
“
Lata d’água na cabeça / lá vai Maria , lá vai Maria / sobe o morro e não se
cansa / pela mão leva a criança / lá vai Maria /Maria lava roupa lá no alto /
lutando pelo pão de cada dia / sonhando com a vida no asfalto / que acaba
onde o morro principia“.
“
Tomara que chova três dias sem parar / a minha grande mágoa é lá em casa não
ter água / eu preciso me lavar / de promessa eu ando cheio/quando eu conto a
minha vida ninguém quer acreditar / trabalho não me cansa / o que me cansa é
pensar /que lá em casa não tem água nem pra cozinhar“.
“
As águas vão rolar / garrafa cheia eu não quero ver sobrar / em
ponho a mão no saca, saca, saca – rolha e bebo até me afogar , deixa as águas
rolar / se a polícia por isso me prender / e na última hora me soltar /eu
pego o saca , saca , saca – rolha / e bebo até me afogar / deixa as águas
rolar“.

O carro-chefe da locomotiva
-San Pablo-, coitado, emperrou de vez. No momento, “os
bacanas de gravata da Avenida Paulista e as Zelites“ irão aprender
com quantos paus se faz uma canoa, entender o que é um carro–pipa e
saber que tomar banho de cuia não é um mero jargão
futebolístico de receber um “chapéu“. Uma empresa estatal em
suposta crise financeira fez generosa doação de incentivo ao
maior carnaval do Brasil,dançando ao som dos tamborins com bicheiros e
outros contraventores, utilizando a velha fórmula de estímulo
matreiro do “pão e o circo“ mesmo com a escassez da bendita água. E
o “Titanic“ valente, soçobrando. Resta a ilusão da embriaguez
do carnaval:
“Eu
vou morar pra lá de Bagdá / onde o petróleo nasce / e não se cansa de jorrar /
não fico mais aqui / eu quero me arrumar / eu vou morar pra lá de Bagdá / já
estou cansado de almoçar roendo osso / eu quero um diamante pendurado no
pescoço / com certas odaliscas , servindo o meu jantar / eu vou morar pra
lá de Bagdá“.
A ressaca deste
carnaval será memorável com o país afogado em séria crise hídrica,
energética, sócio-política e a pior delas, a crise ética,
lembrando o famigerado Baile da Ilha Fiscal, quando o Império se divertiu
às largas,na beira do vulcão da República.
Um solitário
bloco, o “Grêmio Recreativo Escola de Samba Vergonha na Cara“
sairá de luto às ruas com o seu samba–enredo do dócil e saudoso
Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior -Gonzaguinha- a animar os
incontáveis foliões–do-contra no Sambódromo da Democracia:
“ É
! / a gente quer valer o nosso amor / a gente quer valer nosso suor / a gente
quer valer o nosso humor / a gente quer do bom e do melhor / a gente quer
carinho e atenção / a gente quer calor no coração / a gente quer suar,
mas de prazer / a gente quer é ter muita saúde / a gente quer viver a
liberdade / a gente quer viver felicidade / É ! / a gente não tem cara de
panaca / a gente não tem jeito de babaca / a gente não está com a bunda exposta
na janela / pra passar a mão nela / É ! / a gente quer viver pleno
direito / a gente quer viver todo respeito / a gente quer viver uma nação / a
gente quer é ser um cidadão ..... /.
Nenhum comentário:
Postar um comentário