quarta-feira, 18 de maio de 2016


UMA QUASE TRAGÉDIA SUBURBANA

Para Carlos Juaçaba

_ “ E aí, garanhão, mantendo firme cem por cento de aproveitamento junto às meninas? ”, foi o cumprimento que Ariovaldo recebeu de chofre naquela fatídica ocasião.

Pense numa verdadeira ducha de água fria naquela supimpa noite na porta do Cine Diogo no centro de Fortaleza aí pelos idos de 60. Dona Ermengarda largou com altivez o braço bambo do marido, o almoxarife Ariovaldo, cheio de salamaleques diante daquele rojão certeiro.

_ “ Minha flor de mamulengo, devagar com a carruagem, não me arme um escândalo numa hora desta. Explico: a mania deste velho amigo de noitadas no “ Farol do Mucuripe “ é tratar todo homem, carinhosamente, de garanhão ”

Não houve jeito, o indigitado casal já andava em marcha lenta pela esburacada estrada marital, há tempos, desde a última refrega quando Ariovaldo fora flagrado pela sua digna consorte, em atitude suspeita, buzinando sem som, nas volumosas tetas duma sirigaita dentro de um velho “ Gordini “ de guerra na vizinhança do Matadouro Modelo.

Naquela ocasião ao adentrar no recinto do lar para as bandas da Gentilândia , o baboso Ariovaldo , zangado como cobra que perdeu o veneno , dispara na retranca :

_ “ Meu docinho de coco, você confia mais na sua vista do que em minha honrada palavra? Eu estava só em meu carro. Tudo não passou de uma visagem, sem dúvida. Uma indevida ilusão de ótica pela cegueira de um ciúme doentio. “

O tempo fechou em segundos, em raios e trovoadas num até então céu de brigadeiro produzindo muito solavanco para ninguém botar defeito! O furdunço foi parar na Assistência Municipal, o nosso glorioso Palácio de Mercúrio Cromo da Praça da Bandeira, para os devidos reparos de urgência dos dois incautos litigantes.

“ Nós dois, já não somos os mesmos

Não dá para tampar

O sol com a peneira

E nos enganar

Se vê no olhar o que a boca não diz

Você não é feliz

Nem eu

 E é por isso que a gente não se entende mais

 E quando a gente transa

Amor já não faz

Essa é a razão da insatisfação

Tá faltando paixão

E aí nós ficamos brigando até mesmo na rua

 Eu saio arranhado e você seminua

E da última vez ainda temos sinais de lesões corporais

Você fica de mal comigo e com raiva da vida

Se cai na rotina

 Eu vou pra bebida

Será que a gente não se gosta mais

A gente quebra a monotonia, esbanjando baixaria

E o coração que se arrebente

A gente tá passando dos limites

Tantas mágoas, acredite

Não há amor que aguente “ 

Canção de Gilson e Joran , gravada por  Emílio Santiago

 

 

 

 

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