quinta-feira, 26 de dezembro de 2019



Viver o Natal 2019
"Viver
É abraçar as coisas e as pessoas
E depois soltá- las de novo,
Para que possam crescer e florescer
Na presença da face de Deus.
Viver
É ser grato
Pela luz e pelo amor
Pelo calor humano e pela ternura
Que aparecem nas coisas e nas pessoas.
Viver
É aceitar e olhar tudo
Como dádiva de Deus
Não ser dono de nada e de ninguém
E exultar por cada estrela que cai do céu "
Poema " Viver " da autoria da Irmã Adriana Rekelhof , do livro As Orações da Humanidade , da Ed.Vozes, 2018.
Um Feliz Natal para todos os queridos amigos e amigas do FB !

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Ação de Graças - Tomás de Aquino
"Meu Deus, em ti louvo, glorifico e bendigo
A clemência que há muito me espera,
A doçura que afasta o castigo,
A piedade que chama,
A benignidade que acolhe,
A misericórdia que perdoa os pecados,
A bondade que recompensa além dos méritos,
A paciência que não recorda a ofensa,
A condescendência que consola,
A longanimidade que protege,
A eternidade que me quer imortal,
A verdade que nutre a alma.
O que dizer , meu Deus, de tua inefável generosidade ?
Afinal , Tu me chamas quando fujo,
Tu me acolhes no retorno,
Tu me ajudas na dúvida,
Tu me ensinas no desespero,
Tu me estimulas quando sou negligente,
Tu me armas quando combato,
Tu me coroas quando triunfo.
Tu não me desprezas , pecador como sou, depois da penitência e não recordas a ofensa.
Libertas de muitos perigos,
Abranda - nos o coração e dirige -o à penitência.
Exortas com a beleza da criação,
Convidas com a clemência da redenção,
Prometes os prêmios da recompensa celeste.
Por todos estes bens
Não sou capaz de dignamente te louvar ."
Tomás de Aquino (1225 - 1274) , filósofo e teólogo italiano, o pensador mais influente do período medieval. Ele produziu uma poderosa síntese filosófica que combinou elementos aristotélicos e neo- platônicos dentro de um contexto cristão.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Viver Simplesmente
"Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós- próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex - votos aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer - te. A resposta
Está além dos deuses."
" Viver Simplesmente " da autoria do vate português Fernando Pessoa ( 1888 - 1935 ).
Num fim de tarde de domingo na Praça Rogério Fróes, em Fortaleza , pastoreando no céu um mimoso "rebanho de ovelhas " para um merecido repouso. Amém!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Fortaleza Menina - Moça
Praça Arquiteto Rogério Fróes , inaugurada em 11 de novembro de 1974 , no Bairro de Dionísio Torres, em Fortaleza. No momento passando por uma bela reforma para regozijo dos amantes da eterna musa cearense.
"Que coisas direi de ti, Fortaleza, se tantos já te cantaram em prosa e verso, e abriram o coração aos teus encantos, e louvaram com amor a tua face e te disseram tantos madrigais ?
Teu claro rosto e graça delicada inspiraram a formação de versos e serestas , e ficaste nas almas como uma valsa, iluminando mudas benquerenças. Ninguém jamais deixou de amar. Teu lirismo te segue como uma sombra. És bela e te embalas com as canções que chegam de teu mar. E nunca te apartaste dos mistérios que formam tua alma....
Ó cidade de ruas tão " alinhadas como os versos de um soneto !" Quem hoje vê tuas praças policrômicas, arranha - céus soberbos aviões cruzando o espaço, cinemas, parque de indústria, bairros florescentes e estações de rádio que enviam para longe tua voz ardente, nem pensará em teu itinerário lírico, em tua infância gentil, em tua aurora, nos claros tempos de teu amanhecer!...
Penso em ti, Fortaleza, em tuas cirandas e brincadeiras inocentes - a prenda , o anel, o santo, a cabra - cega - quando todos saiam à noite para as praças, ao encontro do luar...
Tudo isso, Cidade, imprimiu em tua alma esse sentido lírico que nunca te abandona, que te põe sempre romântica diante de nossos olhos. E foram muitos poetas que cantaram em teu louvor , compondo verdadeiros madrigais , exalçando tua graça de mulher em versos transbordantes de ternura.
Vem de muito longe o nosso amor por ti "
" Cancioneiro da Cidade de Fortaleza ", obra organizada pelo Príncipe dos Poetas Cearenses , Artur Eduardo Benevides ( 1923 - 2014 ), Edições Clã , 1953.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019



