sexta-feira, 5 de junho de 2015

UM CANTOR  ,  CARLITOS E FLAMBOYANT


O teto da Beira – Mar de Fortaleza já tinto  de negrume  logo após o sol ser engolido pelo mar revolto ali por traz da Ponte dos Ingleses preparava a moldura para mais uma noite de gala na prosaica Terra da  Luz , o berço de Alencar . Era o  feriado de quatro de junho de  2015  . Um improvisado boteco na calçada da  Avenida   Beira – Mar ofertava  como chamariz ,  um cantor brega  acompanhado de uma simplória  guitarra elétrica gemendo uma contagiante  melodia típica dos países caribenhos  :  salsa e merengue .
Um ébrio  transeunte , afrodescendente , pançudo e sem camisa , se contorce num molejo todo especial , um verdadeiro “  Rudolf Nureyev tupiniquim interpretando um Bolero de Ravel “  tendo ao lado um digno escudeiro , um cão rafeiro de olhar excessivamente humano , balançando o rabo sarnento “ dizendo não quando quer dizer sim “ apreciando aquele genuíno espetáculo  circense .
Qual o valor pago àquele prosaico músico e àquele  “ Carlitos negro “  serpenteando no chão morno da Avenida Beira- Mar ? . Não sei   e  ninguém sabe .
Sei   aferir , contudo , o quão pouco o bicho – homem necessita para tocar a mão da bafejada fada felicidade , mesmo que por um instante  , como  ali naquele momento em meio aquela gente simples passeando e nem percebendo aquele simples  milagre corriqueiro  .
“  Por  quantas noites eu me vi desencantar / enquanto os palcos desabavam sobre mim / o meu amor então beijava o meu olhar / dizia “ vamos lá ! levanta  e  vai cantar ! / e eu me vestia e ela ia amamentar / nosso menino era plateia e camarim / e dos seus seios parecia perguntar  :  / “ meu pai , o que é que há ? / me beija e vai cantar “ /  e eu sabia que tinha que ir / pra amenizar toda dor da cidade / e eu pousava nos pianos por aí / tal qual um sabiá pousa num flamboyant/ por quantas vezes eu pedi a Deus de manhã / deixar  eu cantar pro Brasil / pra ter no portão , o leite e o pão / e o rabo do cão que diz não quando é sim / meu amor já na porta de casa / tendo ao colo nosso Arlequim / me dava a impressão de um samba de Tom Jobim / até que um dia eu resolvi desencantar /e desabei por sobre os palcos do país / o meu amor ainda beija o meu olhar /  e eu digo : “ vamos lá ! cantar pra quem chorar “ / e eu peço a Deus para poder doar a luz / que minha voz cumpra a missão de atenuar / toda a amargura dessa terra de Jesus / e eu digo : “ Vera Cruz , canta pra não chorar “ / e pros  que cantam nos seus cabarés / tenham orgulho desta profissão / pousem nos galhos dos pianos , violões / e a voz é um colibri , nas flores das canções /  e todo dia eu peço a Deus pela manhã / “ conservai a simplicidade / para ter no portão o leite e o pão “ / o rabo do cão que diz não quando é sim / meu amor sempre à porta de casa / e o sorriso do meu Arlequim / e um céu de emoções e eu sou uma luz assim / a brilhar , a brilhar , a brilhar / meu amor sempre à porta de casa / e o sorriso do meu Arlequim / sou um samba – canção eterno de Tom Jobim / a cantar , a cantar , a cantar /                   Flamboyant de  Paulo César Feital  e Jota Maranhão .



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