domingo, 25 de dezembro de 2016

JOEL SILVEIRA, A VÍBORA



Joel Silveira (1918 – 2007), Jornalista, cronista, memorialista e poeta bissexto, nasceu na cidade de Lagarto, no estado de Sergipe. Filho da professora primária Jovita Ribeiro e do comerciante Ismael Silveira. Em 1937 seguiu para o Rio de Janeiro com fins de estudar Direito. 

Largou os estudos quando cursava o segundo ano da dita faculdade. Trabalhou inicialmente no semanário esquerdista Dom Casmurro (1937 - 1946) de propriedade de Brício de Abreu e Álvaro Moreyra, e, em Diretrizes (1940 – 1944). Ensaiava então os primeiros passos para colaborar em grandes jornais e revistas da época como Diários Associados, O Estado de São Paulo, Última Hora, Correio da Manhã e Manchete. 

Fez companhia a gigantes da imprensa como David Nasser, O Turco; Edgar Morel; Carlos Lacerda, O Corvo; Assis Chateaubriand, Chatô; e Samuel Wainer.
Joel Silveira foi escolhido por Assis Chateaubriand para acompanhar a Força Expedicionária Brasileira (FEB) à Itália nos estertores da Segunda Guerra Mundial. Chateaubriand lhe advertia, enfático e patético: “ – Vá para a Itália matar alemães e me faça um favor, seu Silveira: não me morra, seu Silveira, se não lhe boto no olho da rua “.

Escrevia deste modo, Joel Silveira numa crônica de Natal numa Itália em guerra:
 “ Esta é a história de um Natal brasileiro na frente de batalha. Um Natal diferente, gelado, traiçoeiro, de horas se ouvindo numa terra varejada pelos morteiros e metralhadoras. 
Este ano, na noite do Senhor, eles manejam suas metralhadoras, jogam granadas de mão, fazem feridos ou mortos. Mataram e feriram, porque assim é a guerra “.
Joel Silveira ficou no palco da guerra até 29 de abril de 1945, data da rendição das tropas alemãs frente ao contingente brasileiro. Segundo suas próprias palavras “ chegara na Itália com 27 anos e voltara depois de 11 meses de guerra com 40 anos de idade, tamanho o sofrimento “.

Em 1952 fundou com o auxílio de Rubem Braga e Rafael Corrêa de Oliveira, o jornal de curta duração, O Comício, com a colaboração de feras como Millôr Fernandes, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende, Carlos Castelo Branco, Hélio Pellegrino, Thiago de Mello, Fernando Sabino, Sérgio Porto e Clarice Lispector. A partir de 1964, por conta do Movimento Militar, dedicou-se à tradução de obras de escritores como Gabriel Garcia Marques, Manuel Puig e Ítalo Calvino.

 Neste período puxou cadeia em três ocasiões em decorrência de sua militância de esquerda.
Ao longo de sua extensa carreira, Joel Silveira foi agraciado com vários prêmios como, Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras; Líbero Badaró; Prêmio Esso Especial; Prêmio Jaboti e Golfinho de Ouro. Com mais de cinquenta anos de militância na imprensa brasileira, Joel publicou cerca de 40 livros, entre memórias, autobiografias, cartas e diários.

“ Não quero ser pretencioso, mas acho que eu merecia uma velhice mais tranquila, num país que não tivesse feito do sobressalto uma rotina e do pânico um estilo de vida “.
“ Casei com 19 anos e agora tenho 88 anos. Já fiz bodas de tudo, falta só de Urânio, Césio ou Plutônio “.
Em sua longa trajetória conviveu com importantes figuras da política brasileira como Getúlio Vargas, João Goulart, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e Marechal Castelo Branco , dentre outros .

Ótimo feitor de frases de efeito, com um estilo parecido ao de Nelson Rodrigues:

“ Para ajudar o homem, basta Deus . Já para desajudar não é preciso nem o diabo. O próprio homem se desajuda “
“ Na velhice todo cuidado é pouco: o ridículo está nos vigiando vinte e quatro horas por dia “
“ Já está cientificamente provado que o dono de um iate de 200 pés, não tem qualquer necessidade de saber com quantos paus se faz uma canoa e muito menos uma jangada “
“ – Fulano está com um pé no Ministério. Só falta botar os outros três “.
“ Vulcão e mulher nunca estão definitivamente extintos “

“ De todas as armas brancas a mais letal é a língua, que por sinal é vermelha “
“ Pobre que vota em rico não é digno de ser pobre “
“ O que me conforta é saber que quando eu for para o céu lá não encontrarei nenhum desses furiosos e vorazes pastores evangélicos “
“ A gente sente que está ficando velho quando começa a gostar mais de carne- de -sol do que de mulher “

“ Gosto de todas as cores, são todas muito bonitas, mas no fundo só confio em duas: no preto e no branco. São as únicas que não trapaceiam ou enganam “
Em 15 de agosto de 2007, aos 88 anos de idade falece no Rio de Janeiro, Joel Silveira, maldosamente apelidado de “ A Víbora “ pelo também jornalista ferino e polêmico Assis Chateaubriand.
 Assim desapareceu um dos ícones do verdadeiro jornalismo brasileiro do século XX.














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