quarta-feira, 27 de janeiro de 2016


CARNAVAL EM PINDORAMA 2016

Até tu amada e idolatrada “loura desposada do sol“ deitando fora a fama de terra da luz para entrar firme no negrume da barbárie, passando quinau na Cidade Maravilhosa, no pódio das urbes mais perigosas do planeta terra! Assim segue Pindorama sua sina com seus insignes representantes políticos no alto poder legislativo e executivo  seriamente acometidos pelo danoso cancro da corrupção.

Os líderes da base oposicionista escondem-se sob o véu da conivência  representados por um octogenário príncipe sem cetro, por um apático mineiro,  mudo como uma pedra e por  um alto escalão camaleônico da república a conspirar nas caladas da noite, mandando e recebendo cartinhas . Todos estes, enfim, de olhos cerrados, mãos em concha nos ouvidos de mercador, receando a chegada a qualquer  hora do  indigesto“ Japonês da Federal “ e do “ Santo Morus “ , ambos chispando justiça  pelas narinas feito dois danados  dragões .

Pindorama não está parada  nem vai parar, segundo propalam as vestais . E mostra- se como uma brava locomotiva rubra vislumbrando em suas laterais os perfis de Fidel, Che e Chavez , descendo destrambelhada , sem freios nem luz rumo ao inferno de Dante , onde ficam de fora todas as esperanças . Caso isto ocorra “ Inês estará morta “ , “ morta também Maria Preá “e “ consummatum est “ . Ave Maria!

Antes, porém, gozaremos  o inebriante consolo , o ópio luxuriante do Zé Pereira com a ” Escola de Samba Unidos do Lava- Jato”  numa Sapucaí qualquer deste imenso torrão mandando ver :

“Ai meu Deus, me dei mal, bateu à  minha porta o Japonês da Federal /Dormia o sono dos justos/ raiava o dia eram quase seis /escutei  um barulhão , avistei um camburão /abri a porta e o japonês / então falou : /vem pra cá ! você ganhou uma viagem ao Paraná / com o coração na mão eu respondi : / o senhor está errado ! /sou trabalhador , não sou lobista / senador ou deputado / “ .

E queima rapaziada. Ah!  Quarta- feira ingrata chega tão depressa, só pra atrapalhar!

