segunda-feira, 27 de maio de 2019


Neste belo alvorecer de sábado, em Sampa , pronto para sorver novos saberes profissionais na eterna novidade do mundo.
"Senta - te na borda da aurora,
Para ti se elevará o sol.
Senta - te na borda da noite, 
Para ti cintilarão as estrelas.
Senta - te na borda da torrente,
Para ti cantará o rouxinol.
Senta - te na borda do silêncio,
Deus te falará.
Vivekananda , Hinduísmo.

terça-feira, 21 de maio de 2019



As sombras da noite deste domingo do pé de cachimbo vão devagar engolindo a cidade , imitando a negritude que envolve este que vive sua segunda infância. 
Hora de relembrar Walt Whitman ( 1819 - 1892 ), poeta , jornalista e ensaísta americano com o poema " Aproveita o Dia " :
Aproveita o dia,
Não deixes que termine sem teres crescido um pouco.
Sem teres sido feliz, sem teres alimentado teus sonhos.
Não te deixes vencer pelo desalento.
Não permitas que alguém te negue o direito de expressar - te,
Que é quase um dever.
Não abandones tua ânsia de fazer de tua vida algo extraordinário. 
Não deixes de crer que as palavras e as pessoas sim podem mudar o mundo.
Porque passe o que passar, nossa essência continuará intacta.
Somos seres humanos cheios de paixão. 
A vida é deserto e oásis. 
Nos derruba, nos lastima , nos ensina ,nos converte em protagonistas de nossa própria história. 
Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua, tu pode trocar uma estrofe.
Não deixes nunca de sonhar, porque só nos sonhos pode ser livre o homem.
Não caias no pior dos erros: o silêncio. 
A maioria vive num silêncio espantoso. Não te resignes e nem fujas.
Valorize a beleza das coisas simples, se pode fazer poesia bela, sobre as pequenas coisas.
Não atraiçoes tuas crenças. 
Todos necessitamos de aceitação, mas não podemos remar contra nós mesmos.
Isso transforma a vida em um inferno.
Desfruta o pânico que provoca ter a vida toda a diante.
Procure vivê - la intensamente sem mediocridades.
Pensa que em ti está o futuro, e encara a tarefa com orgulho e sem medo.
Aprendes com quem pode ensinar - te as experiências daqueles que nos precederam.
Não permitas que a vida se passe sem teres vivido.
É a velha ideia romana do Carpe Diem , do poema de Horácio ( 65 - 8 s.C ).

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Nat King Cole no Brasil
Para a Dra. Rita Gonçalves.
Corria o ano de 1959 quando Nat King Cole ( 1919 - 1965 ) , visitou o Brasil para breves apresentações em São Paulo e no Rio de Janeiro. Era a política do Tio Sam de aproximação com os países de língua espanhola /portuguesa em plena Guerra Fria ( Rússia - Estados Unidos ). O gigante de ébano do Alabama , gravou num estranho portunhol, várias pérolas do cancioneiro sul-americano.
Sob a luz baça de um poste no cruzamento das ruas Rodrigues Júnior e Pero Coelho , ouvi o som de uma eletrola gemendo na casa de um casal sem filhos - Sr. Ernani e Dona Altair - a voz romântica de Nat King Cole :
"Ansiedade/de ter - te em meus braços/murmurando palavras de amor/ansiedade/de ter os seus encantos/e tua boca voltar a beijar/quem sabe estão chorando/meus pensamentos/as lágrimas são pérolas/que caem no mar/o eco adormecido /desse meu lamento/te faz estar presente/no meu sonhar/quem sabe estás chorando/ao recordar - me/ e aperte o meu retrato com frenesi/e chega ao teu ouvido/a melodia selvagem/ que é toda a tristeza de estar sem ti "
Letra da composição " Ansiedad" , em tradução livre.
"Quero chorar, não tenho lágrimas/ que me rolem na face/para me socorrer/se eu chorasse, talvez desabafasse/o que sinto no peito e não possa dizer/só porque não tenho lágrimas/eu vivo triste a sofrer/confesso que o riso não tem nenhum valor/a lágrima sentida é um retrato de uma dor/o destino assim quis/de mim te separar/eu quero chorar , não posso/e vivo a implorar"
Composição " Não tenho lágrimas " da autoria de Milton de Oliveira ( 1916 - 1986 ).
"As suas mãos, onde estão?/onde está o seu carinho?/onde está você?/se eu pudesse buscar/se eu soubesse aonde está/seu amor , você/um dia há de chegar/quando eu não sei/você vai procurar/onde eu estiver/sem amor , sem você "
Composição "Suas Mãos " da autoria de Antônio Maria ( 1921 - 1964 ) , jornalista , cronista e boêmio, onde o menino - grande pernambucano expõe sua eterna solidão e que findou, belamente, morrendo de amor . Amém!

