quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

PARA UM NORDESTINO DE PINDORAMA


Seu mundo, meu irmão, é aqui com sua cabeça chata vagueando nas nuvens do infinito e com os pés cobertos de poeira fincados no gretado chão, pegando fogo, neste vetusto nordeste de Pindorama. Admita que quem vive flanando no morno ar é folha seca de pau, pipa de papel, passarinho, pombo ou urubu. Não os inveje, a ordem parte dos céus!
 E o misterioso oceano?  Acredite, feito para os peixes, búzios, água - vivas e estrelas - do- mar. Quem se aventura nas procelas do tenebroso monstro de água salgada precisa tomar siso que ali não existe cabelo onde se possa agarrar. De bom alvitre ficar bulindo nas espumas das ondas, na areia da praia, feito caranguejo e passando ao largo do canto mavioso das sereias.
Nesse torrão continua a sina de se morrer de susto, bala ou vício e a maioria bem jovem ainda, além do que preto e pobre.

 Mazelas tem um leque de escolha: febre amarela, malária, dengue, raiva humana e outros males frutos da negligência, há muito sumidas do Velho Mundo. Ora ganham expressão doenças degenerativas crônicas atingindo gente de mais idade.
Quando adoecer, meu caro irmão de infortúnio, pode escolher ser tratado por meizinhas e chás sob as zelosas mãos de curandeiros ou rezadeiras. Outra opção razoável é buscar auxílio, aqui a seus pés, no melhor sistema de saúde do mundo! Basta ter a santa paciência de perambular por postos de saúde ou hospitais sucateados durante alguns meses.
Queira distância dos hospitais luxuosos de nomes estrambóticos frequentados pelas poderosas elites brancas, todos custando os olhos da cara e prenhe de gente mercenária. A “ facada “ é certeira!
 Outra saída gloriosa é ir em busca da “ medicina de ponta “ existente nas democracias vizinhas do mar do Caribe, na gloriosa América Latina.
 Caso não obtenha sucesso, resta, estoicamente, entregar os pontos, caro companheiro, pois parece chegada a sua hora de prestar as contas com o incognoscível. Honre as calças que veste e encare a ceifadeira das gentes com resignação. Ademais, para o distinto, não existe outra vida no além, não é mesmo?

 Não vá amarelar numa hora dessa. Me poupe!

E até a vitória, sempre!  

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