segunda-feira, 30 de maio de 2016

SOBRE LOBOS, CÃES E RATAZANAS: UMA FÁBULA

Certa feita nos primórdios dos tempos num arraial perdido no oco do mundo estavam em pé de guerra, lobos- alguns com pele de cordeiro-, cães ferozes afeitos aos duros embates e traiçoeiras ratazanas. O gatilho que desencadeou a perigosa pendência naquela urbe foi uma ascensão atípica ao poder pátrio de um velho lobo casmurro e acostumado a decisões nas caladas da noite, onde fixava frouxas leis protetoras aos seus pares de comando. Os cães ladraram mais agressivos que nunca prometendo uma luta titânica enquanto perdurasse tal anomalia no poder pátrio. Para piorar as coisas, uma ratazana balofa, mais suja do que pau de galinheiro, oriunda das caatingas de velhos grotões, deu com a língua nos dentes para salvar sua pele e detonar os cães e os lobos da república bananeira dos bichos, em destaque. Não vai sobrar, pelo visto, pedra sobre pedra, nem nada para comemorar. Não vai ter chope. Vai ter o caos animalesco.
As coisas no mundo das feras terão comumente este epílogo dantesco sempre que tais seres inferiores tentarem imitar, mesmo que de maneira enviesada, o tinhoso bicho –homem.
Moral da história:
“ Quem avisa, amigo é “
“ Guarda-te de homem que não fala e de cão que não ladra “
“ Gente ruim não precisa de chocalho “
“ De burro só se espera coice “
“ Burro bravo dá coice até no vento “
“ Cachorro que come ovelha só deixa depois que morre “
“ A bom entendedor, piscada de olho é mandado “

domingo, 29 de maio de 2016

RENÉ LAENNEC – “ UM OUVIDO Q UE ENXERGA “

René – Théophile – Hyacinthe – Laennec (1781 – 1826) nasceu no burgo de Quimper , na Baixa Bretanha no dia 17 de fevereiro de 1781 . Seus pais foram Teophile Laennec e Michelle Gabrielle Felicite Guesdan. O pequeno Laennec ficou órfão aos 6 anos de idade com a morte em decorrência de provavel tuberculose e infecção puerperal de sua mãe Michelle. Para a criação do menor foi designado seu tio paterno, Guillaume , médico radicado em Nantes , no ano de 1788 . Ali Laennec sorveu com vigor uma rica cultura humanística visitando, instigado pelo seu novo tutor, áreas como religião, ciências políticas, ortografia, gramática, retórica, geografia, línguas estrangeiras, além de prosa e poesia latinas.
Encontramos Laennec aos 15 anos de idade auxiliando o tio Guillaume num grande hospital de Nantes no amparo a feridos em meio ao processo sanguinário da Revolução Francesa. No período de 1795 – 1800 Laennec cursou, com destaque, a faculdade medicina em Nantes. Em 1801 ruma para Paris e ali encontra gigantes da rica medicina francesa como Corvisart , Bayle , Dupuytren e Braussais .
Em 1804 Laennec defende a tese doutoral intitulada “ Proposições Sobre a Doutrina de Hipócrates em Relação com a Medicina Prática “ e realiza uma magistral conferência onde descreve a Peste Branca – a tuberculose – separando-a de tantas outras doenças do trato respiratório.
Desde a era de Hipócrates e Galeno procurou-se interpretar os variados sons advindos do tórax de portadores de doenças cardíacas e pulmonares. Corvisasrt e Auenbrugger através de ausculta direta descreveram achados importantes em ausculta e percussão de enfermos. Caberá a Laennec inventar um instrumento singelo e apropriado para recolher do tórax as mensagens do normal e do patológico. Surge o estetoscópio como um cilindro de papel que em seguida evolui para um instrumento mono- auricular de madeira. A palavra resulta da combinação de raízes gregas: stethos (peito) e scopein (examinar).
A origem de tudo deveu- se a uma consulta médica com uma dama jovem e obesa portadora de provável cardiopatia. Laennec por excessivo pudor e recato não se sentiu à vontade para encostar seu ouvido entre os seios da paciente. Simples: dobrou uma folha de papel em forma de funil que fez o milagre da ausculta mediata. Muitos de seus colegas não deram crédito a tal descoberta. Em 1819 Laennec lança o “ Tratado Sobre a Auscultação Mediata “ que logo torna-se um clássico na literatura médica de então. Relata- se que aos compradores, era ofertado um exótico brinde: um estetoscópio de madeira.  Confrontando achados de necropsia com relatos   frutos de anamnese e de exame clínico, Laennec  pôs em curso o seu Método Anatomoclínico .
Morgagni e Valsalva , dois grandes luminares da medicina francesa da época advertiam aos médicos incautos : “ Afastem-se dos cadáveres de pacientes com tuberculose “ . Laennec , erroneamente pensava que a Peste Branca não era contagiosa e que advinha da miséria e da má qualidade da vida nas cidades . Admitia, contudo, que a tuberculose e o câncer mostravam-se absolutamente incuráveis.

