Navegando às Cegas em 2020

O Deus grego do vinho e da videira - Dioniso ou Baco, possuía larga fama pela indução de arrebatamento extático onde imprimia a si próprio e aos seus seguidores problemas resultantes de uma brutal embriaguez.

Baco era filho da mortal Sêmele e de Zeus . Ainda no útero de sua mãe, Baco sofreu extirpação dali e , em seguida, implantado para se desenvolver na coxa de Zeus.

Ao nascer foi entregue aos cuidados de ninfas selvagens que o seguiam em viagens oficiando ritos de êxtase frenético - alcoólico. ( Wilkinson, P. )
Assim , Baco, corruptela de barulhento e desordeiro, tornou - se o deus do vinho e da bebedeira. Seus seguidores masculinos eram os sátiros, e as mulheres , eram as bacantes . As orgias rituais , eram as bacanálias. O grande culto místico a Baco centrava- se no vinho , na música e na dança. ( Hallam, E. )

Pindorama em 2020 encontra - se envolta numa severa epidemia provocada por um " diabinho viral vindo do Norte" , traiçoeiro e perigoso, que espraiou - se , sorrateiramente, de braços dados com Baco, no maior Carnaval do século.
Agora, a " Nau Brasilis " soçobra em mar revolto nas brumas da noite , às cegas, segundo uma autoridade governamental .
Para onde ?
Só Zeus sabe !

Atena , Minerva , Quimera

Minerva era ao mesmo tempo a deusa da sabedoria e da guerra. Mas não da guerra sangrenta e sem propósito. Patrocinava o combate justificado, feito com inteligência ou motivado por um ideal honroso. Era também chamada de Palas Atena pelos antigos gregos.

Seu pai , Zeus, senhor de todas as coisas, havia sido alertado de que seria destronado por um filho gerado por sua amante, Métis. Zeus engoliu sua amante com o filho na barriga. No nascimento, a deusa Minerva ( Atena) saiu completamente desenvolvida , senhora de si e armada da cabeça aos pés. Graças à sua sabedoria , a guerreira Atena jamais foi derrotada numa batalha , tomando sempre o partido daqueles que lutavam pelas causas justas ou honradas. Nessas condições, auxiliou heróis famosos como Hércules, Ulisses e Aquiles.

Atena adquiriu um magnífico cavalo alado , Pégaso, que serviu para matar um monstro, Quimera , um híbrido de leão, cabra e serpente - que espalhava chamas pela boca e ventas - , cuja vida era dedicada a levar destruição e morte por onde passava. Assim Minerva travou o bom combate , como deusa da razão, protetora dos sábios e estudiosos. Uma coruja , era trazida sobre um dos seus ombros , simbolizando conhecimento, sabedoria.

Excertos do Livro Mitologia ao Alcance de Todos , da autoria de Alexandre A. Mattiuzzi, Editora Nova Alexandria, São Paulo , 2000.

Existe uma maneira de contribuir para a mudança. NÃO se resignar !

Autoritarismo no Passado e no Presente

A autoridade pode ser racional ou irracional. A racional baseia - se na competência. Um exemplo é a do mestre pleno em saber que reparte conhecimento a mancheias.

A autoridade irracional baseia - se no domínio total sobre as pessoas , e reclama um poder eterno. Intimida os subordinados e não admite qualquer crítica. Manifesta - se como uma autoridade iníqua.
Exemplos na História da humanidade não faltam.
" Eu sou a Lei, eu sou o Estado ; o Estado sou eu ".
Dito proferido pelo rei Luís XIV de França ( 1638 - 1715 ). Este recebeu o poder quando tinha 5 anos idade . Reinou por cerca de sete décadas , com poderes absolutos.

Em Pindorama , no torrão cearense reduto de famosos coronéis, na cidade do Crato, em 1912 , caía a oligarquia do Dr. Antônio Pinto Nogueira Accioly ( 1840 - 1921 ) que teve duração de16 anos. Com sua queda, assumiu a liderança estadual o Coronel Marcos Franco Rabelo (1851 - 1940) que nomeou como intendente do Crato o austero Coronel Francisco José de Brito. Este em companhia de correligionários, invadiu o gabinete do então intendente de Crato , Coronel Antônio Luís Alves Pequeno , e mandou "bala" :
" - Desocupe o cargo, que de hoje em diante , quem manda aqui sou eu !"
O Coronel Antônio Luís, ainda argumentou :
" - Baseado em que Lei ?"
"- Nesta aqui , ó ", a Lei de Chico de Brito , disse apontando o revólver em direção ao peito do oponente . Esta Lei eu mesmo fiz".

