segunda-feira, 27 de junho de 2022

 O Outono em Prosa e Verso

Primavera , verão, inverno e outono. As estações sempre a se repetirem, indefinidamente . Assim, também, segue o carrossel da vida humana: nascimento , infância, juventude, maturidade , reprodução, envelhecimento e morte.
"De manhã o sol se eleva do mar noturno do inconsciente e olha para a vastidão do mundo colorido que se torna tanto mais amplo, quanto mais alto ele ascende no firmamento.
O sol descobrirá seu significado dentro desta extensão cada vez maior de seu campo de ação produzido pela ascensão e se dará conta de que seu objetivo supremo está em alcançar a maior altura possível e , consequentemente, a mais ampla disseminação possível e , a ampla disseminação possível de suas bênçãos sobre a terra.
Apoiado nesta convicção ele se encaminha para o zênite imprevisto - imprevisto , porque sua existência individual e única é incapaz de prever o seu ponto culminante.
Precisamente ao meio dia , o sol começa a declinar , e este declínio significa uma inversão de todos os valores e ideais cultivados durante a manhã. O sol entra então em contradição consigo mesmo. É como se recolhesse dentro de si seus próprios raios, em vez de emiti - los. A luz e o calor diminuem e por fim se extinguem ".
Excerto do artigo " As etapas da vida humana " escrito por Carl Gustav Jung ( 1875 - 1961 ).
" Me chegará lentamente/ e me encontrará distraído/ provavelmente adormecido/ sobre uma almofada de plumas/ se instalará no espelho/ inevitável e serena/ e dará início a sua faina/ pelos primeiros contornos/ com uns fios de prata/ me tingirá os cabelos/ e alguma linha do colo/ que será escondida pela minha gravata/ aguçará meu apetite/ minhas mãos e meus enjoos/ e me dará um par de óculos para sofrer as notícias/ a velhice../ está à volta de qualquer esquina/ ali, onde menos se imagina/ se nos apresenta pela vez primeira/ a velhice.../ É a mais cruel das ditaduras/ a grande cerimônia de clausura/ do que foi a juventude alguma vez / com admirável destreza/ como o velho artesão/ que lhe irá quitando de minhas mãos/ toda a sua antiga firmeza/ e seguindo Galeno/ me fará proibir o cigarro/ porque dirão que o catarro/ vem ganhando terreno/ me inventará um par de desculpas/ para amenizar a impotência/ " que vale mais experiência/ que pretensões ilusórias "/ me chegará ao cachecol/ aos sapatos de pano/ e ao catarro que ano a ano/ aumentará sua demanda/ a velhice.../ É a antessala do inevitável/ o último caminho transitável/ onde a dúvida.../ o que virá depois?/ a velhice é todo o equipamento de uma vida/ disposto ante a porta de saída / pela qual não se pode mais voltar/ ao melhor, mais que velho/ serei um ancião honorável/ tranquilo e o mais provável/ grande emissor de conselhos/ o que é pior/ por ciúmes me afastará das pessoas / e cortará lentamente/ minhas pobres, últimas rosas/ a velhice está à volta de qualquer esquina/ ali onde menos se imagina/ se nos apresenta pela vez primeira/ a velhice.../ É a mais cruel das ditaduras / a grave cerimônia da clausura/ do que foi a juventude alguma vez ".
Tradução livre da música " La vejez " ,do cantor , compositor e poeta argentino Alberto Cortez ( 1940 - 2019 ) .
Outono ou crepúsculo, não importa , vale a pena viver a vida em sua plenitude em todas as suas estações. A vida é bela !
Pode ser uma imagem de crepúsculo, natureza e céu
Elmar Pereira, Eneida Gondim e outras 11 pessoas

quarta-feira, 15 de junho de 2022

 O Poeta e a Lua

" Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria.
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua
Entre as esferas nitentes
Tremeluzem pelos fulvos.
O poeta de olhar dormente
Entreabre o pente da lua
Entre frouxos de luz e água
Palpita a ferida crua .
O poeta todo se lava
De palidez e doçura
Ardente e desesperada
A lua vira em decúbito
A vinda lenta do espasmo
Aguça as pontas da lua.
O poeta afaga - lhe os braços
E o ventre que se menstrua
A lua se curva em arco
Num delírio de volúpia
O gozo aumenta de súbito
Em frêmito que perduram .
A lua vira o outro quarto
E fica de frente , nua.
O orgasmo desce do espaço
Desfeito em estrelas e nuvens
Nos ventos do mar perpassa
Um salso cheiro de lua
E a lua, no êxtase cresce
Se dilata e alteia e estua.
O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua
Depois lua adormece
E míngua e se apazigua.
O poeta desaparece
Envolto em cantos e plumas
Enquanto a noite enlouquece
No seu claustro de ciúmes ".
O Poeta e a Lua , autoria de Vinicius de Moraes ( 1913 - 1980 ).
A foto que ilustra o texto : noite enluarada , ontem em Fortaleza .
Pode ser uma imagem de 1 pessoa, céu, crepúsculo e noite
Christina Quinderé

