segunda-feira, 25 de julho de 2016

ADOLFO CAMINHA: REALISMO E IRONIA

Adolfo Ferreira Caminha (1867 – 1897), nasceu no dia 29 de maio de 1867 na cidade de Aracati   no estado do Ceará. Seus pais foram Raimundo Ferreira dos Santos Caminha e Maria Firmina Caminha. Aos 13 anos de idade, Adolfo foi enviado para a Capital do Império, o Rio de Janeiro, ficando sob os cuidados de um tio-avô Álvaro Tavares da Silva. Ingressou na Escola de Marinha no ano de 1883. Como guarda – marinha em 1886 faz uma viagem de instrução no cruzador Almirante Barroso, fonte para mais adiante publicar uma narrativa de viagem “ No País dos ianques “. No ano de 1886 publica “ Voos Incertos “, poesia, e no ano seguinte “ Judite e Lágrimas de um Crente “, novela. No ano de 1887recebe promoção a segundo –tenente. Encontramos o jovem oficial Adolfo Caminha em 1888 de volta ao seu torrão natal e no ano seguinte fazendo parte do Centro Republicano do Ceará ao lado de figuras de valor como José do Amaral, João Cordeiro, Joaquim Catunda, João Lopes, Antônio Sales e outros.
Por essa época Adolfo Caminha se envolve num enorme escândalo, para uma cidade provinciana como Fortaleza, em proibido idílio com uma senhora esposa de um oficial do Exército brasileiro, o que lhe valeu a interrupção de sua carreira na Marinha do Brasil. Os ânimos ficaram exaltados tanto com os integrantes do Exército como os da Marinha. Rui Barbosa, então ministro da Fazenda tenta colocar panos mornos na refrega nomeando Adolfo na Tesouraria da Fazenda em Fortaleza. Neste período Adolfo entra em litígio verbal com dois pesos – pesados das letras cearenses – Antônio Sales e Rodolfo Teófilo. Em 1892 Adolfo Caminha toma parte como fundador da famigerada Padaria Espiritual com uma plêiade de intelectuais cearenses.
Em 1893 publica “ A Normalista “ e em 1895 lança dois livros: “ Bom Crioulo “ e “ Cartas Literárias “. Em 1896 funda e dirige “ A Nova Revista “ de curta duração, apenas nove meses.
Com 29 anos de idade, no dia primeiro de janeiro de 1897 falece, em sua residência na Rua Visconde de Itaúna, vítima da Peste Branca, a temível tuberculose pulmonar. Seu último romance “ A Tentação “ lançado postumamente contém ataques à sociedade do Rio de Janeiro e àqueles que defendiam o Imperador D. Pedro.  Deste modo Adolfo Caminha repete a temática da crítica social encontrada também em “ A Normalista “ vingando-se de uma sociedade na qual não via autoridade para julgá-lo; e no “ Bom-Crioulo “ onde aborda o tema do homossexualismo entre marinheiros, assunto tabu mesmo nos dias de hoje.
Registram-se deste modo um desabafo triplo na trajetória do escritor cearense em seus principais romances: “ A Normalista “ contra a sociedade fortalezense; o “ Bom Crioulo “ contra a Marinha do Brasil; e a “ Tentação “ contra o povo do Rio de Janeiro.







segunda-feira, 18 de julho de 2016


AURÉLIO AGOSTINHO – BISPO DE HIPONA

Aurélio Agostinho (354 – 430 d.C.) nasceu em Tagaste, no norte da África, atual Argélia. Seu pai, Patrício, era pagão; sua mãe, Mônica, cristã. Agostinho, com 12 anos de idade, abandona Tagaste e dirige-se a Madaura, um então destacado centro intelectual.

Aos 16 anos, com auxílio financeiro de seu genitor, Agostinho viaja para Cartago – na atual Tunísia – onde se entrega aos prazeres mundanos e recebe como fruto de um fugaz relacionamento com uma jovem de origem humilde, um presente, um filho de nome Adeodato , que  precocemente falece aos 18 anos de idade .

Agostinho distingue- se em seus estudos, especialmente, em Literatura e Retórica. A leitura de uma obra perdida da autoria do orador e político romano Cícero (103- 43 a.C.) denominada Hortesius , inflamou –o com ardente amor pela sabedoria divina , pelo que se voltou para o maniqueísmo – um movimento fundado pelo persa Mani ( 216- 276 ) que defendia um drama cósmico complexo centrado em uma batalha primordial entre os princípios originários da Luz ( o Bem ) e das Trevas ( o Mal ) - .

