quinta-feira, 26 de março de 2020

Caminhando com Manoel de Barros
"Ao nascer eu não estava acordado , de forma que não vi a hora.
Isso faz tempo.
Foi na beira de um rio.
Depois eu já morri 14 vezes.
Só falta a última.
Escrevi 14 livros .
E deles estou livrado.
São todos repetições do primeiro.
(Posso fingir de outros, mas não posso fugir de mim .)
Já plantei dezoito árvores,  mas pode que só quatro.
Em pensamento e palavras namorei noventa moças, mas pode que nove.
Produzi desobjetos,  35 , mas pode que onze.
Cito os mais bolinados : um alicate cremoso, um abridor de amanhecer,  uma fivela de prender silêncios,  um prego que farfalha,  um parafuso de veludo, etc etc.
Tenho uma confissão: noventa por cento do que escrevo é invenção; só dez por cento que é  mentira.
Quero morrer no barranco do rio: - sem moscas na boca descampada"

" Autorretrato" , da autoria do poeta Manoel de Barros (1916 - 2014) , um encantador de palavras.
 Uma boa vacina para esses ásperos tempos , no beiral do mundo, assistindo a divina comédia humana.
 - Cai fora , Coronavírus,  não enche o saco, malandro !

" Eu queria crescer para passarinho" ;
" Sapo é um pedaço de chão que pula";
"Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades."

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