Existe outra vertente com relação a este episódio histórico no interior do Ceará em 1912 , mais ou menos na mesma linha.

"A liderança do estilo autoritário possui diferentes matizes ao redor do mundo, dependendo das circunstâncias históricas e da personalidade dos líderes . Que são:
- Seguidores com pouca ou nenhuma capacidade de discernimento crítico.
- Obediência irrestrita ao líder.
- Dogmatismo e rigidez ( ortodoxia ) na aplicação das orientações do líder.
- Intolerância diante daqueles que não compartilham com a linha do líder. Quem não é seguidor , é um inimigo.
- linguagem codificada, própria de seita.
- Postura de superioridade diante daqueles que não fazem parte da organização ou do grupo.
- Capacidade de renúncia pessoal e sacrifício nos interesses de grupo e do líder.
- Formação de uma camarilha ou ambiente de poder com funções tais como :
-Sustentar o culto à pessoa do dirigente máximo.
- Filtrar e restringir as informações com duplo sentido.
- Reduzir a comunicação a um discurso oficial.
- Filtrar ou impedir o acesso ao líder.
- Organizar a repressão interna de pensamentos e atitudes dissidentes ou de iniciativas à margem do que foi estabelecido verticalmente.
- Frear a participação e a criatividade do coletivo"

Excertos do livro Liderança Ética, de autoria de Emiliano Gómez, Editora Planeta , 2008.

A História do Rei Vesgo

"Na frente do Palácio de certo rei do Oriente, havia um morro que lhe estragava o prazer. Esse rei , apesar de ser vesgo, tinha uma grande vontade de "dominar a paisagem "; vontade tão grande, que ele não pôde resistir, e lá um belo dia, resolveu sinceramente arrasar o morro. Tratava - se , porém, de um morro sagrado , chamado o Morro da Democracia, e defendido por leis básicas do reino. Nem essas leis, nem o povo jamais consentiram em sua demolição, porque era justamente o obstáculo que limitava o poder do rei. Sem ele o rei dominaria ditatorialmente a paisagem, o que todos tinham como um grande mal. Mas aquele rei, que além de vesgo era malandro, tanto espremeu os miolos que teve uma ideia.

Piscou e chamou uns cavouqueiros, aos quais disse: - Tirem um pouco de terra desse morro, ali onde há uma touceira de cagroatá espinhento. Se o povo protestar contra a mexida no morro, direi que é para destruir o cagroatá espinhento; e que se tirei um pouco de terra foi para que não ficasse no chão nem uma raiz ou semente. Os cavouqueiros arrancaram os pés de cagroatá e removeram várias carroças de terra. O povo não protestou; não achou que fosse caso disso. Só alguns ranzinzas murmuraram, ao que os apaziguadores responderam : Foi muito pequena a quantidade de terra tirada; não fará falta nenhuma. Vendo que não houve protesto, o rei , logo depois, deu nova ordem aos cavouqueiros para que arrancassem outro pé de qualquer coisa, mas com terra - Ele fazia muita questão de que a planta condenada saísse sempre com um bocadinho de terra...
Continuando o povo a não protestar, prosseguiu o rei por muito tempo naquela política de "extirpação das plantas daninhas do morro" e as foi arrancando sempre "com terra", até que um dia...- Que é do morro ? Já não havia morro nenhum no Reino.

