quinta-feira, 30 de novembro de 2017


Compartilhando esta bela mensagem sobre a nobre Língua Portuguesa ,enviada pelos doutores                                                      
                                         Francisco Ramos e Eurípedes Chaves: 


*100 anos da vírgula*


Muito legal a campanha dos 100 anos da ABI (Associação Brasileira de Imprensa)!
*A vírgula pode ser uma pausa... ou não:*

Não, espere.
Não espere.
*Ela pode sumir com seu dinheiro:*
R$ 23,4.
R$ 2,34.
*Pode criar heróis:*
Isso só, ele resolve!
Isso, só ele resolve!
*Ela pode ser a solução:*
Vamos perder, nada foi resolvido!
Vamos perder nada, foi resolvido!
*A vírgula muda uma opinião:*
Não queremos saber!
Não, queremos saber!
*A vírgula pode condenar ou salvar:*
Não tenha clemência!
Não, tenha clemência!
*Uma vírgula muda tudo!*
ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.
Considerações adicionais:
*SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO À SUA PROCURA*.
* Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de *MULHER*.
* Se você for homem, colocou a vírgula depois de *TEM*.
😂😂😃
👍🙋‍♂😉
*Moral da história*:
A vida pode ser interpretada e vivida de diversas maneiras. Nós é que fazemos a pontuação!
*Pontue sua vida com o que realmente importa*.
Isso faz toda a diferença!
Compartilhem esta mensagem como um presente de Português!
🙄😳🤔😝😝👍

quarta-feira, 29 de novembro de 2017



UMA TÁBUA DE SALVAÇÃO
Para o Dr. Eduardo Augusto Almeida Prado




“A vida é o dia de hoje/a vida é um ai que mal soa/a vida é sombra que foge/a vida é nuvem que voa/a vida é sonho tão leve/que se desfaz como a neve/e como o fumo se esvai/a vida dura um momento/mais leve que o pensamento/a vida leva-a o vento/a vida é flor na corrente/a vida é sopro suave/a vida é estrela cadente/voa mais leve que a ave/nuvem que o vento nos ares/onda que o vento nos mares/uma após outra lançou/a vida- pena caída/da asa de ave ferida-/de vale em vale impelida/a vida o vento a levou”
Poema de autoria de João de Deus Ramos (1830- 1895) nascido em Algarve, Portugal.
Um octogenário ateu, boêmio e “rapaz velho” sentindo chegar a sua hora de encarar a velha Parca, em seu casebre no Arraial Moura Brasil, ali próximo à Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, pediu socorro a um esculápio, antigo companheiro nas libações de Baco e de Vênus.
“– Doutor, quando eu fechar os olhos para este mundo, o que me aguarda do outro lado, se é que existe este outro lado? E não me venha passar um sermão, por favor!”
O filho de Hipócrates, agnóstico, não podia deixar o amigo na chuva, mesmo que às custas de sofismas.
“- Meu companheiro, para oitenta-janeiros bem vividos, a safra foi razoável, compartilhamos, quase que integralmente, com nossos irmãos de estrada terreal as Sete Virtudes Capitais: humildade, caridade, paciência, diligência, generosidade, temperança e castidade. Compreender o universo, diz Spinoza é estar libertado dele. Compreender tudo, é estar livre de tudo. Somos escravos de tudo o que ignoramos- somos livres de tudo o que sabemos. Confie em mim. A eternidade que lhe aguarda vai ser uma festa gozosa junto a amigos e amigas, longe da irascível ampulheta do tempo, entendeu?”
“-Entendi e vou fazer força para acreditar, mas me explique porque nunca ninguém me alertou para isso antes? E o que vai ser de mim sem a companhia das morenas fogosas do Passeio Público, da Praça da Estação , da Praça dos Leões e do Curral?
O velho boêmio puxando profundamente o ar, cerrou os olhos, mansamente, com um leve sorriso nos lábios, segurando a mão firme do doutor, ambos sem resposta pronta e definitiva para o grande mistério do além!
“Deixo os versos que escrevi/as cantigas que cantei/cinco ou seis coisas que eu sei/e um milhão que esqueci/deixo este mundo daqui/selva com lei de cassino/vou renascer num menino/num país além do mar... / licença, que eu vou rodar/no carrossel do destino/enquanto eu puder viver/tudo o que o coração sente/o mundo estará presente/ passando sem resistir/na hora que eu for partir/para as nuvens do divino/que a viola seja o sino/tocando pra me guiar/licença, que eu vou rodar/no carrossel do destino/ romances e epopeias/me pedindo pra brotar/e eu tangendo devagar/a boiada das ideias/sempre em busca das colmeias/onde brota o mel mais fino/e um só verso, pequenino/mas que mereça ficar/licença, que eu vou rodar no carrossel do destino”
Carrossel do Destino, composição de Antônio Nóbrega e Bráulio Tavares.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

