quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Cocorote, um drama humano



Cocorote, um bairro da periferia de Fortaleza, onde militares americanos construíram uma pista de pouso por ocasião da Segunda Grande Guerra Mundial (1939-1945 ).Cocorote , correm histórias que se trata de um neologismo daquela época para coco-rote (rota do Cocó) , assim como biruta (by-rote )aquele dispositivo que indica a direção do vento, e baitola (bitola ) que seria uma forma americanizada de dizer bitola, pronunciada por um certo engenheiro gringo da estrada de ferro. Boas dúvidas para serem dirimidas por filósofos de botequim ou por estudiosos de nossa língua portuguesa.
Mas como eu ia dizendo , no bairro do Cocorote , corria o ano de 1969, nas cercanias do Bar do Avião, quando altas horas da noite, deu-se um acidente de lambreta. Um jovem beijando o chão , rogava por socorro. Do nada apareceu uma visagem, um indivíduo maltrapilho que, de pronto , retirou a blusa para improvisar um torniquete em volta da perna direita da vítima que sangrava de modo abundante. Aquele estrambotico " doutor" saiu caminhando devagar rumo ao Hospício de Parangaba, o hospital mais próximo daquele acidente, levando o motoqueiro junto , meio grogue. Deixou o mesmo, atônito, no portão de entrada daquele nosocomio e meteu o pé na carreira sendo engolido pelo breu da noite. Um sonolento psiquiatra acudiu aquela pobre criatura prestando assistência e felicitando o cliente, pois o 
providencial torniquete na perna , salvara-lhe a vida . Uma semana depois, o motoqueiro retorna ao Hospício de Parangaba, para deixar um mimo para o psiquiatra que o socorrera na ocasião: uma caneta Parker 51. O médico agradeceu o presente e levou o cliente até um cômodo conhecido como isolamento. Ali, sob contenção, estava aquele anjo maltrapilho, agora portando um olhar baço, despido de qualquer forma de vida.
O psiquiatra lhe explicou que aquele indivíduo era um interno, ex - médico, que há anos morava no hospital e que havia empreendido fuga na noite do acidente de lambreta. Fora encontrado naquela ocasião correndo e dizendo disparates.
Um aziago dia , já distante no tempo, perdera a razão para sempre, aquele pobre doutor , ao dirigir um gordini nas imediações da Escola de Aprendizes Marinheiros, em companhia da esposa e de dois filhos gêmeos, seu veículo fora arrastado por uma locomotiva. Apenas ele escapara com vida, mas dali em diante, perdera completamente a razão e mínimo gosto pelo sal da vida.
É o quebra - cabeça da vida expondo a nudez dos dramas da condição humana.

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