segunda-feira, 28 de setembro de 2020

 A Verdade É Como As Estrelas

"A verdadeira luz é aquela que emana de dentro de uma pessoa.
Revela os segredos do coração à alma, deixando -a feliz e contente com a vida .
A verdade é como as estrelas. Só aparece por trás da obscuridade da noite.
A verdade é como todas as coisas belas do mundo. Só revela seus atrativos para aqueles que primeiro sentem a influência da falsidade.
A verdade é uma profunda bondade que nos ensina a nos contentarmos na vida cotidiana e a compartilharnos com as pessoas a mesma felicidade ."
Texto de autoria de Kahlil Gibran ( 1883 - 1931 ): ensaísta, filósofo, prosador , poeta , conferencista e pintor de origem libanesa.

Foto que ilustra a crônica: final de tarde na Lagoa da Precabura , entre Fortaleza e Eusébio.

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domingo, 27 de setembro de 2020

 A Flor e a Fonte

"Deixa - me, fonte!"Dizia/A flor, tonta de terror./E a fonte, sonora e fria,/Cantava, levando a flor./"Deixa - me, deixa - me, fonte!"/Dizia a flor a chorar: /Eu fui nascida no monte.../"Não me leves para o mar"/E a fonte, rápida e fria,/Com um sorriso zombador, /Por sobre a areia corria,/Corria levando a flor./Ai, balanços do meu galho,/"Balanços do berço meu;/"Ai, claras gotas de orvalho/Caídas do azul do céu!.../Chorava a flor e gemia,/Branca , branca de terror,/E a fonte , sonora e fria/ Rolava levando a flor./"Adeus, sombra das ramadas,/Cantigas do rouxinol;/"Ai, festa das madrugadas,/"Doçuras do pôr do sol"./ Carícia das brisas leves/"Que abrem rasgões de luar.../Fonte , fonte , não me leves,/"Não me leves,/"Não me leves para o mar!.../As correntezas da vida/E os restos do meu amor/Resvalam numa descida/Como a da fonte e da flor".

Poesia de Vicente de Carvalho ( 1866 - 1924 ) , advogado, jornalista, político, magistrado, poeta e contista , nascido em Santos , SP. Pertenceu à Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira 29.

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 Violões Que Choram...

""Ah! plangentes violões dormentes, mornos,
Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,
Noites da solidão, Noites remotas
Que nos azuis da Fantasia bordo,
Vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações à luz da lua,
Anseio dos momentos mais saudosos,
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras tremem.

Harmonias que pungem , que laceram,
Dedos nervosos e ágeis que percorrem
Cordas e um mundo de dolências geram
Gemidos, prantos, que no espaço morrem...

E sons soturnos, suspiradas mágoas,
Mágoas amargas e melancolias,
No sussurro monótono das águas,
Noturnamente, entre ramagens frias.

Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

Tudo nas cordas dos violões ecoa
E vibra e se contorce no ar , convulso...
Tudo na noite, tudo clama e voa
Sob a febril agitação de um pulso.

Que esses violões nevoentos e tristonhos
São ilhas de degredo atroz, funéreo,
Para onde vão, fatigadas do sonho,
Almas que se abismaram no mistério. "

Um dos mais belos poemas de João da Cruz e Sousa (1862 - 1898), catarinense , e principal representante do movimento simbolista brasileiro, considerado o "Dante Negro".
Filho de ex - escravos, teve sua educação patrocinada pelo coronel Xavier de Sousa.
Casou- se com Gavita Gonçalves em 1893 e com ela teve 4 filhos , dos quais 2 foram cedo levados pela tuberculose.
Cruz e Sousa morreu aos 36 anos , consumido pela Peste Branca, a tuberculose.
Obras publicadas em vida : " Missal" , e, "Broquéis ".

Ilustra a matéria: " Mulher com Guitarra " , da autoria de Pierre - Auguste Renoir ( 1841 - 1919 ) , do movimento impressionista.

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quarta-feira, 23 de setembro de 2020

 A Primavera Chegou

"Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim,
A segunda é ver o outono,
A terceira é o grave inverno,
Em quarto lugar o verão,
A quinta coisa são teus olhos.
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando" ( Pablo Neruda: 1904 - 1973 ).