Vossa Excelência
Um famoso antropólogo, escritor e político mineiro foi contemplado com a admissão para a vetusta Academia Brasileira de Letras, a Casa de Machado de Assis , o querido Bruxo do Cosme Velho. No aguardado dia de sua posse naquele silogeu, o novo confrade , engalanado com vistosa indumentária dos imortais , acenou para um táxi.
Um motorista grisalho , com um riso aberto de poucos dentes , exclamou :
" - Vossa Majestade quer se dirigir para qual palácio?"
" - Olhe o respeito , meu velho !" , esbravejou a pomposa autoridade.
" - Desculpe , Majestade", retorquiu o humilde taxista .
" - Com toda esta pompa , imaginei tratar - se de um Rei ou de um Imperador ! "
Hoje em Pindorama , onze senhores de pesados trajes negros determinaram que só podem ser nominados pelos cidadãos comuns por "Vossa Excelência " , sob pena de arcar com prisão aqueles que ferirem tal norma.
Ah , Vaidade das vaidades !
Não sabem estes arrogantes senhores que todos somos filhos da terra , dela retiramos nosso sustento e no fim , nela dormiremos até o despertar de um novo tempo !
" Não fala com pobre , não dá mão a preto
Não carrega embrulho
Pra que tanta pose , doutor
Pra que esse orgulho.
A bruxa que é cega esbarra na gente
E a vida estanca
O enfarte lhe pega , doutor
E acaba essa banca.
A vaidade é assim, põe o bobo no alto
E retira a escada
Mas fica por perto esperando sentada
Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal
Todo mundo é igual quando a vida termina
Com a terra em cima e na horizontal "
Composição musical " A Banca Do Distinto " , da autoria do paraense Billy Blanco (1924 - 2011).

sábado, 16 de novembro de 2019



O Poeta/Médico Laurindo Rabelo

"O que fazes, ó minha alma !/coração porque te agitas?/coração, porque palpitas?/porque palpitas em vão ?/se aquele que tanto adoras/te despreza, como ingrato, /coração, sê mais sensato,/busca outro coração!/
Corre o ribeiro suave/pela terra brandamente/se o plano condescendente/ dele se deixa regar;/mas , se encontra algum tropeço/que o leve curso lhe prive,/busca logo outro declive,/vai correr noutro lugar.
Segue o exemplo das águas;/coração, porque te agitas?/coração, porque palpitas?/porque palpitas em vão?/se aquele que tanto adoras/ te despreza, como ingrato,/coração, sê mais sensato,/busca outro coração!/
Nasce a planta, a planta cresce,/vai contente vegetando,/só por onde vai achando/terra própria a seu viver;/mas , se acaso a terra estéril/ as raizes lhe é veneno ,/ela vai noutro terreno/ as raízes esconder.
Segue o exemplo da planta;/coração, porque te agitas?/coração, porque palpitas?/porque palpitas em vão?/se aquele que tanto adoras/te despreza, como ingrato/coração, sê mais sensato,/busca outro coração!
Saiba a ingrata que punir/também sei tamanho agravo/se me trata como escravo,/mostrarei que sou senhor;/como as águas, como a planta,/fugirei dessa homicida;/quero dar a um'alma fida/ minha vida e meu amor "
Poema " A Minha Resolução " , da autoria de Laurindo Rabelo.
Laurindo José da Silva Rabelo ( 1826 - 1864 ), nasceu e morreu no Rio de Janeiro. De origem humilde , mestiço, teve uma vida prenhe de sacrifícios. Cursou o Seminário São José e a Escola Militar . Ingressou , posteriormente na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro e graduou - se na Bahia. Casou - se com a Sra. Adelaide Luiza Cordeiro e não deixou descendentes.Faleceu aos 38 anos de idade em decorrência de uma doença cardíaca.
Foi um médico, professor , boêmio e poeta popular , de cunho amargo e pessimista. Pertenceu à Academia Brasileira de Letras , Cadeira 26.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Saudades de Capistrano de Abreu

João Capistrano de Abreu, historiador e geógrafo brasileiro, nasceu a 23 de outubro de 1853, no município de Maranguape, no Ceará, e faleceu a 13 de agosto de 1927, no Rio de Janeiro. Filho primogênito do casal Jerônimo Honório de Abreu e Antônia Vieira de Abreu.
Cumpriu seus estudos em Fortaleza e Recife , e depois migrou para o Rio de Janeiro, onde triunfou com galhardia num rigoroso concurso para lente do tradicional Colégio Pedro II, na disciplina de História, no ano de 1883.
Bem moço ainda , dotado de notável inteligência e inveterado estudioso, logo despontou nos estudos da Historiografia , Corografia e Etnografia. Foi , com efeito, o maior historiador brasileiro, intérprete arguto e crítico penetrante dos fatos de nossa formação histórica. Na sua opulenta bibliografia cabe destacar :
O Descobrimento do Brasil (1929 ),
Capítulos da História Colonial ( 1934 ),
Caminhos Antigos e Povoamento do Brasil ( 1930 ),
Ensaios e Estudos ( 1931 ),
Correspondências ( 1938 ).
Capistrano de Abreu , uma vez convidado para fazer parte da Academia Brasileira de Letras, declarou, escusando - se, que a única sociedade de que fazia parte era o gênero humano, e isso mesmo porque não podia demitir - se. Os livros que deixou constituíram para ele , simples notas de uso pessoal, de que , pode - se dizer , os amigos se apossaram . Ele, por sua vontade, os teria destruído a todos, para que não ficasse na terra vestígio algum de sua passagem .
" Eu proporia que se substituíssem todos os capítulos da Constituição por : - Artigo Único: todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara !" , vaticinou certa feita o nobre cearense.
Em Pindorama , nos nebulosos dias hodiernos , um dos pilares fundamentais da Democracia , soçobra sob a batuta de vetustos senhores que em nome de uma deusa , ora cega, surda e manca, impõem duras penas aos pobres e desvalidos cidadãos. Em contrapartida , acariciam com mimos uma corja de ricos malfeitores , a troco de um aliciante tilintar de moedas de ouro.
O povo pacato e ordeiro assiste, bovinamente , o afundamento de Pindorama num mar de lama e petróleo, já ouvindo o rufar dos tambores da Batalha Final do Armagedom !
Acorda , Pindorama !

