quinta-feira, 17 de setembro de 2020

 Música Popular Brasileira X Poesia

Para a poeta Jandira Cardoso.

O homem quando escutou a voz íntima que lhe falava em silêncio, lapidou a poesia e o canto para dar corpo à sua emoção. A poesia em seus primórdios na Grécia e na Roma Antigas tratava - se de uma comunicação feita por um indivíduo ou por um couro de vozes acompanhados de um instrumento musical como por exemplo , uma lira ( poesia lírica). Na Idade Média, os trovadores disseminaram as Cantigas de Gesta evocando as epopeias nacionais ( poesia épica).

Ao longo do tempo a poesia foi se distanciando da música, e apenas na modernidade novamente os poetas cederam suas obras para serem musicadas. Com isso ambas as partes saíram auferindo louros.

" Minh'alma, de sonhar -te, anda perdida /meus olhos andam cegos de te ver/não és sequer a razão do meu viver/pois que tu és já toda minha vida/não vejo nada assim enlouquecida/passo no mundo, meu amor a ler/no misterioso livro do teu ser/a mesma história tantas vezes lida !/"tudo no mundo é frágil, tudo passa"/quando me dizem isso, toda a graça/de uma boca divina , fala em mim/e , olhos postos em ti, digo de rastros/ah ! podem voar mundos , morrer astros/que tu és como um deus: princípio e fim..."

Raimundo Fagner (1949 - ) , cantor e compositor cearense colocou melodia neste poema da mimosa portuguesa Florbela Espanca ( 1894 - 1930 ), que partiu no dia de seu aniversário, aos 36 anos , num raio de luz a rumo ao infinito.
Quanto à música " Canteiros " que gerou polêmica e processo , Fagner adaptou partes de um longo poema - Marcha - de Cecília Meireles ( 1901 - 1964 ) :

" Quando penso no teu rosto /fecho os olhos de saudade/tenho visto muita coisa /menos a felicidade/soltam - me meus dedos ristes/ dos sonhos claros que invento/nem aquilo que imagino /já me dá contentamento".

O restante desta composição, "Canteiros" , insere partes da canção " Hora do almoço " , de Belchior (1946 - 2017) , e de " Águas de março ", da autoria de Tom Jobim (1927 - 1994 ). No final do drama e da trama , tudo deu certo.

" Esta cova que estás com palmo medida/é a conta menor que tiraste em vida/ é de bom tamanho, nem largo nem fundo/é a parte que te cabe neste latifúndio/não é cova grande, é cova medida/ é a terra que querias ver dividida/é uma cova grande pra teu pouco defunto/ mas estarás mais ancho que estavas no mundo/é uma cova grande pra teu defunto parco/ porém mais que no mundo te sentirás largo/é uma cova grande pra tua carne pouca / mas a terra dada , não se abre a boca/é a conta menor que tiraste em vida/ é a parte que te cabe deste latifúndio/é a terra que querias ver dividida/ estarás mais ancho que estavas no mundo/ mas a terra dada, não se abre a boca ".
Chico Buarque de Hollanda (1944 - ) costurou uma bela melodia neste poema agreste do acadêmico João Cabral de Melo Neto ( 1920 - 1999).
A realidade descrita em "Funeral de um Lavrador" ainda se mantém de pé nos vetustos grotões deste Brasil imenso em extensão e em injustiça social, esperando ao Deus- dará um milagre que nunca chega.

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