As estações como símbolos universais representam o nascimento, crescimento , morte e renascimento, como ciclos regulares da natureza e da vida humana.
A Primavera é associada à deusa Afrodite ou Vênus, na mitologia romana; ao deus Hermes ou Mercúrio na mitologia romana; e , à Flora , deusa das flores.
As flores simbolizam a primavera, época em que a maioria delas desabrocha: representam , também, a brevidade da existência com o ser humano que desabrocha, cresce e depois cai, como uma flor. Brancas , as flores remetem à perfeição, à pureza e à inocência.
Vermelhas, são símbolos do coração apaixonado e do amor físico. Os espinhos representam as dores de amor . Ave Maria !

" Se você encontrar a Rosa
E a malvada perguntar por mim
Diz a ela que a saudade ainda é
A flor do meu jardim.
As Hortênsias, Margaridas, Magnólias,
Foram flores que murcharam
No canteiro do meu peito,
Mas a Rosa, mas a Rosa,
É o meu amor perfeito"
Composição musical de Ataulfo Alves (1909 - 1969 ) e Wilson Batista ( 1913 - 1968 ).

"A sorrir você me apareceu
E as flores que você me deu
Guardei no cofre da recordação,
Porém depois você partiu
Pra muito longe e não voltou
E a saudade que ficou
Não quis abandonar meu coração.
A minha vida se resume
Oh ! Dama das camélias
Em duas flores sem perfume
Oh ! Dama das camélias "

Composição musical de Alcyr Pires Vermelho (1906 - 1994 ).

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domingo, 20 de setembro de 2020

 Pacoti , Máquina de Gols do Norte.

Francisco Nunes Rodrigues, Pacoti, nasceu no dia 26 de dezembro de 1933 , na cidade de Quixadá, no sertão central do Ceará. Iniciou a vida de futebolista no time do Bangu , de sua cidade natal , nos anos de 1952 e 1953. Migrou no ano seguinte, 1954, para a capital , Fortaleza com fins de atuar no time do Nacional , clube pertencente aos Correios e Telégrafos, do Governo Federal. No íntimo, Pacoti , tinha consciência da brevidade da vida de atleta e visava um emprego federal para acomodar um futuro tranquilo. O próximo pouso foi atuar no Ferroviário Atlético Clube, ligado à outro órgão federal , no caso , a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima ( RFFSA) onde permaneceu de 1955 a 1957. Em dupla de área com um ponta de lança oriundo de Juazeiro do Norte, Zé de Mello, os dois com raro faro de gol fizeram fama.

Na história do Ferrão da Barra , um atacante conhecido por Macaco figura como artilheiro - mor com 115 gols em 194 jogos, seguido por Fernando , com 109 gols em 328 jogos. Zé de Mello , vem logo depois com 95 gols em 137 refregas. E Pacoti cravou a marca de 51 gols em apenas 78 partidas , atingindo uma significativa média de 0,65. Com pinta de goleador , Pacoti , busca novos ares , agora no Sport Clube do Recife onde tornou - se o artilheiro do campeonato de 1958 , marcando 36 gols em 18 partidas. Passou assim a ser denominado de Máquina de Gols do Norte. Pacoti integrou a seleção pernambucana que representou o Brasil , na chamada Seleção Cacareco , em competição internacional onde logrou um terceiro lugar.

O próximo pouso de Pacoti deu - se no glorioso Vasco da Gama de Futebol e Regatas do Rio de Janeiro , juntando - se à nata de atletas brasileiros. Em 1960 , Pacoti foi cedido por empréstimo à Portuguesa Santista , onde permaneceu por pouco tempo. Depois foi negociado com o Sporting de Lisboa onde conquistou 2 títulos nacionais. Voltando ao Brasil , integrou o time do Olaria do Rio de Janeiro , em breve passagem e dali seguiu para o time do Valência , da Venezuela , atuando por duas temporadas e sendo campeão de um certame.
Retornando ao Brasil , encerrou sua rica carreira , no time de seu coração, o Ferroviário Atlético Clube , no ano de 1968.