terça-feira, 14 de junho de 2022

 A Crestomatia - Ontem e Hoje

O termo Crestomatia, origina - se do grego , Khrestos ( útil) , e Matheim ( saberes) , sendo aplicado a uma coletânea de textos literários destinados ao ensino escorreito de nossa língua pátria. A Crestomatia , escrita pelo professor gaúcho Radagasio Taborda, surgiu em 1931 , e durante três décadas serviu a milhares de estudantes brasileiros. Hoje , presta - se como uma relíquia para bibliófilos que dela sorveram os primeiros contatos com as ricas literatura brasileira e portuguesa .
Hodiernamente, o Brasil vive um grave momento em que várias Instituições da República perderam sua credibilidade perante a Sociedade Civil.
Seguem dois excertos da Crestomatia , em sua vigésima quinta edição, pela Editora Globo , 1953 , mostrando como a História se repete .
Sermão a Ladrões
Uma quadrilha de ladrões captura um dia um velho pároco, ao qual, estes amáveis bandidos, exigiram que , como resgate, lhes pregasse um sermão, adaptado à sua inteligência.
" Caros amigos, começou o bom padre, crede... ninguém mais do que eu se alegra da vossa sorte. Sim , sois felizes. Não viestes vós ao mundo, como N. S. Jesus Cristo , em sua miserável caverna ? E em cada dia da vossa vida , cheia de cruéis padecimentos , não sois insultados , maltratados , julgados e condenados , como o Salvador do mundo ?"
- Bravo , bravo ! - gritou toda a quadrilha , contente com a honrosa comparação.
" Finalmente , meus amigos , continuou o padre , vós, como Cristo acabais pendentes de um pau , num suplício horrível, em presença de uma plebe vil que grita e assobia , vendo - vos penar ; como Cristo , depois da morte , desceis ao inferno, e... ali ficais. Eis a diferença única que existe entre a vossa condição e a do Homem - Deus".
A Um Calvo Pretencioso
Cabeça ! ... que desconsolo!
Cabeça ! ... força é dizê-lo :
Por fora não tem cabelo,
Por dentro não tem miolo.
Ponto Final !
Pode ser uma imagem de texto que diz "Radagaslo Taborda CRESTOMATIA"
Jeannie Gladys

segunda-feira, 13 de junho de 2022

 Uma Fábula : Zelo Suspeito

O Papagaio fez uma algazarra, porque viu o Tucano num pinheiro: mirou - lhe o bico enorme , o papo , a garra ... e notou a destreza que ele tinha para , num bote rápido e certeiro, tentar tirar os bons pinhões da pinha .
- " Não vês que tais sementes destruindo, tu como vândalo prejudica a recomposição do mato lindo, privando - o assim de novas frondes ricas ?"
O Tucano não deu ouças à trela nem de zanga mostrou nenhum indício. Ele bem sabe que esse tagarela só é zeloso em seu próprio benefício. O que ele quer com esse cuidado ativo , fazendo tais comícios indecentes, não é pelo proveito coletivo e, sim , para afastar os concorrentes.
" Esse egoísta reclama e faz desfeita ( disse o Tucano ) , porque é um ser mesquinho. Seu plano é resguardar toda a colheita, para , escondido, a devorar sozinho. "
O avaro Papagaio e mais sua crítica têm, entre os homens , um paralelismo: é assim que alguns Catões da alta política exercem o seu nobre patriotismo. "
Fábula da autoria de Serafim Franca ( 1888 - 1967 ) , jornalista , escritor e dramaturgo brasileiro .
Catão , o Velho : Marco Pórcio Catão ( 234 a.C - 148 a.C ) político e escritor da República Romana .
A fábula , expressão literária antiga , pitoresca , revela , quase sempre , uma verdade moral. Lança ideias e críticas, sem ferir especificamente ninguém. Hodiernamente , num burgo distante , uma extravagante união de um Papagaio e de um Tucano se apresenta num semovente tabuleiro de xadrez. Ufa !
Pode ser uma imagem de pássaro
Martinho Rodrigues, Elmar Pereira e outras 9 pessoas

quarta-feira, 8 de junho de 2022

 O Alienista Ontem e Hoje.

Uma realista novela - O Alienista - veio à lume no ano de 1882 , nas mágicas mãos do gigante Machado de Assis ( 1839 - 1908 ), o Bruxo do Cosme Velho. A narrativa mostra a trajetória anárquica de um esculápio " filho da nobreza de terras , e o maior médico do Brasil , de Portugal e das Espanhas " , num pequeno burgo , Itaguaí , no Rio de Janeiro de antanho.
O tal pastor de almas constrói um hospício - A Casa Verde - para abrigar alienados de variadas matizes, por ele catalogados como : os modestos , os tolerantes , os verídicos, os simplórios, os leais , os magnânimos, os sagazes, dentre outros . Desse modo , o mentecapto chegou a confinar na Casa Verde , cerca de setenta por cento da população de Itaguaí , provocando uma revolta popular de grande monta .
Revendo a tênue linha entre a loucura e a sanidade , o tal alienista resolve libertar todos os habitantes da Casa Verde , e o próprio pastor de almas interna - se no hospício até finarem seus tristes dias. Admitiu o pobre homem que sua teoria de loucura havia fracassado em cheio.
E hoje, num burgo exótico onde medra , ombro a ombro, o moderno e o retrógrado, " alienistas turbinados modelo 2022 " , insanos , tresloucados, deslumbrados e desconectados com a realidade de um mundo novo , portando indumentárias negras, e não o imaculado jaleco branco dos filhos de Hipócrates, julgam - se donos da terra, calando , prendendo e esfolando qualquer indivíduo que desobedeça suas ordens , como expor seus pensamentos , especialmente em meios eletrônicos.
Surge , então, uma nova " Casa Verde " , no caso em epígrafe, uma " Casa Nigra " , como uma escuridão de noite sem lua nem estrelas : as trevas da loucura . A saída racional para tal imbróglio seria tombar o tal hospício, ou colocar correntes de ferro nos recalcitrantes alienistas turbinados de 2022.
Pode ser uma imagem em preto e branco
Anny Martins Buchholz, Carlos Alberto Cunha e outras 4 pessoas
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