PRÉ-CARNAVAL DE 1968 COM UMA BALZAQUIANA




A Praça do Ferreira, mimosa, regurgitava de gente naquela noite quente de fevereiro de 1968 para viver um pré-carnaval com a apresentação de um desfile dos maracatus – Ás de Ouro; Ás de Espadas; Ás de Paus, e, Leão Coroado. Um jovem de dezoito anos, fizera a trilha a pé desde sua residência na Rua Domingos Olímpio até o centro da cidade para ver o rodopio de derviches daquelas negras baianas exibindo seus vestidos rendados, carregando um cesto de frutas à cabeça, com um sorriso Colgate nos cheios lábios escarlates e modulando um canto dolente:

“Eu vou, eu vou e você não vai apanhar macaúba no meu balaio; apanhar macaúba no meu balaio, eu vou, eu vou e você não vai”, ao compasso de robustos triângulos e de bumbos gigantescos.

Quando o jovem deu por si, um braço fofo já envolvia amorosamente sua cintura. Era de uma senhora madura, digamos, uma moldura balzaquiana, de olhar faiscante e negro, de seios pétreos a lhes cutucar as entranhas e exalando um inocente sorriso. O jovem em apreço que há pouco colocara os pés nos caminhos da maturidade cronológica no dia dos reis, gostou daquele amplexo morno e quieto. Nenhuma palavra fora trocada por ambos. Aquela flecha do Cupido surgida do nada carimbara o pescoço do perplexo moço casmurro com um cheiro, e não, com um beijo, para lá de gostoso, deflagrando na hora uma ereção imediata dos pelos numa faísca gostosa a percorrer todo o corpo do jovem boquiaberto.

“Não quero broto/não quero, não quero, não/não sou garoto para viver só de ilusão/sete dias na semana/eu preciso ver minha balzaquiana/o francês sabe escolher/por isso ele não quer qualquer mulher/papai Balzac já dizia/Paris inteiro respondia/Balzac acertou na pinta/mulher só depois dos trinta” Composição Balzaquiana da autoria de Nássara e Wilson Batista.

Até aquela oportunidade o imberbe jovem batera bola nos jogos preliminares nas incertezas do amor com gentis domésticas do seu bairro e adjacências.

“- E aí, bonitão, com esta pinta de” rabo de burro”, você faz o que na vida? perguntou a novel parceira.



“- Estou iniciando um curso longo para aprender a pastorear almas por esse mundo afora” respondeu meio sem graça o assustado mancebo, com um gostinho de quero mais nos lábios.

“- Pois eu sou uma viúva de marido vivo, perdida num túnel escuro e frio, desamparada nas artimanhas do amor”

Outros encontros furtivos aconteceram entre os dois pombinhos até que um dia aquela criatura agradável sumiu da mesma maneira que chegou, sem ver nem para que, engolida pelo breu da noite. O aprendiz de pastor passou por maus bocados em noites insones, inquieto com febre interna, quase um alucinado naquela carência de um colo morno, aconchegante e maduro. Certa feita aquele pastor de almas passou na frente da casa da balzaquiana e viu com pesar uma placa indicando “Aluga-se este imóvel”. Uma vizinha que varria a calçada falou para o moço que disse, blefando, de seu interesse naquele negócio. A inquilina partira, de súbito, às caladas da noite, carregada à força pelo marido, que fugira da Cadeia Pública onde cumpria pena de doze anos por ter degolado um amante daquela bela senhora, sua digníssima esposa. Dizem que o casal partira para a Amazônia em busca de paz e de ouro nos garimpos daquelas distantes paragens.

O jovem aprendiz de pastor, saiu de fininho, alisando suavemente o pescoço, prometendo jogar flechas de cupido em alvos mais maneiros, inocentes e descompromissados, para juntos beberem do néctar da vida, a simples partilha do amor e despetalando rosas, de preferência, com poucos espinhos.

“De tanto levar flechada de teu olhar/meu peito, agora/parece sabe o que/ tábua de tiro ao alvo/não tem mais onde furar/teu olhar mata mais/ que bala de carabina/que veneno estricnina/que peixeira de baiano/teu olhar mata mais que atropelamento de automóvel / mata mais que bala de revolver” Composição Tiro ao Álvaro da autoria de Adoniran Barbosa.