Desaparecera o Morro da Democracia e o rei pôde, afinal estender o seu olho vesgo por todo o país e governa- lo despoticamente - não pelo breve espaço de apenas quinze anos, mas pelo de trinta e tantos, segundo rezam as crônicas históricas. Isto foi no Oriente. Mas nada impede que aqui aconteça o mesmo, porque também temos o nosso morrinho da Democracia, cheio dessas plantas más que costumam crescer em tais morros. É preciso pois , que o povo se mantenha sempre vigilante , para nossos reis vesgos não as arranquem "com terra". Do contrário, o morro se acaba - e ...como é? Ditadura outra vez ? Paisinho dos Pobres outra vez ? Este comício tem uma significação. É um protesto do povo contra as primeiras carroçadas de terra que o nosso rei, sob o pretexto de arrancar o cagroatá espinhento do comunismo, tirou do nosso Morro da Democracia. Cesteiro que faz um cesto faz cem.

Quem tira uma carroçada de terra, tira mil. Se não reagirmos energicamente, um dia estaremos privados de nosso morro e com um terrível soba dominando toda planície. E, se tal acontecer e se esse soba instituir o relho como instrumento de convicção, será muitíssimo bem feito, porque outra coisa não merece um povo que deixa seus governantes despojarem - no pouco a pouco de suas mais belas conquistas liberais. O preço da liberdade é uma vigilância barulhenta como a dos gansos do Capitólio "

A História do Rei Vesgo, da autoria de Monteiro Lobato (1882 - 1949).

Hodiernamente , num burgo situado na América Latina , um reizinho de papel, vesgo , cego, nu, cambaleando no vernáculo, babando ódio, tenta destruir o nosso débil morrote da democracia, buscando para tal , o amparo do baixo clero do parlamento e "arrancando plantas do bem" , como possíveis ameaças a seus arroubos de perpetuação do poder .
Quem tira uma " carroçada de terra" , tira mil , e depois , adeus "Morro da Democracia !"

Um Brasil Excêntrico

...Um presidente veta corridas de cavalo nos dias úteis e rinhas de galo todos os dias; proíbe o uso de lança - perfume nos bailes de Carnaval, e de biquíni nas praias, regulamenta o comprimento de maiô nos desfiles televisionados dos concursos de misses. E, para arrematar instala dois jumentos nordestinos pastando a grama verde do imenso jardim do Palácio da Alvorada...

Assim era o governo do histriônico Jânio da Silva Quadros ( 1917 - 1992 ) , que em agosto de 1961 renunciou ao cargo de Presidente da República do Brasil após seis meses de mandato confuso , desagregador e impopular, eivado de decisões erradas que levaram o país num átimo a uma monumental crise política e constitucional.

E hoje , Pindorama , em meio a uma grande epidemia / histeria provocada por um vírus traiçoeiro vindo do Norte, flutua em águas turbulentas na órbita governamental com estas duas tragédias se sobrepondo.

" Se não se sabe onde quer ir, qualquer caminho serve" . E aí mora o perigo!

O Bicho - Homem 2020

"Muita gente me diz que sou pessimista ; mas não é verdade, o mundo é que é péssimo. O ser humano se limita , na atualidade a "ter" coisas, mas a humanidade se esqueceu de "ser". Esta última coisa dá muito trabalho : pensar, duvidar, perguntar - se sobre si mesmo..."

"Temos na natureza muitas coisas contra as quais lutar , mas há um inimigo pior que todos os furacões e terremotos: o próprio ser humano.  A natureza com todos os seus vulcões,  terremotos , furacões e inundações não causou tantos mortos como a humanidade causou a si própria. Lutas de toda ordem; guerras religiosas,  guerras de interesses materiais , guerras absolutamente absurdas e estúpidas como as dinásticas.  Não há um raio de luz - para pôr a questão assim - que  dê na cabeça das pessoas e as faça perceber que não se pode viver assim".

"Não há nenhuma dúvida de que a Terra acabará explodindo.  Mas isso não é para amanhã.  Porém precisamos é de um bom susto. Quem sabe assim acordamos para a ação redentora".

José Saramago (1922 -2010 ), Prêmio Nobel de literatura, cosmopolita , ateu, comunista, áspero,  cético,  inconformista, português, beligerante, incômodo,  duro por fora , frágil por dentro.
 Excertos do livro : As Palavras de Saramago , da Companhia das Letras, 2010 .