domingo, 24 de janeiro de 2016

O ICONOCLASTA MILLÔR FERNANDES

“ Às folhas tantas do livro de matemática, um quociente apaixonou- se um dia doidamente por uma incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a, do ápice à base.
Uma figura ímpar olhos romboides, boca trapezoide, corpo octogonal, seios esferoides.
Fez da sua uma vida paralela a dela até que se encontraram no infinito.
“ Quem és tu? – indagou com ânsia radical.
“ Eu sou a (raiz quadrada da) soma dos quatros catetos, mas pode me chamar de hipotenusa “ .
E de falarem descobriram que eram o que, em aritmética, corresponde a almas irmãs, primos entre si.
E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz sexta potenciação traçando ao sabor do momento e da paixão retas, curvas, círculos e linhas senoidais.
Nos jardins da quarta dimensão, escandalizaram os ortodoxos das fórmulas Euclidianas e os exegetas do universo finito.
Romperam convenções Newtonianas e Pitagóricas e, enfim, resolveram se casar, construir um lar mais que um lar, uma perpendicular.
Convidaram os padrinhos: o poliedro e a bissetriz, e fizeram os planos, equações e diagramas para o futuro, sonhando com uma felicidade integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos e foram felizes até aquele dia em que tudo, afinal, vira monotonia.
Foi então que surgiu o máximo divisor comum, frequentador de círculos concêntricos viciosos, ofereceu-lhe, a ela, uma grandeza absoluta e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, quociente percebeu que com ela não formava mais um todo, uma unidade.
Era o triângulo tanto chamado amoroso desse problema, ele era a fração mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a relatividade e tudo que era espúrio passou a ser moralidade, como, aliás, em qualquer Sociedade ... “.
Milton Viola Fernandes (1923- 2012), ou Millôr Fernandes, um ícone da cultura brasileira e um humanista com uma cética visão do mundo. Um ser múltiplo e genial: poeta, humorista, jornalista, artista plástico (4 exposições), escritor (36 livros), filósofo, teatrólogo (22 peças), ator e tradutor (60 peças).
Desde cedo na vida exerceu atividades laborais, começando aos 14 anos de idade na revista O Cruzeiro de Assis Chateaubriand. Viveu entre os grandes, e sempre mexeu com os poderosos de plantão. Destacou-se na imprensa em veículos como: Revista O Cruzeiro; Revista Veja; Revista IstoÉ; Jornal O Pasquim; Jornal O Dia ; e Jornal do Brasil, entre outros. Reuniu em sua volta figuras como Ziraldo, Jaguar, Stanislaw Ponte Preta, Paulo Francis, Tarso de Castro, Henfil, Luís Carlos Maciel, Fortuna e Sérgio Cabral.
Na vigência do Regime Militar (1964 – 1985) terçou armas em favor da liberdade de expressão com coragem, utilizando-se de sátira e ironia invulgares.
Certa feita, Millôr em um restaurante, recebeu áspero ataque verbal de um conhecido compositor, ícone da “esquerda- caviar“ que queria lançar uma garrafa de uísque naquele indigitado senhor de idade. Nenhuma voz se ergueu na ocasião para reprimir o ébrio compositor valente. Engraçado, diferente de hoje, quando até a Presidente da República saiu na defesa do mesmo agressor por ocasião de uma simplória discussão de bar, no mesmo Rio de Janeiro, fevereiro e março! Coisas de cegueira ideológica! Diria Millôr sobre o autor da covardia acima citada: “ – Eu desconfio de todo idealista que lucra com o seu ideal “.
Na sua estreia na Revista Veja no ano de 1968 escreveu:
“ E lá vou eu de novo, sem freios nem paraquedas. Saiam da frente, ou debaixo que, se não  estou radioativo , muito menos estou radiopassivo ...Já não se fazem Millôres como antigamente ! Nasci pequeno e cresci aos poucos. Primeiro me fizeram os meios e, depois as pontas. Só muito tarde cheguei aos extremos ... Fiz três revoluções, todas perdidas. a primeira contra Deus, e ele me venceu com um sórdido milagre . A segunda com o destino, e ele me bateu, deixando – me só com o seu pior enredo. A terceira contra mim mesmo, e a mim me consumi, e vim parar por aqui ...Creio que a terra é chata. Procuro não sê-lo . Nunca ninguém me ensinou a pensar, escrever ou a desenhar, coisa que se percebe facilmente, examinando qualquer dos meus trabalhos “.
Millôr deixou um rico acervo de livros, peças de teatro, desenhos que eternizam seu nome como um gênio da intelectualidade brasileira e um iconoclasta de valor.
“ Só uma coisa preenche tudo - o nada “,
“Só conheço um afrodisíaco – mulher “.
“ Quem não lê é mais analfabeto do que quem não sabe ler “.
“ O primeiro homem Deus fez do barro. A primeira mulher Deus fez de uma costela do homem . Só o terceiro ser humano foi feito em conjunto, pelo homem e pela mulher, usando o instrumento próprio no lugar adequado “.
“ Brasil, a prova de que geografia não é destino “.
“ Brasília prova; os países também se suicidam “.
“ Nas noites de Brasília, cheias de mordomia, todos os gastos são pardos “.
“ Cidadão, neste país em que não há qualquer cidadania, passou a significar só cidade grande “
“ Dinheiro não traz felicidade. Mas leva “.
“ Inflação – onde comem dois come um “.
“ O governo tem que acabar com esta inflação, custe o que custar “.
“ Hiperinflação – Estrutura econômica que ultrapassou os níveis negativos máximos estabelecidos por projeções tecnocráticas “.
“ Em Brasília não se chama mais ninguém de ladrão mas de pessoa movida pela ideologia da propina “ .
“ O diabo é que um presidente tem uma data de posse e uma data de saída e os problemas não respeitam cronologia “.
“ Nossos presidentes entram sempre pelo portão monumental da esperança, sentam no trono furta-cor da decepção, e saem pela porta suíça da corrupção.
Millôr Fernandes deixou órfão o Brasil lindo e trigueiro que tanto amou no dia 27 de março de 2012 aos 88 anos de idade. Seu epitáfio: “ Não contem mais comigo “.
Um Gênio! .