“Eu guardo em mim/dois corações/um que é do mar/um das paixões/um canto doce/um cheiro de temporal/eu guardo em mim/um deus, um louco, um santo/um bem, um mal/eu guardo em mim/tantas canções/de tanto mar/tantas manhãs/encanto doce/o cheiro de um vendaval/guardo em mim/o deus, o louco, o santo/o bem, o mal” Composição O Bem e o Mal da autoria de Danilo Caymmi.


domingo, 19 de novembro de 2017

CONJUGAÇÃO DO VERBO RAPIO
Para o polígrafo Eurípedes Chaves Junior




“Encomendou   el-rei D. João, o terceiro, a São Francisco Xavier, o informasse do estado da Índia por via de seu companheiro, que era mestre do príncipe; e o que o santo escreveu de lá, sem nomear ofícios nem pessoas, foi que o verbo rapio na Índia se conjugava por todos os modos.

Conjugam por todos os modos o verbo rapio, porque furtam por todos os modos da arte, não falando em outros novos e esquisitos, que nem conhecem Donato nem Despautério.

Tanto que lá chegam, começam a furtar pelo modo indicativo, porque a primeira informação que pedem aos práticos, é que lhes apontem e mostrem os caminhos por onde podem abarcar tudo. Furtam pelo modo imperativo, porque, como tem o mero e misto império, todo ele, aplicam despoticamente às execuções na rapina. Furtam pelo modo mandativo, porque aceitam quando lhes mandam: e, para que mandem, todos os que não mandam não são aceitos. Furtam pelo modo optativo, porque desejam quanto lhes parece bem; e, gabando as cousas desejadas aos donos delas, por cortesia sem vontade as fazem suas. Furtam pelo modo conjuntivo, porque ajuntam o seu pouco cabedal com o daqueles que manejam; e basta só que ajuntem a sua graça, para serem quanto menos meeiros na ganância. Furtam pelo modo potencial, porque sem pretexto nem cerimônia usam da potência. Furtam pelo modo permissivo, porque permitem que outros furtem, e estes compram as permissões. Furtam pelo modo infinitivo, porque não tem fim o furtar com o fim do governo, e sempre já deixam raízes, em que se vão continuando os furtos. Estes mesmos modos conjugam por todas as pessoas, porque a primeira pessoa do verbo é a sua; as segundas, os seus criados; e as terceiras, quantas para isso tem indústria e consciência. Furtam juntamente por todos os tempos; porque do presente, que é o seu tempo, colhem quanto dá de si o triênio; e, para incluírem no presente o pretérito e o futuro, do pretérito desenterram crimes que de que vendem os perdões, e dívidas esquecidas, de que se pagam inteiramente; e do futuro empenham as rendas e antecipam os contratos, com que tudo o caído e não caído lhes vem a cair nas mãos. Finalmente, nos mesmos tempos não lhes escapam os imperfeitos, perfeitos, mais que perfeitos, e quaisquer outros; porque, furtam, furtaram, furtavam, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse. Em suma, que o resumo de toda essa rapante conjugação vem ser o supino do mesmo verbo: a furtar, para furtar. E quando eles têm conjugado assim toda a voz ativa, e as miseráveis províncias suportado toda a passiva, eles, como se tiveram feito grandes serviços, tornam carregados de despojos e ricos; e elas ficam roubadas e consumidas.”  (Vieira, Sermões, Tomo III, pag. 344.)


P.S.: Crônica do padre Antônio Vieira sobre a Índia de antanho, mas que cabe como uma luva, nos dias hodiernos para um” gigante adormecido” sufocado por um cancro avassalador corroendo suas entranhas, incluindo os três podres poderes pátrios!


Antônio Vieira, padre da Companhia de Jesus (Lisboa, 1608-1697) foi exímio pregador, notável epistológrafo e autor de opúsculos de menor valia. Como orador sagrado atingiu universal nomeada, e aos brasileiros simpaticamente se recomenda como propugnador da liberdade dos índios, e eloquente adversário da invasão holandesa. Envolvido nos interesses políticos da época, prestou relevantes serviços à sua pátria. Viveu largos anos no Brasil, e em Roma pregou perante o sumo pontífice Clemente X. Em sua trabalhosa existência, duas vezes provou as agruras do cárcere: no Maranhão, onde foi preso pelos sectários da escravidão dos indígenas e remetido para o Reino; e pela inquisição que levara a mal certas arriscadas proposições do Quinto Império.

