quinta-feira, 19 de janeiro de 2017



                                                       CACASO: VITA BREVIS

“ Seu amor me furta/seu horror me encanta/minha vida é curta/ minha fome é tanta/minha carne é fraca/minha paz é louca/minha dor é farta/minha parte é pouca/minha cova é rasa/meu lamento é mudo/seu amor me arrasa/sua ausência é tudo/minha sorte é cega/sua luz me esconde/minha morte é certa/meu lugar é onde/seu carinho é pena/seu amor é mando/minha falta é plena/minha vez é quando “
Cacaso – Antônio Carlos Ferreira de Brito (1944 – 1987) nasceu em 13 de março de 1944 na cidade de Uberaba, em Minas Gerais. Seus pais foram Carlos Ferreira de Brito e Wanda Aparecida Lóes de Brito. Cedo, aos 12 anos, despertou interesse pelo mundo das artes realizando caricaturas de políticos e outros personagens da vida pública.
Daí saltou para o mágico mundo da poesia. Graduou – se em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e realizou Pós-Graduação na USP. Lecionou teoria literária e literatura brasileira na Pontifícia Universidade Católica no Rio de Janeiro e na Escola de Comunicação na UFRJ.
Cacaso estreou com o livro “ A Palavra Cerzida “ (1967) e seguiram – se: “ Grupo Escolar “ (1974); “ Beijo na Boca “ (1975); “ Segunda Classe “ (1975); “ Na Corda Bamba “ (1978); “ Mar Mineiro “ (1982).
“ Ah como tenho me enganado/como tenho me matado/por ter demais confiado nas evidências do amor /como tenho andado certo/como tenho andado errado/por seu caminho inseguro/por meu caminho deserto/como tenho me encontrado/ como tenho descoberto/a sombra leve da morte/passando sempre por perto /e o sentimento mais breve/ rola no ar e descreve a eterna cicatriz/mais uma vez /mais de uma vez /quase que eu fui feliz/a barra do amor é que ele é meio ermo/a barra da morte é que ela não tem meio termo “
Participou ativamente do movimento da “ Poesia Marginal “ ao lado de figuras como Francisco Alvim, Heloisa Buarque de Hollanda, Ana Cristina Cesar, Charles Chacal e outros.
Cacaso teve muitos de seus poemas musicados por artistas da
fina flor da música Popular Brasileira como Elton Medeiros, Maurício Tapajós, Edu Lobo, Djavan, Tom Jobim, Sueli Costa, Joyce, Sivuca e Francis Hime.
Em 1987, no dia 27 de dezembro de 1987, aos 42 anos, Cacaso parte para uma viagem definitiva, que segundo uma manchete da época evocava: “ Escreveu poesia rápida como a vida“.
Em 2002 surge a antologia “ Lero lero “ de Cacaso publicada pela Editora Sette Letras.
“ Sou brasileiro de estatura mediana /gosto muito de fulana mas sicrana é quem me quer /porque no amor quem perde quase sempre ganha /veja só que coisa estranha, saia dessa se puder /não guardo mágoa, não blasfemo, não pondero/não tolero lero lero , devo nada pra ninguém/sou descansado , minha vida eu levo a muque/do batente pro batuque faço como me convém/eu sou poeta e não nego a minha raça /faço versos por pirraça e também por precisão/de pé quebrado , verso branco, rima rica /negaceio , dou a dica , tenho a minha solução/sou brasileiro , tatu- peba taturana /bom de bola , ruim de grana , tabuada sei de cor/quatro vez sete, vinte e oito , noves fora/ou a onça me devora ou no fim vou rir melhor/não entro em rifa, não adoço , não tempero/ não remarco , marco zero , se falei não volto atrás/por onde passo deixo rastro , deixo fama / desarrumo toda a trama , desacato Satanás/sou brasileiro de estatura mediana/ gosto muito de fulana , mas sicrana é quem me quer/porque no amor quem perde sempre ganha /veja só que coisa estranha , saia dessa se puder/diz um ditado natural da minha terra /bom cabrito é o que mais berra onde canta o sabiá/desacredito no azar da minha sina/ tico- tico de rapina , ninguém leva o meu fubá “
Canção de Cacaso e Edu Lobo.

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