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

VADICO E NOEL, UMA DUPLA HARMONIA

Osvaldo de Almeida Gogliano ou Vadico (1910 – 1962), instrumentista, arranjador e compositor, nasceu no dia 24 de junho de 1910, no tradicional bairro do Brás em São Paulo. Filho do mineiro de origem italiana Erasmino Gogliano e de Maria Adelaide de Almeida. Seus irmãos: Dirceu, Carlos e Rute, tornaram – se todos músicos. Aos 16 anos Vadico principiou seu namoro com o piano e já aos 18 anos atuava como músico profissional. Venceu em 1928 um concurso com uma marcha “ Isso Mesmo É que Eu Quero “ e no ano seguinte, aos 19 anos de idade tem uma música incluída num filme (Acabaram–se os Otários), dirigido por Luís de Barros.
Em 1931 Vadico transfere –se para o Rio de Janeiro e por intermédio do maestro Eduardo Souto é apresentado a Noel Rosa, também nascido em 1910, e que seria seu mais brilhante parceiro musical ao longo da curta existência de ambos (Noel viveria 26 anos e Vadico , 52 anos ) . Na ocasião o “ Poeta da Vila Isabel “ ouviu uma primorosa melodia da autoria de Vadico. Dois dias depois Noel trouxe na ponta da língua a letra de “ Feitio de Oração “:
“ Quem acha , vive se perdendo / por isso agora eu vou me defendendo / da dor tão cruel desta saudade / que por infelicidade / meu pobre peito invade / por isso agora lá na penha / vou mandar minha morena / pra cantar com satisfação / e com harmonia / essa simples melodia / que é o meu samba em feitio de oração / batuque é um privilégio / ninguém aprende samba no colégio / sambar é chorar de alegria / é sorrir de nostalgia / dentro da melodia / por isso agora lá na penha/ eu vou mandar minha morena / pra cantar com satisfação / e com harmonia essa triste melodia / que é o meus samba em feitio de oração / batuque é um privilégio / ninguém aprende samba no colégio / sambar é chorar de alegria / é sorrir de nostalgia / dentro da melodia / o samba na realidade não vem do morro / nem lá da cidade /e quem suportar uma paixão / sentirá que o samba então / nasce do coração “/
Depois deste clássico, a dupla Vadico e Noel elaborou os seguintes sucessos: ” Pra que Mentir” (1934) ; “ Feitiço da Vila “ ( 1934 ) ;  “ Conversa de Botequim “ ( 1935 ) ; “ Tarzã, o filho do alfaiate “ ( 1936 ) .
“Pra que mentir se tu ainda não tens / esse dom de saber iludir /pra que? pra que mentir / se não há necessidade de me trair?/ pra que mentir , se tu ainda não tens/ a malícia de toda mulher ?/ pra que mentir / se eu sei que gostas de outro /que te diz que não te quer ?/ pra que mentir tanto assim /se tu sabes que eu sei /que tu não gostas de mim ?/se tu sabes que eu te quero /apesar de ser traído /pelo teu ódio sincero / ou por teu amor fingido? / “
Em 1939 Vadico viajou para os E.U.A. com a Orquestra Romeu Silva com fins de atuar no pavilhão brasileiro da Feira Mundial de Nova York. Ainda naquele país atuou como pianista de   Carmen Miranda (1909 – 1955) e do Bando da Lua. Participou de filmes convidado pela Universal Pictures e por Walt Disney. Em 1949 integrou a companhia da bailarina Catherine Dunham, como regente de orquestra e excursionou pela Europa e América Latina. Voltou para o Brasil onde atuou em rádio, televisão e em casas noturnas como Casablanca e Sacha’s.
Em parceria com o compositor Marino Pinto (1916 – 1965), Vadico lançou o sucesso “ Prece “ que considerava como sua obra – prima:
“ Quem duvidar que duvide /a saudade em meu peito reside / sem querer fui querer /novamente / já fiz tanta oração /ao Senhor eu pedi /proteção, inutilmente/ eu rezei minha prece / saudade vai e me esquece “ /.
No dia 11 de 1962, aos 52 anos, Vadico vai em busca de seu maior parceiro Noel Rosa que daqui se fora em 4 de maio de 1937 aos 26 anos,  para juntos continuarem sua eterna boemia  onde o tempo é eterno.






segunda-feira, 18 de janeiro de 2016


CARNAVAL, AI VONTADE DE CHORAR

“ Confete/ pedacinho colorido de saudade/ai, ai, ai, ai/ ao te ver na fantasia que usei/ confete, confesso que chorei/chorei, porque lembrei /do carnaval que passou/ daquela colombina que comigo brincou! /ai, ai, confete ,/ saudade do amor que se acabou “

O tríduo momino tomando corpo joga em meu cansado colo uma densa névoa de saudade, e volto a minha infância nos idos de cinquenta do século passado na rua Rodrigues Junior, esquina com rua Pero Coelho. Madrugada adentro de uma quarta – feira de cinzas, uma prosaica figura negra sentada na coxia, soluçava uma melodia que até hoje reverbera em minha memória (Banana Boat Song):

“ Dia, eu digo que dia / o dia amanhece e quero ir para casa / trabalhei a noite toda/ bebendo rum /vamos, senhor registrador / me registra uma banana / são, sete, oito cachos / um lindo cacho maduro de banana/esconde a tarântula negra mortal/dia, eu digo que dia /”.

Ao terminar aquele lamento o tal gigante de ébano, desaba com a cabeça entre as pernas e chora baixinho em meio a vômitos, defronte ao Quartel General da Folia, onde comandava o Rei Momo Luisão Primeiro e Único. Tinha o cantor naquela hora como única companhia um bichano notívago que ingeria com fremente gula aquele pasto gratuito e asqueroso.

Fechei, nauseado, o postigo devagar e fui me enroscar no aconchego morno na cama de meus pais com medo de um belo carão! .

 

Quem seria aquela pobre criatura de Deus? Não sei, mas até o fim de meus dias o triste lamento segue meus passos, imprimindo a certeza da falsa alegria do carnaval, a despeito daquilo que se vê hoje, com aquele mar luxuriante de bundas, seios, celulites e estrias a granel .

“ A estrela d’alva no céu desponta / e a lua anda tonta com tamanho esplendor/ e as pastorinhas/ para consolo da lua / vão cantando nas ruas lindos versos de amor/ linda pastora morena da cor de Madalena/ tu não tens pena de mim /que vivo tonto com o teu olhar/ linda criança tu não me sais da lembrança / meu coração não se cansa/ de sempre, sempre te amar “

Ôxente ! Viva Zé Pereira! .

