quarta-feira, 21 de junho de 2017



JACK, JÁ QUE SOU DO PANDEIRO
Para o Dr. Marigelbio Lucena




“ Xô, xô, xô, xô/casaca de couro/cantando as duas na telha/parece uma arapuá/cheio de vara e algodão/o ninho de uma casaca/não parece ninho, não/parece mais uns parceiros/dos “ pajaús“ do sertão/em riba do pé de turco/tem um ninho de graveto/tem garrancho de jurema/tem pau branco , tem pau preto/tem lenha que dá pra facho/tem vara que dá pra espeto/uma grita, outra responde/uma baixa, outra também/parece mulher pilando/ pro mode fazer xerém/subindo e descendo as asas /como os seios do meu bem/eu nunca vi desafio/mais bonito, mais igual/duas casacas de couro/quando começam a cantar/parece dois violeiros/num galope à beira-mar”
“ Eu só boto bebop no meu samba/quando o Tio Sam tocar um bandolim/quando ele pegar/num pandeiro e num zabumba/quando ele aprender/que o samba não é rumba/aí eu vou misturar/Miami com Copacabana/chiclete eu misturo com banana/e o meu samba vai ficar assim/turururi bop-bebop-bebop/ eu quero ver a confusão/turururi bop-bebop-bebop/oha aí o samba-rock, meu irmão/é, mas em compensação/eu quero ver o boogie-woogie/de pandeiro e violão/eu quero ver o Tio Sam/de frigideira/numa batucada brasileira”
José Gomes Filho (Jackson do Pandeiro), nasceu no dia 31 de agosto de 1919 em Alagoa Grande, no Estado da Paraíba, no Nordeste brasileiro. Cantor, instrumentista e compositor que se tornou conhecido como Rei do Ritmo. Passeava, à vontade, em baião, xaxado, xote, coco, arrasta-pé, quadrilha, marcha e frevo. Sua mãe, com o nome artístico de Flora Mourão, folclorista e cantadora de coco, iniciou-o na arte musical. Aos sete anos, o garoto José Gomes tocava zabumba acompanhando a mãe em apresentações em sua cidade natal. Mudou-se com a família, aos 13 anos de idade para a cidade de Campina Grande na Paraíba, já órfão de pai. Trabalhou, ainda menor de idade em uma padaria, ajudando a compor um apertado orçamento familiar. Aos 17 anos, largou este emprego e caiu nos braços das rodas de samba atuando como baterista e ritmista em casas noturnas de Campina Grande. O próximo pouso de José Gomes foi a cidade de João Pessoa, na Paraíba, fazendo o circuito de boates e cabarés, ótimas escolas para artistas principiantes em busca de fama. Ao se transferir para Pernambuco apareceu, em definitivo o nome artístico de Jackson do Pandeiro, quando atuava na rádio Jornal do Comércio. Desde criança, José Gomes portava o apelido de Jack, por conta de um personagem do cinema mudo americano de nome Jack Perrin. De Jack para Jackson foi um pulo, pela melhor sonoridade auferida. Apenas em 1953 Jackson do Pandeiro conseguiu gravar seu primeiro disco 78 rpm, com as músicas “Sebastiana”, de Rosil Cavalcanti; e, “Limoeiro” de Edgar Ferreira. Em 1956 Jackson do Pandeiro casou-se com Almira Castilho de Albuquerque, ex-professora e funcionária da Rádio Jornal do Comércio com quem formou uma dupla em apresentações, que se caracterizava por trocarem “umbigadas” em pleno palco. Um rosário de sucessos brotou, a partir de então, na vida de Jackson do Pandeiro: “ Mulher do Aníbal”; “Um a Um”; ”Canto da Ema”; “ Chiclete com Banana”; Boi da Cara Preta”; “ Vou Gargalhar”, dentre outros. Já trabalhando no eixo Rio- São Paulo, Jackson do Pandeiro, onde ajudou na difusão da música nordestina ao lado de Luiz Gonzaga, “O Rei do Baião” e Marinês e sua Gente , “ A Rainha do Baião”, assistiu o seu sucesso minguar com os furacões da Bossa – Nova de Tom e Vinícius; da Jovem- Guarda de Roberto e Erasmo; e, da Tropicália dos baianos, Gil, Caetano e Gal. Esta mesma turma da pesada , citada acima, na década de 70, tratou de fazer renascer a figura de Jackson do Pandeiro , gravando alguns de seus maiores sucessos .
Em 10 de julho de 1982, em Brasília, para onde fora realizar um show, Jackson do Pandeiro sofreu um Acidente Vascular Cerebral, vindo a falecer logo em seguida. No dia 11 de julho de 1982 o cantor foi enterrado no Cemitério do Caju, na cidade do Rio de Janeiro. Posteriormente, seus restos mortais foram transladados para sua terra natal, Alagoa Grande, na Paraíba.
O cantor e compositor pernambucano Lenine (1959 -) prestou singela homenagem a Jackson do Pandeiro com a música Jack Soul Brasileiro:
“ Jack Soul Brasileiro/e que som do pandeiro/é certeiro e tem direção/já que subi nesse ringue/e o país do swing/é o país da contradição/eu canto pro rei da levada/na lei da embolada/na língua da percussão/a dança mugango dengo/a ginga do mamulengo/charme dessa nação/quem foi?/ que fez o samba embolar?/ quem foi?/que fez o coco sambar?/quem foi?/que fez a ema gemer na boa?/quem foi?/que fez do coco um cocar?/quem foi?/que deixou um oco no lugar?/quem foi?/quem foi?/que fez o sapo cantor da lagoa?/e diz aí Tião!/diga Tião! Oi! foste? fui! compraste? Comprei! pagaste? paguei!/me diz quanto foi?/foi 500 reais/me diz quanto foi?/Jack Soul Brasileiro/do tempero, do batuque/do truque, do picadeiro/e do padeiro e do repique/do pique e do funk rock/do toque da platinela/do samba na passarela/despencando na ladeira/na zoeira da banguela/eu só ponho bebop no meu samba/quando o Tio Sam pegar no tamborim/quando ele pegar no pandeiro e no zabumba/quando ele aprender que o samba não é rumba/aí eu vou misturar/Miami com Copacabana/chiclete eu misturo com banana/ e o meu samba/vai ficar assim/ ah! Ema gemeu/ah! Ema gemeu! Ah! Ema gemeu! eu digo deixe/que digam/que pensem/que falem/eu digo/deixa isso pra lá/vem pra cá/o que que tem?/tô fazendo nada/você também/não faz mal bater um papo/ assim gostoso com alguém”
Ponto final !

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