quinta-feira, 22 de agosto de 2019



O Poeta Caetano Ximenes Aragão
"Por profissão 
Sou íntimo da morte
Por mais intimidade 
Que tenhamos
Ainda somos 
Dois desconhecidos
Crepitâncias
Subcretitâncias 
Preamar
Maré montante
Dispnéia 
Espuma escarlate
Rompe os alvéolos
Lívida é a face
O homem é um cubo
De gelo
Alguém desligou
A central de oxigênio
O sol
O vento
O mar
Acariciavam seu corpo
De repente
O olho verde hipnótico 
Elabora a canção dos afogados
Azul era seu corpo
Loiros os seus cabelos
Que escorriam como cachos de mel
Uma nuvem cobre o rosto do sol
E o vento sumiu - se na síncope
Boca a boca
Intermitente
Beijo da vida
Na morte
Asfixia azul
Cais dos astronautas
Caminho orbital
À procura de ômega
Alguém desligou 
A central de oxigênio
O útero se contrai 
Em nebulosas
Uma vida rompe 
O ciclo da morte
A morte rompe 
O ciclo da vida.....
Tórax de bronze 
Cavernas pré- históricas 
Escavadas
Nos pulmões de pedra
De sabão 
Onde o sangue imemorial
Irrompe nas alamedas
Brônquicas 
E vomita a grande flor
Da fome secular
Alguém desligou
A central de oxigênio ...
Por profissão 
Sou íntimo da morte 
Por mais que me aproxime
Ou me afaste
Mais próximo 
Estou 
Do grande dia
Que alguém desligará
Minha central de oxigênio "
Excertos de um poema da autoria de Caetano Ximenes Aragão ( 1927 - 1995 ) . Poeta nascido em Alcântaras , no Ceará . Graduado pela Faculdade de Medicina da Bahia e membro da Academia Cearense de Medicina onde ocupou a Cadeira Número 29.
Escreveu " O Pastoreio da Nuvem e da Morte " ; Romanceiro de Bárbara " ; "Sangue de Palavra"; " Canto Intemporal "; " Caetanias " .

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