sábado, 27 de dezembro de 2014

Manoel de Barros, um ser chamado poesia

“ É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez . Tudo que não invento é falso . Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.  Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário. Não saio de dentro de mim nem pra pescar. Sempre que desejo contar alguma coisa , não faço nada ; mas quando não desejo contar, faço poesia . Eu queria ser lido pelas pedras . Aonde eu não estou... as palavras me acham. Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas. Não preciso de fim para chegar. Do lugar onde estou já fui embora . Uso a palavra para compor meus silêncios. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto . Porque não sou da informática: sou da invencionática “ .
“ O poeta nasceu de treze. Naquela ocasião escrevi uma carta aos meus pais, que moravam na fazenda, contando que eu decidira o que queria ser no meu futuro. Que eu não queria ser doutor. Nem doutor de curar, nem doutor de fazer casa nem doutor de medir terra. Que eu queria ser fraseador“ .
“Poesia é quando a tarde está competente para as dálias. É quando ao lado de um pardal o dia dorme antes. Quando o homem faz sua primeira lagartixa. É quando um trevo assume a noite e um sapo engole as auroras“ .
“ Quando eu estudava no colégio interno, eu fazia pecado solitário. Um padre me pegou fazendo– Corrumbá, no parrede!  Meu castigo era ficar em pé defronte a uma parede e decorar 50 linhas de um livro. O padre me dera pra decorar o Sermão da Sexagésima de Vieira. – Decorrar 50 linhas, o padre repetiu. Ao ler e decorar 50 linhas da Sexagésima fiquei embevecido. E li o Sermão inteiro. Meu Deus, agora eu precisava fazer mais pecado solitário! E fiz de montão. Era a glória. Aprendi a gostar do equilíbrio sonoro das frases. Fiquei fraco de cometer pecado solitário. A esse tempo também aprendi a escutar o silêncio das paredes“.

Manoel de Barros, 97 anos, natural de Corumbá, nosso maior menestrel vivo, ora preso a um leito de UTI neste tiquinho bobo de terra, respira tão somente às custas de pura poesia. Nunca desperdiçou tempo em outro ofício que não o de polir palavras e sons mais coloridos que qualquer arco–íris metido a besta. Pronto se apresenta o gentil bardo caboclo para se misturar à natureza e nunca mais se amiudar. Vai, poeta, quando assim decidir, junto aos raios do sol, com a fria luz do luar e o sopro do vento buliçoso, compor a aquarela da eternidade!  E fique certo que vai fazer uma falta danada!

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