Laennec ainda produziu um “ Tratado das Afecções Pulmonares “ e Notas sobre Anatomia Patológica “. A tísica sorrateira, provavelmente adquirida num acidente com uma serra numa necropsia e o trabalho sem descanso em ambientes insalubres corroeram a frágil saúde de Laennec e a parca o encontrou no avaro dia 13 de agosto de 1826 , no solar de Kerlouarnec , à beira da enseada de Douarnener . Assim partiu para a eternidade um dos gigantes da arte hipocrática de todos os tempos.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

VIRGINIA APGAR


Virginia Apgar (1909 – 1974) nasceu em 7 de junho de 1909 Wesfield no estado de New Jersey. Seus pais foram: Charles Emory Apgar, um executivo de seguros, músico, astrônomo amador e Helen Clarke Apgar. Desde cedo, Virginia aprendeu a tocar violino e manifestou o desejo de tornar- se médica. No Mount Holyoke College em 1925 iniciou estudos em Zoologia onde, também, obteve o bacharelado em Artes. Em 1929 principiou seu curso de medicina na Universidade de Médicos e Cirurgiões, de Columbia onde graduou-se em 1933. Nos três anos seguintes realizou residência médica em cirurgia sob orientação de Allen Wipple no Hospital Presbiteriano de Columbia. As perspectivas econômicas de uma mulher exercendo cirurgia à época eram bastante desestimuladoras numa área dominada inteiramente por homens. Assim seu chefe, Dr. Allen sugeriu que ela enveredasse pela novel especialidade da Anestesia. Em 1938 Virginia Apgar tornou- se chefe da Divisão de Anestesia do Hospital Presbiteriano e prestou assistência a milhares de partos no Sloane Hospital For Women. Em 1952 a Dra. Virginia desenvolveu um sistema simples e eficaz para avaliar o estado de saúde dos recém- nascidos baseados na frequência cardíaca, respiração, movimento, irritabilidade e cor da pele do concepto aplicado no primeiro e quinto minutos de vida. Nascia a Escala de Apgar empregada até hoje no mundo inteiro como uma ferramenta indispensável na assistência ao parto normal, fórceps ou cesárea. No final da década de 50 a Dra. Virginia empresta seus serviços à Divisão de Malformações Congênitas da National Foundation – March of Dimes. Ao longo de sua brilhante e multifacetada carreira acadêmica recebeu diversos prêmios, como Doutor honoris causa nos estados de Pensilvânia e New Jersey. Em 1973 foi eleita a Mulher do Ano na área de Ciências. Uma mulher à frente de seu tempo e que cultivou a curiosidade libertadora em diversas áreas como instrumentista, construtora de violinos e desportista. Não casou nem deixou prole, falecendo em 7 de agosto de 1974, ofertando um legado imenso às futuras gerações onde ocupa lugar de destaque no panteão dos grandes benfeitores da humanidade.

quarta-feira, 18 de maio de 2016


UMA QUASE TRAGÉDIA SUBURBANA

Para Carlos Juaçaba

_ “ E aí, garanhão, mantendo firme cem por cento de aproveitamento junto às meninas? ”, foi o cumprimento que Ariovaldo recebeu de chofre naquela fatídica ocasião.

Pense numa verdadeira ducha de água fria naquela supimpa noite na porta do Cine Diogo no centro de Fortaleza aí pelos idos de 60. Dona Ermengarda largou com altivez o braço bambo do marido, o almoxarife Ariovaldo, cheio de salamaleques diante daquele rojão certeiro.

_ “ Minha flor de mamulengo, devagar com a carruagem, não me arme um escândalo numa hora desta. Explico: a mania deste velho amigo de noitadas no “ Farol do Mucuripe “ é tratar todo homem, carinhosamente, de garanhão ”

Não houve jeito, o indigitado casal já andava em marcha lenta pela esburacada estrada marital, há tempos, desde a última refrega quando Ariovaldo fora flagrado pela sua digna consorte, em atitude suspeita, buzinando sem som, nas volumosas tetas duma sirigaita dentro de um velho “ Gordini “ de guerra na vizinhança do Matadouro Modelo.

