sexta-feira, 7 de julho de 2017

SÍFILIS CONGÊNITA NO BRASIL: AINDA UMA MÁCULA

Para a presidente Dra. Liduina Rocha




Girolamo Fracastoro ou Hieronymous Fracastorius (1478- 1553), médico, astrônomo, matemático, filósofo e poeta, é um digno representante da iluminada mente renascentista. Na época, o termo doença venérea já era corrente e procedia de Vênus, a deusa romana da beleza, do amor e da fecundidade. Era uma versão da deusa grega Afrodite que deu origem aos termos afrodisíaco e hermafrodita (de Hermes e Afrodite).

A palavra sífilis foi criada por Fracastoro em um livro chamado “ Sífilis, ou a doença francesa” publicado em 1530. Data deste período o dito jocoso “ Uma noite com Vênus e o resto da vida com Mercúrio”.

A sífilis congênita continua sendo uma enorme mácula e um grande desafio para as políticas de saúde pública do Brasil e sua presença desnuda erros grosseiros no sistema de saúde e na qualidade da assistência pré-natal. Foram registrados mais de 100.000 casos de sífilis em gestantes na última década no Brasil. A OMS confere que não deve existir mais de um caso para cada 1000 nascidos vivos. No Brasil a média fica em torno de 7,4 casos de sífilis em gestantes para cada 1000 nascidos vivos.

Várias estratégias de prevenção têm sido elaboradas com relação à Sífilis Congênita:


1.      Assistência pré-natal abrangendo cem por cento das gestantes, algo ainda não alcançado entre nós

2.      Realização do teste sorológico VDRL na primeira consulta pré-natal, repetido no terceiro trimestre e por ocasião do parto

3.      Diagnóstico e tratamento adequados para o casal grávido

4.      Registro no cartão da gestante de forma minudente de todo tratamento realizado

5.      Notificação dos casos de sífilis congênita, incluindo aborto e natimorto

A maioria dos casos de sífilis diagnosticados na gravidez são assintomáticos (sífilis latente) detectados com simples exames de VDRL e FTA- abs. O restante dos casos distribuem-se em sífilis primária (cancro duro) e sífilis secundária (lesões disseminadas na pele e queda de pelos).  Os casos não tratados permitem a transmissão vertical para quase cem por cento dos conceptos.

O tratamento com o emprego da Penicilina Benzatina em doses adequadas traz a cura efetiva da sífilis. E por incrível que pareça, tem havido desabastecimento de tal fármaco no mercado brasileiro, dependente de produtos chineses e indianos. O tratamento farmacológico alternativo sugerido para substituir a penicilina benzatina, em gestantes com sífilis, não surte o efeito desejado quando se emprega a eritromicina e outros macrolídeos, posto que, estes antibióticos passam em níveis baixos para o compartimento fetal, deste modo, deixando o concepto sem um adequado tratamento. Tais antibióticos macrolídeos servem apenas para tratar o casal grávido.

O grave problema da sífilis congênita no Brasil sofrerá amplo revés ao se implantar programas bem definidos de assistência pré-natal de qualidade, através de equipes multiprofissionais, aliadas a laboratórios de análises clínicas com alto grau de resolutividade e presteza. Tudo isto contando a retaguarda de larga distribuição de penicilina benzatina.

 A educação constante do casal com vistas a prevenção primária da sífilis e de outras doenças sexualmente transmissíveis tem real impacto positivo no controle de tais temerárias enfermidades.



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