domingo, 12 de julho de 2015

PADRE ANTÔNIO  TOMÁS ,  POETA MISANTROPO
Perfil de um  Misantropo :
“ Vivendo  entre os humildes e os pequenos / sempre evitei o rico e o poderoso / os meus sonhos de tímido e medroso / foram sempre modestos e serenos / nunca tive ambições de bens terrenos / nem desejo de nome ou posto honroso / nunca , em moço , aspirei do fausto o gozo / e agora , na velhice , muito menos / olho , sentindo n’alma horror profundo / para  os homens e as coisas deste mundo / como para uma eterna palhaçada / e sem cessar a doce paz bendigo / em que descanso , no seguro abrigo / da minha pequenez e do meu nada  “
Nascido em Acaraú  , no Ceará , a 14 de setembro de 1868 ,  Antônio Tomás Lourenço  , era filho de Gil Tomás Lourenço ( professor ) e de Francisca Laurinda da Frota . No vizinho município de Sobral tomou conhecimento dos idiomas Latim e  Francês . Migrou para a  capital do estado , Fortaleza , para estudar no Seminário da Prainha , onde se ordenou sacerdote em 1891 . Todo seu serviço  de pároco desenvolveu- se em pequenas comunidades interioranas como Trairi e Acaraú , com denodo e brilho ímpares .
Poeta espontâneo com pendor especial pelo soneto  ,  onde confeccionou cerca de uma centena , todos  de alto valor , e  imunes às intempéries do tempo e da distância .
A Morte de um Jangadeiro  :
“ Ao  sopro do terral abrindo a vela / na esteira azul das águas arrastada / segue veloz a intrépida jangada / entre os uivos do mar que se encapela / prudente , o jangadeiro se acautela / contra os mil acidentes de jornada / fazem – lhe , entanto , guerra encarniçada / o vento , a chuva , os raios , a procela / súbito , um raio o prostra e , furioso / da jangada o despeja na água escura / e , em brancos véus de espuma , o desditoso / envolve e traga a onda intumescida /  dando – lhe , assim , mortalha e sepultura / o mesmo mar que o pão lhe dera em vida “ .
Perfil de um  misantropo ; A morte de um jangadeiro ; Contrastes ; Eva ; Palhaço ; Judas ; No enterro de um anjinho ; todos sonetos lançados em jornais e revistas da época e que nunca foram enfeixados em um  livro , por conta da proibição pertinaz  do próprio poeta  .
Em 1924  ,  em concurso promovido pela revista “ Ceará Ilustrado “ , de Demócrito Rocha , sagrou –se Padre Antônio Tomás ,  Príncipe dos Poetas Cearenses . O poeta e educador Filgueiras Lima referia – se a Antônio Tomás como “ um uirapuru das plagas nordestinas , porque cantou no silêncio das campinas , mas , foi ouvido no Brasil inteiro “ .
Contraste  :
“ Quando partimos , no verdor dos anos / da vida pela estrada florescente / as esperanças vão conosco à frente / e vão ficando atrás os desenganos / rindo e cantando , céleres e ufanos / vamos marchando descuidosamente / eis que chega a velhice , de repente / desfazendo ilusões , matando enganos / então nós enxergamos claramente / como a existência é rápida e falaz / e vemos que sucede , exatamente / o contrário dos tempos de rapaz / os desencantos vão conosco à frente / e as esperanças vão conosco atrás “ .
Padre Antônio Tomás foi membro da Academia Cearense de Letras e , em 1919 , eleito sócio do Instituto Histórico  ,  Geográfico e Etnográfico do Ceará . Faleceu em Fortaleza em 16 de junho de 1941  ,  aos 72 anos , após prolongada enfermidade . Encontra – se sepultado na Igreja Matriz da cidade de Santana do  Acaraú , no Ceará .
Verso e  Reverso :
“  Essa mulher de face escaveirada/ que vês tremendo em ânsias de fadiga / estendendo a quem passa a mão mirrada / foi meretriz antes de ser mendiga / fugiu – lhe breve , nesta vida airada / da mocidade a doce quadra amiga / e chegou a ser velha e desgraçada / antes do tempo ... a tanto o vício obriga / ontem , do gozo e da volúpia ardente / fosse quem fosse , dava a qualquer hora / o seio branco e o lábio sorridente / e hoje – triste sina ! – embalde chora / pedindo esmola àquela mesma gente / que dos seus beijos se fartava outrora “ .






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