A foto que ilustra esta crônica mostra o atleta Pacoti, o primeiro à esquerda, seguido do Dr. Clayrton Weyne e Sebastião Belmino, dois atletas do copo e nobres errevecianos .

Aí é Ferrim, meu filho !

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quinta-feira, 17 de setembro de 2020

 Música Popular Brasileira X Poesia

Para a poeta Jandira Cardoso.

O homem quando escutou a voz íntima que lhe falava em silêncio, lapidou a poesia e o canto para dar corpo à sua emoção. A poesia em seus primórdios na Grécia e na Roma Antigas tratava - se de uma comunicação feita por um indivíduo ou por um couro de vozes acompanhados de um instrumento musical como por exemplo , uma lira ( poesia lírica). Na Idade Média, os trovadores disseminaram as Cantigas de Gesta evocando as epopeias nacionais ( poesia épica).

Ao longo do tempo a poesia foi se distanciando da música, e apenas na modernidade novamente os poetas cederam suas obras para serem musicadas. Com isso ambas as partes saíram auferindo louros.

" Minh'alma, de sonhar -te, anda perdida /meus olhos andam cegos de te ver/não és sequer a razão do meu viver/pois que tu és já toda minha vida/não vejo nada assim enlouquecida/passo no mundo, meu amor a ler/no misterioso livro do teu ser/a mesma história tantas vezes lida !/"tudo no mundo é frágil, tudo passa"/quando me dizem isso, toda a graça/de uma boca divina , fala em mim/e , olhos postos em ti, digo de rastros/ah ! podem voar mundos , morrer astros/que tu és como um deus: princípio e fim..."

Raimundo Fagner (1949 - ) , cantor e compositor cearense colocou melodia neste poema da mimosa portuguesa Florbela Espanca ( 1894 - 1930 ), que partiu no dia de seu aniversário, aos 36 anos , num raio de luz a rumo ao infinito.
Quanto à música " Canteiros " que gerou polêmica e processo , Fagner adaptou partes de um longo poema - Marcha - de Cecília Meireles ( 1901 - 1964 ) :

" Quando penso no teu rosto /fecho os olhos de saudade/tenho visto muita coisa /menos a felicidade/soltam - me meus dedos ristes/ dos sonhos claros que invento/nem aquilo que imagino /já me dá contentamento".

O restante desta composição, "Canteiros" , insere partes da canção " Hora do almoço " , de Belchior (1946 - 2017) , e de " Águas de março ", da autoria de Tom Jobim (1927 - 1994 ). No final do drama e da trama , tudo deu certo.

" Esta cova que estás com palmo medida/é a conta menor que tiraste em vida/ é de bom tamanho, nem largo nem fundo/é a parte que te cabe neste latifúndio/não é cova grande, é cova medida/ é a terra que querias ver dividida/é uma cova grande pra teu pouco defunto/ mas estarás mais ancho que estavas no mundo/é uma cova grande pra teu defunto parco/ porém mais que no mundo te sentirás largo/é uma cova grande pra tua carne pouca / mas a terra dada , não se abre a boca/é a conta menor que tiraste em vida/ é a parte que te cabe deste latifúndio/é a terra que querias ver dividida/ estarás mais ancho que estavas no mundo/ mas a terra dada, não se abre a boca ".
Chico Buarque de Hollanda (1944 - ) costurou uma bela melodia neste poema agreste do acadêmico João Cabral de Melo Neto ( 1920 - 1999).
A realidade descrita em "Funeral de um Lavrador" ainda se mantém de pé nos vetustos grotões deste Brasil imenso em extensão e em injustiça social, esperando ao Deus- dará um milagre que nunca chega.

