O Entardecer da Longevidade

É coisa estupenda assistir um idoso que assume a segunda parte de sua vida com tanta coragem e ilusão como a primeira . Para isso ele terá que começar por aceitar que o sol do entardecer é tão importante como o do amanhecer , e o do meio - dia , ainda que seu calor seja bem distinto .

O sol não se envergonha de por - se , não sente nostalgia de seu brilho matutino , nem pensa que as horas do dia lhe estejam tingindo o céu , não se experimenta menos luminoso nem formoso por comprovar que o ocaso se aproxima , nem crê que suas luzes e sombras sobre os edifícios seja menos importante ou necessária que a que faz algumas horas até germinar as sementes nos campos , ou crescer as frutas nas árvores .

Cada hora tem seu gozo. O sol o sabe e cumpre , hora a hora , sua tarefa . .. Ah ! Se todos os idosos entenderem que seu sorriso sobre os homens pode ser tão formoso e fecundo como esse último raio de sol de seu pouso definitivo .

Texto de José Luis Martin Descalzo ( 1930 - 1991 ) , padre , jornalista e escritor espanhol , que publicou cerca de 50 livros .

Foto que ilustra o texto : o entardecer na Praia de Iracema , próximo à Ponte dos Ingleses , em Fortaleza .

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18Você, Martinho Rodrigues, João Carlos Pires de Carvalho e outras 15 pessoas

 Homenagem aos Avós e Netos

" Eu não creio na idade .Todos os idosos levam nos olhos uma criança, e as crianças , às vezes , nos observam como idosos profundos .

Mediremos a vida por metros , kilometros , ou meses ? Tanto desde que nasces ? Quanto deves andar até que como todos, em vez de caminhar por cima , descansemos debaixo da terra ? Ao homem , à mulher que consumaram ações , bondade , força , cólera, amor , ternura , aos que verdadeiramente vivos floresceram , e em sua natureza amadureceram , nos acerquemos nosotros a medida do tempo que talvez é outra coisa , um manto mineral , uma ave planetária, uma flor , outra coisa talvez , porém não uma medida ...

Agora , tempo , te enrolo, te deposito na minha caixa silvestre , e vou , então pescar com uma longa linha os peixes da aurora ! "

Ode à Idade , autoria de Pablo Neruda .

" Que mãos formosas são tuas mãos , querido avô ! Que formosas são são tuas mãos cheias de rugas ! São mãos que me contam uma história de suores , penas e doçuras . Tem trabalhado muito e tem sofrido . Sabem da alegria e da angústia . Souberam dar o pão, plantar a árvore , cultivar o roseiral , dar a ternura . Algum dia distante - doce dia - terei um avô, as mãos com rugas . E a gente dirá :

Que mãos formosas ! Como sabem de glórias e de lutas ! E um pequeno neto meu , puro , alegre de alma limpa como a brancura da lua , avô, me dirá - também minhas mãos serão alguma vez , como as tuas ! "

Mãos de Avô , de autoria de Gervasio Melgar .

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27Martinho Rodrigues, João Carlos Pires de Carvalho e outras 25 pessoas

 Cantares , de Antonio Machado

Tudo passa e tudo fica ,

Porém o nosso é passar ,

Passar abrindo caminhos ,

Caminhos sobre o mar .

Nunca perseguir a glória ,

Nem deixar na memória

Dos homens minha canção ;

Amo os mundos sutis ,

Tênues e gentis ,

Como bolhas de sabão.

Admira - me ver - los pintar - se

De sol e rubro , voar

Sob o céu azul , tremer

Subitamente e quebrar - se ...

Nunca perseguir a glória .

Caminhante , são tuas pegadas

O caminho e nada mais ;

Caminhante , não há caminho ,

Se faz caminho ao andar .

O andar se faz caminho

E ao voltar a vista atrás

Se vê a senda que nunca

Se há de tornar a pisar .

Caminhante não há caminho

Senão estrelas no mar ...

Faz algum tempo neste lugar

Onde hoje os bosques se vestem de espinhos

Se ouvia a voz de um poeta gritar

" Caminhante não há caminho ,

Se faz caminho ao andar ..."

Golpe a golpe , verso verso ...

Morreu o poeta longe de casa .

Lhe cobre o pó de um país vizinho .

Ao afastar - se lhe viram chorar ,

" Caminhante não há caminho ,

Se faz caminho ao andar .. "

Golpe a golpe , verso a verso...

Quando o passarinho não pode cantar .

Quando o poeta é um peregrino ,

Quando de nada nos serve rezar.

" Caminhante não há caminho ,

Se faz caminho ao andar .."

Golpe a golpe , verso a verso .

Poeta Antonio Machado ( 1875 - 1939 ) , nascido em Sevilha , fez parte do movimento modernista , caminhante pelos caminhos da Espanha , que extraiu das pessoas do povo , a filosofia de vida que inspirou suas palavras íntimas , melancólicas e profundas .