Naquela ocasião ao adentrar no recinto do lar para as bandas da Gentilândia , o baboso Ariovaldo , zangado como cobra que perdeu o veneno , dispara na retranca :

_ “ Meu docinho de coco, você confia mais na sua vista do que em minha honrada palavra? Eu estava só em meu carro. Tudo não passou de uma visagem, sem dúvida. Uma indevida ilusão de ótica pela cegueira de um ciúme doentio. “

O tempo fechou em segundos, em raios e trovoadas num até então céu de brigadeiro produzindo muito solavanco para ninguém botar defeito! O furdunço foi parar na Assistência Municipal, o nosso glorioso Palácio de Mercúrio Cromo da Praça da Bandeira, para os devidos reparos de urgência dos dois incautos litigantes.

“ Nós dois, já não somos os mesmos

Não dá para tampar

O sol com a peneira

E nos enganar

Se vê no olhar o que a boca não diz

Você não é feliz

Nem eu

 E é por isso que a gente não se entende mais

 E quando a gente transa

Amor já não faz

Essa é a razão da insatisfação

Tá faltando paixão

E aí nós ficamos brigando até mesmo na rua

 Eu saio arranhado e você seminua

E da última vez ainda temos sinais de lesões corporais

Você fica de mal comigo e com raiva da vida

Se cai na rotina

 Eu vou pra bebida

Será que a gente não se gosta mais

A gente quebra a monotonia, esbanjando baixaria

E o coração que se arrebente

A gente tá passando dos limites

Tantas mágoas, acredite

Não há amor que aguente “ 

Canção de Gilson e Joran , gravada por  Emílio Santiago

 

 

 

 

domingo, 15 de maio de 2016



O DESTINO E AS PARCAS

A divindade cega chamada Destino, Eimarmena, para os gregos e Fatum ou Fado , para os latinos , era considerada para Hesíodo ( séc. VIII a.C.) como filha do Caos e da Noite. Os deuses, os homens, a terra, o mar e os infernos estavam submetidos à deusa Destino. Representava – se tal divindade como um ancião com venda nos olhos, colocado sobre um globo, a Terra, portando um livro onde se encontravam escritos a sorte de cada ser humano.
Três Parcas ou Moiras, que eram filhas de Zeus e Têmis, presidiam a vida e a morte, controlando o destino humano ao tecer (fiandeiras) um fio para cada homem na face da terra:
Cloto (fiar) era a mais jovem e usava a roca de fiar o destino humano,
Láquesis (sortear) media e enrolava os fios
Átropos (afastar) cortava o fio da existência com umas tesouras de ouro, determinando a forma e a hora da morte de seu dono.
As três Parcas distribuíam a desgraça ou a felicidade e perseguiam aos culpados até receberem o castigo merecido.
Outro ministro do Destino foi Anánke , deusa da Necessidade , que se confunde com o Destino , absoluta em seu poder , posto que até Júpiter lhe obedecia .
“ Não fala com pobre, não dá mão a preto
Não carrega embrulho
Para que tanta pose, doutor
Para que esse orgulho
A bruxa que é cega esbarra na gente
E a vida estanca
O enfarte te pega, doutor
E acaba essa banca
A vaidade é assim, põe o tonto no alto
E retira a escada
Mas fica por perto esperando sentada
Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal
Todo mundo é igual quando o tombo termina
Com terra por cima e na horizontal! “        “ A Banca do Destino “ de Billy Blanco.



quinta-feira, 12 de maio de 2016


GEN – ÉTICA

Daljinder Kaur, uma indiana de 72 anos e seu cônjuge de 79 anos, depois de uma convivência marital de 46 anos , sem prole , se tornaram pais de um garoto nascido há pouco  . O corajoso e sonhador casal foi submetido a um tratamento para infertilidade por um período de 2 anos em uma clínica particular na Índia sob a orientação do médico Anvrag Bishnoi . O garoto Arman nasceu pesando 2 quilos e evidenciando boa saúde. Presume- se que tenha ocorrido um processo de fertilização in- vitro com doação de óvulos.

A Índia, uma vez mais, assusta o mundo na área da ciência: em 2008 envia à lua uma espaçonave não tripulada e no ano seguinte põe em operação um submarino nuclear, ombreando- se a outras potências bélicas do mundo. Sua gigante população superior a 1 bilhão de indivíduos, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2050 será a maior nação do mundo superando a China.

Segundo a História, Sara (líder ou princesa), esposa de Abraão deu à luz a Isaque (riso ou filho da promessa) aos 90 anos de idade.