 

                                                                                                                                                                  

sábado, 16 de janeiro de 2016

Noite de Festa das famílias Targino e Hyppólito no Ideal Clube por ocasião do lançamento do livro " Memórias e Outras Histórias - Um Caleidoscópio , de autoria da Querida Prof. Dra. Silvia Bonfim Hyppólito . Familiares , amigos , alunos e autoridades do mundo acadêmico cearense abrilhantaram a primorosa noite . Parabéns a todos !

MEMÓRIAS E OUTRAS HISTÓRIAS- UM CALEIDOSCÓPIO
Boa noite a todos os presentes:
Uma vida bem vivida merece ser contada e cantada em verso e prosa. Nesta noite que esperamos ser de luz e glória para nós todos, dividiremos prazer e relembranças duma rica trajetória tecida amorosamente com os fios da paixão sob as mãos de fada da ilustre humanista e sanadora de almas, Profa. Dra. Silvia Bomfim Hyppólito.
Ora vem a lume este “ Memórias e Outras Histórias – Um Caleidoscópio, um resgate histórico primoroso onde sente- se aflorar os mais puros sentimentos humanos vividos na querida “ bela desposada do sol “ do poeta Paula Ney, com uma Fortaleza menina – moça faceira, inocente, vestida de chita e com os cabelos negros amparados num coque. Assim sonhava a cidade, acarinhada nas noites banhadas em prata ao som plangente de violões apaixonados. Por essa época, o surdo rugido dos canhões da Segunda Guerra Mundial calaram - se para sempre, permitindo o surgimento de uma geração “ baby boomers “ ávida por tudo que representasse amor a vida e aos demais seres sencientes.
O mimoso relato de “ Memórias e Outras Histórias “ põe- se em movimento desenhando na tela branca da memória um frágil fio d’água cristalina nascendo do abençoado húmus do cocuruto do Maciço de Baturité, serpenteando obstáculos naturais, ganhando volume e força, tornando-se o caudaloso Rio Pacoti, que busca seu destino final no Atlântico Oceano ali pelas bandas do Porto das Dunas no município de Eusébio. Cumpre – se, deste modo, o fadário do rio semelhante ao do bicho – homem: “Rio caminho que anda / que vai resmungando talvez uma dor / ah! Quantas pedras levaste / e outras pedras deixaste / sem vida e amor / vens lá do alto da serra / o ventre da terra rasgando sem dó/ eu também venho do amor / com o peito rasgado de dor e tão só / não viste a flor se curvar / teu corpo beijar e ficar lá para trás / tens a mania doente de olhar só para frente / não voltas jamais / rio caminho que anda / o mar te espera, não corras assim / eu sou o mar que espera / alguém que não corre pra mim “.
A Professora Silvia desenha com graça a história de seus queridos pais, Sr. Jorge de Castro Bomfim, nascido no município de Redenção e da Dona Gisela Targino nascida em Aquiraz. A árvore genealógica dos Bonfim e dos Targino segue em detalhes até a distante época das Sesmarias. Do baú da privilegiada memória da autora salta para o palco da vida uma infinidade de nomes que desfilam banhados numa amorosidade que cativa.
Uma infância com direito a um amplo rol de inocentes folguedos como brincar de “ manjô”, “ três, três passarás “, “ chicote – queimado”, “ Macaca, com o céu e o inferno, com uma casca de banana” “ e, ainda mais, jogando charme com a linguagem cifrada dos “ pês “ do “ gaderipoluty “. Éramos sim, eternos e crentes que viveríamos felizes o nosso maravilhoso conto de fadas. Mas gestando a idade adulta a explosão vulcânica da adolescência logo batia à porta num sobressalto. Hora dos primeiros namoricos, onde era pouco apropriado ficar “ fiche – fiche “ com algum garoto cheio de espinhas a falar grosso e fino ao mesmo tempo. Época das memoráveis tertúlias no Maguari, Náutico e Ideal sob a batuta dos conjuntos de Ivanildo, Moreira Filho, Canhoto e Alberto Mota. Isto sem esquecer a presença de estrelas como Ângela Maria (A Sapoti), Orlando Silva (O Cantor das Multidões) e o impagável cubano Bienvenido Granda (O Bigode que Canta).
“ Perfume de gardênia, tem em tua boca / belíssimos raios de luz em teu olhar /teu riso é uma rima/ de alegres notas/ se movem teus cabelos/ qual ondas sobre o mar / teu corpo é uma cópia / de Vênus de Citeres /que invejam as mulheres / quando te veem passar/ e levas em tua alma / a virginal pureza/ por isso é tua beleza / de um místico candor / perfume de gardênia / tem em tua boca /perfume de gardênia / perfume de amor “.
O início da maturidade da Professora Silvia passa pela querida Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará onde gradua-se com méritos e segue uma rica trajetória para o exercício pleno de uma docência pejada de títulos outorgados por entidades nacionais e internacionais.
A Professora Silvia correu com brilhantismo ímpar a “ Europa, França e Bahia “ em busca do saber acadêmico formal que, humanamente, distribuiu com graça, aos seus diletos alunos e seguidores. Sobrou tempo e fortaleza para talhar uma mimosa família com os filhos Karen, Elodie e Archimedes, acrescidos hoje com o genro Prof. Dr. Roberto Pires da Justa Neto , e os netos Beatriz e Ernesto .
No arremate de “ Memórias “ delineia – se uma bela mulher, ciente de sua fortaleza, temperada por uma existência plena de luz e que conseguiu espalhar o Bem por onde passou, plantar o Amor na sua verdadeira essência cristã, colher belos Frutos para perpetuar sua senda terreal e escrever páginas imorredouras no Livro da Vida.
“ Dizem que a mulher é o sexo frágil/ mas que mentira absurda! /eu que faço parte da rotina de uma delas /sei que a força está com elas /vejam com é forte a que eu conheço/ sua sapiência não tem preço/satisfaz meu ego , se fingindo submissa / mas no fundo , me enfeitiça / quando eu chego em casa à noitinha / quero uma mulher só minha/ mas para quem deu luz não tem mais jeito/porque um filho quer seu peito /o outro já reclama a sua mão /e outro quer o amor que ela tiver / quatro homens dependentes e carentes/ da força da mulher /mulher !mulher ! /do barro de que você foi gerada/ me veio a inspiração /pra decantar você nessa canção / mulher ! mulher !/na escola em que você foi ensinada / jamais tirei um dez/ sou forte , mas não chego aos seus pés !/ “
A partir de agora “ Memórias e Outras Histórias – Um caleidoscópio “ tomará parte de um seleto grupo de leituras obrigatórias acerca de relatos de nossa amada terra, como, “ Fortaleza Descalça “ de Otacílio de Azevedo; “ Coisas que o Tempo Levou” de Raimundo Meneses; “ Coração de Menino/ Consulado da China / Liceu do Ceará “ de Gustavo Barroso.
Música, Maestro, por favor e ergamos um supimpa brinde a esta venerável deusa “ Shiva do Agreste Cearense“ assim nomeada pelo nosso querido artista plástico Maurício Cals.
Muito obrigado
Francisco José Costa Eleutério
Da Academia Cearense de Medicina
Da Academia Cearense de Médicos Escritores
Da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

