quinta-feira, 3 de junho de 2021

 O Circo , Ontem e Hoje

"Quando o pequeno circo chegou ao meu bairro, naquela manhã de sábado, trazia de bicho apenas um macaquinho, mais tarde foi que um homem magro de chapéu de massa , apareceu com dois cachorrinhos pelados, meio sujos e magros. Os meninos mais curiosos saíram pela rua dando informações pessimistas.
- É um circozinho " fuleiro " , sem leão nem nada, só um macaco velho e dois cachorros vira - latas.
A lona era velha, com remendos e buracos. As cadeiras desmontáveis não eram muitas, as tábuas das arquibancadas tinham a cor de chão sujo.
Depois, os meninos notaram um papagaio, de rabo aparado e poucas penas, mas se informaram logo que a ave não era artista, era bicho de estimação da filha do palhaço.
A noite , o circo já estava todo montado , uma mocinha magra , de vermelho , vendia as entradas num "guichet": geral a 50 cruzeiros , cadeira a 100, crianças pagavam apenas a metade.
Fui ver o espetáculo, mas que pena ! O palhaço não era igual àquele que me ficou na lembrança, a rumbeira era outra, sem harmonia nos requebros, o macaco não fumava charuto nem andava de bicicleta, os cachorros só faziam pular por cima de desinteressantes obstáculos.
Os meninos , os próprios meninos , não gostaram do espetáculo, por isso gritavam com molecagem, pedindo o papagaio:
- O papa- ga- iiii ...O papa - ga- iiii...
A filha do palhaço, parece que para acalmar os descontentes, apareceu com o seu velho e feio papagaio, de rabo curto, quase sem penas. Levou uma vaia e desapareceu por trás das encardidas empanadas.
Saí triste do circo. Pelo caminho , com a mão sobre a cabeça de minha filha , calado, pensava no futuro da filhinha do palhaço. "
Crônica "O Circo ", da autoria do nobre cronista cearense Ciro Colares , que consta do livro " Hoje quero marinhar " , do ano de 1965.
Existe alguma semelhança deste " circozinho fuleiro " da crônica de Ciro Colares, com algum circo mambembe instalado em Terra Brasilis ?
Pode ser uma imagem de escultura e ao ar livre
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