Passeata das Crianças,  Ceará,  1912

Em 21 de janeiro de 1912 , uma passeata de crianças reunidas contando com cerca de 600 petizes,  no centro de Fortaleza, promovida pela Liga Feminina Pró-Ceará Livre,  contra a oligarquia de Antônio Pinto Nogueira Accioly (1840 - 1921) que dominou o estado entre 1896 e 2012 , terminou em tragédia . A cavalaria policial investiu contra os manifestantes , furiosamente , pisoteando , atirando e deixando morta uma criança.  Barbárie !
Ali foi o princípio do fim da oligarquia de Accioly , que deposto, migrou , às pressas num navio rumo ao sul do país. 

Desde então muitas águas rolaram e nalgumas regiões do Nordeste  de Pindorama , ainda imperam " doutores do trabuco" , mimados , impetuosos , uns reizinhos de papelão. 

Na vigência desta pandemia /histeria provocada pelo " diabinho que veio do norte" , os instintos belicosos de alguns bárbaros afloram à flor da pele e , novamente o povo pacato e trabalhador serve de laboratório de experiência para gente de mando daqui  e d'além mar.

Onde anda quem disse que " O Ceará não é salão de baile. É escola ?."

Século XXI em Compasso de Espera

O século XX será lembrado por três grandes inovações: meios sem precedentes de salvar , prolongar e intensificar a vida; meios sem precedentes de destruir a vida , inclusive pondo a nossa civilização global pela primeira vez em perigo; e percepções sem precedentes da natureza de nós mesmos e do universo ( Carl Sagan).
O século XXI desenha - se diverso, heterogêneo, festivo, bárbaro, feliz e enlouquecido, monstruoso, invisível, libertador e horrível, religioso e leigo ( Jacques Attali ).

Conviveremos com três novas fontes de doenças, enigmas ameaçadores: os animais , o progresso e o movimento , que podem ter dimensões monstruosas correndo célere o mundo inteiro.
Em meio à pandemia /histeria do Coronavírus SARS - CoV -2, o Prêmio Nobel de Medicina de 2008 , virologista francês Luc Montagnier( 1932 -) espalha brasa conjecturando que" a pandemia do Covid - 19 , seria decorrente de um vírus manipulado , acidentalmente liberado de um laboratório de Wuhan".

Controvérsias à parte, virologistas e cientistas do mundo inteiro devem se debruçar neste intrincado tabuleiro de xadrez para minorar o sofrimento da humanidade.
"Ver um mundo em um grão de areia/E os céus em uma flor silvestre/Ter o infinito na palma da mão/ E a eternidade em uma hora" (William Blake - 1757 - 1827 ), é o que todos esperamos .

 — em Porto das Dunas, Ceará.

Mea - Culpa ? E agora , José?

"Enquanto alguns países estão considerando como avaliar as restrições, outros estão considerando se as introduzem . Enquanto em países de rendas média e baixa, na África, Ásia e América Latina que possuem grandes populações pobres , as ordens para "ficar em casa" e outras restrições, usadas em países ricos, podem não ser práticas.

Muitas pessoas pobres, imigrantes e refugiados já estão vivendo em condições de superlotação com poucos recursos, e pouco acesso à sistemas de saúde. Como você sobreviver a um "lockdown" quando depende do seu trabalho diário para comer ? Notícias ao redor do mundo descrevem quantas pessoas estão em perigo de serem deixadas sem acesso a alimentos.

Enquanto isso as escolas fecharam para , estimadamente,1,4 bilhões de crianças, e isso paralisou sua educação e aumentou o risco de abusos. E privou muitas crianças de fontes de sua alimentação primária.
Como eu disse muitas vezes, restrições para o distanciamento físico é apenas parte da equação. Existem muitos outras medidas de saúde pública que precisam ser postas em prática. Também pedimos a todos os países que garantam que onde as medidas para "fiquem em casa" são dadas , elas não devem ser às custas dos direitos humanos. Cada governo deve avaliar a sua situação enquanto protege todos os seus cidadãos, especialmente os mais vulneráveis."

Discurso recente proferido pelo Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, Bacharel em Biologia, Ph.D. em Saúde Pública e atual Diretor - Geral da OMS.

