sábado, 30 de dezembro de 2023

 A Vida : O Mais Belo dos Poemas

A vida é o mais belo dos poemas , a vida que lemos enquanto a compomos ; poema em que se ligam e ajudam mutuamente a inspiração e a consciência , a vida que conhecemos como microcosmo e que representa perante Deus a repetição em miniatura do poema universal e divino . Sim , sê homem, quer dizer, , sê natureza , sê espírito, sê imagem de Deus, sê o que há de maior , de mais formoso , mais elevado em todas as esferas do ser ; sê uma ideia e uma vontade infinita , uma reprodução do grande Todo . E sê tudo não sendo nada , suprimindo - te , deixando entrar a Deus em ti como o ar num espaço vazio , reduzindo teu eu egoísta ao contingente da essência divina . Sê humilde, recolhido e silencioso para ouvir , no fundo de ti mesmo, a voz sutil e profunda ; sê espiritual e puro para entrar em comunhão com o espírito puro . Retira - te amiúde, ao último santuário de tua íntima consciência , penetra em tua pontualidade de átomo para libertar - te do espaço, do tempo , da matéria , das tentações , da dispersão, para escapar de seus próprios órgãos e de tua própria vida , quer dizer , morre com frequência e interroga - te diante dessa morte , como preparação para a morte final .
Crer num Deus bom , paternal , educador , que regula a força do vento à ovelha tosada , que só por necessidade castiga , e que priva com pesar : este pensamento, ou melhor , esta convicção dá coragem e segurança .
Oh ! Quão necessitados estamos de amor , de ternura , de afeição, de bondade, e quão vulneráveis somos , nós, filhos de Deus , nós, imortais e soberanos !
Fortes como o mundo ou fracos como o verme , conforme , se representamos Deus ou apenas a nós mesmos, se apoiamos no ser ou estamos sós .
Obrigado, repouso ; obrigado, solidão; obrigado, Providência ! Pude penetrar em mim , pude dar audiência ao meu bom anjo . Retemperei - me no sentimento de minha vocação, de meu dever , na recordação de minha fraqueza . Vamos , ano novo, traz o que quiseres , Mas não me arrebates a paz , deixa - me a claridade da consciência em Deus !
Senhor, comunica tua força aos fracos de boa vontade !
Excertos do livro " Diário Íntimo " da autoria de Henri - Frédéric Amiel ( 1821 - 1881 ) , poeta , crítico literário, professor de estética e filosofia em Genebra .
Pode ser uma imagem de árvore de Natal e Angel Oak
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terça-feira, 26 de dezembro de 2023

 Beira - Mar de Saudades

A Beira - mar de Fortaleza mostra os olhos da cidade para o mundo . Hoje vivendo nova e radical reforma , pontilhada de arranha - céus , pouca lembrança guarda dos bons tempos da década de 70 do século passado , da pura boêmia e dos aconchegantes bares , onde o futuro " Pessoal do Ceará " pontuava , saindo do bairro do Bemfica , lá dos Institutos da UFC ( Física , Química , Matemática , Arquitetura e Engenharia ) . Jovens notívagos , reunidos no Bar do Anisio varavam a noite mostrando suas composições musicais , a maioria retratando nossa querida Fortaleza :
Fagner , Belchior , Ednardo , Ricardo Bezerra , Petrúcio Maia , Wilson Cirino , Jorge Mello , Dedé Evangelista , Marcus Francisco , Maninho do Acordeon , Téti , Amelinha , Mary Pimentel , dentre tantas importantes figuras .
Há pouco , estando eu , tomando água de coco , num pequeno comércio , ali na calçada da outrora avenida Presidente Kennedy , o garçon que me servia , era uma figura viva da história da Beira - Mar dos anos 70 , onde trabalhou num pequeno bar do casal Anisio e dona Augusta que preparava uma deliciosa comida caseira regada a uma caninha e um Cuba - Libre .
Quanta saudade , Meu Deus !
" Faz muito tempo que eu não vejo o verde / daquele mar quebrar / nas longarinas da ponte velha que ainda não caiu / faz muito tempo que eu não vejo o branco / da espuma espirrar / naquelas pedras com sua eterna briga com o mar / uma a uma as coisas vão sumindo/ uma a uma se desmilinguindo / só eu e a ponte velha teimam resistindo/ a nova jangada de vela/ pintada de verde e encarnado/ só meu mote não muda nada/
E o mar engolindo lindo/ a antiga Praia de Iracema/ os olhos grandes da menina/ lendo o meu mais novo poema / e a lua desconfiada/ a noiva do sol com mais um supermercado/ era uma vez meu castelo entre mangueiras/ e jardins florados / e o mar engolindo lindo/ e o mar engolindo rindo/ Beira Mar ê ê , Beira Mar /
Ê maninha arma aquela rede branca / que eu vou chegando agora "
Letra da composição musical " Longarinas " , do cantor , compositor e poeta cearense Ednardo.
" Na beira mar / entre luzes que lhe escondem/ só sorrisos me respondem/ que eu me perco de você/ você nem viu / a lua cheia que eu guardei/ a lua cheia que eu esperei/ você nem viu, você nem viu/ viva o som velocidade/ forte praia, minha cidade / só meu grito nega aos quatro ventos/ a verdade que eu não quero ver/ que eu me perco de você/ e o seu gosto/ que foi ficando em minha boca / vai calando a voz já rouca/ sem mais nada pra dizer/ eu fugindo de você/ outra vez me disputando/ é a vida, é a vida / simplesmente e nada mais / e um gosto de você que foi ficando/ e a noite, enfim , findando/ Igual a todas as demais/ e nada mais/ meu amor na beira mar / entre luzes que lhe escondem / só sorrisos me respondem / e nada mais , e nada mais " .
Composição musical " Beira Mar " , do cantor músico e poeta Ednardo .
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segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