Enquanto ensinava Retórica na África, em Roma e em Milão, Agostinho permaneceu adepto do maniqueísmo, a despeito do crescente desencanto com suas pretensões intelectuais. Aos 30 anos, Agostinho obtém o cargo de professor de Retórica em Milão. Então convive com o Bispo Ambrósio (340 – 397) que influenciará fortemente em sua conversão ao cristianismo juntamente com sua mãe, Mônica. Em certa ocasião enquanto lia as Epístolas de São Paulo, Agostinho teve uma epifania: uma voz de criança a dizer-lhe “ tolle , legere “ ( toma , lê ) . Foi o bastante! O batismo de Agostinho acontece no ano de 387. Agora seu ideal passa a ser a busca contemplativa da Verdade pelos caminhos gêmeos da Razão e da Fé.

“ Entendimento é a busca da Fé. Busque, portanto, não compreende - la de maneira como você pode acreditar, mas acreditar de maneira que você possa compreende- la “.

Neste período Agostinho retorna para a África, seu país natal, mas antes de embaraçar em Óstia , perde para a morte sua mãe , Mônica . Escreve “ Costumes dos Maniqueus e Costumes da Igreja Católica “ ; “ Sobre o Livre – Arbítrio “ . De suas conversações com o filho Adeodato , nascerá o trabalho “ O Mestre “ .

Agostinho em sua conversão abandona as coisas terrenas, à carreira, o matrimônio, retirando -se para a solidão e o recolhimento. Ordena- se padre em 391 e consagra- se bispo da igreja de Hipona em 395. Morre em 28 de agosto de 430 durante o assédio de Tagaste pelos vândalos, aos 75 anos de idade.

Agostinho colocou a filosofia a serviço da teologia, adotando ideias platônicas e neoplatônicas (Plotino) moldando-as de acordo com sua própria abordagem. Tal como Platão, pensou na alma como habitando e dispondo do corpo. “ O homem é, até onde possamos ver, uma alma racional fazendo uso de um corpo mortal e material “ . “ A razão é a visão da mente, pela qual ela percebe a verdade em si mesma, sem a intromissão do corpo “.

Agostinho tomou emprestado ideias do Neoplatonismo e defendia que os humanos são seres racionais. Para que sejam racionais, devem ter livre – arbítrio. Isto significa que devem ser capazes de escolher entre o Bem e o Mal. Os homens podem, portanto, agir bem ou mal. Deus não é a origem do mal.

São consideradas obras – chave de Agostinho:

 “ As Confissões “: uma épica jornada ao universo interior do autor, onde ele revela que “ em Cartago viveu de modo devasso, seduzindo e seduzido, enganando e sendo enganado, na luxúria “. E refletindo sobre a natureza do tempo: “ O que é então o tempo?. Se ninguém me pergunta, eu sei o que ele é. Mas se desejo explicar, eu não sei “ .

“ A Cidade de Deus “: uma análise do mundo exterior que o circunda.

Aurélio Agostinho é considerado santo e doutor da Igreja Católica e um grande artífice da cultura ocidental da Idade Média.

 

 

 

 