Posto que pague copioso tributo ao imoderado posto das antíteses, Vieira é um dos melhores mestres da língua e oferece lato campo de estudo aos amadores da vernaculidade. (Antologia Nacional, de Fausto Barreto e Carlos de Laet; Livraria Francisco Alves; 1931.)


quinta-feira, 16 de novembro de 2017

UM PÉ DE SONHO



Sorvendo uma cerveja, sozinho, num quiosque plantado nas alvas areias da praia do Mucuripe, um jovem vê surgir do nada um papel na mão de uma dama. Era um teste de gravidez - Gravindex - positivo. Findou, de pronto, aquele solitário luau ouvindo estrelas. A felicidade batera à porta daquele casal. O jovem lívido, com a vista borrada e engolindo o choro, rabiscou num guardanapo de papel um simples bilhete, ditado pelo coração e endereçado a uma menina- fada.

Quem afiançava que se tratava, de fato, de um bebê do sexo feminino?

O amor, simplesmente, um incomensurável amor!

Quando o boêmio desta história completou sessenta anos, recebeu de presente um quadro onde se encontrava aquele mimo de garranchos esculpidos num guardanapo de papel e meio amarelado pelo rigor do tempo. Era um reencontro com um passado feliz e verdadeiro:

“Querida filha, como uma pura epifania você surge em nossas existências, minha e de sua mãe. É o milagre da vida, a certeza de que, quando ao pó seus pais retornarem, sua luz votiva manterá o fio da vida em nós e por nós. A partir de agora, aí no aconchego morno do ventre de sua mãe, todos os dias serão seus. Não irás chegar ao mundo sob minhas mãos, como eu gostaria que fosse, mas estarei presente na sala de parto, banhado em lágrimas puras e verdadeiras. Todos os folguedos da infância estarão ao seu dispor: Chicote queimado, Macaca, Pega-pega e muitas bonecas, certamente. Viajaremos em muitos mundos de fantasia num verdadeiro mar de livros. Um dia vai desabrochar numa bela manhã de sol, sua adolescência e novamente, juntos estaremos desfrutando um turbilhão de novos saberes. Livremente irás escolher sua profissão como uma demanda de seu nobre coração. O mundo será seu e a felicidade baterá suavemente à sua porta. E, claro, sempre juntos estaremos em toda e qualquer circunstância.

 Com ansiedade lhe aguardamos. Um beijo carinhoso de seus pais e boa viagem a este maravilhoso mundo!”


Ao longo da jornada, pelo menos, duas músicas marcaram nossos bons momentos vividos em harmonia familiar: “O Caderno” de Toquinho e Vinícius de Moraes; e “Tocando em Frente” de Almir Sater:


“Sou eu que vou seguir você/do primeiro rabisco até o bê-á-bá/em todos os desenhos coloridos vou estar/a casa, a montanha, duas nuvens no céu/e um sol a sorrir no papel/sou eu que vou ser seu colega/seus problemas ajudar a resolver/lhe acompanhar nas provas bimestrais, você vai ver/serei de você confidente fiel/se seu pranto molhar meu papel/sou eu que vou ser seu amigo/vou lhe dar abrigo, se você quiser/quando surgirem seus primeiros raios de mulher/a vida se abrirá num feroz carrossel/e você vai rasgar meu papel/o que está escrito em mim/comigo ficará guardado, se lhe dá prazer/a vida segue sempre em frente, o que se há de fazer/só peço a você um favor, se puder/não me esqueça num canto qualquer”


“Ando devagar/porque já tive pressa/e levo esse sorriso/porque já chorei demais/hoje me sinto mais forte/mais feliz, quem sabe/só levo a certeza/de que muito pouco sei/ou nada sei/conhecer as manhas e as manhãs/o sabor das massas/ e das maçãs/é preciso amor/para poder pulsar/é preciso paz para poder sorrir/é preciso chuva para florir/penso que cumprir a vida/seja simplesmente/compreender a marcha/e ir tocando em frente/como um velho boiadeiro/levando a boiada/eu vou tocando os dias/pela longa estrada, eu vou/estrada , eu sou/todo mundo ama, um dia/todo mundo chora/um dia a gente chega/ e noutro vai embora/cada um de nós compõe a sua história/cada ser em si/carrega o dom de ser capaz/de ser feliz/”


Ponto final!




domingo, 12 de novembro de 2017

A MAGIA DO BOLERO: AGUSTIN LARA
Para o boêmio e filósofo Francisco Clayrton





“Noite de ronda/que triste passa/que triste cruza/ por minha sacada/noite de ronda/como me fere/como lastima meu coração/lua que se quebra sobre a obscuridade/de minha solidão/aonde vais/diz-me se esta noite/tu que vais de ronda/como ela se foi/com quem estás/diz-lhe que a quero/diz-lhe que eu morro/de tanto esperar/que volte já/que as rondas /não são boas/que trazem danos/e dão penas/que se acabam por chorar/ diz-lhe que a quero/ diz-lhe que eu morro/de tanto esperar/que volte já/que as rondas/não são boas/que trazem danos/e dão penas/que se acaba por chorar” 


Tradução livre de Noche de Ronda, composição de Agustín Lara.