segunda-feira, 4 de novembro de 2019


Não possuímos a vida ; ela nos possui
Nossa mente / corpo e toda a parafernália da tecnologia disponível não controlam tudo na Natureza. A única certeza é que não temos certeza nesse " mundo flutuante " dos antigos e no " mundo líquido " de Zygmunt Bauman ( 1925 - 2017 ).
" Aquele que deseja tomar o mundo e assim age, eu já vejo, não o conseguirá. O mundo é um recipiente espiritual , nada se pode fazer ! Quem age , ele o derrota.
Quem agarra, perde - o. Portanto, o Sábio nada faz, por isso nada o derrota, Nada agarra e por isso nada perde.
Por essa razão, as coisas pode ser que caminhem, pode ser que acompanhem ; pode ser que suspirem , pode ser que soprem seco; pode ser que sejam poderosas, pode ser que sejam frágeis; pode ser que sejam subjugadas, pode ser que sejam destrutivas. Portanto , o Sábio remove o muito, remove a extravagância, remove o extremo " ( Tao- Te- Ching).
Viver é mudar , adaptar - se , aproveitar cada etapa da vida e não ir contra as leis da Natureza !

Vejo o manto desta noite de domingo de novembro, iluminado por artefatos humanos, num raio de luminosas lágrimas, comemorando a chegada de Papai Noel num certo recanto de Fortaleza. Aqui no meu pequeno mundo fico a cismar condoído com pequenas crianças seminuas , deitadas em calçadas ou debaixo viadutos, exatamente , como o Menino Jesus na sua manjedoura de Belém.
"Dos berços de linho e seda/aos ninhos de palha podre,/onde houver uma criança ou um coração de criança/aí será o meu Natal./ Não no coração dos ricos que me exploram /que me ofendem, que me ignoram/ que me vendem quando aos pobres fazem mal;/não nas mesas dos tiranos, dos perversos, dos falsários,/ dos que matam, dos que enganam/ dos que abusam dos ingênuos para os fins mais desumanos/ como as guerras que se tramam com as armas mais letais;
Não nos corações malditos que me compram , que me escambam, / que me afligem nos aflitos/ e perseguem aos que eu amo: estes não terão Natal./ Meu Natal é dos humildes, é o Natal das lavadeiras,/dos porteiros, dos mendigos/dos policiais, dos serventes,/dos garis ,dos faxineiros, das enfermeiras que velam, / das professoras que educam, dos salva - vidas que salvam/dos que criam, dos que zelam pelos velhos que caducam:/ estes sim , terão Natal. Meu Natal é dos que sofrem; / dos doentes incuráveis; das amadas esquecidas; dos loucos irresponsáveis e das crianças perdidas.
Meu Natal é dos que lutam para viver nas cidades,/nos sertões despovoados , nas casas e nos casebres,/ nos abrigos e orfanatos, nas pocilgas e masmorras, / nos hospícios e hospitais, nos porões e albergues, / nas celas dos condenados, nas celas dos consagrados/nos berçários, nas igrejas, nas falas dos namorados/ nos presentes , nos brinquedos, mas sobretudo no homem, sim, nos filhos das mulheres.
Onde houver uma criança ou um coração de criança, /aí será meu Natal. Estarei por toda parte : nas penas dos que trabalham,/ nas portas das que se vendem, nas lágrimas dos que choram,/nos corações dos que cantam, nos olhares dos dementes./nos beliches e nas redes, nas esteiras e nas camas,/ sob os tetos, sob as pontes, sob as pedras, sob as luas /nos seios das que amamentam, nos ventres das que me esperam,/ na angústia das que me abortam, / no esquife das que morreram , onde houver uma criança,
Aí será meu Natal "
Meu Natal ( Paulo Gomide - 1912 - 1982 ).