segunda-feira, 13 de maio de 2019



Para Jurema Eleutério e Para Todas as Mães  
"Por que Deus permite
Que as mães vão - se embora ?
Mãe não tem limite,
É tempo sem hora,
Luz que não apaga 
Quando sopra o vento               
E chuva desaba, 
Veludo escondido
Na pele enrugada,
Água pura , ar puro,
Puro pensamento.
Morrer acontece
Com o que é breve e passa
Sem deixar vestígio. 
Mãe, na sua graça, 
É eternidade.
Por que Deus se lembra
- Mistério profundo -
De tirá - la um dia ?
Fosse eu Rei do Mundo,
Baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
Mãe ficará sempre 
Junto de seu filho
E ele, velho embora ,
Será pequenino
Feito grão de milho ."
Para Sempre , da autoria de Carlos Drummond de Andrade ( 1902 - 1987 ) , do livro "Lição de Coisas ."
Querida mãe Jurema : seus filhos Rita , Diana , Stela , Eleutério Neto e Francisco , genuflexos rogam suas confortantes bênçãos .
Saudades !
Ferroviário Atlético Clube : 86 anos
Os operários da Rede Viação Cearense ( RVC ) que trabalhavam nas oficinas do Urubu, no bairro da Barra do Ceará, em Fortaleza na década de 30 do século passado , improvisaram dois times de futebol de poeira , o Matapastos e o Jurubeba , nomes de ervas que medravam naquela região. Assim deu - se a origem da agremiação de futebol , o Ferroviário Atlético Clube, nascida no dia 9 de maio de 1933.
O cearense de Pacoti , Valdemar Cabral Caracas , destacado nome na história do desporto cabeça- chata , é o patriarca do time coral ou Tubarão da Barra. De início, o Ferroviário atuou na Liga Suburbana de Futebol , onde em 1937 , sagrou - se campeão. A partir de 1938 o Ferroviário passou a atuar na divisão principal do futebol cearense , a convite da Associação Desportiva Cearense ( ADC ).
Até os dias de hoje a trajetória do Tubarão da Barra mostrou - se permeada de retumbantes vitórias e feitos memoráveis:
Campeão Cearense : 1945 ; 1950 ; 1952 ; 1968 ; 1970 ; 1979 , 1988 ; 1994 ; 1995.
Vice - Campeão: 1940 ; 1942 ; 1946 ; 1947 ; 1949 ; 1951 ; 1953 ; 1955 ; 1960 ; 1963 ; 1967 ; 1980 ; 1981 ; 1982 ; 1983 ; 1989 ; 1996 ; 1998 ; 2003 ; 2017.
Copa dos Campeões Cearenses : 2019.
Em 1998 , deu - se a privatização da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima ( RFFSA ) que ocupará o lugar da antiga Rede Viação Cearense ( RVC) . A nova empresa passou a se denominar Companhia Ferroviária do Nordeste ( CFN ). Teve fim , de modo brusco , a ajuda financeira que time do Ferroviário recebia , há tempos , da RVC e RFFSA. Desde então, sumiram no horizonte os títulos do Tubarão da Barra e sua briosa " inchada coral " foi minguando. Aqueles torcedores de outrora enchiam os vagões sacolejantes de uma "Maria Fumaça " , sob a batuta da Dona Filó e do folclórico Zé Limeira , nos dias de jogos no interior do estado.
Tudo ficou na saudade , mas a fibra coral persiste e , aqui acolá , pregamos peças nos " Leões e Vovôs " da vida.
Nossas homenagens aos grandes atletas a quem tanto devemos :
Zé Dantas ; Caranguejo ; Babá; Aracati; Pipi; Manuelzinho; Nozinho ; Macaco ; Edilson José; Roberto Barra - Limpa ; Coca - Cola ; Edmar ; Mano ; Lucinho ; Aloísio Linhares; Hamilton Melo ; Pacoti ; Paulo César; Arimateia; Jacinto ; Mazinho ; Barrote ; Batistinha ; Naza ; Bruno Colaço ; Mota ; Andrei , dentre outros .
Ex - Dirigentes : Elzir Cabral ; Rui do Ceará; José Rego Filho.
Aí é Ferrim , meu filho!
Parabéns , Tubarão da Barra!
Ciganos em Fortaleza nos Anos 60