Este "ponto azul no espaço " girando feito uma carrapeta no multiverso, onde continentes, países, cidades, vilarejos , ricos e pobres, foram colocados juntos debaixo de uma só norma rígida, igualitária para diferentes, conjugou remédio / veneno. Contudo, parece que não vingou, no que diz respeito à pandemia/histeria promovida pelo traiçoeiro "diabinho viral do Norte" . E agora José?

""E agora, José?/A festa acabou,/A luz apagou,/O povo sumiu,/A noite esfriou,/E agora, José?/E agora, você?/Você que é sem nome/Que zomba dos outros,/Você que faz versos /Que ama protesta?/E agora , José?/Está sem mulher /Está sem discurso,/Está sem carinho, /Já não pode beber,/Já não pode fumar /Cuspir já não pode,/A noite esfriou,/O dia não veio,/O riso não veio/Não veio a utopia/E tudo acabou/E tudo fugiu/ E tudo mofou,/E agora, José?/E agora, José?/Sua doce palavra,/Seu instante de febre,/Sua gula e jejum /Sua biblioteca,/Sua lavra de ouro /Seu terno de vitro, /Sua incoerência, /Seu ódio - e agora?/Com a chave na mão/Quer abrir a porta,/Não existe porta,/Quer morrer no mar /Mas o mar secou;/Quer ir para Minas,/Minas não há mais./José, e agora?/Se você gritasse,/Se você gemesse,/Se você tocasse /A valsa vienense,/Se você dormisse, /Se você cansasse, /Se você morresse.../Mas você não morre,/Você é duro , José!/Sozinho no escuro/Qual bicho - do - mato, /Sem teogonia, / Sem parede nua/Para se encostar, /Sem cavalo preto/Que fuja à galope/Você marcha , José !/
José, para onde ?"

Poema " E agora, José?" , da autoria de Carlos Drummond de Andrade ( 1902 - 1987 ) , e publicado em 1942.

Fortaleza, 13 de Abril : Feliz Aniversário

 "Se um dia infeliz eu te perdesse

- se tal infortúnio me ocorresse -
Juro - te, Fortaleza, que não ficaria
Só de alma ferida.
Vazio, perderia
A tristeza floral da Poesia
E as pérgulas da vida.

Aí, Cidade gentil, de Soares Moreno:
De onde estiver te mandarei um aceno,
Pois em meus olhos ficas mais que lá,
No portal e nas dunas do meu Ceará.

Resumes a alma do Nordeste
E uma beleza fatal te sobreveste
Com mantos de estrelas e amplos horizontes
Semelhantes em tudo a belíssimas fontes
Que se irradiam aos ásperos sertões,
Onde pousa um luar de sonhos e canções.
Minha fiel Cidade,
Que fazer com essa imensa saudade,
Mais lancinante
Que flecha de fogo, delirante ?
O melhor, minha linda , é regressar
E ficar junto de ti, morrendo de te amar,
Morrendo de te amar,
Morrendo de te amar."

"Hoje, Fortaleza,
Pareces rimar com leve tristeza.
Semelhas um afago, mas és grito abafado,
Ou Rosa a nascer no mais distante prado,
Numa tarde sem fim.
E nunca sais de mim.
Mas quanto frio em minha marinhagem!
Estás distante e eu, fiel amante,
Sinto -te como os ciganos sentem sua viagem.

Sejam quais foram os meus dias e os teus
- jamais te direi a palavra adeus.
És borboleta pousada
Num varal de grã recordação,
Ficando , qual saudade alada,
Nas pautas da Canção .
E espero colher logo a tua madrugada,
Ó Cidade das Cidades, Minha Amada,
Onde, nas matinas, teus teus luminosos cantares,
Quais belos rouxinóis, alegram os ares.
E voltarei para te amar
Com amor de marujo a retornar do mar "

"Telepoema para Fortaleza" , e , " Relembrança", do poeta, ensaísta , da Academia Cearense de Letras, da Academia Cearense da Língua Portuguesa, Artur Eduardo Benevides ( 1923 - 2014 ), Príncipe dos Poetas Cearenses.