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

A Felicidade Infantil no Ar


"Não compreendo como se pode passar junto a uma árvore, e não ser feliz em vê - la; falar com um ser humano, e não ser feliz de amá - lo. E quantas coisas belas há a cada passo; mirai uma criança , uma aurora de Deus, mirai os olhos que os miram e os amam "
Fiódor Dostoiévski ( 1821 - 1881 ).
Ana Lis, minha filha , você é A Felicidade Infantil no Ar !

quinta-feira, 24 de outubro de 2019



Mano Alencar x Arte Final
Nascido no território místico de Juazeiro do Norte , Ceará, no ano de 1959 , inquieto , plural, um eterno menino grande, vivendo entre traços e cores. Eis o policrômico Mano Alencar : pintor , escultor, poeta , compositor que andou pela Europa , França e Bahia , iluminando e vertendo sua emoção em traços instigantes.
Neste recente trabalho Belchior estilizado e multicolirido, Mano Alencar , presta uma homenagem ao grande trovador rapaz latinoamericano.
"Os aventureiros , os anarquistas, os artistas ?
Os sem - destino, os rebeldes experimentadores?
Os benditos malditos, os renegados, os sonhadores ?
Esperávamos os alquimistas, e lá vêm os arrivistas, os consumistas, os mercadores.
Minas , homens não há mais ?
Entre o céu é a terra não há mais nada
Do que sex, drugs and rock'n'roll?
Por que o "Adeus às armas"?
"Não pergunte por quem os sinos dobram . Eles dobram por ti"
Ora , senhoras; ora, senhores !
Uma boa noite ilustrada de neon pra vocês.
O último a sair apague a luz azul do aeroporto.
E, ainda que mal pergunte :
A saída será mesmo o aeroporto ?"
Composição musical " Arte - final " , da autoria de Belchior ( 1946 - 2017 ) que integra o Álbum Elogio da Loucura ( 1989 ).

Não pode mirar a lua sem calcular a distância.
Não pode mirar uma árvore sem calcular a lenha.
Não pode mirar um quadro sem calcular o preço.
Não pode mirar um menu sem calcular as calorias.
Não pode mirar um homem sem calcular a vantagem.
Não pode mirar uma mulher sem calcular o risco.

" Janela sobre um homem de êxito " do mago Eduardo Galeano (1940-2015), retirado do livro " As Palavras Andantes" - 1993.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Pepitas de Ouro Beijando o Chão

Neste domingo do pé de cachimbo , a avenida Virgílio Távora, no coração da " Loira Desposada do Sol " do boêmio Paula Ney (1858 - 1897) abriu os olhos com um tapete de pepitas clorofiladas , doirando o chão e beijando o mesmo ouro negro que está a agredir hoje boa parte do bucólico litoral nordestino.
E , até então, não se sabe quem foi o espírito de porco que cometeu tal crime ambiental.
Ah ! , o bicho - homem !
"Contemplo o Rio que corre parado
E a bailarina de pedra que evolui.
Completamente sem metas , sentado,
Não tenho sido : eu sou ; não serei, nem fui.
A gente quer ser , mas, querendo , erra;
Pois só sem desejos é que se vive o agora.
Vêde o pé do ypê: apenasmente, flora:
Apenso ao pé da Serra "
Composição musical " Ypê " da autoria de Belchior (1946 - 2017) que integra o Álbum Objeto Direto (1980).

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Aos Queridos Mestres da Vida




"Vem cá, filho meu, disse- me minha mãe um dia. Quero que respondas com honestidade uma questão importante que vou arguir. Quero saber neste momento se algo justifica que tenhas desejado ser professor.
Diz - me , filho: se Deus te dera a ventura de voltar a nascer novamente, o que gostarias de ser ?
- Serias sacerdote ?

- Creio em Deus, mãe, não nego sua existência, porém minha forma de sentir é tão débil que prefiro ser outra coisa.
- Provavelmente serias um médico?
- Os doutores, mãe, são seres que escolheram a missão mais difícil na vida, cuidar e preservar a vida humana. Bela profissão, porém não a desejo.
- Então, engenheiro ?
- Também, não, mãe, creio que jamais tenha pensado em laborar transformando matérias inertes em possíveis Torres de Babel. Engenheiro, jamais !
- Agora, se bem atinares, serias poeta , não?
- Que mais quisera eu , querida mãe, porém meu pensamento é tão torpe e minha pena tão débil que as musas do parnaso de mim fugiriam !
- Então, advogado ?
- Para ser advogado necessitaria a obstinação de um Quixote e a sensatez de um Sancho Pança. Ser advogado seria demais para mim. Se Deus me dera a dádiva de nascer novamente, tornaria a beber para aplacar a minha sede, a água de um regato , tornaria a dormir sob a copa de uma árvore, cansado , mas feliz, com um livro debaixo do braço. Voltaria a escutar vozes infantis, respondendo presente a minha chamada. Sim, mãe, ainda que houvesse mil e uma profissões, se Deus me dera a ventura de voltar tudo de novo, não duvide, mãe, eu tornaria a ser um simples professor ".
Maternidade Dr. João Moreira
Um Eterno Agradecimento

