terça-feira, 11 de julho de 2023

 Livio Barreto - Naufrágio do Vapor Alcântara

" Livio Barreto , filho de José Soares Barreto e Mariana da Rocha Barreto , nasceu na Fazenda Angicos , no município de Granja , no interior do Ceará no dia 18 de fevereiro de 1870 e faleceu , repentinamente , em Camocim , a 29 de setembro de 1895 , aos 25 anos de idade .
Poeta simbolista , pertenceu à " Padaria Espiritual " e , na qualidade de padeiro , adotou o nome de Lucas Bizarro . Foi um autodidata e seus estudos regulares não passaram das primeiras letras . Particularmente , recebeu aulas de português , francês e geografia . Residiu por cerca de 4 anos em Belém do Pará ( 1888 a 1891 ) , de onde regressou para Granja , em busca de cura de um beriberi . Na madrugada do dia 29 de julho de 1895 , o poeta naufragou entre Fortaleza e Camocim , no vapor Alcântara, salvando - se a nado . Pouco tempo depois , em 29 de setembro de 1895 , faleceu repentinamente . "
" Náufrago "
" Eis - me náufrago e só , na vastidão
Da praia desolada ,
Aonde o mar - indômito leão -
Esmaga a onda fria e angustiada .
Eis- me náufrago e só ! Áspero e frio
Corta - me o vento os ombros
E o firmamento triste , ermo e sombrio
Tem a mudez inerte dos assombros .
Eis - me náufrago e só ! Como um lamento
Que sai da escuridão de um subterrâneo ,
Vem - me nas asas trêmulas do vento
O grito surdo , fúnebre , titâneo ,
Que o mar solta do peito truculento
E a alma nos corta , agudo e subitâneo ,
Como uma flecha o azul do firmamento !
Eis - me náufrago e só ! A alma ainda presa ,
Tonta da luta , trêmula ,
De angústia chora , se ajoelha e reza !
E a onda - a alma do mar - da nossa êmula,
Vemo - la forte rugitar e vemo- la
Morrer na praia onde o silêncio pesa .
Eis - me náufrago e só ! A Ave que passa
Riscando o azul puríssimo do céu ,
E sente as asas súbito quebradas
Pela bala certeira da desgraça
Talvez não sinta tanto como eu !
Eis - me náufrago e só ! Oh ! Minha irmã ,
Meu derradeiro altar imaculado !
Choro por ti á luz desta manhã;
E o pranto quente , doloroso , brando ,
É o amor que dá alma me rebenta , quando
O coração estorce - se magoado !
Oh ! minha Mãe ! que sofrimento infindo ,
Quanta angústia cruel , pesar e dó ,
Sinto ao saber que tu me esperas rindo ,
Sem pressentir que estive sucumbindo !...
.......... Eis - me náufrago e só ! "
Antologia Cearense , organizada pela Academia Cearense de Letras , e editada pela Imprensa Oficial em Fortaleza , Ano de 1957 .
A foto que ilustra o texto : mais um fim de tarde , no litoral Cearense .
Pode ser uma imagem de crepúsculo, horizonte, oceano e natureza
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