Baile da Ilha Fiscal e Repeteco 2020

Em 9 de novembro de 1889 , aconteceu o Baile da Ilha Fiscal, no Rio de Janeiro,  capital da Monarquia do Brasil, promovido por D. Pedro II.  Seria uma homenagem ao alto escalão do couraçado chileno Almirante Cochrane,  ancorado em águas cariocas.
Um segundo motivo para a festança seria a celebração das bodas de prata da Princesa Isabel e do Conde d'Eu. 
Contabilizou - se que foram consumidos 188 caixas de vinhos , 80 caixas de champanhes e 10.000 litros de cervejas. O folguedo varou a noite inteira ao som de duas orquestras militares.
Uma semana depois caía , literalmente,  a Monarquia brasileira. A República , sob os auspícios de militares, era fruto de um tsunami que se formava , e que poucos deram a mínima  importância ao fato. Aí deu no que deu .

Em pleno 2020, Pindorama viveu um de seus mais fulgurantes carnavais do século, com o escracho político empanando o brilho dos desfiles de peitos e bundas de sempre.  Capitanearam a fuzarca os arraiais de San Pablo, Rio de Janeiro,  Fevereiro e Março,  Bahia de São Salvador , Recife do Frevo , e , Fortaleza dos Maracatus. 
Uma pândega!

O tsunami que alcançou o Baile da Ilha Fiscal em 1889, teve a mesma proporção daquele  que desabou sobre Pindorama em fevereiro de 2020. Algumas zelosas autoridades municipais tinham a consciência de que um "diabinho coroado" viajava , celeremente , vindo do Norte, espalhando uma gripe com grave repercussão pulmonar nos atingidos  e tocando um verdadeiro horror. 

O problema era como brecar os inúmeros vôos com milhares de turistas , ávidos por se esbaldarem num  burgo onde não existe pecado ?

E o compromisso firmado "no bigode" com os verdadeiros financiadores do carnaval , uma gente sabidamente briguenta e explosiva ?

Deu no que deu , uma vez mais.

O mundo não vai acabar , claro , mas nunca mais será o mesmo.

Neste ínterim, convém  se aguentar com o que as autoridades que promoveram os festejos mominos , agora , oferecem ao povo:

Ficar em casa , em quarentena braba ; usar máscara protetora e álcool gel , hoje artigos caros e raros ; escolher um "rico" arsenal de fármacos que incluem ,um  antimalárico ( maus ares) , um antibiótico para pneumonia , um antiretroviral , um remédio para combater pulga , e , enfim , um corticóide  , que serve para tudo.  Mais importante, alimentar -se adequadamente e pedir ajuda a Deus, sempre !
A solução definitiva virá de uma vacina que logo mais se achará à disposição de todos , já que ricos e pobres , irmanamente, nestas horas, se igualam.

 Como diria o historiador  Will Durant (1885 - 1981) , "nossos países, como uma multiplicação de nós mesmos, são  o que somos; eles refletem nossa natureza em negrito , e representam nossa bondade e nossa maldade numa enorme escala".

FELIZ PÁSCOA 

Há pouco nos conhecemos numa Maternidade  , e o mundo já está a seus pés. Peço a Deus que lhes cubram de forças para cumprir suas tarefas; ousadia para olhar de frente o caminho a ser percorrido; uma eterna alegria infantil e um íntimo prazer em tudo que vejam ou façam. 
Enquanto Deus for o chão de vocês,  meus caros  novos amigos, nao haverá quem lhes derrube ! 
Votos extensivos , claro, a seus irmãos e pais !
Uma Feliz Páscoa a todos!

Amor Imortal Morre de Tarde 

"De tarde, ao dobrar uma esquina, aquele encontrão.  Mercedes Pires nem reparou nele, que foi sua paixão.  Aniceto de Castro, o Castrão das Rendas Aduaneiras, também em Mercedes não reparou. Esteve, na curva de 1922, a pique de meter uma bala no casco pela  beleza em flor de Mercedes. E  Mercedes, pelo bem -  querer de Castro,  quase abriu os pulsos com uma faca de cortar mortadela. Do talho aos jornais era pulo de periquito. E  até imaginou o berro das manchetes :
"Linda moça de Cordovil morre por um amor impossível. "

Mas entre o tiro que não houve e a faca  que não cortou, a folhinha da parede desfolhou quarenta bem passados anos. E de repente, na dobra de uma  esquina, aquele esbarrão.  Castro nem reparou em Mercedes. Falou para dentro , para o ouvido do seu suspensório :

- Uma ilha dessa tonelagem devia andar no meio da rua , com placa de caminhão nas costas. É páreo duro para ônibus e não para gente de calça e botina. 