JOÃO JACQUES E A LIBERDADE

João Jacques Ferreira Lopes (1910 – 1999), jornalista, cronista, poeta e pintor, nasceu no dia 27 de janeiro de 1910, na cidade de Fortaleza. Seus pais foram, o maestro Henrique Jorge Ferreira Lopes e Júlia Magalhães Jorge. O político e jornalista Paulo Sarasate era seu irmão. Suas primeiras letras foram tomadas no Externato São Rafael, anexo ao Colégio da Imaculada Conceição e em seguida partiu para os conceituados Colégio Nogueira, Colégio São Luís, Liceu do Ceará e Seminário Arquidiocesano de Fortaleza. Participou em 1929 da criação do jornal modernista, de efêmera duração, “ Cipó de Fogo “. Durante anos brindou a todos com poéticas crônicas no Jornal O Povo, na capital cearense.
Publicou: “ Aspectos Econômicos do Ceará (1954); “ Alma em Corpo oito “ (1964); “ A Grande Viagem “ (1966); “ Os Cardeiros Sangram “(1968) ; “ Uma Fantasia e Nove Histórias Reais “ (1969 ) ; “ A Prece do Menino Aflito “ (1971)  ; “ A Canção do Tempo” ( 1978 ) ; “ Galeria de Honra “ ( 1986) ; “ Otacílio Azevedo “ (1992) . João Jacques pertenceu a Academia Cearense de Letras, onde ocupou a Cadeira de n° 28.
No Almanaque do Ceará em sua edição de 1949 aparece a poética crônica de João Jacques “ A Borboleta e a Liberdade “ escrita nos negros tempos da ditadura do “ Pai dos Pobres “ Getúlio Vargas. A temática segue atual para cutucar autocracias que enlameiam a nossa triste América Latina:
“ Há três dias ela vinha lutando inutilmente. Era um lindo exemplar de borboleta. Corpo curto e fino, asas grandes, antenas crespas e longas, olhos pulados, tintas fortes e bem distribuídas. Digna mesmo de um colecionador nipônico ...
Insinuou- se pelo meu quarto sem ser pressentida e lá ficou por muitas horas, obstinada em sair, inconformada na prisão, como um pensamento que penetra num cérebro e se torna ideia fixa, obsessão.
Enquanto voejava de parede a parede, de um móvel para o teto ou vice-versa, não incomodou. Até enfeitou o ambiente. Até constituiu nota alegre, cousa inédita, ponto de reparo, pábulo para a vista e a curiosidade dos que lhe acompanhavam a volubilidade característica.
Ora estava aqui, ora ali, ora acolá. Neste momento imóvel, em descanso, estática, espalmada, aberta ao meio como um pequeno compêndio de cores. Naquele, aterrissada ao forro, de cabeça para baixo, violentando as leis físicas, movimentando as pétalas das asas, em ritmo de ensaio, como uma cor viva, animal, palpitante, destituída de aroma, mas rica de pólen ...
Depois, quando acertou com os vidros da janela, passou a molestar. Não fez mais silêncio. Não parava de bater. Não se dava tréguas a si nem aos demais.
Dia e noite, como uma cigarra elétrica, vibrava as asas incansáveis de encontro ao anteparo transparente que lhe dava a ilusão perfeita de achar- se em pleno espaço, sem peias nem limites. Debatia –se. Forçava. Investia. Trabalhava. Sem comer nem beber. Tudo pela liberdade ! E esta a poucos milímetros. E esta ali perto, sorrindo –lhe do outro lado, prometendo-lhe o maior dos prazeres, que é o de possui-la, de te-la nos braços, no coração e na alma, como a mulher a quem se ama e a quem se quer.
A pobre da borboleta então já me causava piedade.
Seus olhos através do vidro, enxergavam perfeitamente o espaço franco e acessível, a configuração rotunda das árvores lá fora, o azul do firmamento cheio de ar e claridade, a beleza toda da natureza. E não poder escapar ao destino e às circunstâncias! E não viver a vida que vivia! E não dar asas às próprias asas! E não ser como nascera! E não morrer ao menos como devera! ...
Ao fim de algum tempo, ou por importunado ou por compadecido, dispus-me a fazer a vontade da leve e inocente detenta de meu quarto. Ainda lutava. E o rufar de suas asas tinha qualquer cousa de bélico, de toque de tambor, de disposição combativa até a morte.
Concedi-lhe a fuga pela janela, que abri e de longe fiquei a observa-la na precipitação suprema. Ela saiu voando, como uma louca ou uma bêbada, em linha quebrada, aos ângulos obtusos, em itinerário de corisco, quase às cegas, mas subindo. Subindo. Subindo.
Nunca vi borboleta atingir tão alto!