Ángel Augustín Maria Carlos Fausto Mariano Alfonso del Sagrado Corazón Lara y Aguirre del Pino, ou, simplesmente, Agustín Lara (1896-1970), nasceu na cidade do México,D.F. , filho de Joaquín Lara e Maria Aguirre del Pino.


Tornou-se cantor, músico, compositor e ator de largos recursos e que difundiu o bolero por todos os cantos da terra. Aos 13 anos de idade iniciou seus trabalhos como pianista na vida noturna de bares e cabarés. Em 1927 sofre uma agressão no rosto com cacos de vidro, protagonizado por uma corista numa boate. Agustín Lara teceu cerca de 700 canções e atuou em 30 películas cinematográficas. Dedicou várias de suas composições, a musas que inebriaram seu inquieto coração. Agustín Lara faleceu na Cidade do México em 06 de novembro de 1970.

“Tão somente uma vez/amei na vida/tão somente uma vez/e nada mais/uma vez, nada mais/em minha existência brilhou a esperança/a esperança que alumia o caminho/de minha solidão/uma vez, nada mais/se entrega a alma/com a doce e total renúncia/ e quando esse milagre realiza/ o prodígio de amar-se/há guizos de festas que cantam/ no coração”

Tradução livre de Solamente uma Vez, composição de Agustín Lara.


“Na eterna noite de minha aflição/tu tens sido a estrela/que alumia meu céu/e eu tenho descortinado/tua rara formosura/e tens iluminado/ todo meu sofrer/santa, minha santa/mulher que põe brilho/na minha existência/santa, seja minha guia/no triste calvário do viver/afasta de meu caminho/todos os espinhos/excita com seus beijos/minha desilusão/santa, seja minha guia/alumia com tua luz/ meu coração”

Tradução livre de Santa, composição de Agustín Lara.

No rico colar do pecado que envolvia o centro da cidade de Fortaleza nos anos 50 do século passado, velhos casarões davam abrigo a “pensões alegres” onde os adolescentes faziam seu vestibular nas artes do amor e os adultos realizavam uma pós-graduação em filosofia do cotidiano e nas travessuras de Baco. “As Madames” cobriam, gentilmente, “As Meninas” com um banho- de- loja no Bazar das Novidades e na Loja A Cruzeiro para abrilhantarem as noitadas nas boates: Monte Carlo; Império; Marajá; City; Hollywood; Estrela; Fanny; Graça; Naninha; Fascinação e Bar da Alegria.

Ricos e pobres, gregos e troianos, protegidos pelo breu da noite e no completo anonimato mantiveram um mundo de orgia, hoje posto ao chão, dando lugar a estéreis estacionamento de veículos, num centro da cidade totalmente descaracterizado. Uma ignomínia profunda!

“Divina claridade, a de teus olhos/diáfanos como gotas de cristal/uvas que se umedecem com soluços/sangue e sorrisos juntas ao olhar/por quê te fez o destino pecadora/se não sabes vender o coração/por quê pretende odiar-te quem te adora/por quê torna a querer-te quem te odiou/se cada noite tua é uma aurora/se cada nova lágrima é um sol/por quê te fez o destino pecadora/se não sabes vender o coração”

Tradução livre da música Pecadora, composição de Agustín Lara.

“Mulher, mulher divina/tens o veneno que fascina em teu mirar/mulher alabastrina/tens vibração de uma sonata passional/tens o perfume de um laranjal em flor/o altivo porte de uma majestade/sabes dos filtros que há no amor/tens o feitiço da leviandade/a divina magia de um entardecer/e a maravilha da inspiração/tens no ritmo de teu ser/todo o palpitar de uma canção/eres a razão do meu existir, mulher”
Tradução livre da canção Mujer, da autoria de Agustín Lara.




