segunda-feira, 29 de janeiro de 2018




Manhã chuvosa em Aquiraz acolhendo a jangada " sorriso do mar" com quatro heróis a balouçar na flor d'agua depois de três dias de pescaria.
" Ó mar salgado, quanto do teu sal/são lágrimas de Portugal!/por te cruzarmos, quantas mães choraram/ quantos filhos em vão rezaram!/quantas noivas ficaram por casar/para que fosses nosso, ó mar!/valeu a pena?Tudo vale a pena/se a alma não é pequena/quem quer passar além do Bojador /tem que passar além da dor/ Deus ao mar o perigo e o abismo deu/mas nele é que espelhou o céu " (Fernando Pessoa : 1888-1935 ).
 — em  Prainha.
Canção do Mar



" Fui bailar no meu batel/além do mar cruel/e o mar bramindo /diz que fui roubar/a luz sem par/do teu olhar tão lindo/vem saber se o mar terá razão /vem cá ver bailar meu coração /se eu bailar no meu batel/não vou ao mar cruel/e nem lhe digo aonde eu fui cantar /sorrir, bailar, viver, sonhar contigo /vem saber se o mar terá razão /vem cá ver bailar meu coração /se eu bailar no meu batel /não vou ao mar cruel /e nem lhe digo aonde eu fui cantar/sorrir, bailar, viver, sonhar contigo " Canção do Mar , composição de Ferrer Trindade e Frederico de Brito.
" Eu ontem passei o dia/ouvindo ouvindo que o mar dizia/choramos, rimos, cantamos /falou -me do seu destino/de seu fado/depois para se alegrar/ergueu -se , e bailando, e rindo/pôs- se a cantar / um canto molhado e lindo/ o seu hálito perfuma/e o seu perfume faz mal/ deserto de águas sem fim/ó sepultura de minha raça /quando me guardas a mim?/ele afastou-se calado/ eu afastei - me mais triste /mais doente , mais cansado /ao longe o sol na agonia / de roxo as águas tingia /voz de mar misteriosa/voz do amor e da verdade/ó voz moribunda e doce /da minha grande saudade/ voz amarga de quem fica/trêmula voz de quem parte/e os poetas a cantar / são ecos da voz do mar" . Poema de Antônio Botto (1897 -1959).

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018


Rasgando o ventre do Parque do Cocó , na altura do Bairro Dionísio Torres , em Fortaleza, uma sacolejante serpente de ferro , chispando fogo pelo nariz , nossa velha Maria - Fumaça , a choramingar : "café com pão; bolacha, não " .A parada final será no Porto do Mucuripe.
Este flagrante no século XIX seria , praticamente, o mesmo de hoje, excetuando -se os múltiplos espigões de concreto , com o dedo em riste apontando para os céus !
25 de janeiro de 2018, 7:40 h.
 
Os três mosqueteiros




Mal começou o ano de 2018 e Pindorama já esquenta os tamborins da folia sob a égide do Rei Momo. O que é festa para muitos , para outros significa momentos de reflexão e prazer junto aos "amigos de papel - os livros" .
Uma boa companhia : "Os três mosqueteiros " , um romance histórico da lavra do francês Alexandre Dumas (1802 -1870).
No cenário predominam as figuras de D'Artagnan e os três mosqueteiros : Athos, o nobre; Porthos, o forte ; Aramis, o astuto. Os quatro cavalheiros vivenciam perigosas aventuras a serviço do rei da França, Luís XIII e da rainha Ana da Áustria .
Sobressai também a figura do cardeal Richelieu, um autocrata, maquiavélico, disfarçado e boquirroto.
Àqueles que vão curtir o triduo momino na festa: bom proveito.
Para os que irão curtir a saudável companhia de um bom livro , fica a dica : Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas . Eternos, atuais e verdadeiros.
" um por todos e todos por um" .

domingo, 21 de janeiro de 2018

De Seres Simples e Indispensáveis
Para a Dra. Mayra Pinheiro e Dr. Marcelo Esmeraldo



Oriundos das poeiras das estrelas, das lonjuras de fornalhas que geraram todos os elementos essenciais para a formação do multiverso, aqui estamos nós, seres humanos, múltiplos, complexos, arranhando a superfície terreal, com o perdido olhar na imensidão dos céus e com os pés fincados no pedregoso chão. 
Nascidos para o gozo da amorosidade, do lúdico, do trabalho diuturno, sorvendo conhecimentos e urdindo uma rede de sã convivência com todos os seres sencientes. Faz parte do nosso DNA, aplicar as nobres virtudes na tessitura do cotidiano em prol de um mundo melhor.
Dentro da incontável multidão, destacam -se seres ditos indispensáveis que emanam correção, sinceridade, firmeza, força de trabalho e altruísmo. Traçam com simplicidade seu caminho e por onde passam deixam um duradouro rastro de luz. São nomeados como boa gente, tais figuras que põem, com sutileza, para girar o carrossel do destino.

