quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Aníbal Machado, um homem em preparativo
Para a poeta Jandira Cardoso
Aníbal Monteiro Machado (1894 - 1964 ) nasce em Sabará, Minas Gerais. Tem uma infância folgada e feliz , sendo alfabetizado pela mãe e por uma governanta alemã. Frequenta o famoso Colégio Abílio, imortalizado por Raul Pompéia no romance Ateneu. Gradua - se em Direito e depois é nomeado 
Promotor Público. Assume a cátedra de literatura no Colégio Pedro II no Rio de Janeiro. 
Sua produção literária faz - se em prosa e verso : " Caderno de João " ; " A morte da porta - estandarte "; 
" A arte de viver e outras artes " ; " João Ternura ".
Para Paulo Mendes Campos , Aníbal era um consertador de material humano , e também um homem que aceitava material humano tal como ele é, precário e torto.
" Não sou responsável pelas minhas insuficiências. Se minha corrente vital é acaso interrompida e foge de seu leito; se meu ser muitas vezes se desprende de seus suportes e se perde no vazio; se é frágil a minha composição orgânica e tênues os meus impulsos - culpo disso os meus pais , a sociedade , o regimen, os colégios; culpo as mulheres difíceis, os governos, as privações anteriores - culpo os antepassados em geral , o mau clima da minha cidade , a sífilis que veio nas naus descobridoras, a água salobra, às portas que se me fecharam e outros "sins " que esperei e que me foram negados; culpo os Jesuítas e o vento sudoeste; culpo aos meus ingredientes astrológicos; culpo a Pedro Álvares Cabral e a Getúlio; culpo o excesso de proibições, a escassez de iodo , às viagens que não fiz , os encontros que não tive , os amigos que me faltaram e as mulheres que não me quiseram; culpo a D. João VI e ao papa ; culpo à má vontade e à incompreensão geral. A todos e a tudo eu culpo. Só não culpo a mim mesmo que sou inocente . E ao Acaso , que é irresponsável "

" Não é à noite - dimensão poética ou conceito metafísico - que me refiro. Nem à noite moral , treva da alma , reminiscência teológica da ideia de queda ou pecado original. Mas à presença concreta, íntima, da noite : a que se aproxima da cama ou do banco do jardim para nós colher; a que nos dá a beber a sua substância de esquecimento; a que vem sem ser chamada e é esperada como um armistício. A noite necessária na qual nos enrolamos e que se enrola em nós, noite particular e espessa com a qual dormimos. Átomo da grande noite indivisível "
" Difícil não é aprofundar a solidão; é dela sair com a vida entre os dentes "
Ponto final !

quarta-feira, 29 de agosto de 2018



As Flores Sorriem
"Se às vezes digo que as flores sorriem/e se eu disser que os rios cantam/não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores/e cantos no correr dos rios.../é porque assim faço mais sentir aos homens falsos/a existência verdadeiramente real das flores e dos rios /porque escrevo para eles me lerem sacifico - me às vezes/à sua estupidez de sentidos.../não concordo comigo mas absolvo - me/porque só sou essa coisa séria, um intérprete da Natureza/porque há homens que não percebem a sua linguagem/por ela não ser linguagem nenhuma "
Se às vezes digo que as flores sorriem, poema de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa ( 1888 - 1935 ).
Foto ilustrativa do texto : 
Scadoxus multiflorus ( flor - de - natal ).
Vida ,este profundo mistério, em vista do qual, somos. Nada existe na superfície terreal , na profundeza dos mares , nem no infinito dos céus, nada que se assemelhe a fantástica grandeza do ser humano.
Aqui , sob o amparo da Mãe Gaia , aprendemos a convivência obrigatória, com tudo que em nossa volta , viceja , desde animais, vegetais ,até os aparente inertes blocos de argila , que um dia nos deram origem. É o nosso destino e obrigação. 
Mesmo assim , o homem não se faz jamais soberano, mas apenas um humilde sopro de vida , um elo a mais nesta imensa teia de seres sencientes ou não, que habitam nosso multiverso. Um homem em relação com Deus , com os outros , com a História, com a natureza e consigo mesmo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