MILTON CARLOS E ISOLDA: MÚSICA E POESIA



“Eu fiz um samba quadrado pra você sentir/que quanto maior é a distância /maior é o fim/eu fiz da rua escura/pedaço de lua pra te iluminar/eu fiz de versos mais rimas/palavras e cismas pra te chatear/eu fiz um samba quadrado pra você voltar/eu fiz da viola a desculpa/pra me consolar/eu fiz do ontem o hoje/e do hoje o amanhã/pra te ver aqui/mas é bem melhor/para o mundo eu chorar/pra você eu mentir/lourinha, gotinha d’água/lourinha da minha mágoa”
Samba Quadrado, composição de Isolda e Milton Carlos.
Milton Carlos (1954-1977), nasceu no dia de novembro de 1954 na cidade de São Paulo. Desde pequeno mostrou uma salutar tendência para a arte musical criando histórias e músicas para folguedos infantis junto com sua irmã, Isolda, grande parceira pela vida afora. Estreou no mundo do disco em 1970. Emplacou um retumbante sucesso com o “Samba Quadrado” em 1973, quando teve uma música gravada por Roberto Carlos, “Amigos, Amigos”:

“Tanto tempo de nós dois/não sei porque pouco depois/não existe mais/tantas cartas já escritas/tantas noites mal dormidas/é o que aqui me traz/e você ainda insiste em pedir/que eu continue a lhe ver/na simples condição de amigos/depois de tanto rabiscar/em tudo em qualquer lugar/seu nome e o meu/ tudo que é seu está marcado/ o seu retrato até molhado pelos beijos meus//nosso mundo de promessas de palavras/de carinho/vi cair no chão/e você quer a condição de amigos/amigos, amigos/ não sei como nem porquê /seus cabelos/ suas mãos/a sua voz com emoção/guardo comigo/e a vontade que senti/de me enganar que te esqueci/não fez sentido/a saudade não contada/toda lágrima calada/não posso guardar/ e nem podemos ficar amigos/amigos, amigos, não sei como e nem porquê /amigos, amigos, amigos/ só amigos, nada mais”

Em 1975, com composições de Milton Carlos e Isolda surge novo disco com vários sucessos. Em 1976, despontam duas novas músicas da dupla, gravadas por Roberto Carlos, “Pelo avesso” e Um jeito estúpido de te amar”:

“E você, reservada tão quieta, não fala/mas sabe convencer/me levar por caminhos, por ninhos contidos/por amor e por prazer/se inflama na chama, sufoca, me enrosca/de forma natural/se entrega, me pega, me laça, me abraça/como mulher fatal/e você reservada, tão quieta, não fala/mas vem me induzir/aos anseios, desejos tão loucos que aos poucos/vão me consumir/eu quero teu amor a qualquer preço/quero que você me tenha até pelo avesso/pra me sentir envolvido em seus cabelos/faça me mim o que quiser/eu sou seu homem, minha mulher/e você reservada, tão quieta, não fala/mas sabe me endeusar/no exato momento da nossa agonia/pra se completar/e nos seus beijos ardentes, tão doces, tão quentes/vem me embriagar/no entanto, sentida no instante da briga,/chega a delirar/entre bocas nervosas, com risos, com prosas/vamos nos pertencer/e rasgando essa vida da forma precisa/ de amar e de se ter”

“ Eu sei que tenho um jeito/ meio estúpido de ser/e de dizer coisas que podem magoar/ e te ofender/mas cada um tem o seu jeito/todo próprio de amar e de se defender/você me acusa e só me preocupa/agrava mais e mais a minha culpa/eu faço e desfaço, contrafeito/o meu defeito é te amar demais/palavras são palavras/e a gente nem percebe o que disse sem querer/e o que deixou pra depois/mas o importante é perceber/que a nossa vida em comum/depende só e unicamente de nós dois/eu tento achar um jeito pra explicar/você bem que podia me aceitar/eu sei que tenho um jeito meio estúpido de ser/mas é assim que eu sei te amar”

Em 1977 Milton Carlos lança seu último LP e no dia 21 de outubro de 1977, em São Paulo, na via Anhanguera sofre um acidente fatal, aos 22 anos de idade.
Milton Carlos tecia um gênero de samba saudosista, à moda antiga, fazendo companhia a nomes como, Benito di Paula, Nelson Ned, Waldick Soriano, Odair José, Antônio Marcos, Lindomar Castilho e outros.

“Eu sei da sua vida e do seu passado/de um tempo perdido, e recuperado/eu sei da poeira/de todos seus passos/das suas trapaças, dos seus abraços/eu sei da sua fama e dos seus amores/das suas proezas/dos seus dissabores/da cor da sua roupa/ do seu pouco valor/você nessa vida foi só desamor/dama, hoje alguém que te engana/te veste de santa/não sabe porque/te pisam, te xingam/ignoram a mulher/não sabem que a dama/existiu outro dia/hoje a dama não passa de pedra perdida num jogo qualquer/conheço as paredes/que guardavam segredos/e ações que por si/não cobriam seus medos/a sua missão, as suas vontades/razões que confirmam/as duras verdades/eu sei hoje em dia da sua vergonha/de olhar quem te olha/responder quem
te chama/pra quem te conhece você é vulgar/pra quem nunca te viu/hoje quer te amar” Composição “ Jogo de damas “ de Isolda e Milton Carlos.

