domingo, 25 de julho de 2021

 Lua Cheia no Porto das Dunas

" Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Chega um tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho , a luz apagou - se,
Mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice ?
Teus ombros suportam o mundo
E ele não pesa mais que a mãos uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
Provam apenas que a vida prossegue
E nem todos se libertaram ainda.
Alguns , achando bárbaro o espetáculo
Prefeririam ( os delicados ) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação. "
"Os ombros Suportam o Mundo" , da autoria de Carlos Drummond de Andrade ( 1902 - 1987 ).
Ilustra a postagem , a lua cheia neste sábado, banhando o Porto das Dunas , no litoral leste do Ceará.
Cansei de pegar o sol com a mão!
Pode ser uma imagem de 1 pessoa, em pé e oceano
Mary Romero, Emanuel Carvalho Melo e outras 178 pessoas
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domingo, 11 de julho de 2021

 

Foto de ontem à tarde na Beira Mar , em Fortaleza.Ação Gigantesca , de Mário Gomes
Neste sábado, na boca da noite, com o deus - sol preparando o berço para cair nos braços de Morfeu, " bato um papo maneiro " com o inquieto poeta cearense Mário Gomes ( 1947 - 2014 ) num pedaço de praia na " loira desposada do sol " , do filho de Aracati , Paula Nei ( 1858 - 1897 ) :
"Beijei a boca da noite /e engoli milhões de estrelas/fiquei iluminado/bebi toda a água do oceano/devorei as florestas/a humanidade ajoelhou - se a meus pés/pensando que era a hora do Juízo Final/apertei, com as mãos, a terra/derretendo - a / as aves em sua totalidade/voaram para o além/os animais caíram do abismo espacial/dei uma gargalhada cínica/e fui descansar na primeira nuvem/que passava naquele dia/em que o sol me olhava assustadoramente/ fui dormir o sono da eternidade/e acordei mil anos depois/por trás do Universo./"
Poesia " Ação Gigantesca " , da autoria do cearense Mário Gomes, vencedora do Festival de Poesia Cearense , do ano de 1981.
Pode ser uma imagem de crepúsculo, natureza, oceano e céu
Carlos Alberto Cunha, Lúcia Brandão e outras 3 pessoas
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domingo, 4 de julho de 2021

 Belchior e Pascal no Porto das Dunas

"Contemplo o rio que corre parado
E a bailarina de pedra que evolui.
Completamente sem metas , sentado,
Não tenho sido: eu sou; não serei , nem fui.
A m/gente quer s/ter mas , querendo erra;
Pois só sem desejos é que se vive o agora.
Vêde o pé do ypê: apenas(mente), flora;
A - penso ao pé da serra ".
Canção " Ypê " que integra o álbum "Objeto Direto " , ano de 1980, da autoria de Belchior ( 1946 - 2017 ).
"Quando considero a pequena duração de minha vida absorvida na eternidade precedente e seguinte, o pequeno espaço que encho, e mesmo que vejo abismado na infinita imensidade dos espaços que ignoro, e que tu ignoras , espanto - me e assombro - me ao ver que aqui antes que lá, por que agora antes que então! Quem me pôs aqui ? Por ordem e conduta de quem este lugar e este tempo me foram destinados ?
Porque meu conhecimento é limitado? Meu talhe ? Minha duração em cem anos em lugar de mil ? Que razão teve a natureza de ma dar tal ,e de escolher este número em lugar de outro na infinidade, dos quais não há razão de escolher um do que o outro, nada tentando um mais do que outro ? ...
A grandeza do homem é grande na medida em que ele se conhece miserável. Uma árvore não se conhecê miserável. É, pois , ser miserável conhecer - se miserável. Todas essas misérias provam sua grandeza. São misérias de grande senhor, misérias de um rei destronado ".
"O homem não passa de um caniço, o mais frágil da natureza, mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá - lo; um vapor, uma gota d'água, pode matá- lo. Mas mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que aquilo que o esmaga, porque tem consciência de sua morte , ao passo que o universo nada sabe de sua vantagem sobre ele. "
Excertos da obra " Pensamentos" do gênio francês extraordinário Blaise Pascal ( 1623 - 1662 ) que cedo partiu , aos 39 anos , para o multiverso.
Foto que ilustra a crônica: um crepúsculo no Porto das Dunas , no litoral leste do Ceará.
Pode ser uma imagem de crepúsculo, corpo d'água, árvore, céu e natureza
Edmar Filho, Rosane Ribeiro e 1 outra pessoa
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