JK , O Presidente Bossa Nova
Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902 - 1976 ) nasceu no dia 12 de setembro de 1902 na cidade de Diamantina , Minas Gerais. Seus pais foram João César de Oliveira , um caixeiro viajante , e Júlia , uma modesta professora primária. O casal gerou três filhos : Eufrosina , que viveu poucos meses; Maria da Conceição (Naná) e Juscelino ( Nonô). Em 1905 , a tuberculose engole o pai de Juscelino , aos 33 anos de idade. Em 1914 , Juscelino ingressa no Seminário Diocesano onde conclui o curso de Humanidades.
Em 1921 , Juscelino frequenta o curso superior na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de 
Minas Gerais , que conclui em 1927. Ainda na universidade, Juscelino trabalha na Empresa de Correios e Telégrafos. Em 1930 , Juscelino ruma para a Europa com fins de especializar - se em Urologia , passando por Paris , Viena e Berlim. Voltando ao Brasil , contrai núpcias com a Sra. Sara Negrão, que lhe dá duas filhas , Maria Estela e Márcia.
Em 1932 , Juscelino participa como capitão - médico , da Revolução Constitucionalista. Eleito em 1934 deputado federal em Minas Gerais. Nomeado prefeito de Belo Horizonte em 1940. Em 1950 , Juscelino torna - se governador de Minas Gerais , ao derrotar seu concunhado , Gabriel Passos.
Em 3 de outubro de1955 , Juscelino Kubitschek de Oliveira eleje - se presidente do Brasil , tendo como vice - presidente, João Belchior Marques Goulart ( Jango ). O seu Plano de Metas era " 50 anos de desenvolvimento em 5 anos ". Eram 30 metas distribuídas em 6 itens : Energia , Transportes , Alimentação, Indústrias de Base , Educação , e Construção de Brasília. Prometeu , cumpriu e ficou para a História.
Em 31 de janeiro de 1961 passa a faixa presidencial para o histriônico Jânio da Silva Quadros , a UDN de porre , que consuma um desastre em agosto de 1961 , abrindo caminho para o Movimento Militar de 1964 .
Em 8 de 1964 Juscelino sofre cassação e tem seus direitos políticos suspensos por 10 anos. Daí parte para um doloroso e prolongado exílio .
Em 1974 , eleje - se para uma cadeira de imortal da Academia Mineira de Letras. No dia 26 de agosto de 1976 , Juscelino morre junto com o seu motorista num acidente automobilístico na Via Dutra. De lá para cá, daqueles que assumiram o cargo de presidente do Brasil , nenhum teve o charme , a determinação, a audácia e o carisma de Juscelino Kubitschek.
Outubro de 2018 bate à porta com eleições presidenciais e .... nada , nada , nada , nada no horizonte inteligente no xadrez da política partidária. Um bolo de energúmenos que dá pena ! Que pobreza, meu Zeus !
" Bossa Nova mesmo é ser presidente / desta terra descoberta por Cabral/para tanto basta ser tão simplesmente/simpático, risonho , original /depois desfrutar da maravilha/ de ser presidente do Brasil/voar da Velhacap pra Brasília/ver a Alvorada e voar de volta ao Rio/voar , voar , voar , voar pra bem distante /até Versalhes onde duas mineirinhas valsinhas/dançam como debutantes , interessante !/mandar parente a jato pro dentista/almoçar com tenista campeão/ também pode ser um bom artista exclusivista/tomando com Dilermando umas aulinhas de violão/isto é viver como se aprova/isso é ser um presidente Bossa Nova/ Bossa Nova , muito nova/nova mesmo, ultranova "
Presidente Bossa Nova , composição da autoria do menestrel Juca Chaves.
Na Praça Rogério Fróes, com Juvenal Galeno
Para o Dr. Eurípedes Chaves
Um pequeno cajueiro - Anacardium occidentale - prenhe , deita ao chão, irmanados , o fruto
( a castanha ) e o pedúnculo floral ( a pseudofruta piriforme de cor amarela ou vermelha ) num aprazível logradouro, a Praça Rogério Fróes, em Fortaleza.
Um caminhante , integrante da geração Baby Boomers ( nascido entre 1940 e 1960 ) , sob o amparo seguro de um " kit preventivo new age ": desjejum com frutas e fibras ; uma aspirina infantil ; uma combinação de Vitamina C , D e Folato ; uma estatina; uma biguanida . Claro , e um obrigatório exercício de alongamento.
O tal caminhante colhe o apetitoso caju e desliza , sonso, rumo a um quiosque na extremidade da praça. Retira , com cautela , do bolso traseiro da surrada calça faroeste , uma " quartota " contendo uma caninha para formar um par perfeito com o caju.
Afinal , ninguém é de ferro , e o sábado, repleto de homens vazios , promete !