Certa feita, o Senhor apareceu a Abraão, em sua tenda:

- Sara, tua esposa, onde se encontra?

- Está na tenda.

O Senhor diz:

 - Daqui a um ano voltarei a ti e tua mulher Sara, dará à luz um filho.

Sara ouvindo a conversa, riu e disse:

- Na velhice terei ainda este prazer?

Fala o Senhor para Abraão:

- Por que se riu Sara? Acaso para o Senhor há cousa demasiadamente difícil?

Sara, mentido respondeu:

 - Não me ri.

O Senhor falou:

- Não é bem assim, é certo que riste.

Um ano depois, Sara deu à luz a Isaque, cujo nome significa “ riso “. Sara viveu até a idade de 127 anos e foi sepultada em Hebrom.

Hoje existem vários protocolos relativos às Técnicas de Reprodução Assistida (TRA) onde se analisam riscos x benefícios de tais práticas. Segundo Leo Pessini, em Problemas Atuais da Bioética (2009):

“ A bioética não deve nem pode ignorar o processo legislativo em curso nesta área. Mas um contexto complexo como este, implicando sexualidade, reprodução, família, casamento, futuras gerações e o próprio conceito de vida , traz desafios permanentes , e que se renovam , para o debate sobre ética , ciência e política , bem como a reflexão bioética de modo geral ,que se deve manter aberta e permeável às vozes ativas no campo da reprodução humana “

 

domingo, 8 de maio de 2016

PARA TODAS AS MÃES

“ Estás em tudo que penso
Estás em quanto imagino:
Estás no horizonte imenso,
Estás no grão pequenino.
Estás na ovelha que pasce,
Está no rio que corre:
Estás em tudo que nasce, estás em tudo que morre.
Em tudo estás, nem repousas,
Ó ser tão mesmo e diverso!
(Eras no início das cousas,
Serás no fim do universo. ”
Estás na alma e nos sentidos.
Estás no espírito, estás
Na letra, e, os tempos cumpridos.
No céu, no céu estarás “
“ Ubiquidade “ poema de autoria de Manuel Bandeira (1886- 1968).
Sinto tua ausência, Mãe querida, no horizonte imenso da vida, no silencioso rio que corre, na falta do colo morno e nas sábias palavras que acalmavam a chama de minha permanente inquietação juvenil.
Que saudade danada!
Rogo sua benção, Mãe e a de todas essas divinas criaturas do mundo!

quinta-feira, 5 de maio de 2016


INCÔMODAS PERGUNTAS EM BREVES COLOCAÇÕES

Faz 13,7 bilhões de anos que irrompeu um ponto de inimaginável densidade, prenhe de imensa energia, com o tamanho trilhões e trilhões de vezes menor que a cabeça de um alfinete, explodindo no Big – Bang (Fred Hoyle – 1949). Aí emergiu o espaço- tempo e suas partículas primordiais, da qual, nós seres humanos, fazemos parte como simples poeiras das estrelas, compostos de hádrions , prótons , nêutrons , elétrons , pósitrons e antimatéria . Muita coisa para, enfim, nada?

Para Denis Diderot “ dizer que o homem é uma mistura de força e debilidade, de luz e de cegueira, de pequenez e de grandeza não é fazer um processo: é defini-lo”

As eternas preguntas de sempre: quem sou, de onde venho, para onde vou, qual o real sentido da vida, como cuidar do meu corpo e de minha alma? Questões que permanecerão no âmago do Homo sapiens sapiens demens até o final dos tempos? A pequenez do bicho homem diante da magia infinita do universo, como na visão pascalina, promove admiração, espanto, reverência e a busca de conhecimentos capazes de minorar sua angústia neste curto périplo terreal.

Acreditamos que todos somos um só corpo e alma, um microcosmo dentro de um macrocosmo, formados de partículas essenciais que permeiam todo o multiverso, pleno de vazio sem nenhum privilégio, com um destino comum, a vagar à toa pela imensidão do espaço.

Todo o processo evolutivo traz em seu bojo o caos de onde tudo proveio e a grande explosão cuja radiação vibra até hoje por todo o universo. A expansão, a auto-organização, a complexidade, são formas pelas quais o próprio universo domestica o caos. Ordem e desordem, caos e cosmos, criação e destruição, até o esperado fim apocalíptico Big – Crunch. E tudo volta ao mesmo, ou seja, ao nada?

Será isto o universo ou multiverso, este expandir de uma miríade de blocos estelares neste eterno fazimento e destruição de matéria – energia? E com que finalidade? Para nada?