 Meu Presente de Natal - 2023

" A esta hora exatamente/ há uma criança na rua/ há uma criança na rua/ é honra dos homens proteger o que cresce/ cuidar que não haja infância dispersa pelas ruas / evitar que naufrague seu coração de barco/ sua incrível vontade de pão e chocolate/ colocar uma estrela no lugar da fome/ caso contrário, é inútil caso contrário é um absurdo/ ensaiar na terra a alegria e a música/ porque de nada vale, se há uma criança na rua "
" Todo o tóxico do meu país entra pelo meu nariz/ lavo carros , limpo sapatos, cheiro cola e também uso crack/ roubo carteiras , mas sou gente fina, sou um sorriso sem dentes/ chuva sem teto, unha com terra, sou o que sobrou da guerra / um estômago vazio, um golpe no joelho que se cura com o frio/ o melhor guia turístico da redondeza/ por três moedas te guio pela capital/ não preciso de visto para voar pelos arredores/ porque brinco com aviões de papel/ arroz com pedra, frango com vinho, e o que me falta eu imagino/ não deve andar o mundo com amor descalço/ acenar com um jornal com uma carta na mão/ subindo nos trens, substituindo o riso/ batendo - nos no peito com um lado cansado/ não deve andar a vida recém- nascida, a preço/ a infância arriscada por uma extrema ganância/ porque, então, as mãos são fardos inúteis/ e o coração, apenas uma pobre palavra/ quando cai a noite, durmo acordado, com um olho fechado e o outro aberto/ porque senão os tigres me mandam um balaço/ minha vida é como um circo, mas sem palhaço/ vou caminhando pelas ruas fazendo malabares com cinco laranjas/ pedindo moedas a todos numa bicicleta de uma só roda / sou oxigênio para este continente/ sou o que o presidente descuidou/ não se assuste se tenho mau hálito, se me vês sem camisa com as tetas ao vento/ sou um elemento a mais na paisagem/ os resíduos da rua sem camuflagem/ como alguma coisa que existe, mas de mentira/ algo sem vida, mas que respira / pobres são aqueles que se esqueceram de que há/ crianças na rua/ que há milhões de crianças que crescem nas ruas/ eu os vejo apertando seu pequeno coração/ mirando- nos a todos com uma fábula nos olhos /:um relâmpago truncado cruza seus olhos/ porque ninguém protege a vida que cresce/ e o amor faz- se perdido, como uma criança solta na rua "
Tradução livre da canção " Hay un niño en la calle " , interpretada por Mercedes Sosa.
Há pouco saindo de uma maternidade , onde assisti a mais um milagre , com o nascimento de bela criaturinha de Deus , deparo - me com uma cena pungente de um irmão deitado ao rés do chão de uma via pública , acompanhado de um atento cão de guarda .
Por que esta injustiça ainda a nos mostrar uma dura e cruel face da vida ?
Tiro do bolso , aleatoriamente , uma boa porção de dinheiro e entrego ao meu irmão , que cai em um choro baixinho , junto comigo , na presença da lua banhada em prata . Patética a cena daqueles dois filhos de Deus abraçados . Saí dali com o coração leve como uma pluma ao vento , curtindo uma infantil e veraz alegria !
Ganhei meu presente de Natal !
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sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