" Cajueiro pequenino /carregadinho de flor/à sombra das tuas folhas/venho cantar meu amor/acompanhado somente/da brisa pelo rumor/cajueiro pequenino/carregadinho de flor/tu és um sonho querido/ de minha vida infantil/desde este dia ... me lembro/era uma aurora de abril/por entre verdes ervinhas/nascente todo gentil/cajueiro pequenino/meu lindo sonho infantil/que prazer , quando encontrei -te/ nascendo junto ao meu lar/ - este é meu , este defendo/ninguém mo venha arrancar/bradei e logo cuidoso/contente fui te alimpar/cajueiro pequenino/meu companheiro do lar/crescente... se eu te faltasse/que de ti seria, irmão ?/afogado nesses matos/morto à sede no verão.../tu que foste sempre enfermo/aqui neste ingrato chão !/cajueiro pequenino/que ti seria , irmão?/crescente.. crescemos ambos/nossa amizade também/eras tu o meu enlevo/o meu afeto o teu bem/se tu sofrias... eu triste/chorava como ... ninguém/cajueiro pequenino/por mim sofrias também!/quando em casa me batiam/contava - te o meu penar/tu calado me escutavas/pois não podias falar/mas no teu semblante , amigo/mostravam grande pesar/cajueiro pequenino/nas horas do meu penar !/após as dores ... me vias/brincando ledo e feliz/o " tempo será " e outros/brinquedos que eu tanto quis !/depois, chamando a teu lado/em muito verso que fiz/cajueiro pequenino/me vias brincar feliz !/mas um dia...me aumentaram.../fui obrigado... parti/chorando, beijei - te as folhas.../quanta saudade senti !/fui - me longe 
... muitos anos/ausente pensei em ti.../cajueiro pequenino/quando obrigado parti !/agora volto, e te encontro /carregadinho de flor !/mas ainda tão pequeno /com muito mato ao redor.../coitadinho , não cresceste/ por falta do meu amor/cajueiro pequenino/carregadinho de flor "
Cajueiro Pequenino , da autoria de Juvenal Galeno da Costa e Silva ( 1836 - 1931 ). 

O criador da poesia de motivos e feição populares no Brasil. Pioneiro do Folclore no Nordeste.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Nada Possuo de Meu , 2018 .
Caiu - me , faz pouco , às mãos, o testamento de um homem santo , D. Sebastião Leme ( 1882 - 1942 ) , Cardeal Emérito do Rio de Janeiro. Um verdadeiro príncipe da Igreja Católica, um vero pastor de um grande rebanho de ovelhas. Exerceu ele , relevante papel nos dias finais da Revolução de 30 , quando convenceu o renitente presidente da república Washington Luís a entregar o poder aos revoltosos , permitindo , desse modo, a ascensão de Getúlio Vargas, o futuro e camaleônico " pai dos pobres ".
D. Sebastião Leme adotou , para sua passagem entre nós, um lema : " cor unum in anima una " , ou seja , " um coração em uma alma ".
Em seu majestoso e rico testamento de uma só linha , D. Sebastião afirma , apenas : " Nada Possuo de Meu " . Que beleza ! .
Entendam , dos muitos " príncipes, reis, princesas , fichas limpas/ sujas , palhaços e ilusionistas " , que ora mourejam na nossa hilariante e estrambótica política brasileira , dos cândidos pretendentes ao cetro do Palácio da Alvorada , das duas centenas de candidatos aos governos estaduais e aos milhares de concorrentes a vagas no Parlamento , quantos portam um rico testamento como o de D. Sebastião?
Senhores , ponham fé e posso , seguramente , lhes assegurar : NENHUM ! .
Já sei , " política não se faz com santos ", muitos irão arguir. Pesadas nuvens pairam sobre a pobre nação brasileira e sua frágil democracia nesse próximo outubro.
Pois , caros amigos , por conta e risco das inúmeras mortes que morri , para todos vocês deixo um modesto testamento, onde constam os seguintes itens:
Barras de ouro puro impregnadas de paz , carinho e benquerença, tudo sob a custódia do Banco da Esperança, situado no mundo das ideias;
Duas paradisíacas ilhas no País da Utopia , onde fontes perenes de néctar podem alimentar , fartamente a todos.
Tal butim encontra - se devidamente registrado num mimoso cartório instalado no algodão das nuvens onde a tal felicidade transita em seu perene vagar.
Que Deus ilumine a todos os eleitores do gigante deitado em berço esplêndido.
Acorda , Brasil , senão o bicho pega !