E o desprezível bicho – homem defendendo com unhas e dentes um naco de vida com outros seres viventes, pendurados na superfície da nave – mãe Terra, girando e girando, aumentando sua natural embriaguez, afinal, para que mesmo? De novo, nada?

Será mesmo que o Apocalipse representará mesmo o fim do mundo, ou apenas, do nosso pequeno mundo, dando passagem a uma simples transformação da lagarta em borboleta, com o advento de uma nova forma de vida? Será?

A quem caberá a resposta devida para as múltiplas interrogações acima mencionadas? A ninguém? Então, por qual motivo foram formuladas?

 

domingo, 1 de maio de 2016

O BICHO- HOMEM X O MUNDO
Para Clayrton e Hellen

“A décima segunda guerra mundial, como todos sabem, trouxe o colapso da civilização.
Vilas, aldeias e cidades desapareceram da Terra.
Todos os jardins e todas as florestas foram destruídas.
E todas as obras de arte.
Homens, mulheres e crianças tornaram- se inferiores aos animais mais inferiores. Desanimados e desiludidos, os cães abandonaram os donos decaídos.
Encorajados pela pesarosa condição dos antigos senhores do mundo, os coelhos caíram sobre eles.
Livros, pinturas e música desapareceram da Terra e os seres humanos ficavam sem fazer nada, olhando no vazio. Anos e anos se passaram.
Os poucos sobreviventes militares tinham esquecidos o que a última guerra havia decidido.
Os rapazes e as moças apenas se olhavam indiferentemente, pois o amor abandonara a Terra.
Um dia uma jovem, que nunca tinha visto uma flor, encontrou por acaso a última que havia no mundo.
Ela contou aos outros seres humanos que a última flor estava morrendo.
O único que prestou atenção foi um rapaz que ela encontrou por ali.
Juntos, os dois alimentaram a flor e ela começou a viver novamente.
Um dia uma abelha visitou a flor. E um colibri.
E logo havia duas flores, e logo quatro, e logo uma porção de flores.
Os jardins e as florestas cresceram novamente.
A moça começou a se interessar pela própria aparência.
O rapaz descobriu que era muito agradável passar a mão na moça.
E o amor renasceu para o mundo.
Os seus filhos cresceram saudáveis e fortes e aprenderam a rir e brincar.
Os cães retornaram do exílio.
Colocando uma pedra em cima de outra pedra, o jovem descobriu como fazer um abrigo.
E imediatamente todos começaram a construir abrigos. Vilas, aldeias e cidades surgiram em toda parte.
E a canção voltou para o mundo.
Surgiram trovadores e malabaristas
Alfaiates e sapateiros
Pintores e poetas
Escultores e ferreiros
E soldados
E tenentes e capitães
E coronéis e generais
E líderes!
Algumas pessoas tinham ido viver num lugar, outros em outro. Mas logo as que tinham ido viver na planície desejavam ter ido viver na montanha.
E os que tinham escolhido a montanha preferiam a planície. Os líderes, sob inspiração de Deus, puseram fogo ao descontentamento.
E assim o mundo estava novamente em guerra.
Desta vez a destruição foi tão completa
Que absolutamente nada restou no mundo.
Exceto um homem
Uma mulher
E uma flor “
Texto de James Thurber (1894 - 1961), escritor, humorista e cartunista americano.
Os dinossauros desapareceram há 150 milhões de anos da face da terra. E daqui a 150 milhões de anos, o que dirão as espécies vivas que porventura ainda existirem, acerca do bicho – homem?
Neste século XXI seguimos apenas “ arranhando com as unhas “ a tênue crosta deste pequeno bólido azul imerso na insondável imensidão do multiverso. Necessitamos vencer o medo, a barbárie, a inveja, a intolerância, a perfídia e a insensatez. Não vamos esperar “ com a boca escancarada “ deixar fenecer a “ última flor “ para dar partida a uma nova aventura de resgate do nosso maltratado planeta Terra.
“ Não, esta noite amor/ não pensei mais em ti /abri os olhos / para olhar em torno de mim/ e em torno de mim girava o mundo como sempre / gira, o mundo gira / no espaço sem fim/ com os amores apenas nascidos/com os amores já acabados /com a felicidade e com a dor / das pessoas como eu / o mundo / somente agora, eu te vejo / em teu silêncio eu me perco /e não sou nada a teu lado /o mundo /não parou nunca um momento / a noite persegue o dia / e o dia virá! “     Música “ O Mundo “de Jimmy Fontana (1934 – 2013) , cantor , compositor e ator italiano .