Queima rapaziada e ponto final!

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

ADONIRAN BARBOSA NUM RÁPIDO PISCAR D’OLHOS




“ Inez saiu dizendo que ia comprar um pavio pro lampião/ pode me esperar Mané/ que eu já volto já/ acendi o fogão, botei água pra esquentar/e fui pro portão só pra ver Inez chegar/ anoiteceu e ela não voltou/ fui pra rua feito louco pra saber o que aconteceu/ procurei na Central, procurei no Hospital e no Xadrez/ andei a cidade inteira e não encontrei Inez / voltei pra casa triste demais/o que Inez me fez, não se faz/ e no chão bem perto do fogão/ encontrei um papel escrito assim: - pode apagar o fogo Mané que eu não volto mais”

João Rubinato - Adoniran Barbosa – (1910-1982), cantor, compositor, ator e humorista, nasceu em Valinhos, São Paulo, no dia 06 de agosto de 1910. Seus pais, Fernando e Ema Rubinato, eram imigrantes italianos de Veneza. Desde criança exerceu diversas atividades laborais como entregador de marmitas, encanador, serralheiro, mascate e garçom. Encerrou precocemente seus estudos formais e com a idade de 22 anos segue para a capital do estado, São Paulo. Enfrenta vários programas de calouros em rádios buscando um lugar ao sol. Num deles, na Rádio Cruzeiro do Sul, em 1933, vence um concurso cantando um samba de Noel Rosa (1910-1937), “Filosofia”:

“O mundo me condena e ninguém tem pena/falando sempre mal do meu nome/deixando de saber se eu vou morrer de sede/ou se vou morrer de fome/ mas a filosofia hoje me auxilia/ a viver indiferente assim/nessa prontidão sem fim/ vou fingindo que sou rico/pra ninguém zombar de mim/não me incomodo que você me diga/ que a sociedade é minha inimiga/ pois cantando nesse mundo/vivo escravo do meu samba/ muito embora vagabundo/ quanto a você da aristocracia/ que tem dinheiro mas não compra alegria/há de viver eternamente sendo escravo dessa gente/ que cultiva a hipocrisia”

O nome artístico Adoniran, presta homenagem a um amigo de boemia, e o sobrenome Barbosa foi um preito ao cantor Luiz Barbosa. O primeiro sucesso de Adoniran Barbosa deu-se com “Saudosa Maloca” onde o autor utiliza uma linguagem típica de pessoas humildes, evidenciando solecismos, abrangendo uma temática de mudanças ocorridas numa grande cidade e desnudando um forte cunho social. Tal música obteve retumbante sucesso quando foi gravada pelo conjunto paulistano “Demônios da Garoa”, que a partir de então, ficou responsável por boa parte do repertório de Adoniran Barbosa.

“Iracema” constituiu em seguida um novo marco na vida de Adoniran Barbosa:

“Iracema, eu nunca mais, eu te vi/ Iracema, meu grande amor, foi embora.../ chorei, eu chorei de dor porque/ Iracema, meu grande amor foi você/ Iracema, eu sempre dizia/ cuidado ao atravessar essas ruas.../ eu falava, mas você não escutava não/ Iracema você atravessou na contramão/e hoje ela vive lá no céu/ ela vive bem pertinho de Nosso Senhor/ de lembranças guardo somente suas meias/ e seus sapatos/ Iracema , eu perdi o seu retrato”

“– Iracema, faltavam vinte dias para o nosso casamento, que nóis ia se casá... você travessô a rua São João, veio um carro te pega e te pincha no chão... você foi pra assistença . O chofé não teve curpa, Iracema, paciença... paciença”

Daí em diante segue célere a carreira profissional de Adoniran Barbosa diversificada em programas de rádio, televisão e cinema. Aparece o “Samba do Arnesto”, onde Adoniran Barbosa se defende dos puristas: “- falar errado é uma arte, senão vira deboche”.

 Outros sucessos: Trem das Onze; Tiro ao Álvaro; As Mariposas; Apaga o fogo, Mané; Prova de Carinho; Um Samba no Bexiga; Vila Esperança; Bom dia, Tristeza.


