quarta-feira, 1 de julho de 2015

SOBRE O DESTINO DE LIVROS E  DE  HOMENS : UM CASO FATÍDICO

Os livros  , fielmente ,  imitam o destino dos homens   .  É a arte copiando  a  vida .  Alguns nascem em alcova de ouro  ,  plenos de pompa e dormitam em travesseiros de seda .  Os mesmos habitam  ricas  bibliotecas , magnificamente cuidadas .  Outros  , podem vir a  lume , em brochuras  acanhadas  , descuidadas , cumprindo uma sina de encalhar feito  pobres barcos num monte de areia numa praia deserta ou no seio de um  simplório sebo  perdido num beco qualquer  da cidade. Uns poucos  , renascem das cinzas feito  Fênix  , os livros e seus autores , por um simples  capricho  do destino .
Um seleto grupo de autores   , de longo calibre , quase se eterniza  , feito o lendário Matusalém ( filho de Enoque e avô de Noé )  , que segundo propagam ,  viveu 969 anos . Fazem parte destes escolhidos pelas musas e pelos deuses   , figuras como  Cervantes , Homero ,  Camões , Goethe  e Maquiavel .
Aqui  , para  essas bandas do  Brasil , um dos maiores escritores do início do século XX ,  Euclides da Cunha (  1866 – 1909 ) , famoso pelo clássico “ Os Sertões “ que narra  a saga de Antônio Conselheiro na infeliz e desigual  Guerra de Canudos , foi protagonista de uma tragédia familiar que até hoje reverbera no mundo dos livros  e no imaginário  das pessoas .
Euclides da Cunha ( Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha ) , engenheiro , jornalista , professor , historiador , sociólogo , filósofo , poeta e ensaísta  nasceu em Cantagalo , em 20 de janeiro de 1866 , filho de Manoel Rodrigues Pimenta da Cunha e de Eudóxia Moreira da Cunha . Euclides ficou órfão de mãe aos 3 anos de idade . Realizou o curso de humanidades no Colégio Aquino e teve como mestre  , Benjamin Constant . Em 1884 apresenta – se na Escola Politécnica  e dois anos depois  vai para a Escola Militar . Em 1888 protagonizou  um excêntrico episódio de insubordinação , quando lançou aos pés do Ministro da Guerra , sua espada . Por conta disso  ,  foi desligado do Exército . Retornou à caserna em 1889  onde  na Escola Superior de Guerra  saiu como  Primeiro Tenente . Casou- se com Anna Emília Ribeiro  , filha do major  Sólon Ribeiro , um dos líderes da Proclamação da República  .  Em 1896 desliga – se do Exército e passa a exercer as funções de Engenheiro Civil  , onde  empreende  longos períodos de viagens  , desacompanhado da família .
Em 1997 encontra- se Euclides da Cunha em pleno teatro da malfadada e injusta  Guerra de Canudos  como enviado do Jornal  Estado de São Paulo  . O clássico “  Os Sertões “ veio a luz por conta  daquela carnificina contra humildes sertanejos nos sertões da Bahia . Um banho de sangue a envergonhar a iniciante República e suas cruéis Forças  Armadas .
No dia 15 de agosto de 1909 arma- se a  “ Tragédia da Piedade “ onde num lugar ermo , na Estrada Real de Santa Cruz , no Bairro da Piedade , no Rio de Janeiro , quando  Euclides da Cunha ( 43 anos ) , invade uma residência onde sua esposa , Anna Emília ( 37 anos  ) acompanhada dos filhos  ( Luiz , de 2 anos e Sólon,  de 15 anos )  , encontrava –se  sob a guarda de seu amante , o jovem militar  Dilermando de Assis ( 21  anos ,  ) , e , de  um irmão de Dilermando ( Dinorah , jogador do Botafogo de Futebol e Regatas )  . A partir de então várias versões  aparecem sobre o desfecho do episódio . “ Vim para matar ou morrer “ teria dito o inditoso Euclides . Em seguida atirou contra Dilermando e Dinorah  , ferindo  a ambos . Euclides foi morto ao ser atingido por 3 projéteis  desferidos por Dilermando que era campeão de tiros no Exército .
Em 1911  , uma semana após o julgamento que absolveu Dilermando de Assis da autoria do crime contra Euclides da Cunha , aconteceu o casamento de Dilermando e Ana Emília . O casal ainda gerou 7 filhos ao longo de 13 anos de união .
Em 4 de julho de 1916 , Euclides da Cunha filho ( Quindinho ) foi morto , num cartório pelo seu padrasto , o militar   Dilermando de Assis após uma tentativa frustrada de vingar a morte de seu pai . Nova tragédia se abateu sobre as duas famílias manchadas por  sangue  inocente .  Dois meses depois deste episódio  , Sólon da Cunha , outro filho de Euclides da Cunha  , morreria assassinado , em condições misteriosas na Amazônia .
Dinorah de Assis  , irmão de Dilermando , após mais de uma tentativa contra a vida , morreu afogado ( suicídio )  no Rio Guaíba em Porto Alegre , pondo fim a um rosário de sofrimentos relacionados  a famigerada  Tragédia da Piedade .

Ambos  , Dilermando e Anna de Assis , que então já viviam separados , por conta de uma traição do militar atirador ,  morreram no ano de 1951 , ele de derrame cerebral e ela de câncer .

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