Em Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, uma singela Casa de Saúde situada numa área central da cidade, ao lado da Praça da Lagoinha , dava abrigo a uma grande maternidade que acolhia pacientes em transe de parto ou de aborto : Maternidade Dr. João Moreira , a querida " Moreirinha ", parte integrante do Hospital Dr. César Cals , naqueles idos de 70 do século passado. Alunos graduandos de medicina da UFC recebiam de nobres obstetras e de parteiras de primeiro quilate noções de como se conduzir diante daquelas benditas filhas de Deus. Os nossos anjos da guarda , as parteiras Chaguinha , Chicuta , Bandeira , Nilse , Mozarina , Vilanir, Salete e Zefinha, ajudavam os alunos a segurarem os bebês que ensaboados deslizavam pelo canal de parto. Era o saber popular prestando conta à ciência organizada e seus doutores.
A " Moreirinha " atendia indigentes , criaturas desprovidas de quaisquer recursos financeiros, como empregadas domésticas, mães solteiras desgarradas da família e outras , vindas de todos os rincões do Ceará.
Os obstetras de plantão, quase, invariavelmente , do gênero masculino , só eram acionados para executar procedimentos cirúrgicos como parto a fórceps ou cesárea. O diretor da maternidade à época era um grave senhor, sempre com um cachimbo a fumegar , portando uma intrigante casmurrice. Assim se apresentava o Dr. José Carlos Ribeiro , CREMEC número 1, uma nobre figura humana que amava seus pequenos aprendizes da arte de partejar.
Fica meu preito de gratidão aos seguintes obstetras , queridos mestres daquela maternidade:
Antônio Ciríaco de Holanda Neto (Chefe de Clínica) , Juarez de Souza Carvalho , Mário Noleto Guimarães, Francisco Tavares Teixeira, Onildo Gusmão, Ormando Rodrigues Campos , Wilson Moreira , Francisco Pereira dos Santos , Arnaldo Afonso Alves de Carvalho , João Alberto Gurgel do Amaral , Laerte Colares, José Aluízio da Silva Soares e Juraci Jesuíno da Silva.
Fiquem certos , caros mestres , o material que os senhores me ofertaram, sem nada me cobrar , continua a me iluminar , e vai comigo , bem junto ao peito , por todo o sempre.
Que Deus os abençoe !

segunda-feira, 14 de outubro de 2019



Cuidar do Homem

"Cuidar do homem/Cuidar do homem /solução, rima , Raimundo/é chegado o fim de tudo/e o mundo pode acabar/de tanto ver, fiquei cego;/surdo de tanto escutar/ ainda me sinto gente/mas não posso respirar/ tem veneno em toda terra/mil fumaças pelo ar/não tem pássaro nem bicho/ e monte líquido de lixo/ se tornou água do mar/.
Para quem pensava que Hiroshima, meu amor/tinha sido exemplar/ a Bomba N , a de Hidrogênio/a Bomba Atômica/ só quem não tem nenhuma simpatia pela raça humana/ pode insistir num desrespeito/ tão flagrante ao direito de existir/talvez se esses caras tivessem/ uma bela dama, um amor puro /fizessem fama sobre a cama/ como autores do futuro/ por isso, enquanto esses dementes/ tomam por amantes bombas e usinas/ eu canto, eu danço, eu fumo , eu bebo / eu como , eu gozo com essas meninas/ e se você vier com essa : que sou ingênuo, artista louco/ digo - eu concordo/ eu pinto, eu bordo, eu vivo muito/ e ainda acho pouco/ por isso é sempre novo afirmar : não faça a guerra , faça o amor/ ... e viva a vida e seus instintos no poder da flor "/
Composição " Cuidar do Homem " da autoria de Belchior (1946 - 2017) que integra o Álbum Objeto Direto (1980).
Hoje, bolotas de betume invadem silenciosamente o litoral do Nordeste de Pindorama. Qual a origem desta mancha negra ? Sem dúvida , a ganância do bicho - homem que sonha com a esperança do Eldorado , o tal bilhete premiado que leva ao passaporte do futuro. Convenhamos , um sonho que pode se tornar um dantesco pesadelo.
"O segredo para colher da existência a maior fertilidade e a maior satisfação é - viver perigosamente ! Construam as suas cidades nas vertentes do Vesúvio! Enviem seus navios a mares inexplorados! Vivam em guerra com os seus iguais e consigo mesmo ."
( Friedrich Nietzsche- 1844 - 1900 ).