domingo, 10 de julho de 2016

O POETA CEARENSE JOSÉ ALBANO





“ Poeta fui e do áspero destino / senti bem cedo a mão pesada e dura / conheci mais tristeza que ventura/ e sempre andei errante e peregrino / vivi sujeito ao doce desatino/ que tanto   engana mas que pouco dura / e inda choro o rigor da sorte escura/se nas dores passadas imagino / porém, como me agora vejo isento / dos sonhos que sonhara noite e dia / e só com saudades me atormento /entendo que não tive outra alegria nem nunca outro qualquer contentamento / senão ter cantado o que sofria “ José de Abreu Albano (1882 – 1923) nasceu na cidade de Fortaleza, no estado do Ceará, no dia 12 de abril de 1822. Seus pais foram o negociante José Albano Filho e D. Maria de Abreu Albano; neto, pelo lado paterno de José Francisco da Silva Albano e de D. Maria Liberalina da Silva Albano, Barões de Aratanha. José Albano foi poeta, professor, diplomata, poliglota e vernaculista, intransigente defensor da pureza do idioma de Camões. Frequentou o Seminário Episcopal de Fortaleza nos anos de 1892 e 1893 e por não demonstrar pendores eclesiásticos foi mandado para prosseguir seus estudos na Europa, mais precisamente na Inglaterra, Áustria e França, entre 1893 e 1898. De volta à capital cearense estudou no tradicional Colégio Liceu do Ceará onde posteriormente tornou-se professor de Latim. Transferiu-se para o Rio de Janeiro onde integrou o Ministério das Relações Exteriores, até ser transferido para Londres, servindo ao consulado brasileiro (1908 – 1912). José Albano casou-se com D. Gabriela da Rocha e constituiu a seguinte prole: José Maria e Teófilo, mortos na infância, Maria José, Ângelo e Maria Justina. No ano de 1912 o irrequieto poeta cearense largou o emprego público e iniciou uma peregrinação pelas seguintes paragens: Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Hungria , Suíça , Itália , Romênia e Egito.  Regressou ao Brasil por motivos de doença no ano de 1914 e após três anos de rigoroso tratamento partiu novamente para Paris, falecendo cinco anos depois, no dia 11 de julho de 1923, aos 41 anos de idade. O escritor Mário de Alencar (1872-1925), filho do maior nome das letras do Ceará, José de Alencar (1829- 1877), assim descreve a figura do grande vate cearense:  “ Barbas densas e grandes de rabi, cenho repuxado pelo monóculo retangular, olhos incisivos que olhavam um pouco do alto e de esguelha, davam-lhe do rosto, viril e bem afeiçoado, uma expressão antipática; o molde da roupa, o chapéu luso e desabado, o andar, as maneiras, completavam a estranheza da figura, que a muitos parecia excêntrica. Conversando, sentia- se -lhe o orgulho, gerado por desdém e descontentamento dos homens e das cousas, do meio e do tempo. Criticava a todos e a tudo, mas sem inveja, sem vaidade, apenas porque todos e tudo não lhe respondiam ao gosto e ao ideal. A sua sensibilidade chocava- se com a natureza brasileira; e aborrecia –lhe o presente por falta de perspectiva”. “ Há no meu peito uma porta / a bater continuamente;/ dentro a esperança jaz morta /e o coração jaz doente /em toda parte onde eu ando /ouço este ruído infindo /são as tristezas entrando e as alegrias saindo “. José Albano publicou: Rimas de José Albano – Alegoria (1912); Rimas de José Albano – Redondilhas (1912) ; Rimas de José Albano – Canção a Camões e Ode à Língua Portuguesa ( 1912 ) ; Comédia Angélica de José Albano ( 1918 ) e Four Sonnets With Portuguese Prose Translation ( 1918 ) . O poeta pernambucano Manoel Bandeira (1948) e o escritor cearense Braga Montenegro (1966) publicaram “ Rimas de José Albano “ de forma definitiva enfeixando toda a rica produção do grande poeta cearense num só volume .

domingo, 3 de julho de 2016

O ARRAIÁ DA COMADRE CORRUPÇÃO 


Numa decrépita republiqueta de bananas, uma época propícia para faturar um PF (por fora, off label , ou por baixo dos panos ) faz-se nas tradicionais festas juninas ( São Pedro , São João e Santo Antônio ) . A arraia – miúda põe um supimpa fardamento de gala – vestidos vistosos de matutas e os marmanjos como famélicos cangaceiros – cai na gandaia movida a “ quentão, bolo de milho, aluá e pé de moleque. Uma pândega! Nesta oportunidade medra de forma sorrateira a cruel corrupção, por baixo dos panos, longe da vista da pobre e inocente galera. Deste modo, um fajuto show de um tal de Wellington Paspalhão custa para o estado a bagatela de 500.000 truanês (uma moeda falsa do mundo da corrupção, de idêntico valor ao pixuleco) . Descoberta a tramoia, o tal artista, num gesto “ magnânimo “ abre mão do pequeno butim, melando o negócio feito com os comparsas. Isto representa a ponta de um sinuoso novelo da corrupção instalada num fétido ministério que doa de mão beijada proventos para artistas pertencentes a uma grei de comunistas de araque ou de uma famigerada esquerda – caviar. Uma lástima! Agora, me expliquem como tais trogloditas podem adquirir imóveis luxuosos na Europa, França e Bahia, fumar caros charutos cubanos e, especialmente, não trabalharem, ainda por cima abocanhando rios de dinheiro? Paciência! Um sonso brucutu de plantão ensaiou o fechamento do tal ministério esbanjador, com fins de estancar a desatada sangria estatal e acabar de vez com a “ boquinha “ dos malandros artistas. Pasmem os senhores: o mundo quase veio abaixo com decrépitas e manjadas figuras babando ódio, cuspindo e mostrando o enrugado traseiro em plena Cinelândia.  Enfim, uma baixaria! A solução como se sabe exige pulso forte pois o remédio é amargo e muitas cabeças terão que rolar. Querem continuar com a farsa?  Preparem-se para a animada quadrilha: “ Lá vem a chuva! “, “ Caminho da Roça “. “ Não, não é brincadeira, é o caos! “ “ O que a gente faz / é por debaixo dos panos / para ninguém saber / é por debaixo dos panos / se eu ganho mais / é por debaixo dos panos / ou se vou perder / é debaixo dos panos/ que a gente não tem medo/ pode guardar segredo /de tudo que se vê / é debaixo dos panos/ que a gente fala do fulano / e diz o que convém/ é debaixo dos panos /que a gente esconde tudo/e não se fica mudo /e tudo quer fazer / é debaixo dos panos / que a gente comete um engano/sem ninguém saber “          Composição de Antônio Barros e Cecéu .