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13Martinho Rodrigues, Pedro Bezerra de Araujo e outras 11 pessoas

 Uma Fábula : O Rei dos Animais

Saiu o leão a fazer sua pesquisa estatística , para verificar se ainda era o Rei das Selvas . Os tempos tinham mudado muito, as condições do progresso alterado a psicologia e os métodos de combate das feras , as relações de respeito entre os animais já não eram as mesmas , de modo que seria bom indagar . Não que restasse ao leão qualquer dúvida quanto à sua realeza ...

Assim o Leão encontrou o Macaco e perguntou : " Hei , você aí. Macaco - quem é o rei dos animais ? O.Macaco surpreendido deu um salto de pavor e , quando respondeu já estava no mais alto galho da mais alta árvore da floresta :

- " Claro que é você, Leão, claro que é você "

Satisfeito o Leão continuou pela floresta e perguntou ao Papagaio : - " Curupaco , Papagaio . Quem é, segundo seu conceito , o Senhor da Floresta , não é o Leão ? E como aos Papagaios não é dado o dom de improvisar , mas apenas o de repetir , lá repetiu o Papagaio : - " Curupaco... não é o Leão ?

Cheio de si , o Leão prosseguiu em busca de novas afirmações de sua personalidade . Encontrou a Coruja e perguntou : - " Coruja , não sou eu o maioral da mata ?

- " Sim , És Tu " , disse a Coruja . Mas disse de sábia , não de crente . E lá se foi o Leão, e encontrou o Tigre , e disse , - Tigre , eu sou o rei da floresta , certo ? . - Sim , rugindo contrafeito e já arrependido , respondeu o Tigre .

Mais adiante o Leão encontrou o Elefante , e perguntou :

- " Elefante , quem manda na floresta , quem é Rei , Imperador , Presidente da República , Juiz ,

Ministro , dono das árvores e dos seres todos ?

O Elefante pegou - o pela tromba , deu três voltas com ele pelo ar e atirou - o contra o tronco de uma árvore, desaparecendo floresta adentro . O Leão caiu no chão , tonto e ensanguentado , levantou - se lambendo uma das patas , e murmurou :

- " Que diabo , só porque não sabia a resposta , não era preciso ficar tão zangado !"

Moral da história : Cada um tira dos acontecimentos a conclusão que bem entende .

Uma adaptação do livro : " Fábulas Fabulosas ", de autoria de Millor Fernandes ( 1923 - 2012 ) , um ícone da cultura brasileira e um humanista com cética visão do mundo : poeta , jornalista , humorista e artista plástico .

E hoje , num triste pedaço de chão de um país tropical , " a única maneira de evitar as críticas e puxar cadeia sem processo é não fazer nada , não falar nada e não ser nada " !

Ponto Final .

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4João Carlos Pires de Carvalho, Jandira Cardoso e outras 2 pessoas

 Pensares ao Luar : Com Dois Gigantes

" A alma humana se parece com água: vem do céu , para o céu sobe , e novamente para baixo à terra precisa ir , mudando eternamente . Desce do alto do íngreme rochedo o jato puro , eleva - se mansamente em ondas de nuvens para a rocha escorregadia , e recebida facilmente , domina veladamente , rumores em silêncio para dentro da profundeza . Escolho erguido contra a queda , espumeja contrariada progressivamente para o abismo . No leito raso arrasta - se para os prados . No mar sereno contemplam sua face todas as estrelas . O vento é da onda gentil galanteador ; o vento mistura a partir do fundo , vagalhões espumantes .

Alma da pessoa , como te pareces com a água ! Destino da pessoa , como te pareces com o vento ! "

Canto dos espíritos sobre a água, de autoria de Johann Wolfgang Goethe ( 1749 - 1832 ) .

" Viver uma vida desapaixonada e culta , ao relento das ideias , lendo , sonhando , e pensando em escrever , uma vida suficientemente lenta para estar sempre à beira do tédio , bastante meditada para se nunca encontrar nele . Viver essa vida longe das emoções e dos pensamentos , só no pensamento das emoções e na emoção dos pensamentos . Estagnar ao sol , douradanente , como um lago obscuro rodeado de flores .

Ter na sombra , aquela fidalguia da individualidade que consiste em não insistir para nada com a vida ...

Não ser mais , não ter mais , não querer mais . A música do faminto , a canção do cego , a relíquia do viajante incógnito, as passadas no deserto do camelo vazio sem destino ... Porque sou do tamanho do que vejo , e não do tamanho da minha altura . "

Do Livro do Desassossego , autoria de Fernando Pessoa ( 1888 - 1935 ) .

Foto que ilustra o texto : encontro do Rio Pacoti com o Oceano Atlântico , no Porto das Dunas, Ceará , na boca da noite .

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12Dirceu Azevedo Vasconcelos, Fernando Melo e outras 10 pessoas