domingo, 6 de outubro de 2019

Vossa Excelência - Saudades de Rubem Alves

" Havendo os deuses tornado conhecida a sua decisão através da voz do povo - "Vox populi , vox dei" - ,permito- me sugerir uma pequena contribuição para o saneamento de nossas práticas políticas. E vou fazê- lo baseando- me numa experiência que tive quando representante dos professores titulares no Conselho Diretor da Unicamp. Caipira, sem estar familiarizado com as etiquetas do mundo acadêmico, assombrou- me o uso que se fazia da palavra " magnífico ", magnífica palavra que eu emprego para me referir a um pôr- do- sol, à floresta amazônica, à Nona Sinfonia. No Conselho Diretor, entretanto, usava - se essa palavra magnífica para se referir ao reitor: "magnífico reitor " , " vossa magnificência " . O que me causava espanto era o fato de que ninguém julgava estranho que, pelo uso dessa palavra, se colocasse o reitor junto ao pôr- do- sol ,à floresta amazônica e à Nona Sinfonia. Aí puseram na minha cabeça que eu deveria me candidatar ao cargo de reitor. Por alguns dias brinquei com a ideia . Mas logo percebi que não daria certo. Mas durante meu período de insanidade escrevi a primeira portaria que eu baixaria: "No uso de meus poderes de reitor decreto que está vedado o uso de "magnífico" e "vossa magnificência " no tratamento ao reitor.
Minhas razões eram simples. Se um professor usasse a palavra "magnífico" em relação a mim, haveria somente duas possibilidades. Primeira possibilidade: o professor que assim o fizesse realmente acreditava na minha magnificência. O que seria prova cabal de sua debilidade mental. Deveria ser demitido. Segunda possibilidade: o professor estaria usando a dita palavra sem acreditar na minha magnificência. Nesse caso ele estaria usando por gozação, o que é inadmissível. Teria de ser demitido por atentado ao pudor acadêmico.
As palavras são perigosas. De tantas vezes repetidas acabarmos por acreditar nelas. Veja o caso do Congresso: os congressistas usam a expressão " Vossa Excelência " para se dirigirem uns aos outros. Um homem dirigiu - se a Jesus chamando- o de "bom ". Ele respondeu. "Por que me chamas bom ? Bom há um só, que é Deus". Pois nossos parlamentares não se contentam em serem tratados por " bom" nem por" muito bom " nem por " excelente ". Tem que ser " excelentíssimos"....
Dada a gravidade da posição que ocupam não se passa pela cabeça que qualquer um deles use essa por gozação. Eles têm de acreditar na sua própria excelência e na excelência dos outros.
Meditando sobre essa expressão compreendi a razão por que os deputados acusados de corrupção foram absolvidos por seus colegas. Se eu acredito que meu colega deputado é excelentíssimo e assim o trato, como poderei condená - lo por corrupção? Se eu o condenar estarei confessando que , ao usar a expressão " Vossa Excelência " , eu estaria mentindo. Um " excelentíssimo " jamais é corrupto.
Proponho, então, que por motivos de pudor e modéstia, os deputados e senadores sejam proibidos de usar a expressão " Vossa Excelência " ao se referir aos seus colegas. Deve bastar - lhes , como representante do povo, ser tratados como o povo é tratado. Sei que terei pelo menos um deputado que apoiará minha proposta: o Clodovil. Ele jamais aceitaria ser tratado por " Vossa Excelência ". Para ele o tratamento terá de ser " Vossa Belezura ".
Crônica " Vossa Excelência " , publicada na Folha de S. Paulo , em 31 de outubro de 2006 , da autoria de Rubem Alves ( 1933 - 2014 ) : psicanalista , educador , teólogo, escritor e pastor presbiteriana brasileiro. Quanta falta nos faz !

terça-feira, 24 de setembro de 2019



Sensatez , de Lao Zi


" Eram quatro homens instruídos e talentosos , sendo três deles particularmente brilhantes. O quarto mostrava - se inferior aos outros em intelecto , mas portava uma arma poderosa , a sensatez. Caminhando numa estrada deserta, encontraram o esqueleto de um leão.
" Vamos fazer este rei da selva voltar à vida " , sugeriu o primeiro.
" Sim , isto nos trará uma grande fama e fortuna", concordaram o segundo e o terceiro.
O quarto disse : " Se vocês trouxerem este leão de volta à vida , ele , fatalmente , vai nos atacar e devorar a todos" .
Os três outros seguiram o plano inicial : colocaram carne nos ossos , sangue nos vasos , e estavam prestes a inspirar o alento da vida no bicho selvagem.
" Devíamos pensar na segurança " , verberou o quarto.
"Desse modo , vou subir numa árvore , pois seguro morreu de velho ".
Os outros três seguiram com o plano inicial. O leão voltou à vida e matou os três sábios. O único que escapou com vida foi aquele que tinha manifestado bom senso ".
Tao Te Ching ( O Livro do Caminho e da Verdade ) , de Lao Zi ( O Velho Mestre ) , entre 350 - 250 a.C.
Hodiernamente em Pindorama, um provecto senhor de 88 anos , ideologicamente , um verdadeiro filho híbrido de Marx com a Coca - Cola , e que outrora reinou neste sofrido pedaço de chão sul-americano, vem mostrando uma brutal insensatez, em passeio pela Velha Europa , com sua verborragia típica , tentando atear fogo em Pindorama.
Não vai conseguir , posto que , poucos o ouvem ou entendem ! Amém!
Tempo de plantar afeto
Um bem- estar infinito esta alegria de se mover em direção à liberdade interior, à bondade amorosa e à compaixão para com outros seres sencientes. Ana Lis , minha filha , ofertando o néctar da vida a dois passarinhos nascidos há poucos dias em nossa casa e que , se Deus quiser , logo mais retornarão ao aconchego da Natureza em gozo de plena liberdade.
"Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu.
Tempo de nascer,
E tempo de morrer;
Tempo de plantar,
E tempo de arrancar a planta.
Tempo de matar,
E tempo de curar;                                         
Tempo de destruir,
E tempo de construir.
Tempo de chorar,
E tempo de sorrir;
Tempo de gemer,
E tempo de bailar.
Tempo de atirar pedras,
E tempo de recolher pedras;
Tempo de abraçar,
E tempo de se separar."
Eclesiastes ( 3 , 1 - 5 ).