A liberdade eleva o homem e as simples borboletas.
A pior das prisões ou o mais negro dos cativeiros é aquele em que se tem apenas a ilusão da liberdade ou a liberdade por um óculo “
                                               

sábado, 9 de janeiro de 2016

BRASIL (AINDA) UM IMENSO HOSPITAL

Miguel da Silva Pereira (1871 – 1918), médico brasileiro sanitarista, professor universitário e membro da Academia Nacional de Medicina, no dia 10 de outubro de 1916 proferiu uma vibrante saudação ao Dr. Aloysio de Castro, diretor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Seguem trechos de sua profética e atual oratória:
“ Vivemos tristemente em um país triste. As nossas desditas políticas e as nossas misérias administrativas cedo, apenas conscientes da vida nacional, nos envenenam as fontes de alegria, de onde deveriam haurir reservas de energias físicas e morais indispensáveis à nossa dignidade de povo independente. Nesta atmosfera pesada e ansiosa, deprimente e duvidosa, onde respiram a fôlego curto 25 milhões de brasileiros , foi bastante que ao aceno de um poeta se entreabrissem as cortinas que aos moços patrícios vedavam o olhar para além de seus interesses subalternos , para que vissem aterrados a imagem  sagrada da pátria – exposta e sem defesa , imensa e sem grandeza, espoliada e sem justiça , rica e sem crédito , culta e sem escolas , forte e sem armas – miserável e maltrapilha , ela , a mãe augusta e fecunda que na hora tenebrosa do perigo não encontrará para defende- la senão exatamente aqueles que não engordam à custa de sua desgraça ...
Na luta pela pátria, todos se acamaradam e emparceiram como diante da morte, que essa luta tantas vezes preludia, todos se nivelam na terra profunda. E bem que se organizem milícias, que se armem legiões, que se cerrem fileiras em torno da bandeira, mas, melhor seria que não se esquecessem neste paroxismo de entusiasmo que fora do Rio ou de São Paulo, capitais mais ou menos saneadas, e de algumas outras cidades em que a previdência superintende a higiene, O BRASIL AINDA É UM IMENSO HOSPITAL. Num impressionante arroubo de oratória já perorou na Câmara ilustre parlamentar que, se fosse de mister, iria ele de montanha em montanha, despertar os caboclos desses sertões. Em chegando a tal extremo zelo patriótico uma grande decepção sua generosa e nobre iniciativa. Parte , e parte ponderável , dessa brava gente não  se levantaria ; inválidos , exangues , esgotados pela ancilostomose e pela malária ,estropiados e arrasados pela moléstia de Chagas ; corroídos pela sífilis e pela hanseníase ; devastados pelo alcoolismo ; chupados pela fome , ignorantes , abandonados , sem ideal e sem letras ou não poderiam estes tristes deslembrados se erguer da sua modorra ao apelo tonitruante de trombeta guerreira, ressoando de quebrada em quebrada , como espectros , se levantassem , não poderiam compreender porque a Pátria, que lhes negou a esmola do alfabeto , lhes pede agora a vida e nas mãos lhes punha, antes do livro redentor , a arma defensiva “ .
Tal mensagem patriótica exarada há exatos 100 anos permanece atual e verdadeira. Hoje a nação brasileira contando com cerca de 203.000.000 de almas continua como um grande e mal gerido hospital, obrigado a conviver com novas e furtivas mazelas: o “ cancro da corrupção” (uma verdadeira besta do Apocalipse) e novas doenças como Aids, Dengue, Chikungunya e Zika . Esta última a percorrer o território nacional, agora, de norte a sul trazendo consigo inocentes almas afetadas com microcefalia e outros agravos. Distantes estamos de uma solução razoável para tão vergonhoso problema, num país manietado, letárgico, assistindo aos três poderes se digladiarem em torpes pelejas. Até quando?


