton Weyne, e, Francisco Eleutério.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Os Homens

"Em água e vinho se definem os homens.
Homem água. É aquele fácil e comunicativo.                            

Corrente, abordável, servidor e humano.
Aberto a um pedido, a um favor,
Ajuda em hora difícil de um amigo, mesmo estranho.
Dá o que tem
- boa vontade constante, mesmo dinheiro , se o tem.
Não espera restituição nem recompensa.

É como água corrente e ofertante,
Encontradiça nos descampados de uma viagem.
Despoluída, límpida e mansa.
Serve a animais e vegetais.
Vai levada a engenhos domésticos em regueiras, represas e açudes.
Aproveitada, não diminui seu valor, nem cobra preço.
Conspurcada seja , se alimpa pela graça de Deus
Que assim a fez, servindo sempre
E à sua semelhança fez certos homens que encontramos na vida
- os Bons da Terra - Mansos de Coração.
Água pura da humanidade.
Há também, lado a lado, o homem vinho.
Fechado nos seus valores inegáveis e nobreza
reconhecida.
Arrolhado seu espírito de conteúdo excelente em todos os sentidos.
Resguardados seus méritos indiscutíveis.
Oferecido em pequenos cálices de cristal a amigos
E visitantes excelsa, privilegiados.

Não abordavel, nem fácil sua confiança.
Correto. Lacrado.
Tem lugar marcado na sociedade humana.
Rigoroso.
Não se deixa conduzir - conduz.
Não improvisa - estuda, comprova.
Não aceita que o golpeiam,
Defende - se antecipadamente.
Metódico, estudioso, ciente.

Há de permeio o homem vinagre,
Uma réstia deles,
Mas com essas não vamos perder espaço.
Há lugar na vida para todos.
Em qual dos grupos se julga situado você, leitor amigo ?"

"Os Homens " , poema de autoria de Cora Coralina (1889 - 1985 ), do livro Vintém de Cobre , Editora Global, 2019.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Um Especial Fim de Tarde
"Do fundo do peito, pedimos por harmonia eterna em todo o mundo !
Possamos nós, a comunidade dos despertos,
ganhar ainda nesta vida
o reino secreto da meditação !
Possa reinar a paz em todos os países
e possam ser felizes todos os homens !
E que todas as criaturas
se beneficiem desta liturgia!"
Uma Prece budista .
Um Fim de Ano pleno de Paz e Harmonia para todos !
Feliz 2020 !