quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

UM SÉCULO DA MORTE DO FILÓSOFO FARIAS BRITO


Raimundo de Farias Brito (1862-1917) nasceu em São Benedito, na Serra da Ibiapaba, no interior do estado do Ceará. Seus pais foram Marcolino José de Brito e Eugênia Alves Pereira que moldaram uma pequena prole de dois filhos: Raimundo e João, fato um pouco destoante das tradicionais famílias sertanejas, quase sempre numerosas. Aos três anos de idade, Raimundo põe em marcha sua sina de retirante indo morar na Vila de Ipu, ali vizinho a São Benedito. Depois, num pulo segue para Sobral, onde sua família instala um pequeno comércio.

Em 1874 encontramos o garoto Raimundo frequentando o Ginásio Sobralense e em pouco tempo faz-se destaque em matérias como francês, latim e matemática. O fenômeno climatérico da grande seca de 1877 e 1878 que se abate sobre o sofrido chão cearense obriga a família de Raimundo a novamente migrar, desta feita para Fortaleza, a capital do estado, destino final de milhares de almas sedentas. Em 1880 Raimundo de Farias Brito conclui o curso secundário no legendário e severo Liceu do Ceará. Logo em seguida a família Farias alça voo na direção de Recife onde o jovem Raimundo ingressa na Faculdade de Direito, celeiro de intelectuais influentes na vida pública e cultural de Pernambuco e berço da nascente filosofia na região com a Escola do Recife de Silvio Romero (1851- 1914) e Tobias Barreto (1839 –1899).  A graduação de Farias Brito deu-se em 1884.  Em 1893, Farias Brito contrai núpcias com a Sra. Ana Augusta Bastos. O casal gera dois filhos: Raimundo, com o mesmo nome do pai, e que viveria apenas 10 meses, e, Filomena. Poucos meses depois Farias Brito torna -se viúvo. Em 1901, Farias Brito casa-se com a Sra. Ananélia Alves, vinte anos mais nova que ele. O casal gera cinco filhas.

O Dr. Farias Brito exerce os cargos de Promotor Público em Viçosa do Ceará e Aquiraz. Foi nomeado Secretário de Governo do Ceará nas administrações de Caio Prado e do General Clarindo de Queiroz. Entre1902 e 1909 Farias Brito regeu a Cátedra de Filosofia da Escola Jurídica do Pará. O destino cigano de Farias Brito joga-o em direção ao Rio de Janeiro para participar de um concorrido concurso para Catedrático de Lógica no Colégio Pedro II, a mais importante instituição de ensino secundário do país. Farias Brito travou renhida batalha em provas oral e escrita com 14 nomes de peso, incluindo o célebre autor de “Os Sertões “, Euclides da Cunha (1866-1909). O julgamento do concurso deu-se em 7 de junho de 1909   concluindo que todos os candidatos foram considerados habilitados, mas destes apenas cinco continuaram no páreo: Farias Brito, Euclides da Cunha, Graciano Neves, Júlio Novaes e Monsenhor Rangel. No final do embate Farias Brito alcança com méritos o primeiro lugar e Euclides da Cunha fica em segundo plano. O desconhecido e valoroso cearense venceu a disputa mas, infelizmente, não levou o troféu. Injunções políticas levaram o segundo lugar, o polêmico Euclides da Cunha a assumir um cargo que de fato não era seu.

No dia 15 de agosto de 1909, menos de um mês depois do famigerado concurso público acontece a triste Tragédia da Piedade: Euclides da Cunha invade uma residência suburbana onde se encontravam o militar Dilermando Cândido de Assis (1888 – 1951) e Anna Emília Ribeiro da Cunha (1872- 1951), amante de Dilermando e esposa de Euclides da Cunha. Após troca de tiros perde a vida o infeliz Euclides da Cunha alvejado por Dilermando que tinha expertise em armas no exército. Como fecho de tal infelicidade dois outros filhos de Euclides da Cunha morreram assassinados, um dos quais pelo mesmo Dilermando de Assis. Depois , Ana e Dilermando casaram-se, constituíram prole e ambos morreram no mesmo ano (1951).

Farias Brito, enfim, foi nomeado em 02 de novembro de 1909 para a Cátedra de Lógica do Colégio Pedro II com toda honra e mérito onde tornou-se, também, um exemplar professor de História da Filosofia e Psicologia.
Farias Brito foi um dos fundadores da Academia Cearense de Letras, sendo um de seus patronos, o da Cadeira de número 31. O nome de Farias Brito ergue- se no horizonte da cultura nacional como o maior filósofo brasileiro conforme reconhecimento de figuras como Padre Leonel Franca (1893- 1948), Jackson de Figueiredo (1891-1928) e Alceu de Amoroso Lima (1893- 1983), a ponto de se dividir a história da filosofia no Brasil em dois estágios: antes e depois de Farias Brito.

Farias Brito publicou as seguintes obras:

Cantos Modernos (1889); Pequena História Sobre os Fenícios e Hebreus (1891); A Filosofia Como Atividade Permanente do Espírito Humano (1895); A Filosofia Moderna (1899); Evolução e Relatividade (1905); Finalidade do Mundo: A Verdade como Regra das Ações (1905); A Base Física do Espírito (1912) e Mundo Interior (1914) - as quais formam a série – Ensaios Sobre a Filosofia do Espírito.
Em 16 de fevereiro de 1917, há um século, portanto, parte para a eternidade o nobre filósofo , causídico e literato cearense Raimundo de Farias Brito.







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