Despertou - se o adolescente sonhador Chico Barrâo no breu da noite e ficou colado ao postigo , saboreando o tilintar compassado do trote de cavalos , chapinhando o chão defronte à porta em busca do Campo do América, ali perto do sofrido Riacho Pajeú. Barracos de lona saltaram do chão como num passe de mágica. Uma sanfona chorou enquanto reinou a escuridão com uma melodia plangente de cortar coração, bem diferente de nosso forró pé de serra. 
Uma gente bizarra , colorida e festeira tomou conta do sonolento bairro da Aldeota , em Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.
Era uma leva de ciganos vindos , sei lá , dos confins do mundo, nômades, com ouro escorrendo pelo corpo , cartomantes, quiromantes e , especialmente, cabras que não levam desaforo para casa.
Muito bem , naquele agrupamento em Fortaleza , o curioso adolescente Chico Barrâo, dispõe- se a jogar sua minguada mesada , destinada a compra da Revista Rim- Tin- Tin, na prática da quiromancia . Apresentou - se à figura de um belo exemplar de mulher , cabelos negros presos num coque , olhos pecadores, rosto rabiscado com uns lábios carnudos e , exageradamente rubros. Ao lado dela , vigilante e severo , um homem vestido com roupa preta , bulindo no leito das unhas com um punhal longo e brilhante.
Chico Barrâo entregou trêmulo a mão para a bela cigana :
- " Filhinho, vejo um vermelho de sangue e fogo no seu futuro brilhante, com você se projetando como um garboso bombeiro ou um médico curando feridas de almas irmãs, ou mesmo um rubro comunista. Não puxe a mão, criança apressada , pois vem agora a melhor notícia, bobinho : você vai atear fogo , como um Nero na velha Roma, em muitos corações femininos por este mundo afora. "
O jovem fazia ouvidos de mercador , absorto que estava, na visão de duas mangas ali à vista , querendo saltar da blusa tomara - que - caia da ardente cartomante :
" A manga rosa, Maria Rosa /Rosa ,Maria ,Joana /peitos gostosos ,Rosa dos doces/mana, mama, mamãe/teu sumo escorre de minha boca/entra aberta a porta/ por onde entra e por onde sai o mundo/balança a fronte farta mangueira/e mata a fome , morto, morto a fome/ou mata imensa , mata.../nestes floreados cachos/de verde amarelou/maduro fruto/que pro nosso gozo vem/amem, mamem, amém. "
Composição musical Manga - Rosa da autoria do menestrel cearense Ednardo.
Chegando em casa , num êxtase, ardendo em febre interna , o jovem com o peito estufado "mode" um comunista, detonou , alegando:
"- Mãe, passei a noite sonhando a trabalhar como um soldado do Corpo de Bombeiros num daqueles carros barulhentos , sendo um comunista daqueles que comem criancinhas e amando todas as mulheres do mundo. E tem mais , não vou ficar queimando as pestanas em livros técnicos e findar com um salário de fome, numa repartição pública qualquer. "
Não deu nem tempo de terminar o panfletário discurso e o moleque desapareceu debaixo de uma surra de cinturão para acordar do destrambelhado sonho vermelho :
" - Você pensa que eu vou aturar umas sirigaitas enchendo um filho meu de doenças do mundo , como Mula, Esquentamento e Crista de Galo ? Você não tem fígado de fazer uma coisa vergonhosa dessas com sua pobre mãe ! Prefiro a morte !
Dias depois , quando os ciganos partiram com destino desconhecido, Chico Barrâo, montado num ginete abraçado com uma princesinha , Margarida , rindo e cantando melodias flamencas ,fugiu de casa .
Durou pouco a aventura e logo aparece de farol baixo , solitário, o adolescente Chico, aprontando os couros para outra sova , e o pior , ameaçado pelos pais , para um internanamento no famigerado Santo Antônio do buraco , nas cercanias de Fortaleza .
Cruz , Credo !