 Meu Natal de 2023

" Dos berços de linho e seda / aos ninhos de palha podre / onde houver uma criança / ou um coração de criança / aí será meu Natal .
Não no coração dos ricos / que me exploram , que me ofendem / que me ignoram , que me vendem / quando aos pobres fazem mal / não nas mesas dos tiranos / dos perversos , dos falsários / dos que matam , dos que enganam/
Dos que abusam dos ingênuos / para os fins mais desumanos / como as guerras que se tramam/ com as armas mais letais / não nos corações malditos / que me compram , que me escambam / que me afligem nos aflitos / e perseguem aos que eu amo / estes não terão Natal .
Meu Natal é dos humildes / é o Natal das lavadeiras / dos porteiros , dos mendigos / dos policiais , dos serventes / dos garis , dos faxineiros / das enfermeiras que velam / das professoras que educam / dos salva - vidas que salvam / dos que criam / dos que zelam / pelos velhos que caducam / estes sim , terão Natal / meu Natal é dos que sofrem / dos doentes incuráveis / das amadas esquecidas / dos loucos irresponsáveis / e das crianças perdidas .
Meu Natal é dos que lutam / para viver nas cidades / nos sertões despovoados / nas casas e nos casebres/ nos abrigos e orfanatos / nas pocilgas e masmorras / nos hospícios e hospitais / nos porões e albergues / nas celas dos consagrados/ nos berçários , nas igrejas / nas falas dos namorados / nos presentes , nos brinquedos/ mas sobretudo no homem / sim , nós filhos das mulheres / onde houver uma criança/ ou um coração de criança/
Aí será o meu Natal / estarei por toda parte / nas penas dos que trabalham/ nas portas do que se vendem/ nas lágrimas dos que choram / nos corações dos que cantam / nos olhares dos dementes / nos beliches e nas redes/ nas esteiras e nas camas / sob os tetos , sob as pontes / sob as pedras , sob as luas / nos seios das que amamentam / nos ventres das que me esperam/ na angústia das que me abortam / no esquife das que morreram/ onde houver uma criança/ ou um coração de criança/ aí será o meu Natal " .
( Paulo Gomide - 1912 - 1954 ) .
Foto que ilustra o texto : minha filha Ana Lis , com seu grande coração de criança , iluminando o meu Natal !
Pode ser uma imagem de 1 pessoa, bebê, sorrindo e brinquedo
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sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

 O Sono da Razão Produz Monstros : Goya

Francisco José de Goya y Lucientes nasceu em Fuendetodos , Saragoça, Espanha , no dia 30 de março de 1746 , e faleceu em 16 de abril de 1828 . Considerado o mais importante artista espanhol do final do século XVIII e começo do século XIX .
Na gravura " O Sono da Razão Produz Monstros " , de 1799 , Goya , mostra o artista dormindo , prestes a ser invadido por tétricas criaturas noturnas perturbadoras que são " ideias perigosas " representadas por corujas , morcegos , e um gordo gato preto .
Cruz , Credo !
O " morcego " representa a reencarnação ;
A " coruja " , mostra a águia da noite , a caçadora noturna ;
O " gato " , exibe o fiel companheiro das bruxas.
Goya , no " Sono da Razão Produz Monstros " põe a nu que " a racionalidade está condicionada à natureza dual do homem : um ser racional , mas ainda assim , um animal sujeito à selvageria e ao irracional " .
Trata - se de um repúdio a atitudes atrabiliárias tão comuns nos dias de hoje em " certas democracias " , com seus aristocratas estúpidos e inquisidores brutais . Era um sonho que o despertar da racionalidade levaria à Idade da luz .
Ponto Final .
Pode ser arte
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