quinta-feira, 5 de abril de 2018

O Estouro da Boiada
Para o Dr. George Magalhães


" Já vistes o estouro da boiada? Vai o gado sua estrada mansamente, rota segura e limpa, chã e larga, batida e tranquila, ao tom monótono dos eias! dos vaqueiros. Caem as patas no chão em bulha compassada. Na vaga doçura dos olhos dilatados, transluz a inconsciente resignação das alimárias, oscilantes as cabeças, pendentes à margem dos perigalhos, as aspas no ar em silva rasteira sobre o dorso da manada. Dir-se-ia a paciência em marcha abstrata de si mesma, ao tilintar dos chocalhos, em pachorrenta andadura, esperada automaticamente pela vara dos boiadeiros. Eis senão quando, não se atina porque, a um acidente mínimo, um bicho inofensivo que passa a fugir, o grito de um pássaro na capoeira, estalido de uma rama no arvoredo, se sobressalta uma das reses, abala, desfecha a correr, e após ela se arremessa em doida arrancada, atropeladamente, o gado todo. Nada mais o reprime. Nem brados, nem aguilhadas o detém , nem tropeços, voltas ou barrancos por davante. E lá vai, incessantemente, o pânico em desfilada, como se os demônios o tangessem, léguas e léguas, até que, exausto o alento, esmorece cessa afinal a carreira, como começou, pela cessação se seu impulso " .
Crônica de autoria de Rui Barbosa (1849 -1923), jurista, jornalista, político, orador e diplomata baiano, denominada O Estouro da Boiada.
Pindorama vive hoje um grave momento em que pode se desencadear um estouro da boiada, dependendo da vontade de uma dezena de semideuses. A se acreditar que Deus é brasileiro, chegou a hora Dele acudir Seu sofrido rebanho. Tomara que o braço da Justiça alcance a tempo todos os tartufos dos podres poderes da gigante nação agonizante. Queremos paz , senhores de toga, e ouçam nossos queixumes, enquanto é tempo. A Nação penhorada lhes agradece!

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