sexta-feira, 19 de maio de 2017

O BRASIL ANEDÓTICO 1954



1954, ano aziago em que um governante brasileiro – Getúlio Vargas (1883- 1954) – por vontade própria, “ saia da vida para entrar na história” ressurge uma obra literária da lavra do polígrafo Humberto de Campos (1886 –1934) – O Brasil Anedótico – inicialmente lançada em 1927. Nela constam histórias curtas onde se desenha a grandeza e a pequenez do bicho-homem. Vale a pena conferir pela atemporalidade dos temas.

“Era Raimundo Correia, juiz em Minas Gerais, quando, ao abrir certos autos, encontrou um envelope com um conto de réis. Chamou o escrivão.
- Foi a parte mesmo quem o deixou, senhor doutor, em sinal de reconhecimento pela rapidez com que teve andamento o inventário. Eu também recebi um conto de réis.

- Bom, - retrucou Raimundo, - se é uma remuneração espontânea, cabe à sua consciência resolver sobre o caso.
E entregando-lhe o envelope que lhe coubera:

- Tome...devolva o meu...”

“D. José da Cunha Azeredo Coutinho, bispo de Pernambuco, falecido em 1821, foi um dos prelados mais ilustres que o Brasil tem possuído. Certo dia, falava-se sobre leis.
- As leis, meu filho... – fez o sacerdote.
E definiu:

- As leis são teias de aranha que servem para apanhar insetos, mas que se deixam romper pela pressão de qualquer corpo mais pesado”

Dois jornalistas, redatores d’A Manhã, do Rio, foram procurar o cearense Capistrano de Abreu, para entrevista-lo sobre o problema social do Brasil. Ao encontra-lo na rua, para solicitar-lhe um encontro, o erudito misantropo, disse-lhe logo, hostil:

- Estou em casa até às 11 do dia e depois das 9 da noite. Se quiserem ir, vão; se não quiserem, não vão. Para mim é indiferente.
No dia seguinte, houve a visita. O misantropo deitado em uma rede e cuspindo numa lata, achou que o país estava perdido. Tudo uma lástima. E concluiu, feroz:

- Agora andam falando em reforma constitucional. Querem atribuir erros à lei... Eu proporia que se substituíssem todos os capítulos da Constituição, decretando: “ Artigo único: todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara”!
E cuspiu na lata”

“Um político fluminense, amigo de Nilo Peçanha, acabava de entrar para a política do Estado, quando um dia, irritado com um magistrado local, resolveu ataca-lo. Antes disso, foi, porém, comunicar a sua resolução ao chefe do partido.

- Acalme-se, meu amigo; acalme-se...

- Aconselhou o ex-presidente da República.
- Nada de precipitações e, se você quer ser mesmo político, não brigue com gente que usa saia.
E definiu:
-Juiz, mulher e padre.”

Hoje, Pindorama vivendo sua maior crise política e ética da história, chafurdando na lama, repete os mesmos erros, onde mudam, apenas, os protagonistas.
 O grande cearense Capistrano de Abreu (1853- 1927) segue, profético e atual: “ Artigo único da Constituição: todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara”.

Ponto final.













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