quarta-feira, 15 de julho de 2015

ARTHUR  BISPO  DO  ROSÁRIO  -  UM ORGANIZADOR DO CAOS


Arthur Bispo do Rosário ( 1909  – 1989 ) , apareceu no mundo em 1909 no município de Juparatuba , no Estado de Sergipe , na região mais pobre do Brasil , o Nordeste : o mundo do cangaço , da seca periódica e berço de beatos e santeiros .
Há uma instigante ausência de dados sobre a infância de Arthur  Bispo .  Entre 1925 e 1933 encontram – se citações  sobre o trabalho regular de Arthur junto a Marinha do Brasil na condição de marinheiro e  pugilista  . Há relatos que Arthur foi campeão de boxe na categoria de pesos leves da Marinha .  Consta que seu desligamento fez –se por conta de indisposição com seus superiores hierárquicos  . O mesmo aconteceu em outro emprego na Companhia Light ,  uma  empresa de eletricidade , onde exercia  a condição de borracheiro e lavador de bondes . Neste trabalho sofreu um acidente e teve parte de seu pé direito  esmagado . O Dr. Humberto Leone , seu advogado trabalhista , posteriormente o acolheu em sua residência por um determinado período .   Por esta época , provavelmente ,  deu- se  o início da produção dos trabalhos de arte de Arthur Bispo .  
Em 22 de dezembro de 1938 , aquele negro ,solteiro , sem parentes , num surto psicótico chegou ao Mosteiro de São Bento , onde na presença dos monges apresentou –se como um enviado de Deus , em uma comitiva de anjos , com fins de julgar os vivos e os mortos . Dali foi enviado para o Hospício Pedro II , na Praia Vermelha , o mesmo onde um outro negro genial , o escritor Lima Barreto ( 1881 – 1922 ) também fora confinado por conta de problemas com o uso imoderado de bebidas alcoólicas  .  Logo  ,  Arthur foi transferido , para onde seria seu lar por cerca de 50 anos  , a famigerada Colônia Juliano Moreira , sob o fatal diagnóstico de Esquizofrenia Paranóide . A prática psiquiátrica vigente constava de isolamento  , contenção mecânica e farmacológica , assim como , sessões de  eletrochoque . Relata – se que o próprio Arthur , ao pressentir o desencadear  de um surto psicótico  , solicitava  que o colocassem na área do  isolamento .
Arthur Bispo do Rosário não teve orientação didática nem conviveu com qualquer artista plástico que imprimisse alguma influência no seu alentado  trabalho  manual . A produção artística de Arthur parte de matérias diversas , restos de produtos de consumo , que em sua mente fragmentada e  em suas mãos ,  ganham formas de estandartes , barcos , fardões , bordados ,  miniaturas de objetos e uma escrita anárquica com nomes de pessoas reais ou imaginárias .  Assim se abriu  um mundo  variegado , sem dor , sem doença nem miséria , em miniatura ,  de tudo aquilo que seria apresentado a Deus no Dia do Juízo Final ( Seda , H .e Queiroz , M.V . , 1981 ) .
O “ Manto da Apresentação “ representa a obra mais significativa de Arthur Bispo do Carmo , um fardão com o nome de pessoas importantes para que não houvesse esquecimento por ocasião do Juízo Final . O original  artista  não permitia a transação comercial de qualquer de suas  obras . Mesmo para exposições Arthur Bispo  mostrava incomum  resistência na cessão de seus trabalhos . Como norma  nestas ocasiões “ recomendava juízo para suas obras ao se exporem para os outros “  .
Aquele que se  dispusesse  penetrar no labirinto do mundo de Arthur , na Colônia  Juliano Moreira ,  teria de responder , de forma correta a uma simples  indagação :  “ De que cor você vê a minha aura ? “ . A partir de então ficavam  franqueadas as portas  do mundo delirante do artista  . Quando perguntado se iria se transformar em Jesus  Cristo  , Arthur respondia resoluto : “ Não vou me transformar não , rapaz , você está falando com ele “ .
Arthur Bispo do Carmo partiu para um encontro com Deus no dia 5 de julho de 1989 , contando com 80 anos de idade , vitimado por um infarto do miocárdio , na Colônia Juliano Moreira . Arthur não seguiu para o Divino com  o seu “ Manto  da  Apresentação “ , mas  , certamente , na cabeça  carregou consigo tudo o que planejara em vida  para mostrar a todos naquele verdadeiro e perene  paraíso  .

Nenhum comentário:

Postar um comentário