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Sobre o Tempo
Caminhando a esmo, seguiam dois provectos senhores, com algodões e fios de prata do luar a lhes tingir os ralos cabelos : eram "o tempo" e eu , amparados um no outro , nas semoventes areias praianas do Porto das Dunas , aí pela boca da noite.
Há tempos , queria eu , uma conversa sóbria com aquele inacessível senhor , mas ele sempre a me fugir por entre os dedos , desaparecia na roda - viva do mundo. Acreditava eu , equivocadamente , que para sempre seria uma criança a empinar papagaios ou um playboy, montado numa lambreta a desfilar picardia diante da Escola Normal e adjacências. "O tempo" fazia ouvidos de mercador aos meus devaneios , e daí me socorri de Quintana e Drummond, para discorrerem sobre o tempo naquele mágico momento sob o olhar cativo da lua.
Quintana :
"A vida é o dever que trouxemos para fazer em casa/quando se vê /já são seis horas/quando se vê, já é sexta - feira/quando se vê, já é natal/quando se vê, já terminou o ano/quando se vê/já perdemos o amor de nossa vida/quando se vê , se passaram 50 anos/agora é tarde demais para ser reprovado/se me fosse dado um dia ,outra oportunidade , eu nem olhava o relógio/seguiria em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas/seguiria o amor que está à minha frente/ e diria que eu o amo/ e tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido a falta de tempo/não deixe de ter pessoas a seu lado por puro medo de ser feliz/a única falta que terá, será a desse tempo que , infelizmente nunca mais voltará ".
Drummond :
"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias/a que se deu o nome de ano/foi um indivíduo genial/industrializou a esperança/fazendo - a funcionar no limite da exaustão/doze meses dão para qualquer ser humano se cansar/e entregar os pontos/aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez/com outro número e outra vontade de acreditar/que daqui para adiante vai ser diferente/para você desejo o sonho realizado/o amor esperado/a esperança renovada/pra você desejo todas as cores desta vida/todas as alegrias que puder sorrir/todas as músicas que puder emocionar/para você neste ano novo/desejo que os amigos sejam mais cúmplices /que sua família esteja mais unida/que sua vida seja mais bem vivida/gostaria de lhe desejar tantas coisas/mas nada seria suficiente/então, desejo apenas que você tenha muitos desejos/ desejos grandes e que eles possam se mover a cada minuto, rumo a sua felicidade! "

Por um segundo fechei os olhos ao piscar das " Três Marias " , lá no breu do céu. Foi a conta . Todos fugiram : "o tempo " , Quintana e Drummond, passando- me um belo quinau. Sozinho , fiquei a cavaquear com o frio vento da noite a solfejar rimas de amor em meus moucos ouvidos.
Ponto final !

sexta-feira, 17 de agosto de 2018



Rui Barbosa , versão 2018
O gigante Rui Barbosa ( 1849 - 1923 ) , abordando as questões social e política do Brasil , deixou claro :
"Que não podemos continuar de cócoras com os vícios dos que não sabem compreender os valores de nossa civilização, que gradualmente se desenvolve pelo surto criativo de nossas imaginações e que encerram sempre o nosso melhor progresso. Solta Pedro I o grito do Ipiranga . E o caboclo , de cócoras. Vem , com o 13 de maio , a libertação dos escravos ; e o caboclo , de cócoras. Derriba o 15 de novembro um trono, erguendo uma república; e o caboclo , acocorado. No cenário da revolta, entra 
Floriano, Custódio e Gumercindo, se joga a sorte do país, esmagado quatro anos por incitatus, e o caboclo ainda com os joelhos à boca. A cada um desses baques, a cada um desses estrondos , soergue o torso, espia , coça a cabeça, " magina " , mas volve à modorra e não dá pelo resto" .

Aproximam - se as eleições de 2018 e os doutores de trabuco de nosso arraial , oferecem uma mão ao nosso caboclo de cócoras, submisso e crente ; tendo na outra mão escondida às costas, o relho para " alisar " o torso do pobre coitado eleitor.
E assim segue o Ceará, morrendo e resistindo , resistindo e morrendo !