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

À ESTRELA

"Até à estrela que reluz
Há uma distância de trespasse
Correu milênios sua luz
Para que enfim nos alcançasse
Talvez há muito já se fora
No longe azul o extinto astro
Porém seus raios só agora
Ao nosso olhar mostram seu rastro
A aura da estrela que morreu
No alto do céu se faz dar fé.
Era, e ninguém a percebeu,
Hoje que a vemos já não é.
Também assim a nossa dor
Na abissal noite se finda.
Porém a luz do extinto amor
Os nossos passos segue ainda "
Poema À ESTRELA, da autoria de Mihai Eminescu ( 1850 - 1889 ) , gênio poético nascido na Romênia. A magistral tradução faz- se por conta do poeta cearense de Limoeiro do Norte , Luciano Maia , nascido a 7 de janeiro de 1949.
Cônsul Honorário da Romênia em Fortaleza. Professor da Universidade de Fortaleza. Mestre em Literatura pela UFC. Ocupa a Cadeira 23 da Academia Cearense de Letras.
Publicou , entre outros , Jaguaribe - memória das águas, 1994 ; Seara , 1994 ; Nau capitânia, 1987 ; Rostro hermoso, 1997.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019



Um Momento Breve de Felicidade
Contemplando a maré cheia no Porto das Dunas num exultante trabalho mental . Reverencio , este sim , o pulmão do mundo , de onde provém 54,7 % de todo o oxigênio da terra , através das algas marinhas. A Amazônia hoje tão em voga , ardendo em falácias, contribui com apenas 2 % do total do oxigênio de nosso minúsculo planeta azul.
" Um fazendeiro sentiu a morte próxima e chamou os filhos para contar um segredo. 
- Meus filhos , eu vou morrer. Quero dizer que no nosso terreno há um tesouro escondido. Se vocês cavarem, vão encontrar.
Logo que o pai morreu, os filhos pegaram pás e ancinhos e reviraram o terreno de todo jeito procurando o tesouro. Não acharam nada, mas a terra trabalhada produziu uma colheita nunca vista. " ( Esopo - 621 - 565 a.C ).
Todo mundo sabe do grande tesouro existente acima e abaixo do uberoso solo que representa a Amazônia. A interferência indevida de aves de rapina de uns pequenos burgos do Velho Mundo , com o apoio de certa imprensa marrom, mancomunada com alguns maus brasileiros jogam fogo num paraíso que é meramente Verde e Amarelo , um patrimônio nosso.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019



O Poeta Caetano Ximenes Aragão
"Por profissão 
Sou íntimo da morte
Por mais intimidade 
Que tenhamos
Ainda somos 
Dois desconhecidos
Crepitâncias
Subcretitâncias 
Preamar
Maré montante
Dispnéia 
Espuma escarlate
Rompe os alvéolos
Lívida é a face
O homem é um cubo
De gelo
Alguém desligou
A central de oxigênio
O sol
O vento
O mar
Acariciavam seu corpo
De repente
O olho verde hipnótico 
Elabora a canção dos afogados
Azul era seu corpo
Loiros os seus cabelos
Que escorriam como cachos de mel
Uma nuvem cobre o rosto do sol
E o vento sumiu - se na síncope
Boca a boca
Intermitente
Beijo da vida
Na morte
Asfixia azul
Cais dos astronautas
Caminho orbital
À procura de ômega
Alguém desligou 
A central de oxigênio
O útero se contrai 
Em nebulosas
Uma vida rompe 
O ciclo da morte
A morte rompe 
O ciclo da vida.....
Tórax de bronze 
Cavernas pré- históricas 
Escavadas
Nos pulmões de pedra
De sabão 
Onde o sangue imemorial
Irrompe nas alamedas
Brônquicas 
E vomita a grande flor
Da fome secular
Alguém desligou
A central de oxigênio ...
Por profissão 
Sou íntimo da morte 
Por mais que me aproxime
Ou me afaste
Mais próximo 
Estou 
Do grande dia
Que alguém desligará
Minha central de oxigênio "
Excertos de um poema da autoria de Caetano Ximenes Aragão ( 1927 - 1995 ) . Poeta nascido em Alcântaras , no Ceará . Graduado pela Faculdade de Medicina da Bahia e membro da Academia Cearense de Medicina onde ocupou a Cadeira Número 29.
Escreveu " O Pastoreio da Nuvem e da Morte " ; Romanceiro de Bárbara " ; "Sangue de Palavra"; " Canto Intemporal "; " Caetanias " .

terça-feira, 13 de agosto de 2019

 José Eleutério : Meu Querido Pai




No dia 15 de janeiro de 1915, na cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, dava bom - dia ao mundo , José Eleutério, que cedo migrou com seus pais para Fortaleza. O petiz José foi buscar conhecimento formal no Colégio Cearense dos Irmãos Maristas. Dali saiu para ganhar a vida num modesto posto de combustíveis localizado na Praça da Sé. Às custas de muito suor e lágrimas, sustentou ao lado de Jurema , minha santa- mãe , seus cinco filhos : Rita , Diana , Stela, Eleutério Neto e Francisco.