Mercedes também não reparou em Castro. Falou sozinha:

- Cada tipo esquisito! Parece, de tão gordo, que está esperando criança.  Se tivesse espelho em casa devia reparar que aquela sua cara de engomador elétrico não pode usar óculos nem costeleta.  É cara para tomada de parede.

E assim um passou pelo outro. Perdidos na distância de quarenta anos."

Crônica "Amor Imortal Morre de Tarde" ,  que integra o livro " Porque  Lulu Bergantim Não Atravessou o Rubicon" - 1971 , da autoria de José Cândido de Carvalho (1914 - 1989) , jornalista , escritor , advogado , pertencente à Academia Brasileira de Letras. Sua obra de ficcionista é das mais originais , graças à linguagem pitoresca e aos personagens,  ora picarescos,  ora populares  do "povinho do Brasil."

" Não ame pela beleza pois um dia ela acaba. Não ame por admiração,  pois um dia você se decepciona.  Ame apenas , pois o tempo nunca pode acabar com um amor sem explicação "

Canção da Chuva /Serenata da Chuva

"Só. A chuva canta lá fora.
O dia está triste e cinzento
Como um inútil pensamento 
De quem contempla a vida - e chora...
A chuva cai , lenta , lá fora...

Parece que tem alma a chuva...
Ela chora assim como a gente,
Sentidamente , amargamente, 
Quando a tristeza nos enviúva...
Deve ser triste a alma da chuva...

E,  neste abandono - que frio !
Mas o coração  está quente,
Cheio de ti, eterna ausente,
No meu quarto vazio...
Coração ardente , que frio !

Alvas mãos de luar ... lábios de uva...
Penso : a saudade, na terra erma,
Na minha alma, dorida e enferma, 
Chora e canta como esta chuva"

 "Canção da Chuva" , da autoria do poeta e educador cearense, nascido no município de Lavras da Mangabeira , Antônio Filgueiras Lima (1909 - 1965 ).

Serenata da Chuva 

"Só,  lá fora a chuva que cai...
Só,  eu pego o meu violão, 
Ah, tanjo o bordão e está canção, 
 tão triste sai

Sou um seresteiro a sonhar, só,  
sem ter ninguém,  sem luar,
Canto e a chuva fria cai,
Canto nesta noite assim,
Chove solidão,  dentro de mim.

Onde andará,  neste momento o meu amor
Que pensará longe de mim,
Sem meu calor.
Tão sozinho agora estou,
Canto e a chuva não tem fim,
Chove está saudade,  sobre mim.
Canto e a chuva fria cai,
Canto nesta noite , assim
Chove esta saudade , sobre mim"

Composição musical " Serenata da Chuva" , da autoria de Evaldo Gouveia (1928 - ), e Jair Amorim (1915 - 1993 ).

Aguardando o Raiar de um Novo Sol

Quando essa tempestade terreal findar e o nefasto  vírus retornar às profundezas das trevas, um rastro medonho , ainda permanecerá  por um tempo entre nós.  
A chaga do abismo social continuará a engolir , com voracidade , preciosas vidas necessitadas do mínimo para sobreviverem.

"Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio 
Catando comida entre detritos. 

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão, 
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem ."

Poema O Bicho , da lavra do metapoeta pernambucano Manuel Bandeira (1886 - 1968 ), publicado em 1947. Em sua mocidade, o bardo em questão,  iníciou um curso superior de arquitetura , interrompido ao contrair uma tuberculose pulmonar, a peste branca , terrível na época antes do advento dos antibióticos. 

Em 2020 , tuberculose ,  sífilis, dengue, malária,  influenza, gastroenterite viral , e outras  morbidades emergentes ( COVID - 19 ) continuam seu périplo em parceria com a Parca ceifando inocentes vidas.

" O sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações 
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente

É o juízo final 
A história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver
A maldade desaparecer"

Composição musical Juízo Final , da autoria de Nélson Cavaquinho (1911 - 1986 )