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Planeta Água

Símbolo ancestral de pureza , fertilidade e fonte de vida , a água surgente da Mãe-Terra ,como água da fonte , ou dos deuses do céu, como chuva ou orvalho é reverenciada desde os primórdios da humanidade em rituais de purificação , lavando os pecados , apagando o passado nebuloso e dando nascimento a uma nova vida.

A água escura , insondável, representa em psicologia , o inconsciente. Assim , Johann Wolfgang von Goethe ( 1749 - 1832 ) propaga : alma do homem , como te assemelhas à água .

A água pode tornar-se metáfora de nutrição espiritual e salvação: "O que beber da água que eu lhe hei de dar , nunca jamais terá sede " .
Evangelho de São João ( 4 : 13 ).

"Água que nasce na fonte serena do mundo/e que abre um profundo grotão/água que faz inocente riacho/e deságua na corrente do ribeirão/águas escuras dos rios/que levam a fertilidade ao sertão/águas que banham aldeias/e matam a sede da população/águas que caem das pedras/no véu das cascatas , ronco de trovão/e depois dormem tranquilas/no leito dos lagos/água dos igarapés/onde Iara , a mãe d'água/é misteriosa canção/água que o sol evapora/pro céu vai embora/virar nuvens de algodão/gotas de água da chuva/alegre arco - íris sobre a plantação/gotas de água da chuva/tão tristes , são lágrimas na inundação/águas que movem moinhos/são as mesmas águas que encharcam o chão/e sempre voltam humildes/pro fundo da terra/ Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Planeta Água, composição de Guilherme Arantes , paulista nascido em 1953.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Ouvindo o Mar 
No Porto das Dunas neste sábado com a maré alta de 3.0 , e o mar mais misterioso e agitado. Merecendo todo respeito !


" Eu ontem passei o dia/ouvindo o que o mar dizia/ choramos , rimos, cantamos/falou-me do seu destino/do seu fado/depois para se alegrar/ergeu-se, e bailando, e rindo/pôs-se a cantar/um canto molhado e lindo/o seu hálito perfuma/e o seu perfume faz mal/deserto de águas sem fim/ ó sepultura de minha raça /quando me guardas a mim ?/ele afastou- se calado/eu afastei- me mais triste/ mais doente, mais cansado/ao longe o sol na agonia/de roxo as águas tingia/voz do mar misteriosa/voz do amor e da verdade/ó voz moribunda e doce/da minha grande saudade/voz amarga de quem fica/trêmula voz de quem parte/ e os poetas a cantar/são ecos da voz do mar"

Passei o dia ouvindo o que o mar dizia , poema de Antônio Botto

                                                                                   
                                                                                               ( 1897 - 1959 ) .
                                                                                                                        em Aquiraz, 


Bom Dia , Pai
A majestade de uma centenária árvore, 
O calor de um sol de verão,
A tranquilidade de um sereno mar,
A alma generosa da Natureza,
O poder do vôo da águia,
A alegria de uma manhã primaveril ,
A fé de um grão de mostarda ,
A profundidade da necessidade de uma família. 
Desse modo , o Criador, combinando estas qualidades , quando , quase nada havia a acrescentar, assim o trouxe para alumiar meus dias , querido pai .

E hoje , tão distante e tão perto, José Eleutério, meu velho, te abraço, saudoso e com infinita esperança em nosso reencontro amoroso e perene.
Minha bênção, meu querido velho !


" É um bom tipo , meu velho/que anda só e carregando/tua tristeza infinita/de tanto seguir andando/eu o estudo desde longe/porque somos diferentes/ele cresceu com os tempos/do respeito e dos mais crentes/velho , meu querido velho/agora caminha lento/como perdoando o vento/eu sou teu sangue , meu velho/teu silêncio e o teu tempo/seus olhos são tão serenos/sua figura , cansada/ pela idade foi vencido/mas caminha tua estrada/eu vivo os dias de hoje/em ti o passado lembra/só a dor e o sofrimento/tem tua história teu tempo/velho , meu querido velho/eu sou teu sangue , meu velho/teu silêncio e teu tempo/velho , meu querido velho"
Canção, Meu Querido Velho , de autoria de Piero , versão de Nazareno de Brito.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018