" Deixo os versos que escrevi/as cantigas que cantei /cinco ou seis coisas que eu sei /e um milhão que eu esqueci /deixo este mundo daqui /selva com lei de cassino /vou renascer num menino /num país além do mar /licença que eu vou rodar/no carrossel do destino /enquanto enquanto puder viver/tudo o que o coração sente/o tempo estará presente /passando sem resistir /na hora que eu for partir /para as nuvens do divino /que a viola seja o sino /tocando pra me guiar/licença, que eu vou rodar/no carrossel do destino /romances e epopéias /me pedindo pra brotar / e eu tangendo devagar/a boiada das ideias/sempre em busca das colméias /onde brota o mel mais fino/e um só verso , pequenino /mas que mereça ficar/ licença, que eu vou rodar/o carrossel do destino "
Carrossel do Destino, composição de Antônio Nóbrega e Bráulio Tavares.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

UM ESTILO DE VIDA – SIR WILLIAM OSLER




“Cada pessoa tem uma filosofia de vida em pensamento, palavra ou obra, elaborada em seu interior de forma inconsciente. A vida não é uma rotina atrás da outra. A vida é um hábito, uma sucessão de atos que chegam a ser mais ou menos automáticos.
Para Aristóteles a formação de hábitos é a base da excelência moral. O estilo de vida que os aconselho agora é um hábito que se adquire gradualmente mediante repetição constante durante muito tempo. É a prática de viver somente para o dia, e para o trabalho do dia, vida em compartimentos estanques. A nossa principal tarefa não é ver o que se vislumbra de forma tênue ao longe, senão fazer o que está claramente à mão.
Deixai fora o passado! Deixai que o morto passado enterre seus mortos, sabendo que o passado nos persegue como uma sombra.
Desnudai vossa alma à noite, não por autoexame senão despojando-se, como fazeis com a roupa, dos pecados diários, sejam por ação ou omissão e despertareis como um homem livre, com uma vida renovada.
Mira o céu, se quiseres, porém, nunca o horizonte - nessa direção está o perigo. Ali não estão a verdade, nem a felicidade, nem a certeza, senão falsidades, as fraudes, o curandeirismo, os fogos fátuos que tem decepcionado a cada geração – todos chamam desde o horizonte, e seduzem aos homens que não se contentam com buscar a verdade e a felicidade que salta a seus pés”
Excertos do livro Estilo de Vida e Outros Discursos da autoria de Sir William Osler - 1849-1919; Unión Editorial S.A.
E vamos seguir avançando!

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Uma Mensagem de Alento.



Quem ouve as súplicas da Terra, dos doentes, dos pobres e dos inocentes sacrificados pelas ditaduras que ainda medram pelo mundo afora , não pode permanecer indiferente.
A Mãe Terra segue degradação impiedosa por serras elétricas rasgando suas entranhas, e com o seu uberoso solo prenhe de agrotóxicos levando de roldão milhões de espécies rumo à extinção.
Os doentes e pobres que , em vão, perambulam em busca de socorro em unidades de saúde, tornam - se fáceis presas da Parca , em decorrência de falta de insumos e precariedade da rede assistencial .
Profissionais de saúde gestados para salvar vidas , devem combater o bom combate mesmo diante de tantas barreiras. NENHUM profissional de saúde deve calar ou prestar apoio a regimes autocráticos que imolam milhares de inocentes vítimas.
A ideia que deu luz a crise não pode ser a mesma que dará um fim a esta crise; tem que mudar;(Albert Einstein ).
Vamos juntos promover as benfazejas mudanças para continuar avançando!
Dr. Edmar Fernandes

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Maimônides : um guia para médicos de verdade.
Para os doutores George Magalhães, Edmar Fernandes e Mayra Pinheiro.






" Todos os seres humanos , pelo fato de viver, filosofam, ou seja, pensam ou tratam de pensar, e ao fazê - lo duvidam e ao duvidar se questionam isto e aquilo ...
Esses meio perdidos que em maior ou menor medida somos todos os seres humanos , requerem um guia de filosofia para recuperar a fé , posto que, fé e razão encontram-se unidas. Ensina tua língua dizer não sei e farás progresso , sem dúvida ".