“Bom dia, tristeza/ que tarde tristeza/ você veio hoje me ver/já estava ficando até meio triste/ de estar tanto tempo longe de você /se chegue tristeza/ se sente comigo/ aqui nesta mesa de bar/beba no meu copo/ me dê o seu ombro/ que é para eu chorar/ chorar de tristeza/ tristeza de amar”.       Composição Bom dia, Tristeza, em parceria com o magistral Vinicius de Moraes (1913- 1980).

No cinema, Adoniran Barbosa participou como ator em vários filmes: Pif-Paf (1945); Caídos do Céu); A vida é uma gargalhada (1950); O cangaceiro (1953); Esquina da ilusão (1953); Candinho (1954); Mulher de verdade (1954); Os três garimpeiros ( 1954); Carnaval em lá maior (1955 ); A carochinha (1955 ); Pensão da Dona Estela ( 1956); A estrada ( 1956); Bruma seca( 1961); Elas são do baralho (1977).


No dia 23 de novembro de 1982, Adoniran Barbosa embarca no trem do destino para uma viagem sem volta, deixando uma marca inovadora no samba paulistano, integrante da nossa rica Música Popular Brasileira (MPB).









quinta-feira, 2 de novembro de 2017

UMA HISTÓRIA DE OBSCURANTISMO




Numa instável República de Bananas perdida nos confins da parte pobre da América, um “porco do mato”, digno representante do obscurantismo, da ignorância, da luxúria e do atraso, exibiu-se sem graça, abobalhado, dançando e cantando, chafurdando na lama, diante das câmeras televisivas. No circo mambembe pátrio, o tal porco se apresenta como “Testa de Ferro” (1) de um “Santo do Pau Oco” (2).

Quem irá “Pagar o Pato” (3), certamente será o sofrido e famélico povo ordeiro dessa República de Bananas. O “Bode Expiatório” (4), o povo, uma vez mais, caiu mansamente, no “Conto do Vigário” (5). As vossas senhorias, que mamam nas tetas do regime em cruel agonia, deram sustentação para o prosseguimento do regime de corrupção que hoje medra entre nós. Todos que optaram pelo caminho do mal seguirão, em breve tempo, espera-se, para o “Quinto dos Infernos” (6).

Resta uma esperança para 2018, quando o povo contará com uma poderosa arma, o voto democrático, para destruir a atual vara de porcos instalada no governo dessa República de Bananas.

(1)   Testa de Ferro: é o indivíduo que aparece ostensivamente como responsável por um negócio ou transação que os interessados reais controlam dissimuladamente, mantendo-se no anonimato. Designação apropriada para indivíduos que ficavam na linha de frente de embarcações em guerra, sendo os primeiros a sofrerem danos, verdadeiros testas de ferro.

(2)   Santo do Pau Oco: é uma expressão equivalente a uma santa falsificada, que não é de madeira de lei. No Período Colonial, no auge da mineração, a Coroa Portuguesa cobrava o imposto de 20% sobre a extração do ouro. Passou-se a rechear o interior de estátuas com o ouro para fugir da cobrança governamental.

(3)   Pagar o Pato: Fazer o papel de tolo, pagar para que os outros se aproveitem, arcar com as despesas alheias, ser ludibriado. Relata-se que, um vendedor de patos, em transação com uma dama, estabelecera que receberia “certos favores” da dama como régio pagamento. Certa feita, durante uma discussão entre o vendedor e a dama, o marido acede em pagar a conta, no caso o pato, para abreviar a disputa e não atrasar a ceia. Pagando, literalmente, o pato.

(4)   Bode Expiatório: é alguém que leva a culpa por atos que não cometeu. O nome faz alusão ao bode, símbolo das iniquidades do povo judeu, que, no Dia da Expiação (Yom Kippur), o Sumo-Sacerdote expulsava aos confins do deserto, expiando assim os pecados de Israel.
(5)   Conto do Vigário: atitude de pessoas que trapaceiam outras. Há relatos que tal conto teve origem no século XVII na cidade de Ouro Preto, onde duas paróquias disputavam a mesma imagem de Nossa Senhora. Um dos vigários propôs que amarrassem a santa no lombo de um burro e o colocasse entre as duas paróquias litigantes. A direção que o animal tomasse ficaria com a imagem. O vigário da igreja de Pilar, a vencedora, “por coincidência” era o dono do animal que carregava a imagem.

(6)   Quinto dos Infernos: expressão utilizada para ser usada por alguém com muita raiva ou com indignação. Refere-se ao Ciclo de Ouro no Brasil, no fim do século XVIII quando a Coroa Portuguesa cobrava um imposto “o quinto” relativo a 20% do ouro encontrado em minas brasileiras. Os donos das minas auríferas, passaram a chamar tal imposto injusto de “o quinto dos infernos”.


                                                                     Ponto final.