domingo, 3 de janeiro de 2016

JOÃO BRÍGIDO – PALADINO DA IMPRENSA DO CEARÁ ANTIGO

João Brígido dos Santos (1829 – 1921), jornalista, cronista, historiador e político, nasceu no dia 3 de dezembro de 1829 na Vila de São João da Barra, na época pertencente a Província do Espírito Santo, depois Estado do Rio. Sua família migrou em 1831 com destino ao Ceará onde estabeleceu- se na cidade de Icó. João Brígido tomou suas primeiras aulas em Quixeramobim, quando conheceu o garoto Antônio Vicente Mendes Maciel, futuro líder messiânico trucidado por forças do Governo Federal nos confins da Bahia no triste episódio de Canudos. Consta que um dia, João Brígido salvou o petiz Antônio Vicente de um afogamento num rio em Quixeramobim.
Em 1855 João Brígido funda na cidade de Crato o jornal “ O Araripe “ dando início a uma longa trajetória triunfante na Imprensa do Ceará. Na época, com o pseudônimo de “ KKK “ colaborava com outros jornais cearenses, incluindo um de propriedade do temível Padre Verdeixa, apodado, imaginem, de “ Canoa Doida “.
Em 1861 João Brígido foi nomeado Professor de Português no afamado Colégio Liceu do Ceará e em 1903 funda o Jornal O Unitário, trincheira onde terçava armas com adversários reais ou imaginários feito um Quixote matuto. Foi Deputado Provincial (1864- 1867), Deputado Geral (1878 – 1881), Senador do Estado (1892), Deputado Estadual (1893 – 1894).
Publicou “ Apontamentos para a História do Cariri “ (1888) ,” Miscelânea Histórica” ( 1889 ) , “ O Ceará – lado cômico” (1899) e “ Ceará – homens e fatos “ ( 1919 ) , sua mais destacada obra.
Do seu quartel – general, o combativo jornal” O Unitário” partiram rumo a história pérolas como estas:
“ Ontem, às treze horas os admiradores de G. Falcão prestaram-lhe uma homenagem numa refeição no Café Riche. À sobremesa, em nome dos presentes, falou o C.L. Em seguida, o homenageado ergueu- se nas patas traseiras, firmou-se nas dianteiras, murchou as orelhas e gaguejou um discurso, curto e ruim “.
João Brígido , certa feita ,espinafrava um pobre chefete político sertanejo em seu pasquim: “ – Fulano de tal, há muito devia estar na cadeia pelos monstruosos crimes que impunemente tem cometido à sombra de governos que se sucedem “. Aparece então, Miguel Xavier um bem informado correligionário afirmando que o tal fulano acabara de aderir ao partido de João Brígido. O velho jornalista apenas corrigiu: “ – Não corte nada e ponha tudo entre aspas. E em seguida, sem aspas:  - Que ele devia estar na cadeia, por ser criminoso, dizem os seus inimigos peçonhentos. Nós, porém, que o temos na justa conta, consideramo-lo um dos homens de bem entre quantos que ainda vivem no sertão.
No governo do Comendador Nogueira Acioli, o Jornal O Unitário assim comentou uma tertúlia palaciana: “ Estiveram ontem, à noitinha em palácio, com Acioli, o Coronel Paulino, de Quixeramobim, e mais nove criaturas de idade avançada. Eram dez os visitantes. Mas ... quem os visse, contava quinze olhos e onze dentes “.
Encerrando, seguem trechos de uma crônica do Jornal O Unitário com a data de 20 de maio de 1903, com a marca registrada de João Brígido: “ O Ferreiro da Maldição “:
“ O Ceará é o ferreiro maldito, de quem fala a lenda popular: quando tem ferro falta carvão. É nadador contra a corrente, que nunca chega; o caranguejo que anda e desanda; o eco a repetir a pregunta sem lhe dar resposta; o nó sem ponta; o sonho que promete em sombras que não se distinguem bem, a vaga esperança, enfim, para a qual nunca chega o dia.
Há cem anos um povo gigante, a mover-se, não adianta um passo, como frágil esquife sobre as ondas, que a corrente impele, e o vento faz recuar. Não lhe falta a alma. São os deuses, que o condenam à pena de Tântalo – morrer de sede à beira do regato. Os diretores mentais do Ceará morreram ou foram longe procurar um teatro para exibição de sua intelectualidade; e crestam na penúria os rebentos da capacidade cearense, a disputarem um pouco de ar, que aliás lhe mata o estímulo; o ar mefítico das baixas regiões oficiais...
Que seja para os netos de nossos netos, não importa. O mundo não é tão curto, que acabe em nós; e cem anos, na ordem dos tempos, é muito menos de um til nos lábios “.
Da data desta crônica (20.05.1903) até os dias hodiernos (02.01.2016), o perfil do Ceará pouco mudou, e , de resto , o Brasil, seguem a mesma sina, como a cantiga da perua! .
Cantiga da Perua de Jackson do Pandeiro:
“ É de pior a pior / é de pior a pior / a cantiga da perua é uma só / andam dizendo que o progresso vai chegar/ que a coisa vai melhorar/ quando o homem for para a lua /mas a verdade crua / que a situação da vida tá ficando parecida a cantiga da perua / de tudo isso o que mais me enquizila / é o sujeito entrar na fila pra comprar o que não tem /vai chegar tempo que a nossa rapaziada / pra falar com a namorada entra na fila também “


sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

MONSENHOR QUINDERÉ-  “ EMBAIXADOR DA ALEGRIA DA CORDIALIDADE DO CEARÁ “

José Alves Quinderé (1882 – 1960) veio ao mundo no primeiro dia do ano de 1882 na cidade de Maranguape no interior do estado do Ceará. Filho de João Gualberto Quinderé e de Josefina Pinheiro Quinderé. O sobrenome Quinderé tem como origem a inserção no nome de seu avô materno Antônio Alves Pinheiro de Melo acrescentado por ocasião da Confederação do Equador de 1824. O garoto José Alves iniciou suas primeiras letras em Maranguape sob a orientação do educador Manoel Jorge Vieira.
Desde cedo manifestou vocação para a vida sacerdotal. Ingressou no Seminário Episcopal de Fortaleza no ano de 1894 onde ordenou-se em 30 de novembro de 1904 aos 22 anos de idade. Seus estudos foram custeados pela Madre Superiora do Colégio Imaculada Conceição, irmã Gagné . Celebrou sua primeira missa em dezembro de 1904 na capela do dito Colégio. Teve rápida passagem como Coadjutor de Maranguape (1905- 1906) e depois transferiu-se para Fortaleza onde exerceu por duas décadas o cargo de Secretário Geral do Arcebispado. Em 1910 foi nomeado professor de latim no Colégio Liceu do Ceará. Três anos depois fundou com a ajuda dos professores Misael Gomes e Climério Chaves, o Colégio Cearense que posteriormente foi entregue aos Irmãos Maristas. Em 1920 recebeu o título de Cônego e em 1929, o de Monsenhor. Como homem de letras e jornalista integrou os quadros dos jornais “ O Nordestino “ e “ O Povo “. Destacou- se na política partidária sendo por duas ocasiões conduzido a uma Cadeira na assembleia Legislativa do Estado do Ceará.
Publicou as seguintes obras: Ano Litúrgico (1940); Problemas da Vida Eterna (1944); Sinal sensível (1947); A Mais Antiga Constituição (1951 ) ; Vida de D. Joaquim José vieira ( 1947 ) ; Vida de santa Filomena ( 1956 ) e Reminiscências ( 1957 ) .
Carismático, com cativante alegria, amante das boas coisas da vida terrena Monsenhor Quinderé integra ao lado de excelsas figuras como Quintino Cunha e Leonardo Mota um charmoso nicho da intelectualidade de uma Fortaleza bela e faceira do século passado.
A história registra casos onde sobressai o espírito leve, inteligente e jocoso de um filho de Deus que soube curtir seus dias de intenso labor neste vale de lágrimas, mostrando o real valor da alegria como milagroso remédio:
Certa feita, uma jovem em tom de gracejo e indiscreta, alfineta o padre Quinderé : - “ É verdade que o senhor gosta muito de mulher ?”. A resposta veio fulminante: “ – E também de manga, mas sou proibido de comer porque faz mal! “ .
Em outra ocasião, no Rio de Janeiro, uma senhorita postada no parapeito de um alto edifício, como se fosse saltar para o vazio, em tom de blague lança o repto: “ – Padre Quinderé, vamos morrer juntos? “ . E, de chofre, recebe como resposta; “ – Não, vamos viver juntos, que é muito melhor! “ .
Numa viagem de navio onde estava também presente a impagável figura de Quintino Cunha, um gaiato típico do Ceará – Moleque colou um rabo de papel no “ Poeta dos Solimões “ que de soslaio identificou o brincante. Quintino foi seguido no tombadilho por um grupo de moçoilas numa incômoda algazarra, junto com o tal autor da peça.
Quintino estaca e dispara: “ – Cavalheiro, o senhor, que já me deu o rabo, pode me emprestar agora os cascos para eu dar uns coices nesta gente barulhenta? “ . Ponto final!