sábado, 21 de fevereiro de 2015



UM TEMPO FECHADO E BONITO EM FORTALEZA

Fortaleza  , banhada em charme , até que enfim  fez as pazes com São Pedro , neste sábado  cinzento e belo  como poucos  . Um convite para um bom banho de bica ou para soltar um barquinho de papel e seguir o mesmo  ,  travesso e rodopiando até o seu   desfecho fatal  ,numa boca de lobo  qualquer , imitando a fugacidade da vida do bicho – homem  na natureza . Hora de regredir  na borrasca do tempo e juntar a galera da minha infância feliz  para uma aventura na Ponte dos Ingleses pras  bandas do Estoril  .  Destino  final : “ a piscininha “ um lago artificial  recorrente formado pelas ondas violentas a bater dia após dia no quebra – mar ali existente . Isto na maré  cheia . Com a maré seca  , adentrar-se na praia  naquele  pedaço de chão livre ao derredor da velha ponte , ainda com umas longarinas apontando para o céu . Bater um racha com bola de  pito , com os devidos cuidados , com o ex – craque  Becão .Pegar uma “ carretilha “ no peito ou com uma prancha pequena de madeira , evitando as ondas – caixão  . Os maiores com  direito a um salto borboleta por cima de uma onda maneira  , lá do alto da ponte . Os mais marrentos seguindo  a nado  buscando um pouso na Ponte  Metálica  , para cartar alto com as moçoilas da área .
“ Faz muito tempo/ que eu não vejo / o verde daquele  mar quebrar /nas longarinas da ponte velha / que ainda não caiu / faz  muito tempo / que eu não vejo / o branco da espuma espirrar / naquelas pedras com a sua eterna / briga com o mar / uma a uma as coisas vão sumindo / uma a uma , se desmilinguindo / só eu e a ponte velha teimam resistindo / e a nova jangada de vela / pintada de verde e encarnado / só meu mote não muda a moda / não muda nada / e o mar engolindo lindo / a antiga Praia de Iracema / e os olhos verdes da menina / lendo o meu mais novo poema / e a lua viu desconfiada / a noiva do sol com mais / um supermercado / era uma vez meu castelo / entre mangueiras /  e jasmins  florados / e o mar engolindo lindo / e o mal engolindo rindo /Beira – Mar / êê / Beira – Mar / ê , maninha / arma aquela rede branca / que eu estou chegando agora “ . Ednardo  em “ Longarinas “ .
Aqueles que levam  uma linha de pesca seguem  em busca de umas “ pilombetas “ , “ batatas “ , “ xaréus “ e “ pampos “ . Só se  restitui ao mar os  “ bagres “ e os “ baiacus “ , estes últimos após coçar suas alvas e ásperas barrigas que seguem  por um tempo a flutuar  feito um barco marrom de carne e escamas   . Na volta para casa  , um sarro inocente  , derrubar umas caixas de lixo defronte as residências para testar o preparo físico da meninada  . Passar ligeiro perto da Rua Pinto Madeira onde domina o pedaço uma turma arroxada comandada pelos  cabras Berguinho , Alísio e  Canapum .   Quem falou em  ressaca , perdeu cinco pontos na carteira  . A tarde todo mundo fica  ligado no rádio  Philco para assistir a novela de Moysés Weltman , “ Jerônimo , O Heroi do Sertão “ vibrando com as peripécias do  Moleque Saci , a doce Aninha e o terrível  Caveira :
“ Quem passar pelo sertão /vai ouvir alguém falar /no herói desta canção / que eu venho aqui cantar / se é pro bem, vai encontrar / um Jerônimo protetor / se é pro mal ,  vai enfrentar / o Jerônimo lutador / filho de Maria – Homem  nasceu / Serro Bravo foi seu berço natal / entre tiros e tocaias cresceu / hoje luta pelo bem , contra o mal /galopando está em todo lugar / pelos pobres a lutar sem temer / com Moleque Saci pra ajudar / ele faz qualquer valente tremer “ .
Nesta viagem  de volta ao  tempo  ,  carrego comigo  “ os maiores “ : Duaran , Babá , Newton , Nilson , João , Paulo , Abner , Tarcísio , Neto , Deca , Marcílio , Manfrido , Helder , Carlos Alberto , Walton e outros . As “ queridas meninas  “ : Neuma , Neide , Norma , Zélia , Dolores , Stela , Diana , Rita , Maria , Zita , Olga , Tereza , Valdenúzia  , Ruth ,Rocilda , Romilda , Rocecler ,Roseli , Cristina , Rosa , Gorete , Denise e outras .
“ Os menores “ : Nelson , Gato , Nego , Tico – Dé ,  Jonas , Célio  , Haroldo , Zé da Maroca , Murilo , Heleno , Manfredo , Chiá , Chico Barrão e outros .
Nesta prosaica  manhã ,  da janela de meu pequeno observatório , com uma chuvinha fina mareando meus cansados olhos , vislumbro lá longe a Serra da Aratanha , dançando e tremendo , num lusco – fusco  feito uma visagem . Culpa dos óculos que uso  já quase sem  serventia . Saudade  , um chuvisco de saudade para banhar a alma ! .

“ Eu daria tudo que tivesse / pra voltar aos dias de criança / eu não sei pra que que a gente cresce / se não sai da gente essa lembrança / aos domingos , missa na matriz / da cidadezinha onde eu nasci / ai , meu Deus , eu era tão feliz / no meu pequenino Miraí / que saudade da professorinha / que me ensinou o be-a-bá  / onde andará Mariazinha / meu primeiro amor , onde andará ?/ eu igual a toda meninada / quanta travessura que eu fazia / jogo de botões sobre a calçada / eu era feliz e não sabia “ .

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