segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Na Praça Rogério Fróes, com Juvenal Galeno
Para o Dr. Eurípedes Chaves
Um pequeno cajueiro - Anacardium occidentale - prenhe , deita ao chão, irmanados , o fruto
( a castanha ) e o pedúnculo floral ( a pseudofruta piriforme de cor amarela ou vermelha ) num aprazível logradouro, a Praça Rogério Fróes, em Fortaleza.
Um caminhante , integrante da geração Baby Boomers ( nascido entre 1940 e 1960 ) , sob o amparo seguro de um " kit preventivo new age ": desjejum com frutas e fibras ; uma aspirina infantil ; uma combinação de Vitamina C , D e Folato ; uma estatina; uma biguanida . Claro , e um obrigatório exercício de alongamento.
O tal caminhante colhe o apetitoso caju e desliza , sonso, rumo a um quiosque na extremidade da praça. Retira , com cautela , do bolso traseiro da surrada calça faroeste , uma " quartota " contendo uma caninha para formar um par perfeito com o caju.
Afinal , ninguém é de ferro , e o sábado, repleto de homens vazios , promete !

" Cajueiro pequenino /carregadinho de flor/à sombra das tuas folhas/venho cantar meu amor/acompanhado somente/da brisa pelo rumor/cajueiro pequenino/carregadinho de flor/tu és um sonho querido/ de minha vida infantil/desde este dia ... me lembro/era uma aurora de abril/por entre verdes ervinhas/nascente todo gentil/cajueiro pequenino/meu lindo sonho infantil/que prazer , quando encontrei -te/ nascendo junto ao meu lar/ - este é meu , este defendo/ninguém mo venha arrancar/bradei e logo cuidoso/contente fui te alimpar/cajueiro pequenino/meu companheiro do lar/crescente... se eu te faltasse/que de ti seria, irmão ?/afogado nesses matos/morto à sede no verão.../tu que foste sempre enfermo/aqui neste ingrato chão !/cajueiro pequenino/que ti seria , irmão?/crescente.. crescemos ambos/nossa amizade também/eras tu o meu enlevo/o meu afeto o teu bem/se tu sofrias... eu triste/chorava como ... ninguém/cajueiro pequenino/por mim sofrias também!/quando em casa me batiam/contava - te o meu penar/tu calado me escutavas/pois não podias falar/mas no teu semblante , amigo/mostravam grande pesar/cajueiro pequenino/nas horas do meu penar !/após as dores ... me vias/brincando ledo e feliz/o " tempo será " e outros/brinquedos que eu tanto quis !/depois, chamando a teu lado/em muito verso que fiz/cajueiro pequenino/me vias brincar feliz !/mas um dia...me aumentaram.../fui obrigado... parti/chorando, beijei - te as folhas.../quanta saudade senti !/fui - me longe 
... muitos anos/ausente pensei em ti.../cajueiro pequenino/quando obrigado parti !/agora volto, e te encontro /carregadinho de flor !/mas ainda tão pequeno /com muito mato ao redor.../coitadinho , não cresceste/ por falta do meu amor/cajueiro pequenino/carregadinho de flor "
Cajueiro Pequenino , da autoria de Juvenal Galeno da Costa e Silva ( 1836 - 1931 ). 

O criador da poesia de motivos e feição populares no Brasil. Pioneiro do Folclore no Nordeste.

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