Maimônides (1135 -1204) junto com outros nomes imortais como Rhazes, Avicena e Averróes ilustraram a antiga medicina árabe.
Segue o juramento de Maimônides para todos médicos de corpos e de almas :

" Ó Deus! , O Senhor formou o corpo humano com uma bondade infinita! O Senhor uniu nele inúmeras forças que trabalham incessantemente como instrumentos a fim de preservar em seu todo esta casa maravilhosa, contendo uma alma imortal, e estas forças atuam com toda ordem, concordância e harmonia inimaginável. Mas se a fraqueza ou paixão violenta perturbam a harmonia, estas forças agem umas contra as outras e o corpo volta ao pó de onde veio.

O Senhor então envia ao homem seus mensageiros, as doenças, que anunciam a aproximação do perigo e pede que ele se prepare para vencê - las. A Eterna Providência me apontou para cuidar da vida e da saúde de Suas criaturas.
Que o amor e a minha arte me deixem agir em todos os momentos, que a minha avareza e a mesquinhez, tanto como a sede da glória ou da reputação, não tomem conta de meus pensamentos, porque sendo inimigos da verdade e da filantropia poderiam me decepcionar e me fazer esquecer da minha meta de aplicar o bem aos Seus filhos.

Enriqueça -me com força de alma e mente, para que ambas estejam prontas para servir ao rico e ao pobre, ao bom e ao mau, amigo e inimigo e que jamais enxergue o paciente sendo como um ser igual, adoecido.
Se médicos mais cultos que eu me aconselhar, me inspirar confiança e obediência, aceito de bom grado, pois o estudo da ciência é maravilhoso. Um só ser não pode enxergar tudo.

Que eu seja moderado em tudo, exceto na sabedoria da ciência; que eu seja insaciável até o ponto certo; permita -me ter sempre a força e a oportunidade de corrigir minhas aquisições, sempre estendendo meu domínio, porque a sabedoria não tem limite e o espírito do homem se estende infinitamente, para que diariamente se enriqueça com novos conhecimentos. Hoje ele pode descobrir os erros de ontem, e amanhã ele pode obter nova iluminação sobre o que ele deu certeza hoje.

Deus , o Senhor me apontou para cuidar da vida e da morte de Suas criaturas; eis -me pronto para minha vocação " .
Francisco José Costa Eleutério, médico.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018


Verde que te quero Verde





"Clama uma voz amiga :- Aí tens o Ceará /e eu, que nas ondas punha a vista deslumbrada /olho a cidade. Ao sol chispa a areia doirada /a bordo a faina avulta e toda a gente já /"'-perdi a mala" um diz de cara acabrunhada /sobre as águas, arfando, uma breve jangada passa/tão frágil! Deus a leve onde ela vá /esmalta ao fundo a costa a verdura de um parque /e enquanto a grita aumenta em berros e assobios /rudes , na confusão brutal do desembarque :/fitando a vastidão magnífica do mar/que ressalta e reluz: -"Verdes mares bravios. .." /cita um sujeito que jamais leu Alencar"
Poema Verdes Mares , de autoria do poeta pernambucano (1886-1968).

Verde que te quero Verde , sempre, e não, vermelho!
Fotografia 3x4


"Como o amor, o apelo da música é universal. E seus ritmos expressam todas as estações da alma...
O homem não sabe o que diz o pássaro ou o córrego ou as ondas ou a chuva. Mas seu coração percebe misteriosamente o sentido de todas as vozes, que ora o alegram e ora o entristecem " ( Gibran Khalil Gibran -1883-1931).

" Eu me lembro muito bem do dia que eu cheguei /jovem que desce do Norte pra cidade grande /os pés cansados e feridos de andar légua tirana/de lágrimas nos olhos de ler o Pessoa /e de ver o verde da cana /em cada esquina que eu passava um guarda me parava /pedia os meus documentos e depois sorria/examinando o 3x4 da fotografia/e estranhando o nome do lugar de onde eu vinha/pois o que pesa no Norte, pela lei da gravidade /disso Newton já sabia:cai no Sul, / grande cidade/São Paulo violento, corre o Rio que me engana/Copacabana , Zona Norte e os cabarés da Lapa/onde morei/mesmo vivendo assim, não me esqueci de amar/que o homem é pra mulher e o coração pra gente dar/mas a mulher, a mulher que eu amei/não pôde me seguir não /esses casos de família e de dinheiro /eu nunca entendi bem/Veloso, o sol não é tão bonito pra quem vem do Norte/e vai viver na rua / a noite fria me ensinou a amar mais o meu dia/e pela dor eu descobri o poder da alegria /e a certeza de que tenho coisas novas/coisas novas pra dizer/a minha história é talvez /talvez igual a tua/jovem que desceu do Norte/que no Sul viveu na rua /e ficou desnorteado, como é comum no seu tempo/e que ficou desapontado, como é comum no seu tempo/ e ficou apaixonado e violento como eu/como você / eu sou como você /eu sou como você /eu sou como você que me ouve agora /eu sou como você "
Composição " Fotografia 3x4" da autoria de Belchior ( 1946 -2017 ).

