domingo, 27 de junho de 2021

 A Jangada , de Juvenal Galeno

"Minha jangada de vela,
Que vento queres levar ?
Tu queres vento da terra,
Ou queres vento do mar ?
Minha jangada de vela ,
Que ventos queres levar ?
Aqui no meio das ondas,
Das verdes ondas do mar,
És como que pensativa,
Duvidosa a bordejar !
Minha jangada de vela,
Que ventos queres levar ?
Saudade tens lá das praias,
Queres n'areia encalhar ?
Ou no meio do oceano
Apraz - te as ondas sulcar?
Minha jangada de vela,
Que ventos queres levar ?
Sobre as vagas, como a garça,
Gosto de ver - te adejar,
Ou qual donzela no prado
Resvalando a meditar :
Minha jangada de vela,
Que ventos queres levar?
Se a fresca brisa da tarde
A vela vem te oscular,
Estremeces como a noiva
Se vem - lhe o noivo beijar:
Minha jangada de vela
Que ventos queres levar?
Quer sossegada na praia,
Quer nos abismos do mar,
Tu és, ó minha jangada,
A virgem do meu sonhar:
Minha jangada de vela,
Que ventos queres levar?
Se à liberdade suspiro,
Vens liberdade me dar;
Se fome tenho - ligeira
Me trazes para pescar:
Minha jangada de vela,
Que ventos queres levar?
A tua vela branquinha
Acabo de borrifar;
Já peixe tenho de sobra,
Vamos à terra aproar:
Minha jangada de vela
Que vento queres levar ?
Ai, vamos , que as verdes ondas,
Fagueiras a te embalar,
São falsas nestas alturas
Quais lá na beira do mar:
Minha jangada de vela,
É tempo de repousar!"
Poema " A Jangada ", da autoria de Juvenal Galeno ( 1838 - 1931 ). Nascido em Fortaleza a 27 de setembro de 1838 . Primo pelo lado paterno de Capistrano de Abreu e Clóvis Beviláqua , e pelo lado materno de Rodolfo Teófilo. Fundou , aos 13 anos , o primeiro jornal puramente literário do Ceará, o Sempre Viva, destinado às mulheres. Em 1853 , matriculou - se no Liceu do Ceará e lançou, junto com Joaquim Catunda, o primeiro jornal da imprensa estudantil do Ceará, Mocidade Cearense.
"Prelúdios Poéticos, de 1856 , livro de estreia de Juvenal Galeno , considerado o primeiro da literatura cearense, tornando o marco inicial do romantismo no Ceará. Publicou, ainda , " A Machadada " ; " Lendas e Canções Populares"; " Cenas Populares " ; " Folhetins de Silvanus" ; " Cantigas Populares e a Medicina Caseira ".
Juvenal Galeno , morreu no dia 7 de março de 1931 , aos 95 anos de idade . ( Antologia Escolar da Literatura Cearense, de Juarez Leitão e Natalício Barroso ) , ano de 2016.
Foto que ilustra o poema : Uma jangada na Praia do Japão, no litoral leste do Ceará.
Pode ser uma imagem de natureza e oceano
Edmar Filho, Jessica Giambarba e outras 4 pessoas

terça-feira, 22 de junho de 2021

 Reflequições Sobre a Bandalheira Geral

1. Em Brasília, não tenham dúvida - o culpado é o mordomo.
2 . Todos esses crimezinhos não são nada.
São apenas sinais de crimezões.
3. A bandalheira escruncha não tem mais cura, nem com cirurgia . A metástase é total.
4. Mas fiquem tranquilos . Nenhum de nossos vereadores, deputados e senadores jamais ultrapassou aquilo que lhe permite sua falta de caráter.
Do " Guia Millôr da História do Brasil ", editado pela Nova Fronteira , ano de 2014.
Millôr Fernandes ( 1923 - 2012 ) , ícone da cultura brasileira , um humanista com uma cética visão do mundo. Um ser múltiplo e genial: poeta , humorista , jornalista , artista plástico, filósofo, teatrólogo, ator e tradutor.
Quanta falta sua ausência faz ao Brasil de hoje chadurdando num mar de lama da corrupção e do porcorativismo descarado !
" Colarinho Branco , não esmoreça Agora !
Aguente mais um pouco , A Corrupção Precisa de Você ".
Pode ser uma imagem em preto e branco
1 comentário
Curtir
Comentar
Compartilhar

segunda-feira, 14 de junho de 2021

 Pedro Nava , Num Pequeno Retrato

"Clínico de roça, fui médico, operador e parteiro. Fui delegado de polícia sanitária e chefe de posto epidemiológico. Conheço todas as clínicas - a de "lombo de burro" que experimentei no interior de Minas, a de caminhão e dos fordes que pratiquei nos cafezais do Oeste Paulista, a clínica dura do subúrbio carioca e a clínica elegante dos arranha - céus do centro. Entrei em todas as casas, desde a choça do sertão e do barraco dos morros, aos solares dos ricos e aos palácios presidenciais. Vi toda as agonias da carne e da alma.
Todas as misérias do pobre corpo humano. Todas as suas dores, todas as suas degradações, todas as suas mortes. Além de todas as doenças, vi , também, toda qualidade de doente. O rico e o pobre, o veraz e o fabulador, o amigável e o hostil, o cooperante e o negativista, o reconhecido e o ingrato, o deprimido e o otimista, o realmente doente e o imaginário. E vi também colegas.
O santo , o sábio, o heróico, o desprendido , o dedicado , o sincero , o altruísta - vivendo para os doentes e tratando os doentes e , o pérfido, o imprestável, o ignorante , o comodista, o rapace, o egoísta, o fariseu vivendo para si e tratando só do próprio ventre. Se não a sabedoria dos meus antecessores, ao menos eu vos trago essa larga experiência humana nascida de trinta e seis anos de convivência com tudo que nosso semelhante pode dar de mais alto e emblemático e de mais sórdido e vulgar."
Excertos do discurso de Pedro Nava (1903 - 1984), médico , memorialista , poeta bissexto, na posse como Membro da Academia Brasileira de Medicina , em 18 de julho de 1957.
Hoje , 2021 , em Desbrasíndia, num destribunal de desfaçatez, uns parvos e grosseiros pseudojuizes que deslustram a verdadeira ciência/arte de cuidar das pessoas , impõem um brutal desserviço à desnorteada nação.
Desconjuro !
Pode ser uma imagem de uma ou mais pessoas, barba e óculos
Carlos Alberto Cunha, Fernando Melo e outras 12 pessoas
4 comentários
4 compartilhamentos
Curtir
Comentar
Compartilhar