Quando a cidade cresceu , levou de roldão, o posto de combustíveis de meu pai. Que pena !A partir de então, meu querido velho morreu vezes sem conta , até a última, segurando minha mão num leito do Hospital Geral de Fortaleza.
José Eleutério, meu querido velho, poderia ter corrido a Europa, França e Bahia : não foi. Poderia promover a expansão de seu comércio: não o fez. Poderia ter esbanjado riqueza: não o quis.
O que quis e fez, com apurado capricho , foi confeccionar com as próprias calejadas mãos, de uma alvura ímpar, amparado pelo anjo Jurema , minha querida mãe, um ninho sólido, imune a tempestades, onde seus cinco filhos cresceram, criaram asas e tomaram um rumo certo neste mundão de meu Deus.
Queridos pais, José e Jurema , seus projetos filiais vingaram por obra e graça de vocês depois de tantos sacrifícios. E agora , seus filhos , humildes, no outono da vida, de braços dados , vivendo uma nova infância, dão glórias ao Senhor por tudo que a vida nos proporcionou. Depois que vocês dois se encantaram , amados pais, plantou - se uma imorredoura saudade entre nós .

Nada não, é por pouco ! Podem preparar um novo ninho , aureolado de algodão , na Mansão dos Bons e dos Justos, sabendo que ainda necessitamos muito de seus regaços e de suas benfazejas companhias.
E por último , mandem suas reconfortantes bênçãos e ,
Até breve !
 — em Praia Porto das Dunas.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019


UMA FÁBULA SOBRE CORVOS E BRUCUTUS

Um colegiado de estrambóticos corvos foi instalado com fins de julgar um parvo brucutu por claros distúrbios de comportamento, não condizentes com as leis vigentes, num certo burgo perdido nos confins do mundo, onde o cão perdeu as botas. A despeito de um rosário de provas contra o tal brucutu, comprometedores à beça, o veredito tem sido dado a favor do brucutu, inocentando, assim, o mesmo por excesso de provas. Vamos convir, algo ridículo e deveras patético!
 Opa! Os termos “à beça”, “à bessa”, “Abessa”, são citados de diversas maneiras por vários filólogos. O cearense e acadêmico Raimundo Magalhães Junior (1907- 1981) no Dicionário de Provérbios, Locuções, Curiosidades Verbais, Frases Feitas, Etimologias Pitorescas e Citações (1974), que nas páginas 10 e 11 explica:
“À bessa” representa o mesmo que abundantemente, com fartura, de maneira copiosa. A origem do dito é atribuída às qualidades de argumentador do jurista alagoano Gumercindo Bessa (1859-1913), advogado dos acreanos que não queriam que o território do Acre fosse incorporado ao Estado do Amazonas... Gumercindo apresentara argumentos tão esmagadores e tão numerosos, que logo se tornou figura respeitada nos meios forenses. Conta-se que certa vez um cidadão procurou o Presidente Rodrigues Alves para pleitear determinados favores e com a tal eloquência expôs suas ideias que o ilustre estadista teria observado: - O senhor tem argumento à Bessa... Com o tempo a maiúscula de Bessa desapareceu”
O certo é que o resultado do julgamento do brucutu em pauta, trouxe um mundo de incertezas e quase” ninguém entendeu patavina”.
 Opa! De onde vem a palavra “patavina”? Segundo Deonísio Silva em seu livro “A Vida íntima das Frases “, na página 151, patavina origina-se de Padova nome dado àqueles nascidos em Pádua, em latim, pataviua, logo transformado em patavina que significa não entender nada.
No final, o tal imbróglio deste inusitado julgamento pode terminar como” um tiro que saiu pela culatra”
Opa! Culatra vem de parte posterior da arma (cullata): um tiro para trás, ou contra a própria pessoa, ou seja, no próprio brucutu da história.
As coisas andam feias nestas ignotas terras e o povo precisa entender “tim – tim por tim-tim” o que está a ocorrer! O termo tim-tim diz respeito a uma onomatopeia criada para reproduzir o som de moedas caindo ao chão.
“Dinheiro na mão é vendaval/é vendaval/na vida de um sonhador/de um sonhador/quanta gente se engana/e cai da cama/com toda a ilusão que sonhou/e a grandeza se desfaz/quando a solidão é mais/alguém já falou.../mas é preciso viver/ e viver/não é brincadeira, não/quando o jeito é se virar/cada um trata de si/irmão desconhece irmão/e aí/ dinheiro na mão é vendaval/dinheiro na mão é solução/e solidão/ e solidão”
Composição musical “Pecado Capital ”de autoria do cantor, violonista, poeta e filósofo carioca Paulinho da Viola (1942 -).
“Parece-me que, depois de haver visto o que é a temperança, a coragem e a prudência, falta-nos examinar o próprio princípio dessas virtudes, o que as gera e as conserva por todo o tempo que subsiste. Ora, dissemos que, descobertas as três primeiras virtudes, só nos restaria descobrir o seu complemento, que é a justiça.”  Platão (428-347 a. C.).
Justiça, pois, é o que todos desejamos!