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Praia do Futuro I

"Duna branca , lua imensa, Maria deita/ nua e branda como as nuvens que a lua enleita /duas tranças, uma flor e Maria enfeita/suas mansas curvas cheias que a areia aceita/era noite de verão/vi o amor nascer num sorriso seu/o luar me convidou/o mar nos temperou e ela me envolveu/nessa rede ela prendeu/ minha doce vil , minha solidão/nessa rede vi nascer minha liberdade/ tua rede, minha sede/e o amor te trouxe/quero ver o mar salgando teu seio doce/e em cadeias de amor puro /viver guardado/joga areias do Futuro no meu passado"
Canção Maria do Futuro, da autoria de Taiguara ( 1945 - 1996 ) , menestrel nascido , ocasionalmente , em Montevidéu, e que viveu no Rio de Janeiro. Rabiscou estes mimosos versos nas areias da praia como um Anchieta moderno .
A Praia do Futuro I nas décadas de 60 e 70 do século passado, encontrava - se ao leste de Fortaleza , com início nos bairros do Mucuripe e Cais do Porto indo até as imediações do Clube de Engenharia.
Na área , além das dunas brancas que serviam aos encontros amorosos , pululavam, formando um colar na orla marítima , várias barracas como :
Balanço do Mar ; Bola Branca ; Bariloche; Mandacaru ; Chez Pierre ; Kabuletê , dentre outras. Ali todas as noites rolava música ao vivo com a ala brega da MPB. Compunham o escrete :
Waldick Soriano , Wando, Odair José; Benito di Paula ; Nelson Ned; Lindomar Castilho ; Agnaldo Timóteo ; Paulo César ; Cláudia Barroso ; Carmen Silva e Reginaldo Rossi.
Esta turma da fossa vinha ocupar os lugares de gente boa da música dor de cotovelo como Anísio Silva , Nelson Goncalves , Orlando Silva , Carlos Galhardo e Orlando Dias.
" Eu não sou cachorro não/para viver tão humilhado/eu não sou cachorro não/para ser tão desprezado /tu não sabes compreender/quem te ama, quem te adora /tu só sabes maltratar - me/ e é por isso que eu vou embora/a pior coisa do mundo /é amar sem ser amado/ quem despreza um grande amor/não merece ser feliz/nem tão pouco ser amado/tu devias compreender/que por ti, tenho paixão/ pelo nosso amor ,/pelo amor de Deus /eu não sou cachorro não. "
Canção Eu não sou Cachorro Não, da autoria de Waldick Soriano ( 1933 - 2008 ).
" Hoje que a noite está calma/e que minh'alma esperava por ti/apareceste afinal/torturando este ser que te adora/volta , fica comigo/só mais uma noite/quero viver junto a ti/volta meu amor/fica comigo, não me desprezes/a noite é nossa /e o meu amor pertence a ti/hoje eu quero paz/ quero ternura em nossas vidas/quero viver por toda vida/pensando em ti."
Torturas de Amor , da autoria de Waldick Soriano.
A galera que ainda tivesse disposição naquela altura do campeonato, podia terminar a noite pegando o sol com a mão, ali pertinho, no aconchegante Bairro do Farol do Mucuripe, no famoso e inocente Forró da Bala.
E Queima Rapaziada !
Sobre o Envelhecer
"Entra pela velhice com cuidado
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertem lembranças do passado,
Sonhos de glória, ilusões de amores.
Do que tiveres no pomar plantado,
Apanha os frutos e recolhe as flores
Mas lavra ainda e planta o teu eirado
Que outros virão colher quando te fores.
Não te seja a velhice enfermidade !
Alimenta no espírito a saúde!
Luta contra as tibiezas da vontade!
Que a neve caia ! O teu ardor não mude !
Mantém- te , pouco importa a idade!
Tem cada idade a sua juventude "
Soneto "Envelhecer" da autoria do pernambucano Bastos Tigre ( 1882 - 1957 ) : Poeta, prosador , jornalista e bibliotecário.
"Velhice é quando o rio se prepara para converter - se em mar ... Ao meio - dia se faz trabalho e política. Ao crepúsculo se faz poesia ...
Quando o sol está a pino estas ideias não nos perturbam. Tudo parece estar bem. Tem muito tempo ainda. As rotinas do trabalho ocultam a nossa verdade. Mas elas não podem impedir nem que a tarde chegue, com suas cores de adeus, nem que o outono chegue , anunciando a proximidade do inverno. E eles nos forçam a ter pensamentos diferentes, pensamentos de solidão. São mestres silenciosos . Se prestarmos atenção e ouvirmos o que dizem, ficaremos sábios ."
( Rubem Alves - 1933 /2014 )
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