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

TEMPO BONITO PARA CHOVER



Quase meio dia agora em Fortaleza. O tempo se apresenta bonito, carrancudo, enquanto a carruagem do Rei Sol preferiu, por cautela , não se expor a "uma vaia bem cearense" escondendo - se lá por trás do universo.

"Embora a seca seque as fontes e os rios /e os campos fiquem esturricados/e o gado morra de fome e sede / e as queimadas devorem os pastos /e os machados transformem florestas verdes em desertos áridos /e os palácios estejam cheios de corruptos -/a despeito disso minha alegria continuará a florir/e farei poemas diante do Impossível " (Habacuque 3:17-18, Paráfrase )


segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

RELEMBRANÇAS




05 de janeiro de 1968 , na Loira desposada do sol um grupo de álacres estudantes revoava rumo ao Colégio Militar de Fortaleza ou para a Escola Normal Justiniano de Serpa. Era o início da maratona do vestibular de medicina da UFC. Cerca de novecentos candidatos para cem vagas. Primeiro obstáculo : prova de português com caráter eliminatório. Para o texto de redação a escolhida foi a cearense Rachel de Queiroz (1910-2003) com o poema "Telha de Vidro":


"Quando a moça da cidade chegou/veio morar na fazenda/na casa velha.../tão velha !/quem fez aquela casa foi o bisavô. ../deram - lhe para dormir a camarinha/uma alcova sem luzes, tão escura !/mergulhada na tristura /de sua treva e de sua única portinha /a moça não disse nada/mas mandou buscar na cidade /uma telha de vidro.../queria que ficasse iluminada /sua camarinha sem claridade.../agora/o quarto onde ela mora/é o quarto mais alegre da fazenda/tão claro que ao meio dia, aparece uma renda de arabesco de sol nos ladrilhos vermelhos /que - coitados - tão velhos/só hoje é que conhecem a luz do dia. ../à luz branca e fria/ também se mete às vezes pelo clarão da telha milagrosa. ../ou alguma estrela audaciosa /careteia no espelho onde a moça se penteia / que linda camarinha! /era tão feia/ - você me disse um dia/que sua vida era toda escuridão / cinzenta/fria/sem luar, sem um clarão. ../por quê você não experimenta? /a moça foi bem sucedida.../ponha uma telha de vidro em sua vida !"


Hoje, cinquenta anos depois seguimos viagem como irmãos e cúmplices, de braços dados, numa vereda íngreme, com os pés descalços empoeirados, as mãos cobertas de calos, nuas, mas limpas. Trazemos ouro e prata, no olhar e nos cabelos , tintos pelos beijos do luar. É a nossa grande fortuna terreal. 


Deste modo, queremos um dia nos apresentar na Mansão dos Bons e dos Justos e dizer, humildemente : - "Senhor, eis Seu pequeno servo, que pelo mundo afora pelejou consolando almas, lancetando feridas, receitando meizinhas e realizando curas com Sua intercessão. Conceda-nos o perdão pelo não -feito ou pelos momentos em que fraquejamos"
Não lembro o que o jovem da foto abaixo, que confecciona esta crônica,  escreveu na dita redação. Sei que " um rapaz latino americano sem dinheiro no banco e vindo interior - Belchior" - recebeu a nota máxima nesta prova de português. 

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

" Os fogos de artifício se parecem com a alma...Gostaríamos de morrer daquele jeito, naquela exibição de potência, subindo aos céus assobiando, para terminar num orgasmo de cores que ejacula jatos de prata, fogo, estrelas e cometas..."(Rubem Alves ).


Mas, convenhamos, sem aquele espalhafatoso barulho nefasto aos nossos irmãos - animais, com aves voando atabalhoadas e os cães ganindo dolorosamente ! Menos, menos !