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segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Marieta Carvalho Feitosa (1917 -2020), nasceu na cidade de São Benedito, no interior do Ceará. Seus pais foram Pedro Aires de Carvalho e Ana Mendes de Carvalho. Contraiu matrimônio com Francisco Feitosa Lima e teve os seguintes filhos : Iran, Idalmir, Erivan, Maria de Lourdes, Iraneida, Antônio Alberto, José Alécio e Ana Lúcia. Daí houve a multiplicação para netos e bisnetos. Desse modo, D. Marieta Plantou, regou e colheu bons frutos , dignos de uma matriarca de estirpe nordestina, daquelas que carregam  daquelas crianças, penas, pesos, e no entanto , reservam espaço para felicidade , amor e alegria. Sorriem quando querem gritar . Cantam quando querem chorar. Vertem lágrimas quando estão contentes e sorriem quando nervosas. Sabem que um abraço e um beijo podem sanar um coração roto. O mundo gira ao compasso do coração da mulher. Elas fazem mais que só dar a vida.

Ontem, parou de bater o grande coração de D. Marieta , após 103 anos de uma frutífera vida. Com a mesma altivez que enfrentou bonanças e procelas , partiu para ocupar seu lugar na Mansão dos Justos, ao lado do Senhor do Céu e da Terra.
Requiescat in Pace!
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terça-feira, 8 de setembro de 2020

 "O' mundo invisível,

Nós te vemos,
O' mundo intangível,
Nós te tocamos,
O' mundo incognoscível,
Nós te conhecemos,
Impalpável,
Nós te abraçamos. "

"Nada começa e nada termina
Que não se pague com lamentos;
Pois nascemos nas dores dos outros
E morremos na nossa".

Francis Thompson ( 1859 - 1907 ) : poeta britânico de vida bastante atribulada. Fez estudos de teologia em Durham , e medicina em Manchester. Morreu aos 48 anos de idade sentenciado pela tuberculose, a peste branca.

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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

 Tango El Choclo

Para o mestre Josias Cavalcante

Em 1959 , um adolescente, sob a tênue luz de um poste na rua Rodrigues Júnior, em Fortaleza, se deliciava ouvindo um tango - El Choclo - na voz de veludo do gigante de ébano americano Nat King Cole ( 1919 - 1965 ). Ao longo da vida a tradução daquele portunhol enviesado presente neste tango deu bastante trabalho , pois tratava - se do " lunfardo " uma linguagem própria utilizada em bairros boêmios de Buenos Aires da época , e popularizado por Carlos Gardel ( 1890 - 1835 ) .
Segue uma tradução livre do Tango El Choclo, da autoria de Ángel Villoldo composto em 1903 , e renovado em 1947 por Enrique Santos Hiscepolo.

" Com este tango que é sarcástico e zombeteiro/se matou duas asas à ambição do meu subúrbio/com este tango , nasceu o tango como um grito/saiu da sórdida periferia buscando o céu/feitiço estranho de um amor como cadência/que abriu caminhos sem mais lei que sua esperança/mistura de raiva , de dor, de fé, e de ausência/chorando na inocência de um rítmo brincalhão/

Por teu milagre de notas agoreiras/nasceram sem censuras as damas da noite e as rameiras/lua nos charcos, malícia nas cadeiras/e uma ânsia feroz nas maneiras de querer/Ao evocar - te...tango querido/sinto que tremem as lajotas de um bordel/e ouço ressoar o meu passado/hoje que não tenho mais minha mãe/sinto que chegas nas pontas dos pés para beijar - me/quando seu canto nasce ao som de um bandonéon /

Como um espantalho se fez ao mar com sua bandeira/ e misturou Paris com Ponte Alsina/fostes padrasto do cafetão e da piranha/e até madrasta de balcão e da garota/por sua elegância, tiras, bêbados e miseráveis/ fizeram côro ao nascer sobre seu destino/rabo de galo, amarelinha , cachaça/que ardeu nos cortiços e ardeu em meu coração/Tango querido... tango argentino.../sinto que chegas nas pontas dos pés para beijar- me/quando seu canto nasce ao som do bandoneón "

El Choclo traz referência à cor dourada de uma espiga de milho em comparação com os cabelos louros de alguém.
Carlos Gardel (acidente de aviação) e Nat King Cole ( câncer) "se encantaram" cedo , aos 45 anos de idade , para cantarem em outros lugares do multiverso.

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