Um Tiquinho de Sonhos
Antes dos seres humanos surgiram a Terra e o Universo. Paremos por aí, para não cairmos no fenômeno da regressão infinita. Assistimos, todos os dias , o nascer miraculoso de nossos irmãos da Natureza: plantas, animais e pedras. O Ser é mistério; o Universo é mistério!.
Nós, humanos somos poeira das estrelas.
A sábia visão de Blaise Pascal ( 1623 - 1662 ) nos comove :
" Quando considero a pequena duração de minha vida observada na eternidade precedente e seguinte , o pequeno espaço que ocupo ou mesmo que vejo, abismado na infinita imensidão dos espaços que ignoro e que me ignoram , assusto-me e me espanto de me ver aqui e não lá, por que agora e não então. Quem me pôs aqui ? Por ordem e conduta de quem este lugar e este tempo me foram destinados ?".
Como defendem os estóicos, que tal vivermos o presente, já que nada podemos com o passado e o futuro? Esta é a própria essência da vida, o Carpe Diem!
Viver , amar , mudar, interagir. A vida não é um destino , mas uma aventura. Uma aventura ousada , ou nada !
" Nascer é a primeira chance; não desperdiçar essa chance, o primeiro dever " ( A. Comte - Sponville).
E sorver , enfim, as diversas formas de Amor :
Éros - a falta, a paixão amorosa , o amor que toma ;
Philía - a amizade , o amor que se regozija e compartilha ; 
Agápe - a caridade , o amor que dá e que perdoa , que acolhe ou recolhe .
Simples , assim , não?
" No quintal por trás de casa/tem um pé de sonho/ que não para de florar/florar a noite inteira/cada sonho seu/me faz sorrir e até cantar/Rua do Ouro/ uma rua Senhora/nada adorada/não é uma rua/é uma estrada/cheia de casa do lado/deixa eu falar desta rua/que ninguém pode entender/deixa eu dizer que ela é cheia/de ouro , mas ninguém vê/Maria , Mariazinha, que outro dia se foi/saiu cantando na estrada/ voltou chorando depois/hoje ela canta sozinha/chamando pelo luar/hoje ela chora baixinho/que é pra ninguém escutar/que olhar escondes o viço/dos teus olhos já sem cor/também só tenho dois braços/posso colher uma flor/posso plantar uma rua/na estrada que vês agora/posso seguir pela estrada/quando for chegada a hora " .
Letra de Pé de Sonhos , composição de Petrucio Maia e Brandão.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Cavalos do Cão /Carrossel do Destino


"Corriam os anos trinta/no Nordeste brasileiro/algumas sociedades lutavam pelo dinheiro/que vendiam pelas terras/coronéis em pés-de- guerra/beatos e cangaceiros/e correr da volante/no meio da noite, no meio da caatinga/que quer me pegar/na memória da vingança/um desejo de menino/um cavaleiro do diabo/corre atrás do seu destino/condenado em sua terra/coronéis em pés-de-guerra/beatos e cangaceiros/ e correr da volante/no meio da noite, no meio da caatinga/que quer me pegar "

Cavalos do Cão, composição do poeta , cantor e místico Zé Ramalho.

Cavalos do Cão, de Zé Ramalho, desnuda a situação do Nordeste brasileiro dos anos 30 , dominado a ferro e fogo por coronéis de trabuco e cangaceiros . Até os dias hodiernos, rincões perdidos na região das caatingas, lobos em pele de cordeiro, aferram-se ao poder monocrático e cruel desprezando o carrossel do destino em seu perpétuo MUDAR:

"Deixo os versos que escrevi /as cantigas que cantei/cinco ou seis coisas que eu sei/e um milhão que eu esqueci/deixo este mundo daqui/selva com lei de cassino/vou renascer num menino/num país além do mar/licença, que eu vou rodar/no carrossel do destino/enquanto eu puder viver/tudo que o coração sente/o tempo estará presente/passando sem resistir/na hora que eu for partir/para as nuvens do divino/que a viola seja o sino/ tocando pra me guiar/licença, que eu vou rodar/no carrossel do destino/romances e epopéias/me pedindo pra brotar/e eu tangendo devagar /a boiada das idéias/sempre em busca das colmeias/ onde brota o mel mais fino/ e só um verso, pequenino/mas que mereça ficar/licença, que eu vou rodar/no carrossel do destino "

Carrossel do Destino , composição de Antônio Nóbrega e Bráulio Tavares.
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