segunda-feira, 2 de janeiro de 2017



                                            O REI QUE FOI À CAÇA

Era uma vez um rei que gostava muito de caçar. Naqueles tempos, os reis deixavam, como hoje, que os ministros governassem; mas aproveitavam o tempo que assim ganhavam, para caçar ou fazer guerra aos vizinhos. Eram estes os seus esportes prediletos. Em certo dia, o rei projetou uma caçada em floresta longínqua. Chamou o Ministro do Tempo, que era assim uma espécie de diretor do departamento de Meteorologia, e perguntou:
- Vai chover?
O ministro fez os salamaleques da pragmática e respondeu:
- Vossa Majestade pode partir tranquilo para a sua expedição. Para que os reais prazeres de Vossa Majestade não sejam estragados, o tempo se manterá firme. Não choverá.
- E aquelas nuvenzinhas brancas, de barriga preta que aparecem lá no horizonte?
- Saiba Vossa Majestade que aquelas nuvens apenas ousarão cobrir o sol, nas horas mais cálidas do dia, para poupar a Vossa Majestade os ardores da canícula. Já receberam ordens nesse sentido.
- Está bem.
E o rei partiu confiante, com a sua garrida comitiva, para dizimar javalis da floresta longínqua. Em meio da estrada, encontrou um caipira humilde, que vinha montado num burrinho, a caminho da cidade, para vender as suas quitandas. O homem apeou-se depressa, para prostrar se no pó, a esperar que passasse a companhia real, como devem, em todos os tempos, fazer os pagadores de impostos em face dos poderosos. Mas o rei estava de bom humor e, querendo honrar o seu humilde súdito com uma palavra graciosa, perguntou-lhe, por desfastio:
- O tempo está firme?
- Com perdão de Vossa Majestade, o tempo, o tempo vai virar. Vem muita água.
O rei desatou a rir da ignorância do rústico, e foi adiante. Mal havia, porém chegado à fímbria da floresta, quando o céu veio abaixo, numa dessas nuvens torrenciais que fazem a gente se lembrar de Noé e sua arca.
Molhadinho até os ossos, a espirrar e fungar, coberto de lama, o rei voltou furioso.
Antes mesmo de meter as reais pernas na tina do escalda – pés, despachou o Ministro do Tempo degredado para uma Fernando de Noronha qualquer. Depois de bem agasalhado, tendo tomado um chá de canela e alguns cálices certo precioso licor com limão, mandou procurar o caipira que lhe anunciara a chuva. Foi o homem encontrado e trazido, todo trêmulo, à real presença. Disse-lhe o rei:
- Você vai ser o meu Ministro do Tempo, porque foi você que previu que ia chover. Você é um sábio.
- Com perdão de Vossa Majestade, o sábio não sou eu. É o meu jumento. É ele quem sabe o tempo que vai fazer.
O rei quis explicações, e o homem deu-as:
- Quando o meu burrinho põe as orelhas para a frente, é certo que vai chover; quando as põe para trás, o tempo está firme; e quando troca as orelhas, tudo pode acontecer.
O rei não teve dúvidas. Mandou lavrar o decreto pelo qual o burro foi nomeado Ministro do Tempo.
E com isso fez a desgraça de seu reino, porque desde esse dia todos os jumentos do país se julgaram aptos a ocupar altos cargos na administração pública.
Notem bem: Eu não inventei esta história. Só estou repetindo. Quem a contou foi Abraão Lincoln. E ele devia saber”
Cônica de Vivaldo Coaracy (1882 – 1967).
Pindorama nos dias hodiernos contando com burros ocupando altos cargos no governo, em todas as esferas , segue sua sina rumo ao desastre , perdendo uma vez mais o bonde da História .

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