quarta-feira, 31 de agosto de 2016

LUÍS GAMA, “ UM NEGRO GENIAL “
Para o nobre Dr. Francisco Perdigão

Luís Gonzaga Pinto da Gama (1830- 1882), jornalista, poeta, advogado, abolicionista, nasceu no dia 21 de junho de 1830, no estado da Bahia, no Nordeste brasileiro. Filho de uma africana livre de nome Luísa Mahin e de um certo fidalgo português. Em 1840, quando contava o petiz Luís Gama com 10 anos de idade, seu pai o vendeu como escravo, com fins de sanar umas dívidas contraídas em jogos de azar. O alferes Antônio Pereira Cardoso levou o seu novo escravo para uma fazenda no município de Lorena, em São Paulo. Em 1847, uma bondosa alma na figura do estudante de direito, Antônio Rodrigues de Araújo põe em curso a alfabetização do jovem Luís Gama, na ocasião contando com 17 anos de idade. No ano seguinte, Luís foge do cativeiro e na capital, passa a integrar a Força Pública da Província de São Paulo, onde permanece até o ano de 1854, quando recebe baixa por motivo de insubordinação. Em 1856 torna-se amanuense da Secretaria de Polícia.
Publica em 1859 o livro “ Primeiras Trovas Burlescas “, sob o pseudônimo de Getulino . Cria em 1864 o jornal humorístico denominado “ O Diabo Coxo “, de efêmera duração. Em 1866 com o nome de Barrabás edita o jornal Cabrião . Encontramos Luís Gama fazendo parte da Loja Maçônica América, no ano de 1868, quando inicia suas destemidas atividades como advogado em defesa da libertação dos escravos. Participa com figuras intelectuais de destaque como Rui Barbosa, Castro Alves e Joaquim Nabuco, no ano de 1869 como redator do “ Radical Paulistano “.
Em 1882 figura como advogado do Centro Abolicionista de São Paulo. Nesta ocasião atribui-se uma patética frase a Luís Gama: “ Perante o direito, é justificável o crime de homicídio perpetrado pelo escravo na pessoa do senhor “.
No dia 24 de agosto de 1882 Luís Gama falece em decorrência de complicações de um quadro de diabetes mellitus, em São Paulo, sem ver raiar o sol da liberdade para os escravos da nação brasileira. Deixou como esposa, Claudina Fortunato Sampaio e o filho Benedito Graco Pinto da Gama.
Segue o poema “ Quem Sou Eu “ de Luís Gama:
“ Amo o pobre, deixo o rico, / vivo como tico-tico; / não me envolvo em torvelinho, / vivo só no meu cantinho;/ da grandeza sempre longe/como vive o pobre monge. / tenho mui poucos amigos ,/porém bons , que são antigos,/fujo sempre à hipocrisia,/ à sandice , à fidalguia ./ se negro sou , ou sou bode / pouco importa . O que isto pode? /bodes há de toda casta ,/ pois que a espécie é muito vasta .../há cinzentos , há rajados , / baios , pampas e malhados , bodes negros , bodes brancos ,/e, sejamos todos francos , / uns plebeus e outros nobres, / bodes ricos , bodes pobres ,/ bodes sábios , importantes ,/ e também alguns tratantes.../ aqui nesta boa terra ,/ marram todos , tudo berra ;/ nobres condes e duquesas, /ricas damas e marquesas ,/ deputados , senadores , / gentis- homens, veadores ;/belas damas emproadas,/ de nobreza empantufadas ;/ repimpados principotes,/ orgulhosos fidalgotes ,/ frades , bispos , cardeais ,/fanfarrões imperiais ,/ gentes pobres , nobres gentes,/ em todos há meus parentes ./entre a brava militança / fulge e brilha alta bodança ;/ guardas , cabos , furriéis ,/brigadeiros , coronéis ,/ destemidos marechais ,/rutilantes generais , / capitães de mar e guerra ,/ - tudo marra , tudo berra !/ pois se todos tem rabicho ,/ para que tanto capricho ?/haja paz , haja alegria,/ folgue e brinque a bodaria ;/ cesse , pois , a matinada ,/ porque tudo é bodarrada .”
Na gíria da época o termo “ bode “ significava, depreciativamente, “ negro ou mulato “.
Hoje em Pindorama, “ bodes e cabras “ planaltinas, chafurdando no lamaçal, “ tudo marra, tudo berra “, e nós, pobres cidadãos , para onde vamos ? Um doce para quem adivinhar!

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