terça-feira, 25 de julho de 2017

PARA UMA CERTA TURMA DE ESTUDANTES DA UFC: QUANTA SAUDADE!




No final dos anos sessenta do século passado, uma turma de estudantes universitários de medicina de Fortaleza, no Ceará, se abeberava de um mágico e atribulado momento da história mundial implementando um novo estilo de vida e participando de um confronto aberto com tudo que representasse as formas autocráticas de governo. Os tais aprendizes de Hipócrates, quase crianças, absorviam como esponjas, modas alienígenas do tipo cabelos longos, calças faroeste com boca de sino, estampadas blusas coloridas, cobrindo os pés com toscas chinelas de rabicho e portando na cintura uma indefectível bolsa de couro. Isto os marmanjos, claro! As damas, mais discretas, queimavam sutiãs, bebiam, fumavam em público e emitiam, quando necessário, sonoros palavrões. Tudo isso sem perderem elas os mimosos ares de princesas.

Uma pândega!

Sob as centenárias mangueiras no pátio da escola de medicina no bairro de Rodolfo Teófilo os alunos articulavam inocentes passeatas de surpresa no centro da cidade para manifestações contra o governo militar vigente, com os mantras importados de uma minúscula ilha caribenha“ o povo armado derruba a ditadura” e “ o povo unido jamais será vencido”. Alguns estudantes aproveitavam a ida para aquelas arenas, sabotando aulas regulares, e peregrinavam pela incipiente indústria farmacêutica instalada na área central da cidade de Fortaleza. Dava-se, então, a busca de amostra grátis de remédios, como, vermífugos, expectorantes, vitaminas, antibióticos e anticoncepcionais, estes últimos, uma verdadeira coqueluche, para dar vazão ao reinante “ faça amor, não faça guerra”.

Os principais fornecedores de tais brindes eram os gerentes dos laboratórios Andrômaco, Sarsa, Ciba, Roche, Geigy, Lilly, Lepetit, Squibb e Bristol, dentre outros. Assim se conquistavam as receitas que, posteriormente, sairiam das mãos daqueles futuros esculápios e promissores parceiros.  A Big Pharma nasceria bem depois com remédios para quase todo tipo de achaques (disfunção erétil, demências, hipertensão arterial, diabetes, osteoporose e distúrbios do humor), tudo sob a égide de verdadeiros gigantes multinacionais.

Na praça do Ferreira e em seu entorno fervilhava na época uma gozosa vida boêmia com bares e boates (Continental, Hollywood, Fascinação, Guarani, Ubirajara, City, Império, Bar da Alegria e Monte Carlo), fazendo com que muitos daqueles futuros filhos de Hipócrates saíssem com sacolas abarrotadas de remédios doados pelos

laboratórios e adentrassem, como num passo de mágica, naquelas “casas- alegres” para exercerem uma nobre missão humanitária, ofertando graciosamente, assistência médica no período vespertino, àquelas  criaturas filhas de Deus. Via de regra, na ocasião os estudantes faziam aquela pertinente anamnese, seguindo as boas práticas dos seus mestres de Porangabuçu e examinavam apenas as partes do corpo que o vestido não encobria. Ponto final e tudo sob a rigorosa vigilância da “ madame” dona da boate, pondo um freio nas “clientes “ mais exibidas e nos “ doutores” mais estouvados, posto que, o ambiente ali exigia respeito.

Quando o véu da noite cobria aquela região da cidade, acendendo as bruxuleantes luzes do pecado, alguns daqueles estudantes de medicina voltavam, agora ao som de açucarados boleros como “ Frenesi”, “ Beija-me Muito” e degustando uma “cuba-libre”, para desfrutar de outras histórias, estas sim, verdadeiras aulas de filosofia de vida, valendo mais que muitos tediosos compêndios de medicina. Quão grandes eram aquelas pequenas e sofridas criaturas em sua dolorida confissão íntima. A razão por que foram parar naquele dura peleja, quase sempre passava por um romance proibido, gerando uma gravidez indesejada e findando no cruel desprezo imposto pela rígida moral familiar reinante.

Ah, minha amada Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, que imensa maldade   fizeram perpetrar contra tua pujante vida no centro da cidade, consumida em nome do progresso, como se denomina, eufemisticamente, a cruel especulação imobiliária, deitando ao chão prédios inteiros para serem transformados em estéreis estacionamentos de veículos, sufocando a salutar e frugal vida boêmia do coração da cidade. Uma lástima!

“ Quero que vivas só pensando em mim/e que tu sigas por eu seguir/para minha alma não fugir de ti/beija-me com frenesi/dá-me a luz que vem do teu olhar/a inspiração de todo meu amor/dessa ilusão cujo sabor senti/beija-me com frenesi/nas asas deste beijo teu vai um pedaço de mim/diz-me que sentes como eu, diz o que sentes assim/querida, perto do meu coração/encontrarás a luz do céu e o mar/e um luar que há de brilhar por ti/beija-me com frenesi”   Adaptação da música Frenesi de autoria de Alberto Domingues.

“ Beija-me /beija-me muito/ como se fora esta noite, a última vez/beija-me muito/que tenho medo de perder-te, de perder-te outra vez/quero ter-te bem perto/mirar-me em teus olhos/ver-te junto a mim/pensa que talvez amanhã/eu estarei longe/muito longe de ti/beija-me/beija-me muito/como se fora esta noite a última vez/beija-me,

beija-me muito/que tenho medo perder-te/perder-te outra vez/quero ter-te bem perto/mirar-me em teus olhos/ver-te junto a mim/pensa que talvez amanhã/eu estarei  distante/muito distante de ti/beija-me/beija-me muito/como se fosse esta noite a última vez/beija-me, beija-me muito/que tenho medo perder-te , perder-te outra vez”  Tradução livre da música Besame Mucho da autoria de Consuelo Velázquez .


Para os queridos irmãos, Dr. Francisco Clayrton Weyne Martins, representando os marmanjos e, para a Dra. Mary Romero, em nome das gentis princesas da Turma 73 de Medicina UFC.

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